Como qualquer outra alma perdida faria. Nestha ignorou os olhos flamejantes, e foi até o único que poderia fazer sua alma se encontrar, Enya acompanhou a mesma com os olhos, e a viu tropeçar nos próprios pés com a mente completamente bêbada por muito vinho feérico.

Cassian olhava para todos os lados tentando achar Enya no meio daquela multidão, querendo estar perto dela de novo, depois que abraçou a todos. Ele só queria ela. Mas foi interrompido por uma mão fria que tocou seu braço, era um toque conhecido, que o trazia arrepios. Mas agora, não eram arrepios bons. Cassian olhou para a fêmea que era um pouco mais baixa que ele, então deu de frente com os olhos azuis acinzentados tempestuosos de Nestha.

Pareciam quebrados, como um mar em meio a uma tempestade forte, como a morte tentando viver como a vida, ela era uma alma perdida. Que estava tentando se encontrar.

Mas infelizmente para aquela alma, Cassian já tinha se encontrado.

E não. Ele não se encontrou em Enya, a assassina fez apenas uma ponte para que ele mesmo fosse seu tesouro, para que ele mesmo se achasse. Para que ele mesmo se sentisse bem. Para que a alma de Cassian, finalmente entendesse, que ele não precisava de uma parceira, apenas dele mesmo.

— Cassian... — Nestha soluçou bêbada. — Estive com saudades.

Ele olhou nervoso para os lados e então teve que segurar a fêmea cambaleante.

— Nestha, por favor. — Ele pediu ao colocá-la em pé.

A mulher se agarrou a ele, como se o general fosse sua salvação.

Mas as pessoas precisavam entender, que não temos que ter alguém para nós sentir a salvo. Precisamos ter apenas nós.

Cassian sentiu outro do que familiar em seu ombro, um toque quente e reconfortante e logo a sua frente os olhos vermelhos de Enya se fizeram presente.

— Nestha... — Ela disse abraçando a cintura de Cassian. — Nem nos conhecemos e você já me deu muitas surpresas.

Os olhos azuis acinzentados de uma tempestade perigosa se transformou em algo mais. Quase como se fosse capaz de apagar todo o fogo que aquecia o mundo.

— Você o roubou de mim. — Ela rosnou.

— Cassian não é um objeto. — Enya retrucou. — Para que alguém possa o roubar.

Nestha apertou suas mãos trêmulas, ela sentia dor, sentia desespero, se sentia completamente perdida. Sentia a mesma de anos atrás, a mesma que ficava escondida no chalé nas noites de frio congelante, a mesma criou uma casca protetora em volta de si, ela se sentia como a mesma mulher burra e arrogante de anos atrás que não tinha nada, apenas dor, fome e desespero.

Mas principalmente, ela se sentia ameaçada. E quando uma tigresa se sente ameaçada, ela rosna, ela luta. Ela tenta destruir seu adversário, não importa como. E foi isso que Nestha tentou fazer.

— Você realmente acha que todo o vazio vai sumir? — Nestha riu maldosamente. — Seu parceiro está morto, Enya. Ele está morto e nunca mais vai voltar, está morto por sua culpa, está morto porque você é fraca. E Cassian, nunca será capaz de preencher o vazio que vai te destruir dia após dia.

A mão de Enya queimou, tão forte que uma lâmina flamejante se fez. Uma adaga feita do mais antigo fogo do mundo, feito do fogo que aqueceu a terra desde o começo dos tempos. Feito do fogo selvagem.

— Vê isso? — Nestha continuou. — Menina tola... Ainda sente que precisa se defender ao ouvir falar do morto. Você nunca será suficiente para Cassian. Nunca foi e nunca será.

Cassian se agarrou ainda mais a mulher ao seu lado, ele via e quase podia sentir o desespero e a dor que Enya sentiu quando foi encontrada chorando na floresta. Ele nunca sentiu a dor de ver um parceiro morrer, mas sentiu a dor de ser rejeitado, isso já era insuportável. Ele imaginou como tinha sido para Enya, se ela se sentia estranha na própria pele, se sentia vontade de morrer, se sentia vontade de sumir, se sentia vontade de matar, se sentia que estava perdida.

Ao contrário do que Nestha pensou, não foi atacada, mas a lâmina flamejante se apagou, e o fogo voltou para sua verdadeira dona.

— Em uma coisa, você tem razão, Nestha. — Enya disse acariciando o braço do general. — Cassian nunca será capaz de preencher um vazio, pois eu não me sinto vazia. Eu não preciso de alguém para preencher um vazio, não preciso de alguém para que minha alma se sinta acolhida. Pois eu faço isso por mim mesma, não sou uma menina tola. Sou alguém, sou uma feérica, sou uma líder, sou uma irmã, sou uma mulher. Eu sou uma sobrevivente, Nestha.

Enya a olhou, o fogo ainda queimava em seus olhos vermelhos. Uma fúria antiga e poderosa se mostrando presente para a antiga senhora da morte.

— Drake morreu, o homem que era meu parceiro morreu. A história dele nesse mundo acabou, mas a minha não, ainda tenho caminhos para trilhar. Acredite Nestha, doeu. Doeu mundo o perder, mas foi tranquilizador o superar. E Cassian? Ele é perfeito, ele é maravilhoso, esse é o homem que eu amo, ele não é o parceiro que a Mãe escolheu para mim, mas é o parceiro que eu escolho para minha vida. Eu escrevo minha própria história, eu escolho meus passos. Eu sou a líder de minha própria vida. E agora eu escolho ser alguém melhor, e não matar você, pois você está tão perdida quanto eu estava a anos atrás.

A mulher enfurecida levantou o punho fechado, mas Cassian foi rápido o bastante para tirar sua mulher da frente. Fazendo então com que o soco potente da valkiria batesse em outro alguém, outra guerreira. A mulher se levantou e raiva queimava seu rosto após ter seu vestido arruinado por um certo alguém que estava a sua frente.

Uma briga começou, não somente entre duas feéricas. Mas com todos que estavam no bar, gritos fizeram a música sumir, socos e chutes eram vistos.

Enya e Cassian se olharam com os olhos arregalados cada vez que um novo feérico se juntava a briga. Ela riu colocando a mão na frente da boca ele então sorriu também.

Cassian e Enya corriam agora por entre as ruas de Velaris, o general pegou a mulher em seus braços fortes e voou para longe, eles ainda riam, ainda se abraçam.

O caos havia sido feito e agora estavam longe o bastante para que não se intrometessem.

Assim que pousaram ao chão, Cassian a encostou em uma árvore e então a beijou, um amor avassalador e selvagem que os rodeava.

— Você me ama? — Perguntou ele com a testa encostada na dela.

— Amo. — Ela disse. — E você me ama?

— Amo com toda a porra do meu ser. — Ele respondeu. — Esse amor não me traz nenhuma dor, te amo tanto que me alegra a cada dia.

Enya sorriu e o puxou para mais um beijo, que foi retribuído com toda a paixão que existia entre os dois.

— Case-se comigo. — Ele pediu.

Os olhos estavam fechados e a testa encostada na dela, um sorriso ainda estampado no rosto com feições marcantes.

— O que? — A assassina perguntou sem entender.

Cassian a beijou de novo, e segurou o rosto delicado da fêmea a fazendo o olhar.

— Case-se comigo Enya.

A assassina sorriu depois de segundos, e colocou os braços em volta dos ombros largos, ela o puxou e o beijou. O beijo estava repleto do amor que ambos sentiam um pelo outro, cheio de carinho, amizade e proteção.

— Sim. — Ela respondeu. — Eu me caso com você.

Notas da autora:

Isso não é um ataque contra a personagem Nestha, é só algo que deve acontecer para a fanfic ter coerência. E claro, ela não é assim em todas as minhas fanfics.

E

sobre essa fanfic, Enya tá bem, Cassian tá bem. Nestha vai superar? Um dia, talvez. Mas a história não é dela e sim de Enya e Cassian, então não irei prolongar algo para contar o que a Nestha vai fazer da vida.