Capítulo 15
Enya se encontrava novamente no parapeito de sua janela, após voltar de uma longa noite de bebedeira, pensamentos rodeando sua mente conturbada.
Ela estava exausta, não se lembrava da última vez que teve uma noite bem dormida.
Ela quase nunca se permitia fechar os olhos por muito tempo, Enya nunca admitiu, mas ainda sentia medo dos sonhos perturbadores.
Se ela se permitisse fechar os olhos, era como se sentisse a ardência do chicote estralando em suas costas, ou lâminas desenhando cortes pelo seu corpo, tapas, chutes e humilhações.
Seus dedos trêmulos se enrroscaram entre os fios negros de seus cabelos, puxando fortemente enquanto murmurava palavras para si mesma.
— Não estou presa... Não mais... Nunca mais... — Ela dizia se perturbando.
Mas nem mesmo ela conseguia acreditar nas palavras que arranham sua garganta e escapavam pelos lábios trêmulos.
Tinha algo que a perturbava, algum sentimento que ela não se permitiu sentir, que estava a corroendo.
Ela trouxe os joelhos até seu peito e os abraçou, enquanto batia a própria cabeça nas pernas.
— Não estou presa... Não mais... Nunca mais. — Ela dizia.
Ela sentiu o calor bater em todo o quarto, fazendo seu corpo começar a brilhar de suor mesmo com o vento gélido que a noite trazia.
Ela se levantou cambaleante, a respiração ofegante, a visão embaçada impedindo de enxergar direito.
Enya tropeçou em seus próprios pés, e caiu, batendo fortemente a cabeça na quina de sua estante.
O sangue quente escorreu e ela desmaiou.
****
Ela se levantou em meio a escuridão, olhando em volta tentando achar algo para se orientar.
Enya ofegou quando em meio a todo aquele breu, viu um fiapo de luz, ela correu até aquilo, se agarrando a esperança.
E caiu nos braços de seu parceiro.
Era como se o tempo não tivesse passado, como se ele sempre estivesse estado ao seu lado.
Os cabelos castanhos de qual tanto gostavam eram cortados em um corte curto, olhos pretos e os lábios com um sorriso gentil e zombeteiro.
Ela esperou encontrar no rosto dele, a mesma felicidade que estava iluminando o rosto dela.
Mas não havia isso.
Apenas compaixão, dor, e aceitação.
— Oi, amor. — Ele murmurou apertando os braços finos entre suas mãos grandes.
Era dolorido para ele tanto quanto para ela, mesmo estando na terra de leite e mel, compartilhando a mesa com os grandes guerreiros de coração bom que já se foram, ele sentia que algo ainda o puxava para o mundo dos vivos.
A dor dela, o machucava.
Ele viu sua parceira definhar naquela sala escura, e depois a viu definhar enquanto estava acordada.
Não aceitando e nem querendo pensar na morte do parceiro, tendo para ela que era apenas um tempo passageiro e que ele logo voltaria.
Drake queria voltar, deuses... Como ele queria.
Mas ele sabia que o tempo dele na terra já havia acabado.
Ele soube naquele momento quando olhou nos olhos dela, e mesmo tendo a opção de implorar para que ela o salvasse, sabendo que Enya camimharia por todo o mundo para assim achar uma solução para ele, mas, ele decidiu conforta-lá com palavras que ele sabia, que ela amava.
— O que houve? — Ela sussurrou levantando sua mão, tocando as bochechas rosadas de maneira carinhosa. — Por que está com essa carinha triste, meu bem?
Ele levou suas próprias mãos a dela, as cobrindo com seu calor, enquanto de seu rosto desciam lágrimas.
— Você tem que me deixar ir. — Ele disse em um sussurro, se controlando para não deixar palavras trêmulas saírem. — Tem que viver sua dor e superar minha morte, querida.
Enya fez uma careta, e negou com a cabeça.
— Você não está morto. — Disse, seu rosto se contorcendo de indignação. — Não preciso viver a dor, não preciso superar nada... Você está aqui.
— Não. — Ele murmurou. — Não estou.
Drake tentou se afastar, voltar para de onde veio e mesmo que doesse, deixar ela viver o luto.
Mas ela o agarrou mais forte, contrariando a magia do mundo, contrariando a própria Mãe com seu poder.
— Não me deixe. — Soluçou de maneira chorosa. — Não me deixe de novo! Por favor.
— Não tenho escolha amor. — Ele finalmente chorou.
— Não se atreva! — Gritou em fúria. — Não se atreva a me deixar. Você prometeu para mim! Disse que nunca me deixaria.
— E eu nunca te deixei. — Ele disse seriamente. — Nunca quis isso, mas isso é a vida. Nem sempre temos a felicidade eterna.
Ela chorou e recusou, se agarrando mais ao corpo dele, sem perceber que fazendo aquilo, o machucada profundamente.
— A dor não vai embora. Mas sei que aprenderá a viver com ela. — Disse a confortando. — Você é a criatura mais forte que conheci, vai conseguir.
— Eu não sou nada sem você. — Murmurou em meio a seus soluços quebrados. — Sou sua... Por favor não me deixe.
Drake usou a força que o restava para se afastar, vendo sua antiga mulher desmoronar a sua frente.
— Você não é mais minha. — Disse após tomar fôlego. — Mas continua sendo a Enya, aquela que é de aço, aquela que não se curva, e aquela que não se quebra.
Drake foi embora, ignorando os gritos de dor.
Pois sabia que um futuro a esperava, e ele não podia mais assombrar os pensamentos de Enya.
Drake a amava, e amava tanto que a deixaria ser feliz.
****
Enya acordou ofegante, se levantando rapidamente.
Ela olhou em volta o procurando, as memórias vindo como enxurradas em sua mente, como facas a rasgando.
— Drake! — Ela gritou. — Drake!
Ele não respondeu, ele não apareceu.
E o que mais temia aconteceu, Enya sentiu o luto, a dor e a tristeza.
Ela gritou e seu poder explodiu, tomando todo o mundo, mas nunca o machucando.
Pela primeira vez na vida, Enya permitiu que seu poder explodisse, fazendo todo o mundo queimar e seu fogo se alastrar por todos os cantos da terra, mas, nunca machucando ninguém. Somente a si mesma.
Cassian acordou de seus sonhos, suor escorrendo por sua testa, enquanto sua respiração sôfrega o dizia que a minutos atrás, certamente tiverá um pesadelo horrível. Ele e soube que algo estava errado.
Muito errado.
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