forty one. entertain
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Parada, rodeada pela neve e vento, Demetria possuía seu corpo coberto por couro illyriano e olhos esverdeados com manchas prateadas atentos, aparentando estar aguardando de forma silenciosa. Ela havia acordado cedo, um pouco antes que o sol nascesse e desde então, estava ali. De pé, esperando pacientemente por alguma coisa que Feyre não sabia bem o quê. Seus olhos azul-cinzentos não se desviaram da pequena figura da Dama, mesmo que devesse se focar em desviar dos galhos das árvores mais baixas do boque que adentrava ao lado de Rhysand, neve estalando sob suas botas.
─ Congelar a bunda de manhã cedo não é como eu pretendia passar nosso dia de folga.─ Comentou o Grão-Senhor.─ Deveria levá-la até as estepes illyrianas quando voltarmos, a floresta lá é muito mais interessante. E mais quente.
─ O que ela está fazendo?─ Disparou Feyre, se referindo a Demetria que acabara de bufar irritadiça para o nada, cruzando os braços. Certo, agora ela não parecia tão paciente quanto antes. Rhys piscou os olhos estrelados, guiando-os na direção da Dama dos Pesadelos, franzindo o cenho levemente.
─ Eu acredito que esteja esperando.
─ O quê?─ Pressionou a ex-humana. Rhys lhe lançou um olhar avaliativo, estalando a língua.
─ Já que está mais interessada em Demetria do que no seu treinamento, talvez devêssemos voltar para dentro.─ Falou o Grão-Senhor. O rosto da feérica de cabelos loiro-acastanhado se contorceu em uma careta irritadiça.─ Não me leve a mal mas é melhor fofocar sem minha bunda congelando, e com um chá quente, me parece melhor ainda.
─ Canalha.─ Rosnou ela, a neve tomando a forma de seus passos conforme andava para mais adentro do bosque enquanto o Grão-Senhor lançava um último olhar para a Dama dos Pesadelos, notando a forma que seus ombros tremiam levemente debaixo do couro illyriano, tendo consciência que fosse oferecer alguma ajuda, com certeza acabaria com sem alguns dentes. Com um último suspiro, ele seguiu a Archeron.
Demetria piscou os olhos, recuando um passo e observando a pegada que deixou na neve. Ela tremia, sabia muito bem daquilo e também estava odiando cada segundo que passava com suas botas afundadas naquela brancura extrema e gelada que aparentava estar adentrando em suas veias trazendo lembranças nem um pouco agradáveis de uma época que preferia esquecer, mesmo sabendo que jamais o faria por conta do que já fez em uma tentativa de não repetir aquelas mesmas lembranças.
Seu cenho se franziu por um mero instante, guiando suas orbes verde-prata para o céu dominado por nuvens cinzentas, bloqueando a fraca luz do sol.
Ele estava atrasado, pensou. E nesse mesmo momento, as sombras de uma árvore próxima se contorceram e por fim, assumiram a forma de um jovem Grão-Feérico. Demetria o analisou momentaneamente. Os cabelos loiros pareciam um pouco mais curtos da última vez que o vira, porém os olhos tempestuosos continuava os mesmos, assim como as sombras rodopiando em torno de suas orelhas, murmurando.
Ludovik sorriu na direção da Dama dos Pesadelos, se curvando em uma reverência.
─ Minha Senhora.─ Ele disse, a voz suave e obediente. Demetria sorriu.
─ Olá, Ludovik, este é um belo dia, não acha?─ Questionou. O macho assentiu, sorrindo levemente, se erguendo mais uma vez e em suas mãos, haviam papéis, documento que não demoraram muito para serem capturados pelas mãos da Dama dos Pesadelos.
─ Jolly pediu para avisar que já estão se preparando para o Solstício de Inverno.─ Ludovik informou, chamando atenção dos olhos esverdeados com manchas prateadas.
─ Como está Lucien?─ Perguntou a Dama, retornando a analisar os papéis em suas mãos.
─ Continuamos tomando cuidado para que não vaze nenhuma informação inconveniente quando ele anda pela cidade.─ Respondeu, prontamente. Demetria balançou levemente a cabeça ao ouvir as palavras de Ludovik e o seu cenho franziu mais uma vez enquanto lia um papel específico em sua mão.
─ Avise a Jolly que estarei retornando logo.─ Ela disse para o macho de cabelos loiros. A fêmea piscou os olhos, suas orbes cintilando levemente.─ Há algo de errado?
Ludovik pareceu surpreso com a pergunta mas da mesma forma que sua surpresa surgiu, ela desapareceu. Suas sombras dominaram suas feições por instantes.
─ Não há nada de errado.─ O macho falou, encolhendo os olhos. Demetria o fitou brevemente, havia algo nas feições do Grão-Feérico que lhe dizia que ele escondia algo, a forma que pressionava um lábio contra o outro é como se estivesse se impedindo de proferir mais alguma palavra.
Ela piscou os olhos, liberando um suspiro.
─ Então, tudo bem. Está liberado.─ E não demorou muito para que Ludovik desaparecesse nas sombras.
Feyre encarou a vela, deixada por Rhysand para que pudesse treinar seus poderes. Uma hora havia se passado e nada ocorreu. A ex-humana pensou em tudo que abominava na busca de algum gatilho, mas nada, nem mesmo uma faísca. Ela guiou seus olhos para as mãos, a carta que utilizava para conversar com Rhysand havia retornado.
Um leve sorriso curvou seus lábios. Você é um galanteador sem-vergonha, escreveu. Tão distraída que nem ao menos notou a presença em suas costas. Feyre se debateu, mordendo e arranhando quando uma mão cobriu sua boca, lhe levantando. Uma voz rouca disse:
─ Pare, ou vou partir seu pescoço.
O Attor. Ele havia sumido depois da morte de Amarantha após a revolta dos Grão-Senhores, possuíam suspeitas que ele tivesse fugido para o rei de Hybern. Feyre ficou imóvel em seus braços que eram como faixas de ferro.
─ Bom, ─ Sibilou Attor.─ agora me conte...
O Attor gritou quando as trevas os engoliu, largando Feyre que caiu na neve firme. A ex-humana se agitou em meio a invernia, a luz só retornou no momento que se encontrava agravada com sua faca inclinada. O Attor ofegou, lutando contra os espirais negros que dançavam por sua pele, mantendo-o preso contra um carvalho coberto de neve. Demetria liberou uma risada, um riso que não alcançou seus olhos esverdeados.
─ Eu imaginava que você seria esperto suficiente para se manter longe.─ Proferiu a Dama dos Pesadelos, os mesmos espirais negros que marcavam a pele do Attor se moviam em sua pele alva.
Bastou um movimento de uma das mãos da fêmea para que a criatura encouraçada ofegasse mais uma vez, não contendo um grito quando Feyre notou que os espirais em sua pele estavam apertando, torcendo seus membros, principalmente as asas.
─ O que aquele rei tolo pensou ao mandá-lo para estas terras?─ Questionou, lançando um breve olhar para Feyre, analisando rapidamente a fêmea, o cenho se franzindo levemente quando notou que a pele de Feyre havia sido arranhada por garras afiadas o suficiente para gerar um corte que já se curava.
─ Cadela!─ Rosnou Attor.─ Pensa que é algo só por estar trepando com,
Um grito o interrompeu. Uma de suas asas haviam se dobrado de um ângulo estranho, osso despontava em meio a carne e o sangue prateado que agora chiava ao atingir a neve.
─ Cuidado com suas palavras.─ Enunciou, a voz baixa e ameaçadora.─ Sabe muito bem o que fiz com Amarantha não chega aos pés do que desejo fazer com você, seu parasita covarde.
Demetria ergueu uma mão e a criatura arquejou, tomada pelo medo irracial do perigo que espreitava por debaixo da pele daquela feérica, daquele poder que parecia vir diretamente da morte.
─ Fui enviado para buscá-la!─ Gritou, ofegante. A pressão dos espirais não diminuiu e continuou a torcer sua pele, seus membros de forma lenta e dolorosa.
─ Para?─ Questionou Demetria. O Attor gritou mais uma vez, movendo os braços, tentando se livrar das amarras daquele poder.
─ Não sei, não sei, não sei.
─ Onde está o exército do rei?
─ Virá em breve.
─ Quantos.─ Não uma pergunta. Uma ordem, uma que deveria respondida pela forma que seus olhos verde-prata cintilavam.
─ Infinitos. Temos aliados em todos os territórios, todos esperando.
Demetria não disse nada, ergueu o olhar para os céus durante meros instantes antes de seus lábios se curvarem, um sorriso que apenas fez com que o Attor gritasse ainda mais, lutasse sem possuir alguma chance de se livrar do poder da Dama dos Pesadelos.
─ Você pagará por cada osso quebrado.
Azriel aterrisou ao lado de Rhysand, lançando neve para todos os lados como se tivessem acabado de pousar em uma poça d'água. Os dois haviam voado tão silenciosamente que nem mesmo Feyre havia escutado o bater das asas. No instante que a neve baixou, o Attor começou a tremer. A máscara cruel do Grão-Senhor da Corte Noturna moldava as feições de Rhysand, assim como o rosto de Azriel não havia bondade, quem estava ali era o Encantador das Sombras do Grão-Senhor.
Feyre quase se sentiu mal pela criatura, porém as finas cicatrizes nas mãos de Demetria lhe lembraram dos gritos que escutava pelos corredores de Sob a Montanha, da forma que o Attor lhe espancou, assim que colocou os pés naquela montanha maldita. Ela lembrou de suas irmãs, protegidas por Cassian no palacete.
Demetria se aproximou da ex-humana no momento que Azriel chegou ao Attor. Rhys não se virou para encarar as duas fêmeas, continuando a fitar aquela criatura com os olhos estrelados frios.
─ Da próxima vez que tentar levá-la, matarei primeiro; perguntarei depois.─ Falou o Grão-Senhor para a criatura. Azriel encarou Rhys e o mesmo assentiu. Os sifões presos as mãos cobertas de cicatrizes se iluminaram, um ondulante fogo azul lamberam sua pele quando as entendeu na direção do Attor. Antes mesmo que Feyre pudesse sequer piscar, o Encantador e a criatura sumiram.
─ Azriel vai matá-lo?─ Perguntou a ex-humana, sua respiração irregular. Seus olhos azul-cinzentos fitaram Demetria que se ajoelhou ao seu lado, a palma cobrindo sua ferida no braço.
─ Infelizmente, não.─ Feyre estremeceu, sentindo o poder da Dama dos Pesadelos adentrar em sua pele, curando por completo seu braço.
─ Nós o usaremos para mandar uma mensagem para Hybern de que, se quiserem caçar membros de minha corte, terão de fazer melhor que isso.
─ Você sabia... sabia que ele estava me caçando?
─ Estava curioso para saber quem a levaria assim que você estivesse sozinha.─ Com a resposta do macho, Demetria ergueu a cabeça, o fitando, algo como repreensão brilhando em seus olhos esverdeados.
─ Então, jamais planejou ficar comigo enquanto eu treinava. Você me usou como isca...
─ Sim, e faria de novo. Você estava segura o tempo todo.─ Com a resposta do macho, Demetria ergueu a cabeça, fitando-o com algo como repreensão
brilhando em seus olhos esverdeados.
─ Deveria ter me contado!
─ Talvez da próxima vez.
─ Não haverá próxima vez!─ A ex-humana puxou seu braço das mãos de Demetria com força o suficiente para quase atingir o rosto da mesma. Feyre piscou os olhos, se dando conta que havia esquecido. Esqueceu-se da força que possuía em meio ao pânico.
─ Sim, esqueceu.─ Grunhiu Rhysand.─ Esqueceu dessa força e de que pode queimar e se tornar escuridão e criar garras. Você esqueceu. Você parou de lutar.
Feyre rosnou, o ódio estava claro em seus olhos, queimando seu interior.
─ E daí se parei?─ Sibilou, se levantando lentamente.─ E daí se parei?
─ Já chega.─ Disse Demetria. Ambos pareceram lhe ignorar por um mero instante. A ex-humana ergueu os braços, pronta para atacar o peito do macho com as palmas quando uma mão segurou seu pulso, abaixando-o. Aqueles olhos esverdeados foram de Feyre para Rhysand, não havia nenhum cintilar neles.─ Eu disse: já chega. Se querem continuar brigando como duas crianças birrentas, tudo bem, mas temos uma guerra para parar, há algo muito mais importante que nossas vidas em jogo.
Demetria soltou o pulso de Feyre e sem nem ao menos dizer nada, começou a andar pela neve, trilhando um caminho que a ex-humana imaginou ser em direção da mansão Archeron. Rhys não disse, os olhos púrpuras continuaram encarando as costas da Dama dos Pesadelos até que ela sumisse no horizonte.
─ Nunca mais me use como isca.─ Grunhiu para Rhysand, chamando sua atenção.─ Você disse que eu poderia ser uma arma... me ensine a virar uma. Não me use como um peão. E caso ser um peão seja parte de meu trabalho para você, então, chega. Chega.
─ É justo.─ Disse ele. Seus olhos foram até as mãos de Feyre, os dedos transformados em garras, curiosidade brilhou mas o macho falou:─ Desculpe.
─ Por que o rei de Hybern me quer? Porque sabe que posso anular o poder do Caldeirão com o Livro?
─ É o que vou descobrir.─ Uma centelha de escuridão surgiu.─ Desculpe. Vamos tomar café da manhã e depois ir para casa.
─ Velaris não é minha casa.
As irmãs Archeron já estavam na mesa, tomando café da manhã quando Rhys e Feyre surgiram em meio a sala, neve presas nas roupas sumiram com um mero gesto do Grão-Senhor. Demetria não estava a vista, nem um mísero barulho soou no andar de cima para denunciar sua presença na casa, porém não demorou muito para que ela aparecesse ao lado de Cassian quando o macho se preparou para se dirigir ao mesmo local que Azriel e o Attor estavam. O general havia feito uma reverência debochada para Nestha e respondido com um gesto vulgar, algo que o fez rir, antes de que Demetria os atravessem para a muralha. A ex-humana notou que a Dama nem ao menos lançou um último olhar para Rhysand.
Feyre e Rhys levara Elain e Nestha à cidade para que mandassem a carta que pediria a presença das Rainhas, ambos encantados para que se mantivessem invisíveis aos olhos mortais.
Quando retornaram para a mansão, as despedidas foram rápidas e não demorou muito para que Feyre estivesse em Velaris, notando que a névoa da manhã ainda cobria a cidade e as montanhas em volta. Rhysand havia lhe deixado no saguão e se foi, sem sequer dizer adeus, para retornar meia hora depois com Demetria ao seu lado.
─ Está feito.─ Disse ele, passando a mão pelo cabelo preto-azulado.─ Descobrimos o que precisávamos. Cabe a você, Feyre, decidir o quanto de nossos métodos quer conhecer. Com o que pode lidar. O que fizemos com o Attor não foi bonito.
─ Quero saber tudo. Me leve até lá.
─ O Attor não está em Velaris.─ Revelou Demetria, sentando-se no sofá.─ Está na Corte de Pesadelos.
Rhys falou:─ Vou mostrar a você.
E então, a escuridão fluiu ao redor de Feyre, ecoando de um abismo de poder tão grande e infinito, sedutor e suave. Demetria piscou os olhos, observando Feyre se afundar nas memórias de Rhysand. Suas orbes esverdeadas rapidamente se focaram em suas botas, no sangue prateado que manchava as solas e as pontas.
Ela se lembrava de ter se permitido ficar satisfeita ao ouvir Azriel quebrar as asas e pernas do Attor, deixando-as destruídas o suficiente para que duvidassem se a criatura realmente sobreviveria o suficiente para sequer servir como mensagem. Demetria suspirou, mergulhando as mãos nos cabelos curtos e castanhos.
─ Que situação na Corte Primaveril?─ Soltou Feyre, assim que saiu das lembranças de Rhysand.
─ Tamlin é inofensivo, por enquanto. Mas, é difícil saber até que ponto ele irá para proteger o que acredita pertencer a ele.─ Demetria disse, levantando-se e tocando um dos ombros de Feyre, realizando um pequeno carinho ali. A ex-humana suspirou.
─ Obrigada por me contar.─ Agradeceu, lançando um mero sorriso para Demetria, virando-se e pegando o livro ao lado do chá para levar até o quarto.
─ Feyre. Desculpe... por enganar você mais cedo.─ Disse Rhysand.
─ Preciso escrever uma carta.─ Então, a ex-humana subiu as escadas.
Rhysand sentou-se na beirada da cama, de costas para Demetria que se encontrava deitada no colchão, suas roupas já estavam trocadas e ela usava um conjunto verde-menta, suas feições deixando claro o quão cansada se encontrava após preencher seus dias nas últimas semanas com os planos para impedir o ataque de Hybern. A fêmea não disse nada, continuando com boa parte do rosto afundado no travesseiro macio. Rhys suspirou, esticando uma de suas mãos e agarrando o pé de Demetria, puxando-a para perto, então deitando-se ao seu lado.
─ Vai retornar para a Corte dos Pesadelos, não é?─ A fêmea balançou a cabeça, os olhos fechados.
─ Preciso resolver algumas questões ainda e Jolly está começando a se preparar para o Solstício.─ Ela disse. Rhys piscou os olhos.
─ Tão cedo?
─ Ludovik não disse, mas, com certeza, Jolly só está animado demais.─ A Dama abriu os olhos, os lábios se esticando em um sorriso preguiçoso que trouxe o cintilar para suas orbes esverdeadas.─ Por que a pergunta?
─ É sua última noite aqui, então vamos sair para nos divertir.─ Ele respondeu, guiando uma mão até o rosto da fêmea, deslizando a ponta dos dedos por sua tez, não demorando muito alcançar os lábios rosados. Demetria segurou sua mão, entrelaçando seus dedos nos dele e liberando uma suave risada, o som de sinos preencheu o cômodo.
─ Está comemorando minha saída, Grão-Senhor?─ Questionou, risonha.
─ Talvez eu realmente devesse, está roubando meus irmãos para si.─ Ela riu, levando as mãos entrelaçadas para seus lábios, depositando um beijo na pele do macho.
─ Não sabia que era tão ciumento.
─ São os únicos irmãos que tenho.
─ Então, é realmente uma pena que eles me prefiram a você.─ Demetria riu novamente, sentindo Rhys beliscar suas coxas, as agarrando e as puxando para que a fêmea sentasse em seus quadris. Orbes púrpuras manchadas pelo prateado das estrelas de seus olhos fitaram o rosto da Dama dos Pesadelos.
─ Sempre irei voltar para você.─ Sussurou Demetria, inclinando-se e beijando os lábios de Rhysand.
─ Eu sei.─ Ele murmurou em resposta.
A Dama dos Pesadelos piscou os olhos,
arqueando uma sobrancelha e não demorou muito para que ela acertasse um tapa em seu ombro.
─ Ótimo, agora pare de agir como se eu fosse sair por aquela porta e nunca mais retornar e me abrace.─ Chiou. Rhysand riu mais uma vez e a puxou, rodeando-a com seus braços.
Adentrando em um pequeno restaurante à margem do rio, Demetria analisou o espaço decorado de verde e dourado. Uma fêmea magra de pele negra e belíssimos olhos castanhos se aproximou com um sorriso radiante adornando seus lábios, ela tocou as mãos de Mor para que pudesse grudar sua boca na bochecha da loira.
─ Que bom que vieram.─ Soltou, alegre. Ela se aproximou de Cassian que não pensou duas vezes em abraçá-la e receber seu beijo na bochecha. E havia depositado um adorável beijo nas bochechas de todos, incluindo Azriel.
─ Sejam bem-vindas!─ Ela exclamou para Feyre e Demetria, segurando as mãos da Dama com aquele mesmo sorriso, iluminando seu rosto. Não demorou muito para que ela partisse, após fazer uma reverência para Amren.
A fêmea de cabelos curtos castanhos guiou seus olhos esverdeados para Rhys que tocou seu ombro, a mão deslizando por suas costas, empurrando-lhe levemente na direção da grande mesa que ficava metade dentro e metade fora da fachada aberta. A noite estrelada estava fria, e o vento farfalhava as palmeiras em vasos, posicionadas com muito cuidado ao longo do parapeito do passeio à margem do rio. As bandejas de comida começaram a brotar e Demetria atingiu a mão de Cassian com um tapa quando o mesmo empurrou sua mão para que pudesse preencher seu prato antes que a Dama. Mor riu da cena, soltando algo sobre como "Tria e Cass pareciam duas crianças quando estavam juntos" para Feyre e Azriel que sorriu, contido.
Agora, a dona estava ao lado da cadeira da ex-humana, conversando com Rhys sobre o último carregamento de especiarias que chegara aos Palácios.
─ Os mercadores estavam dizendo que os preços podem subir, Grão-Senhor, principalmente se os boatos sobre o despertar de Hybern forem verdadeiros.
Rhys se recostou na cadeira, girando a taça de vinho. Próximo ao final da mesa, Mor mirou seus olhos castanhos em Demetria que abria um adorável sorriso para a dona do restaurante, as bochechas levemente inflados entregavam que ela ainda se encontrava mastigando a comida.
─ Encontraremos uma forma de evitar que os preços subam muito.
─ Não se preocupe, é claro.─ Disse a dona, retorcendo um pouco os dedos.─ É só... é tão bom ter tantas especiarias disponíveis de novo... agora que... as coisas estão melhores.
Rhys deu um sorriso gentil para a feérica, aquele que fazia com que ele parecessemais jovem.
─ Eu não me preocuparia tanto... não quando eu gosto tanto de sua comida.
A dona sorriu, corando com o comentário de Rhys, e olhou para onde Feyre tinha virado o corpo na cadeira para observá-la.
─ Está do seu gosto?
Feyre olhou para os pratos e, depois, de volta para a mulher e respondeu:
─ Vivi no reino mortal e vivi em outras cortes, mas jamais provei comida assim. Comida que me faz sentir... desperta.
A dona assentiu como se a entendesse e apertou seu ombro, lançando um breve olhar para a Dama dos Pesadelos que torcia o nariz pro illyriano risonho ao seu lado, se inclinando levemente na direção de Rhys como se quisesse se afastar de Cassian.
─ Então, vou trazer uma sobremesa especial.─ Falou ela, indo até a cozinha e retornando pouco tempo depois com uma grande tava de metal cheia de líquido negro que não hesitou em colocar diante de Amren.
─ Não precisava fazer isso.─ Disse a imediata, erguendo as sobrancelhas.
─ Está fresco e quente, e precisávamos da besta para o assado de amanhã mesmo.
─ Você temperou muito bem.─ Disse a de olhos nublados, após girar a taça e ingerir um gole. Sangue manchava os dentes de Amren.
─ Ninguém deixa meu estabelecimento com fome.─ A dona respondeu de forma simples.
Após a refeição, Feyre era empurrada pelas mãos pequenas de Demetria para fora do estabelecimento, ela parecia ter percebido que a ex-humana precisaria de alguma ajuda para sair daquele lugar. A risada de sinos da Dama dos Pesadelos ecoou pela rua, se destacando em meio aos sons constantes de conversas e música. Quando pararam ao lado do rio, a fêmea de cabelos curtos entrelaçou seu braço com o da Quebradora da Maldição. Mor esfregou o estômago formando círculos lentos.
─ Quero sair para dançar. Não conseguirei dormir tão cheia. O Rita's fica logo no fim da rua.
─ Estou dentro.─ Disse Azriel, os olhos fixos em Morrigan.
─ É claro que está.─ Resmungou Cassian, o cenho franzido.─ Não precisa partir ao alvorecer?
Mor falou para Azriel:
─ Não precisamos...
─ Eu quero.─ Cortou o Encantador. Ela desviou o olhar, virando-se para Cassian.
─ Vai ousar se juntar a nós, ou tem planos de admirar seus músculos no espelho?
Cassian riu com escárnio.
─ Vou pelas bebidas, babaca. Nada de dança.─ O general se virou para fitar Demetria e Mor acompanhou o movimento, abrindo um sorriso que fez com que a Dama torcesse o nariz, já sabendo o que sairia daqueles lábios pintados de vermelho antes mesmo da fêmea loira sequer movê-los.
─ Aproveitem a noite, Feyre e eu iremos dormir.─ Ela fez questão de frisar a frase, os olhos cintilantes transitando entre os três em sua frente. Cassian abriu um sorriso malicioso.
─ Dormir, é? Não sei se Rhysand compartilha os mesmos planos que os seus, demônio.─ Falou e Demetria estalou a língua. Feyre piscou, mirando seus olhos no macho de cabelos preto-azulado que acabara de sair do restaurante e caminhava em suas direção de forma lenta, como se estivesse aproveitando a brisa fria.
─ Não consigo enxergar onde isso pode ser algum problema seu, bastardo.─ Rosnou a de cabelos curtos e castanhos. Cassian aumentou seu sorriso, as asas farfalharam primeiro antes que se inclinasse ligeiramente na direção de Demetria para ficar na mesma altura que aqueles olhos esverdeados.
─ Se isso vai acabar com meu sono de beleza, claro que tem, afinal,
─ Azriel.─ Cortou a Dama. Sem hesitar, o Encantador acertou um chute em uma das pernas do general, fazendo-o oscilar por um instante, desabando no chão. Mor se rompeu em uma risada engasgada, assim como Feyre.
Demetria sorriu com satisfação e se curvou, tocando o ombro de Cassian, dando tapinhas.
─ Na próxima vez que for me provocar, pense duas vezes.─ Feyre deixou-se ser puxada por Demetria, ambas sozinhas começaram a andar pelas ruas.
Os reflexos do Arco-Íris ondeava na superfície do rio. Alguns feéricos paravam para observar as suas fêmeas como se tentassem decifrar o motivo pelo qual as luzes da cidade as banhavam de uma maneira que lhes pareciam que Velaris pareciam tentar atrair a atenção daqueles dosi pares de olhos esverdeados e azul-cinzentos.
─ Cassian está me provocando desde cedo, acho que ele queria que eu o afogasse nesse rio.─ Falou Demetria, afastando uma mecha de seu cabelo que se pôs em frente dos seus olhos.
─ Só não afogue ele antes que me treine.─ Soltou Feyre, sorrindo.
─ Cassian não é o único que pode treiná-la.
─ Não acho que Azriel ou Rhysand assumiriam a tarefa agora.─ Um vinco surgiu no cenho da Dama no momento que ela ergueu o rosto, fitando os céus escuros e dominados por estrelas. Feyre a encarou, reparando nas sardas espalhadas pelas bochechas e nariz da fêmea que não havia notado na primeira vez que a viu Sob a Montanha. Na época, Demetria era uma sombra do que era agora, um exemplo para a crueldade de Amarantha enquanto Rhysand era a vadia da que se auto-nomeou Grã-Rainha.
─ Como?─ Perguntou, atraindo os olhos verde-prata para si.─ Como você e Rhysand ─ Feyre pareceu incapaz de completar sua perguntar e logo estava gesticulando para Demetria, esperando que a Dama entendesse sua dúvida.
A fêmea de cabelos curtos a fitou com o cenho franzido por tempo efêmero e riu, sinos tilitaram em algum lugar em resposta à aquele riso. A Dama separou os lábios rosados, pronta para respondê-la quando uma mão tocou as madeixas castanhas, chamando a atenção de ambas para o Grão-Senhor, seus lábios sensuais esticados em um sorriso malicioso.
─ Respondendo sua pergunta, Feyre, Demetria não conseguiu resistir a esse belo rosto.─ A Dama dos Pesadelos estalou a língua e afundou o cotovelo no estômago do macho.
─ Um provocador barato, é isso que você é. Você e o bastardo do seu irmão.
─ Cassian agradeceria os elogios se estivesse aqui.─ Disse ele, os olhos estelares pareceram mergulhar nas marés esverdeadas nas orbes de Demetria. Feyre os admirou, em segredo.
Rhys e Demetria estavam firmes, mesmo após os terrores que presenciaram. Eles continuavam enviando um ao outro aqueles sorrisos que lhe lembravam bastante ela mesma e Tamlin em uma época que parecia distante demais agora. A forma que se movimentavam, um sempre acompanhando o outro, como se não conseguissem ficar um mísero centímetro longe do outro.
Aqueles dois eram tão inegavelmente apaixonados que chegava a doer em seu coração. Era difícil ter que olhá-los e saber, entender que poderia ter aquilo se as paranóias e os temores de Tamlin não tivessem a engolido e a sufocado ao ponto de se perder em si mesma.
A ex-humana despertou de seus pensamentos no momento que sentiu a palma de Demetria descansar em seu ombro. Rhysand já não estava por perto. Feyre franziu o cenho, confusa e curiosa para saber onde o Grão-Senhor teria ido.
─ Ele me encontrou quando eu nem sabia que precisava dele.─ Confessou a Dama dos Pesadelos, recomeçando a caminhar e puxando Feyre para que a acompanhasse.─ Rhys não desistiu, mesmo que eu o negasse dia e noite, mandando que ficasse longe de mim. Na época, havia desejado aquela distância entre nós, pois eu ainda me lembrava. Lembrava que ele foi um dos responsáveis pela morte e a escuridão que dominavam a Corte dos Pesadelos. Mas, então, tive que me tornar seu mártir e deixá-lo ser o meu, pois ela nos destruiria se estivéssemos separados.
─ E você começou amá-lo.─ Disse Feyre. Demetria balançou a cabeça suavemente, ela novamente ergueu o olhar para fitar o céu noturno.
─ Para muitos, Rhys é um assassino cruel que governa uma corte com assassinos iguais a ele.─ A Dama dos Pesadelos piscou os olhos e retornou a fitar Feyre.─ Não é estranho pensar que o macho que ama é um monstro sem coração para toda a Prythian?
─ O que está fazendo?─ Demetria perguntou, adentrando no cômodo após deixar Feyre no seu quarto. Ela parecia estar prendendo uma risada no fundo de sua garganta quando fitou Rhysand deitado na cama, as asas à mostra.
─ Esperando por você.─ Respondeu ele, simples.
─ Como um cachorrinho.─ Riu a fêmea, se aproximando da beirada da cama e se sentando lá, inclinando o torso para que pudesse desamarrar os cadarços das botas em seus pés. Demetria se focou naquela tarefa que incumbiu a si mesma quando sentiu uma respiração em sua nuca, arrepiando seu corpo.
─ É, como um cachorrinho.─ Suas mãos tocaram os cotovelos da fêmea, os erguendo e então, dedos resvalando pela pele, seu peito vibrando com os suspiros que escapavam dos lábios rosados da Dama dos Pesadelos.
─ Rhysand.─ Sua voz murmurou em um tom levemente falho de aviso, sua cabeça inclinando levemente para lado e permitindo que o macho começasse a distribuir seus beijos pelo pescoço da fêmea.
─ Demetria.─ Murmurou em resposta. O corpo da fêmea se arrepiou mais uma vez, as mãos de Rhys deixaram de acariciar seus braços e escorregaram para suas costas, desfazendo os botões de seu vestido, um a um. Aqueles lábios sensuais trilhando um caminho, avançando conforme o vestido descia pela pele da fêmea.
Demetria arqueou as costas diante do contato da boca de Rhys em sua pele, se desequilibrando na beirada da cama, mas antes que pudesse sequer imaginar-se caindo no chão, suas mãos se depararam com asas. Suas unhas deslizaram na membrana sensível causando o grunhido do Grão-Senhor que não demorou em segurar os ombros da Dama dos Pesadelos, lançando-a na cama.
Demetria piscou os olhos, parecendo momentaneamente surpresa com a velocidade que Rhysand a enviou para o colchão. Quando o macho se curvou, grudando seus lábios nos dela em um beijo que fez qualquer resquício de riso rodeando sua boca rosada sumisse e se tornasse em gemidos, entregando o quão entregues estavam. As mãos de Rhys agarraram as coxas de Demetria as erguendo fazendo com que ela as rodeasse em torno de seu quadril. A Dama não sentiu vergonha quando gemeu ao senti-lo contra si.
Os olhos violetas de Rhys se escureceram com o som.
─ Silêncio, bebê pesadelo.─ Ele disse, a voz não passando de um sussurar que acariciou a pele de Demetria e a afundou naquele necessitado que esquentava seu corpo.
─ Você não quer acordar Feyre, quer?─ Ela tentou rosnar algo em resposta, mandá-lo parar de brincar mas era tão difícil pensar quando Rhys roçava os quadris nos seus.
Ele riu contra a boca rosada da Dama. Demetria trincou o maxilar, os dedos agarrando a gola da túnica do macho e o trazendo para perto, apenas o suficiente para que seus lábios roçassem.
─ Cale a boca.─ Ordenou. Rhys sorriu, arrastando as palmas que ainda agarravam as coxas da fêmea para debaixo da saia. Demetria ergueu a cabeça, emitindo um gemido e então, a noite apenas pareceu iniciar-se.
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