five. warnings to nightmares
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Feyre não compareceu no hall de entrada para receber os generais e príncipes de Hybern, Brannagh e Dagdan, que vieram acompanhados com a presença de Jurian. Ela fingira estar aterrorizada por presenças tão perto de si, refugiando-se em seu belíssimo quarto, mantendo os olhos prontos para derramar falsas lágrimas quando Tamlin se aproximava, buscando oferecer algum conforto e sempre reforçar o quão necessário é manter o reino feérico ao lado da Corte Primaveril. E, todos os dias, Alis depositava uma bandeja em frente a sua porta para que se alimente, pois se recusava dividir a mesma mesa com os generais e Hybern. Há murmúrios sobre Feyre estar escondendo-se de Tamlin, sobre ele ter decepcionado-a mais uma vez, sobre o Grão-Senhor ter retornado aos antigos hábitos e estar usando a insatisfação da fêmea para mantê-la trancafiada no próprio quarto.
Enquanto Feyre continuava a construir sua imagem de uma fêmea fragilizada e temerosa, Lucien observou muito mais do que costumava fazer e manteve os ouvidos atentos. Agora, Tamlin e Ianthe ocupavam-se em guiar os generais e Jurian para a muralha, observando-os buscar por falhas na magia, realizando relatórios. E, em vez de acompanhá-los, Lucien permanece na mansão, deixando claro o quanto repudia o tratado que possuem com o reino estrangeiro, assim os sussurros tornam-se mais fáceis de escutar e lentamente alastrar a silenciosa discordância pela mansão.
Aos poucos, ambos criavam uma armadilha feita de teias conforme preparavam o momento ideal para que pudessem reunir todas as provas e retornar para a corte que pertenciam.
Naquele dia em específico, a ex-humana caminhou por entre as rosas vermelhas do jardim que já pertencera a mãe de Tamlin, os dedos roçando nas pétalas. O sol mal aparecera entre as nuvens e as atenções estavam focadas nos últimos preparativos para a comemoração do Solstício de Verão que se esticaria ao longo das horas. Porém, Feyre já estava abanando uma saia esvoaçante e brilhosa. Botas pesadas esmagaram a grama verde, ela sabia quem estava ali antes mesmo que pudesse virar-se.
Tamlin não disse nada, nem ao menos pareceu hesitar em fazê-lo. Apenas a observou, trajando um adorável tecido branco e aparentando estar distraída o bastante para sequer notá-lo. Então, lhe deu as costas, distanciando-se quase como se fosse doloroso vê-la, sem notar o sorriso zombeteiro crescente nos lábios da feérica Archeron.
Feyre portou-se como uma boneca, deixou-ser colocada nas costas de uma égua pálida que exibia flores selvagens em sua crina, aproveitou a suavidade da capa luxuosa que Alis lhe entregou para a cavalgada até as colinas. Lá, Ianthe realizava seu teatro. A sacerdotisa voltada para um altar decorado por flores e primeiros grãos e frutas do verão. E, mais uma vez Archeron se forçou a trazer novamente aquela paixão já cinzenta conforme mantinha os olhos fixos em Tamlin quando o mesmo lhe desceu do torso da égua, ela sorrira para ele, vendo-o iludir-se com as memórias. Feyre traçou seu braço ao dele, caminhando ao lado do Grão-Senhor para o altar de pedra. Ela não lançou um olhar na direção de Lucien que os seguia, acompanhado com a família real de Hybern e Lucien.
Durante longos minutos, ela sorrira com afeição, incentivando cada ação realizada por Ianthe e entregando uma figura inofensiva aos príncipes de Hybern. Em determinado momento, apenas restara Lucien e Feyre no círculo de grama.
"Isso é tão estúpido" O pensamento do feérico outonal flutua. "Qualquer feérico capaz de pensar enxerga as mentiras"
"Mas Ianthe acredita que conseguirá convencê-los" Retribui Feyre, piscando os olhos e lentamente virando-se para a multidão silenciosa atrás de si.
"Assistir essa cena está me fazendo arrancar meus olhos"
O olhar de ambos se encontram.
"Então, vamos acabar com isso logo" Ela sorri. "Felizmente, para você, preciso que tenha seus olhos"
"Sua maldita humana tola"
Ianthe preparava-se, arqueando as costas, ansiosa pelos murmúrios no instante que o sol nascera, os mesmos que vieram, todavia eles não estavam direcionados a ela. Mas, sim, para Feyre.
Bastou apenas um mero movimento, visando deslocar a pedra que servia como ponto de referência para Ianthe e tornar seu corpo incandescente, como se fosse uma estrela recebendo a poderosa luz solar.
─ Quebradora da Maldição.─ Murmuraram uns.
Estendendo a situação que criara, ela arregalou os olhos, tecendo uma expressão de surpresa, virando-se para Lucien. Para todos, estava claro que encontrava-se conformada pela escolha do Caldeirão. Tamlin não expressa nada, além de surpresa.
─ Abençoada.─ Sussurram outros.
Feyre notou que irradiava ao ponto da luz refletir no olho metálico de Lucien, ela esticou sua mão, claramente permitindo que lhe apoiasse. O feérico o fez, segurando os dedos e se ajoelhando aos seus pés. A multidão seguiu o exemplo do emissário. O brilho que exibia esticou-se, ondulando pela figura curvada de Lucien. Um cavaleiro diante de sua rainha.
A Quebradora da Maldição encarou diretamente para Ianthe, esbanjando uma falsa felicidade, mas suas íris continuavam frias, opacas e atentas, um reflexo da loba escondida entre os disfarces que criara naquela corte. E quando a sacerdotisa recuou um passo, parecendo inegavelmente inconformada por não receber todas as atenções, Feyre soube que estava próxima a hora de retornar para a Corte dos Pesadelos.
Demetria não esforçava-se para esconder o demônio que há por debaixo de sua pele, jamais o fizera ou tivera prazer de fazê-lo, pois nascera daquela forma. Desde que desenvolvera o desejo de possuir a Corte dos Pesadelos, ela entendera que não havia como trilhar um caminho tão tortuoso sem tornar-se em sua pior versão existente e, ao contrário de muitos, Demetria abraçou a escuridão, transformando-se naquela figura que não hesitava em tomar aquilo desejado ou destroçar para liberar o caminho até seu objetivo. Contudo, aos olhos de todos ali, parecia que ela vestira a pele daquele demônio pela primeira vez.
Seu vestido era escuro, um preto profundo sem quaisquer cintilar e o tecido parecia-se uma segunda pele, agarrando-se aos seios e cintura da fêmea enquanto as saias flutuavam, era como se Demetria fosse uma noite exibia sem suas fiéis estrelas e lua.
─ Parece que está prestes a matar alguém.─ Rhysand diz, aproximando-se da Dama dos Pesadelos que fitava o próprio reflexo no espelho, colorindo os lábios rosados de um vermelho-sangue.
─ Sempre estou pronta para matar.─ Responde, sorrindo na direção do reflexo do Grão-Senhor.─ Mas, caso esteja preocupado, eu não o matarei.
Rhys ri, ajoelhando-se ao seu lado, os olhos estrelados vagando pelo rosto repleto de sardas e os lábios vermelhos.
─ Não, você não vai.
Demetria sorriu, esticando uma mão para acariciar o rosto de seu parceiro.
─ Isso não deveria deixá-lo feliz, Grão-Senhor.
Ela o observou acenar com a cabeça e erguer uma mão, logo um estalar soou pelo cômodo. Demetria franziu o cenho para o objeto nas mãos de Rhysand, finalmente notando que havia uma coroa em meio aos fios escuros do meio-illyriano. Nada escapou de boca enquanto observa-o sorrir daquela maneira gatuna que lhe fez relembrar de um momento distante, levantando-se e erguendo aquela coroa feita de penas de corvo, uma gêmea feminina da sua, colocando-a na cabeça de Demetria.
Ela se mantivera em silêncio, erguendo uma sobrancelha quando Rhys deu passos, parecendo um apreciador de artes, apenas recuando para analisar melhor a grandiosidade em sua frente.
─ Estava errado.─ Murmura, inclinando a cabeça para o lado.─ Meu adorável demônio não fica ainda mais belo com uma coroa, ele fica tão deslumbrante que sequer sei se há um elogio que faz jus a sua beleza.
Demetria sorriu, fechando os olhos por um momento, antes de guiar-se na direção de Rhysand, próximos o bastante para que apenas um mero movimento fosse necessário para se beijarem. Ela segurou suas mãos, entrelaçou seus dedos dos dele e beijou sua pele. Os olhos brilhando em palavras não-ditas. E Rhys reafirmou para si mesmo o quanto desesperadamente e infinitamente amava aquela fêmea. Nem menos a morte o tiraria de perto daquela que não só tomara a Corte dos Pesadelos, mas também saqueara seu coração.
Com as mãos segurando as bochechas de Demetria, ele sabia que Demetria pensava e sentia o mesmo, sem qualquer hesitação. Arrastando os dedos pela pele macia, depositando um suave beijo nos lábios vermelhos e escondendo o rosto na curva de seu pescoço, ele sentiu a fêmea abraçá-lo.
─ Prometo não ficar ciumento ao ver machos ajoelharem em sua frente.
"O único macho que permito se ajoelhar para mim na minha cama é você" Ela ronrona em sua mente. "Espero que isso o faça se sentir melhor"
Erguido por firmes colunas de mármore negro e pilastras que imitavam as bestas demoníacas enroscadas por elas, composto pelas paredes do mesmo material escuro que compunha a Cidade Escavada, não havia janelas à vista e muito menos quaisquer aberturas que os permitiam ter a certeza se havia alguma vida dentro daquela mansão, porém Ludovik sentiu-se observado conforme afundava as botas na neve, seguindo a figura da Dama dos Pesadelos que mantinha seu braço entrelaçado ao do Grão-Senhor e ostentava um casaco felpudo. E o encantador de sombras não sabia se tal sensação vinha daquela mansão ou do illyriano atrás de si. Suas sombras haviam se escondido na presença do outro encantador. Naquele momento, desejava ter assumido a tarefa de observar June e cuidar para que Cpretus não incendie a Corte dos Pesadelos, a nesma direcionada para Zion.
Demetria sequer lançara um olhar ao seu redor quando pôs um pé no primeiro degrau da escadaria que se erguia em frente daquela mansão, Ludovik estremeceu, sendo rodeado por uma sensação temerosa que vinha dos espirais negros espalhados pela mão erguida da fêmea. Quase como se uma névoa tivesse sido dispersada, um belo jardim formado por estátuas tornou-se visível, a neve ainda caía e um suave ritmo guiado pela junção de violinos com tambores ecoava.
─ Malditos exibicionistas.─ Resmunga Mor, o vestido vermelho que vestia, destacando-se em meio às estátuas brancas. Pelo canto de olho, Ludovik consegue distinguir um movimento vindo dos mármores esculpidos e recuando um único passo, sem pensar ao esticar uma mão em frente a de Azriel que franziu o cenho, confuso pela ação do feérico.
Ao notar o olhar atento, ele se inclinou, fitando o mesmo ponto que Ludovik e as sombras sussurravam em seus ouvidos, os dedos do illyriano roçaram na Reveladora da Verdade. Um macho feérico surgiu, suas roupas davam-lhe a aparência que combinava perfeitamente com seu título. Azriel o conhecia, sabia muito bem que ele compartilhava da mesma ideologia preconceituosa de Keir, era óbvio que seguiria o pai de Mor para todos os lugares desejados. Atrás de ambos, Cassian analisou a situação com as sobrancelhas franzidas, pronto para erguer as próprias lâminas.
─ Você não deveria estar aqui.─ Ele disse, a voz rouca e desdenhosa. Não se direcionou para ninguém, além daquela que os oferecia a visão daquela coroa em seus fios.─ Não foi convidada e não queremos sua presença aqui.
Demetria esticou os lábios vermelhos, perigosamente sem se afetar com o tom do macho. Rhys também sorrira.
─ É um prazer revê-lo, Lorde Thanatos.─ Ela virou-se para Cassian que caminhou, posicionando-se ao lado dos Grão-Senhores, Azriel realizou os mesmos movimentos.─ Acredito que deva dizer quão magoada fiquei ao retornar para Cidade Escavada e não encontrá-lo.
O feérico torceu os lábios, repudiando a ameaça silenciosa direcionada.
─ Não pedirei perdão a uma vadia como você.─ É o que cospe.─ O que quer que aquela general com você, foi merecido, alguém precisava colocá-la em seu devido lugar.
─ Então, acredito que ficará satisfeito com a posição que ocupo, meu Lorde.─ Demetria distancia seu olhar, encarando o céu cinzento, os flocos de neve que caíam. E todas as atenção estão no feérico que tossiu, ofegou, inclinando-se em busca de ar, algo que não conseguiu pela aparência púrpura clara em seu rosto.
Thanatos caira na neve, sufocando.
─ Pode ter seguido Keir, mas, continuo sendo muito mais do que você, Lorde.─ O olhar de Demetria encontrava-se prateado, opacos.─ Lembre-se que já fui piedosa o bastante ao deixá-los respirando, se foram capazes de se revoltar, foi porquê permiti que o fizessem.
Rhysand encarou seu redor, ainda sorrindo daquele jeito perigoso. Ele sentiu quando aqueles que continuavam escondidos golpearam, mostrando-os que não iriam se curvar novamente, no entanto bastou meio-pensamento para que caíssem, uns desmaiando e outros cuspindo sangue na neve.
─ Interpretarei essa desobediência como uma consequência de não ter lhes dado a devida atenção e os perdoarei com toda minha benevolência.─ Profere em alto e bom tom, permitindo que Grão-Senhor da Corte Noturna assumisse.─ Então, Keir, eu diria que esconder-se é uma péssima escolha, afinal tenho um talento incomum para encontrar feéricos como você.
Há um silêncio, onde o som dos engasgos de Thanatos e os choramingos desesperados permanecera. Os Grão-Senhores da Corte Noturna demonstrando o motivo pelo qual eram temidos muito além das fronteiras daquela corte. Demetria sorrira no exato momento que o som de botas os alcançou, não demorou para que Keir estivesse em suas frentes.
O queixo erguido de forma orgulhosa, peito estufado e carregando uma taça de vinho nas mãos. Ele não precisava dizer nada, era óbvio o desprezo que possuía por cada figura parada ao lado de Demetria e Rhysand.
─ Sei porquê vieram.─ Keir diz, espreitando os olhos.
─ Ah?─ Rhysand ergueu uma sobrancelha, virando para Demetria que liberou uma risada de sinos. E quando Keir parecera continuar a falar, a Dama ergueu uma das mãos.
─ Se sabe o motivo, então sabe que devemos discutir em uma mesa a não ser que queira experimentar estar na pele do Lorde Thanatos.
Com desprazer estampado em seu rosto, Keir os deu as costas, seguindo pelo labirinto.
Apenas Demetria se sentara na larga mesa de madeira escura como toda a decoração que havia ali, com exceção das velas. Enquanto Rhysand encostou-se no braço da cadeira, sorrindo como um gato pronto para capturar um rato com suas presas. Os únicos que aproximaram dos Grão-Senhores foram Cassian e Azriel. Ludovik manteve-se ao lado de Mor, pronto para atingir quem ousasse encostar da fêmea loira. Keir os observou, sentando-se em frente de Demetria com certo hesitar.
─ Hybern está se agitando. Suas legiões ─ Ele lançou um olhar cheio de desprezo para Azriel, para as asas membranosas.─ e os Precursores da escuridão estão se reunindo.─ Seus dedos se entrelaçam em cima da madeira.─ Quer que meus Precursores se juntem a seu exército.
Rhys compartilhou um olhar e sorriso com a Dama dos Pesadelos.
─ Meus.─ Interrompe Demetria, por fim. O olhar atento de Keir focou-se nela.─ Honestamente, Keir, você me desaponta.─ Sibila ela. O corpo do macho ficou tenso ao sentir aquelas garras fincarem em seu muro mental, fazendo-o perder o ar de seus pulmões.─ Permiti que vivesse e, enquanto meus dedos eram quebrados todos os dias, você utilizou sua mente pequena para criar uma bagunça que erroneamente chamaram de revolta e diminuiu meu exército.─ A Dama dos Pesadelos esticou a mão por cima da mesa, os dedos tamborilando, as unhas chocando-se contra a madeira.─ Apenas dei um passo longe e esqueceu que todos que pertencem a Corte dos Pesadelos é meu, incluindo você.
Ela encarou Rhys, franzindo o cenho com uma falsa expressão de tristeza no rosto delicado. O Grão-Senhor riu, deboche colorindo sua face, mas os olhos continuaram inegavelmente frios quando foram postos em Keir.
─ E mais do que isso, estes imbecis que lhe seguiram, ousaram nos atacar.─ Ele capturou uma taça de vinho que havia sido depositada na mesa e bebericou.─ Por acaso, esqueceu a quem você deve obediência, Keir?
─ Com certeza, não é para a vadia que você come.─ Resmungou o macho com um mero fio de voz. Ele fixou o olhar na Dama dos Pesadelos que ergueu uma sobrancelha.─ Sabia que era apenas questão de tempo para que abrisse as pernas para esse mestiço. Não vou deixar uma vadia tomar meu lugar na minha corte e tirar meu povo de mim. Não me arrependo de nada que fiz e não irei ajudá-la contra Hybern. Talvez devesse deixar o Rei e seu exército experimentá-la, talvez ele lhe desse uma coroa também.
As asas membranosas de Cassian e Azriel se esticaram, ambos possuíam olhares ferozes. Demetria rira mais uma vez, a risada de sinos pareceu terrivelmente aterrorizante. E suas garras arrancaram a barreira mental de Keir como se fosse apenas um gesto tão natural quanto respirar, lentamente destroçando-a, conforme apertava o minúsculo cérebro. Imóvel como uma pedra, não possuindo escolhas além da de curva-se, os olhos brilhando em lágrimas que não derramaria.
─ Essa corte é minha. Esse povo que chama de seu é meu, eu o tomei para mim enquanto você era apenas um porco imundo que não pensava duas vezes antes de cair de joelhos. Se acha que possui algum controle sobre essa corte, é um tolo e a Mãe sabe muito bem o quanto odeio machos tolos. Você irá lutar, seja do meu lado ou não mas saiba que, no lado inimigo, eu irei destruí-lo e pendurar sua cabeça nas montanhas para que todos em Prythian saibam o que acontece quando testam demais a minha paciência.─ Ela se levanta lentamente, piscando os olhos e esticando um sorriso. Rhys parou ao seu lado, esticando um braço na sua direção.─ E é apenas isso, acredito que devo pedir perdão por ter roubado muito do seu tempo.
Keir se desmanchou na mesa, aos poucos recuperando o fôlego perdido e olhos completamente desfocados, as palavras da fêmea ecoando em sua mente repetidas vezes, firmando-se como uma tatuagem no que ele é. Ele jamais esqueceria o que foi dito e um arrepio subiria por seu corpo a cada instante quando sequer pensasse em direcionar uma palavra ofensiva, sua mente se tornaria em cinzas caso ousasse unir-se com Hybern. Demetria cuidou para que nunca fosse capaz de esquecer de suas palavras, da promessa que fez.
Seus dedos agarraram-se no braço do Grão-Senhor. E eles caminharam pelos corredores iluminados por velas. No escuro, a coroa de ambos cintilava, o poder exalando dos Grão-Senhores da Corte Noturna e intensificando quando era possível notar as figuras que os seguiram. Indo dos poderosos illyrianos até a feérica que domina a verdade e o feérico cujas sombras pareciam absorver a escuridão, atraindo-a.
Descendo os degraus das escadas, os olhares já encontravam-se neles. Eles estavam ansiosos por aquilo, curiosos com os caminhos tomados pelo macho que seguiram em busca de uma vida contínua na crueldade e sadismo.
Demetria não dispensou sorrisos, um vislumbre da serpente que espreitava debaixo de sua pele, ela recebeu cada olhar repudioso com louvor. Rhysand possuía aquela nuvem tomada de poder espalhando-se pelo ambiente, fazendo cada um lembrar do motivo pelo qual temiam ele. Encontravam-se tão distraídos em mostrá-los sua soberania como predadores que Demetria apenas notou a feérica parada na sua frente quando era tarde demais, no momento que ela agarrara o braço da Grão-Senhora, fincando as unhas na pele pálida.
A Dama dos Pesadelos ergueu a cabeça, rosnando e pronta para destroçar quando o reconhecimento lhe atingiu. Ela reconhecia aqueles cabelos em um profundo de cobre, aqueles olhos que lhe miraram com fúria. Seu rosto tornou-se ainda mais pálido e seu fôlego sumiu.
─ Sua cadela!─ Xingou a fêmea, claramente mais velha do que toda a corte dos Grão-Senhor.─ Vou fazer com que pague!
Rhys rosnou, liberando um pouco daquele poder que insistia em esconder e empurrando-a para longe de Demetria que nem ao menos reagiu. Continuando a encarar aquela fêmea cheia de ódio, Cassian tocou em seus ombros, franzindo o cenho ao notar que Demetria encolheu-se sob seus dedos, tremendo de uma forma que jamais vira.
Rhys inclinou a cabeça, os dedos contraindo-se e os olhos deixando claro seu próximo passo. Demetria avançou, segurando a mão de seu parceiro com força, impedindo-o.
─ Disse a ele que você não passava de uma oportunista, um carrapato procurando sugar toda a vida de alguém.─ Fyrce apontou um dedo para o rosto da Dama dos Pesadelos.─ Eu disse que você iria destruí-lo. Meu filho defendeu você, ele lhe tirou do lixo e lhe deu uma vida para viver.─ O histerismo era observado como uma peça de teatro.─ Ele a deu vestidos para exibir! Anéis e colares todos os dias! Te tratou como uma rainha e a amou tanto que ficou cego!─ Ela gritou tão alto que os ouvidos feéricos doeram.─ E você retribuiu matando-o, tirando meu garotinho de mim!
Silêncio ondulou pelos olhares curiosos, incluindo o círculo ao redor da Dama dos Pesadelos. Ludovik encarou Demetria. Durante os cinquenta anos que se passara e o pouco tempo compartilhado com Lionel, ele escutara sobre a união da fêmea com um recém-nomeado lorde, não passara de uma forma para conseguir as informações que precisava sem parecer suspeita aos olhos da corte, todavia havia tornando-se um tormento, uma vez que Demetria passou a ser agredida pelo lorde com quem se casara. E, certos sussurros pela Cidade Escavada contam sobre uma suposta gravidez que nunca fora para frente por conta das agressões que não pararam até que Harpyon fosse impossibilitado de respirar.
─ Ele mereceu.─ Chia Demetria, a voz soando cruelmente frágil, atormentada pelas memórias. Rhysand lhe encarou, as feições de Demetria o lembrou das noites passadas Sob a Montanha. Ele odiou ver aquele olhar novamente.─ Ele mereceu morrer e eu nunca vou me arrepender. Ele merecia o pior e eu o dei.
Fyrce rosnou, recuando por um momento e avançando, mas ela foi parada. Mor encarou a fêmea mais velha com raiva e óbvio desprezo.
─ Não me importo nem um pouco com essas ofensas, sinceramente já fui chamada de nomes mais criativos, mas no momento em que ousa encostar um dedo na Grã-Senhora, ─ O timbre de Morrigan tornou-se baixo, perigosa. Ela espreitou os olhos, as unhas vermelhas afundando na pele da fêmea.─ tudo muda e saiba que perderá todos seus dedos.
Fyrce riu, os olhos parando da Grã-Senhora, parecendo finalmente a coroa em seus cabelos.
─ Então, era isso que você queria, não era?─ Ela afirmou, ainda sorridente, zombaria rondando-a. Morrigan ergueu uma sobrancelha, um mero cintilar em seus olhos castanhos denunciou que estava prestes a utilizar seus poderes destrutivos para calá-la de uma vez.
Demetria esticou uma mão, tocando no ombro da loira e puxando-a para longe daquela feérica furiosa. Mor não olhou para a Dama dos Pesadelos, apenas deixou-se afastar, posicionando-se ao lado de Azriel. Fyrce rosnou, erguendo o queixo para a Grão-Senhora. Ambas se encararam como iguais. Ela mordeu os lábios com força, erguendo a mão, pronta para acertar um tapa no rosto da Grã-Senhora, porém um macho surgiu em meio a multidão, aproximando-se de Fyrce, puxando-a.
─ O que diabos você está fazendo?─ Pergunta, pausadamente. A feérica de cabelos cobre não disse nada, os olhos ainda fixos em Demetria conforme se afastava, um ódio eterno refletido em suas feições.
A Dama dos Pesadelos balançou a cabeça, afastando pensamentos e não direcionou nenhum olhar quando encarou as portas pesadas que os tirariam dali. Rhysand aproximou-se, pondo um braço em torno de seus ombros e lançando um olhar para aqueles que os seguiam. Não foi necessário dizer palavras. No exato instante que colocaram os pés na neve, eles atravessaram.
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