Capítulo 2
Enya não conseguia se lembrar a quanto tempo estava ali, presa naquela sala fria e escura, mas de algum jeito podia sentir. Era quase como uma escuridão sem fim que tomou conta de toda sua vida e de sua alma perdida, como uma praga se esgueirando sobre sua pele, ou insetos venenosos rastejando por seu corpo.
Mas com o tempo, uma parte quebrada de si, se acostumou. Com a dor, a saudade e a ideia de que sempre ficaria sozinha e isolada.
Centenas de anos havia se passado, mas seu coração ainda batia, seu peito ainda descia e subia, seus olhos ainda derravamam lágrimas silenciosas. Por todos os anos, teve a dor infligida a sua carne, mas ainda estava completamente viva.
Seu coração batia forte como o de um corcel indomável, como se seu poder implorasse para queimar e se libertar em uma corrida contra o vento. Um espírito e uma alma que se perdeu, mas ainda sabia que dentro de si, uma guerreira se encontrava.
O contato com o ferro frio das correntes, apertavam e arrepiavam sua pele pálida, lhe trazendo a vergonha de saber que nada escondia sua nudez a olhos de qualquer um que quisesse a ver.
Era uma humilhação que passava por todos os dias em que sentia a dor rasgar seu corpo.
A porta de madeira rangeu ao ser aberta lentamente, as serdas afiadas do chicote se arrastando sobre o chão frio, Enya tomou fôlego, respirando fundo.
Afinal, mais um dia de tortura estava começando.
****
Eris não se demorou em caminhar rapidamente até ela, as mãos trêmulas retirando o casaco de seus ombros para tentar cobri-la de sua vergonha.
Nunca em todo o tempo em que ela tinha de mantido ausente, ele pode imaginar que ela estaria dessa maneira, que a encontraria assim. Uma parte esperançosa de sua mente, pensava que Enya escolherá um outro caminho, ele queria pensar isso, mas a linha do acordo que os unia, estava tão fraca, tão sem luz, como se ela fosse romper a qualquer momento. Desistir, era isso o que parecia, Enya queria desistir.
Os cabelos negros estavam espalhados sobre a mesa, seu rosto nada mudará, feições jovens e doces, com lábios pequenos e carnudos, o nariz arrebitado com poucas sardas até a bochecha. Ela parecia a mesma de antes, mesmo após tantos anos que se passaram.
Ainda jovem, ainda forte. Ainda poderosa.
Ele jogou o tecido por seu corpo, que apesar de ter correntes por todo lado, não escondiam seus seios e a intimidade.
Mas assim que o tecido repousará sobre sua pele, sucumbiu ao fogo e praga, fazendo com que tudo ficasse exposto novamente.
****
Amarantha sorriu docemente, seu vestido branco e elegante se arrastava pelo chão a cada passo dado sobre o piso frio e arrepiante.
Ela parecia feliz, um sentimento sombrio e cruel tomando seus olhos acastanhados, como uma maldição antiga. Por mais um dia, ela torturaria Enya.
Ela não demonstrará nenhuma emoção, quando sentiu o puxão das correntes a fazendo cair para o chão áspero, se mantendo sem reação. Nunca demonstrava nada.
O ato rebelde, enfurecia ainda mais a mulher de cabelos avermelhados, ela puxou novamente e agora Enya estava sentada em cima de seus próprios pés, não demonstrando nada com o aperto e a pressão das correntes em seu corpo.
Ela queria sair, lutar e se libertar disso, e o faria se sua mente não estivesse tão nublada pela dor e pela maldição que se impregnava a cada dia em que um pedaço de sua alma desistia.
Enya respirou fundo quando ouviu o chicote cortar o ar, e o som das serdas contra suas costas rasgadas.
Amarantha não ouviu nada. Mais uma vez, por mais um dia. Enya não se rendeu.
****
Helion não se impressionou quando diante de seus olhos, viu o tecido fino e caro se transformar em nada mais que cinzas ao vento frio.
As sombras rodeavam o corpo de Enya, como uma bruma escura corroendo sua alma, ou como a praga detonando as pétalas de rosas.
Eris, para a surpresa de todos, não tinha mais seus olhos soberbos e arrogantes, agora estavam nublados por uma sombra escura de dor.
Todos puderam saber então, que existia um motivo para ele estar nesse lugar, e também, para todos os outros assassinos que o acompanharam sem hesitar.
Cassian que se mantinha no fundo da sala se movimentou, dando um passo a frente, podendo ver o corpo dormente sobre a mesa de ferro. Uma centelha de curiosidade nascerá dentro de seu peito, que retumbou como a muito tempo não fazia, era um fiapo de luz. Apenas isso, mas era como uma vela acessa no meio de tanta escuridão.
Ele observará, e pode ver como era tão bela, mesmo nas condições que se encontrava, a beleza angelical não se era apagada. Pela primeira vez em sua vida, pode e desejou ver como seria a ter em uma tela, com os traços finos e delicados de Feyre.
Seus olhos castanhos não desceram por seu corpo nú, mas se mantiveram no rosto pálido com sardas pequenas espalhadas pela bochecha. Os cabelos lisos e escuros repousados sobre a mesa, os lábios cheios estavam secos e a pele pálida. Mas nada tirava ou escondia quem ela era.
Ela parecia estar morta, afundada em seu sono profundo da morte, mas seu coração. Batia forte e audivelmente, era o coração de uma guerreira que ainda batia.
Eris levantou sua mão trêmula, tocando levemente seu rosto, sua garganta oscilou com o soluço dolorido de choro que queria escapar, junto das malditas lágrimas que queimavam e pinicavam seus olhos.
Enya não reagirá a seu toque, não como antigamente. Um suspiro divertido saiu de seus lábios ao lembrar que se ela pudesse, certamente teria lhe dado um soco por estar a olhando por tanto tempo assim.
- Agora vocês sabem... - Ele sussurrou. - O porque de eu precisar de vocês aqui, ela precisa voltar para casa. Minha irmã, merece voltar ao lar.
Feyre assentiu, o rosto pálido e assombrado, tomado por compaixão sincera enquanto se agarrava ao braço de seu parceiro.
- Ela está dormindo? - Perguntou.
Nenhuma resposta foi dita.
- Entre na mente dela. - Amren que se manteve calada observando, disse com sua voz calma.
Eris riu sem humor, a cabeça balançando lentamente enquanto as mãos apertavam a mesa de ferro, a ponto de deixar os nós de seus dedos pálidos.
Em todos os anos em que Rhysand o conhecerá, essa era a primeira vez, que o via demonstrar fraqueza.
- É realmente tola se acha que conseguirá invadir a mente dela. - Murmurou a olhando friamente.
Feyre levantou a cabeça, olhando para Rhysand, que parecia enjoado ao ver tudo aquilo.
- Apenas tente. - Pediu em um sussurro.
Rhysand assentiu, fechando seus olhos, e então teve o vislumbre do enorme portão e das muralhas fortes em volta da mente daquela mulher, impenetráveis, impossíveis de serem quebradas.
****
Você não se rende.
Ela repetia isso para si mesma, mais uma vez o chicote rasgava sua pele, a infligir dor e humilhação.
Você não se rende.
Ela dizia, se agarrando aquela voz, aquela lembrança para manter uma parte de si viva.
Você não se rende.
Ela repetiu em sua mente, mais uma vez e mordeu os lábios se negando a soltar qualquer ruído de dor diante daquilo.
- Um dia... - Amarantha respirou fundo. - Você ainda vai quebrar.
Você é de aço, não se curva e não se quebra. Ela era Enya, e não se rendia.
E então ela balançou a cabeça mais uma vez para a dor, mais uma vez ela se negou a ceder, mais uma vez para as garras que tentavam passar por suas muralhas.
****
- Não é possível, - Rhysand disse frustado - é impossível de tentar destruir suas barreiras mentais.
Se sentiu inútil e frustado por nada ter conseguido, pensou em como nunca souberá que Amanratha menteve mais alguém preso, e como nunca desconfiava das saídas longas e demoradas, uma parte de si se culpou, pois quando ele se sentia aliviado por não ter que aguentar a presença da Praga, ela tentava destruir outro alguém.
- Ela não permite que eu entre. - Disse ele.
Amren rolou os olhos com tédio, sua mente observadora e curiosa também estava demasiada interessasa no que aquela mulher poderia ser.
- Não permite o que? Que vejamos que ela sonha com unicórnios e arco íris?
Feyre teve que ignorar as falas ácidas que saiam da boca de Amren, e mais uma vez olhou para seu parceiro.
- Se ela não permite. Peça permissão.
****
Ela não gritava, somente sentia as lágrimas salgadas e quentes escorrerem por seu rosto, a única coisa que ela não conseguia controlar e não tentava.
Amarantha se divertia enquanto passeava uma adaga afiada pelo corpo dela, uma lâmina enfeitiçada também, a fazendo sentir como tivesse queimando de dentro para fora.
Você não se rende.
Ela respirou fundo, sentindo sua garganta oscilar com a dor, ela fechou seus olhos, e aguentou, aguentou e aguentou.
"Você é minha Enya, você é de aço, não se curva e não se quebra"
Ela não se rendia.
E não iria quebrar.
****
Rhysand entrou novamente, ele viu as paredes poderosas queimando com fogo selvagem, ele apenas arranhou, como se tivesse apenas batendo na porta de uma casa, pedindo permissão para entrar.
Um pequeno tilogo se desfez, apenas uma fresta para que ele pudesse ver seu sofrimento.
Ele então ouviu, uma gargalhada que a anos não ouvia e que todos os dias tentava esquecer.
Rhysand cambaleou para trás, somente não caindo pois sua parceira o segurou.
Seus amigos lançaram olhares preocupados, nunca tinham visto esse olhar assombrado em seu rosto. Pelo menos não desde o dia em que Feyre quase morreu.
Ele sentirá sua garganta seca, como se fosse até mesmo difícil para ele pronunciar qualquer palavra.
Eris levantou seus olhos e olhou para ele.
- Ela com toda certeza não sonha com unicórnios e arco íris. - Sussurrou.
Tomou fôlego ao balançar a cabeça tentando tirar a risada melancólica de sua mente.
- Está sendo torturada em sua própria cabeça. - Murmurou.
Ele sentiu a bile ameaçar subir pela garganta, mas Feyre estava ao seu lado, o ajudando a se manter em pé.
- Ela vive em sua mente. - Ele disse e abaixou os olhos. - Amarantha a tortura em seus sonhos.
Cassian então, pode ver a lágrima solitária que escorrerá pelo belo rosto daquela mulher.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro