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Capítulo7

Ela sentou-se ao bar, pedindo mais um copo daquela deliciosa bebida. Sendo da Corte, o acesso prévio aos items para venda tirava-lhe a necessidade de participar no corpo do leilão, que ainda seria longo. Começava agora com as pistolas e outras armas de força bruta, e, se se acreditasse na palavra da anfitriã, passaria por mais items do que qualquer ano anterior.

_ Bem vinda, Aranha, _ sussurrou-lhe o Puppeteer, sentandi-se discretamente a seu lado.

As luzes estavam baixas o suficiente para os ocultar, felizmente. A Rainha tinha uma obsessão com o espetáculo, e poucas coisas prendiam tanto o olho humano quanto luz e movimento. A Aranha sabia-o por necessidades completamente diferentes; erama truques daqueles que a ajudavam a esconder-se em plena vista.

_ Nem sequer valho a tua atenção? _ perguntou o Puppeteer, colocando uma mão no joelho dela. _ Eu sou perigoso, sabes? Devias focar-te mais em mim.

Ela sorriu, inclinando-se mais para ele. A distância entre as cadeiras altas do bar permitiam-lhe provocá-lo sem se comprometer.

_ Bem vindo, Leonard Allen. O que estás a achar da festa? _ perguntou num sussurro namorisqueiro. Virou-se para ele, deixando a perna tocar-lhe.

Ele sorriu mais, um brilho matreiro a jogar-lhe nos olhos. _ Que posso dizer, senhora, _ gozou ele, pegando-lhe numa mão. _ Ficou muito melhor agora que a tenho.

Aranha não pôde evitar uma risada. _ Essa é a tua melhor linha, Allen?

_ Não. Mas não vou usar a melhor em ti, porque sei que senão ficarias com ela.

Ela inclinou a cabeça e tomou um gole do álcool com sabor numa admissão silenciosa de que o seu adversário tinha razão.

_ Não tinha a certeza de que aparecerias, _ disse ele, desviando a perna e voltando os olhos para o palco. Ela seguiu-lhe o exemplo. _ Ouviste de alguma peça que te interessasse?

Ela encolheu os ombros. _ Algo do tipo.

Leonard olhou-a de soslaio, esperando pela explicação que não viria.

_ Não, então, _ decifrou ele. _ Se assim fosse, já terias comprado e desaparecido daqui. Estás à pesca, então.

À pesca de informações, queria ele dizer. À espera de apanhar algo bom somente pela sorte e com o mínimo de esforço possível.

_ Não, _ corrigiu ela. Bebeu mais um gole e cruzando a perna para a afastar ainda mais de Leonard que agora a olhava com mais atenção.

_ Não, _ repetiu ele. _ Ou seja, estás à procura de algo específico.

Ela sorriu. _ Sim, _respondeu.

Leonard era bom a lê-la. Era percetivo, mas isso em pouco o diferenciava de alguém como a Rainha ou como ela própria. Mas ele não tinha necessidade de jogar com informação da mesma forma que elas, de a esconder para ser usada mais tarde. Dizia-a em voz alta, sem medo de ser sobreouvido, num pequeno jogo de dedução.

E ela gostava de lhe dar pistas, garantindo apenas que tinha sempre menos do que precisava para a conseguir decifrar.

_ O que achas da novata? _ perguntou ele, desconversando.

_ Vais ter de ser mais específico.

_ A que chamam de Branca de Neve.

Aranha encontrou-a na primeira fila da plateia. A Rainha devia querê-la perto para a controlar, porque a miúda não parecia nada interessada no que estava para venda e não se devia ali ter sentado por opção.

Encolheu os ombros. _ De graça só te digo que a alcunha foi definitivamente inventada pela Rainha.

Leonard riu-se. _ Isso não é óbvio?

_O ser óbvio é a única razão para ser gratuito, Allen, _ sorriu ela. _ Se quiseres algo de mais útil, passa-me um cheque.

Ele olhou-a com cuidado, um olhar quase físico que ela sentia a tocar as suas feições, o seu corpo, a pele nua das pernas.

_ Tudo bem, _ acabou ele por dizer. _ Diz-me o que tens, e eu pago o que quiseres.

Era uma mostra de poder, aquilo, o nem sequer se importar com o preço.

_ O nome dela é Annemie Falke. Era filha de um pequeno líder de gangue na Holanda, mas quando o pai morreu há quase dois anos, ela herdou a posição. Desde então tem crescido em influência.

Puppeteer ergueu uma sobrancelha. _ Influência suficiente para ser convidada para aqui?

A Aranha acenou com a cabeça, pensativa. _ Como pode ver. É uma química dotada, e o facto de fazer produção dentro do espaço Schengen dá-lhe uma certa vantagem competitiva quanto a quem tem de importar. Mas o que a torna mesmo útil são os venenos.

Puppeteer encostou as costas ao bar, enganadoramente relaxado. Depois sorriu. _ Vais-me obrigar a perguntar, não é. Conta então: venenos?

Ela bebeu mais um gole do seu wiskey para prolongar o silêncio.

_ Exacto. Já é fácil arranjar antídotos para compostos mais comuns e, por isso, reinvenção é importante. Ela está no topo da linha, _disse. _ Tu sabes melhor que ninguém o quão difícil é criar uma molécula que faça exatamente o que se quer dela dentro do corpo humano. Suponho que não ter de passar pelos mesmos entraves burocráticos com que tu lutas a ajude, mas ela é rápida a trabalhar por encomenda. Pelo preço certo, claro.

Os olhos de Leonard estavam a analizar a miúda como se agora a visse a uma nova luz. _ É novinha. Que idade tem?

_ Faz os seus vinte daqui a quarenta dias, _ respondeu ela. _ Mas não fiques com ideias, Allen; não tens hipótese com ela.

Ele riu-se, bem-humorado, e depois voltou a diminuir a distância entre eles para lhe sussurrar ao ouvido.

_ Eu tenho hipóteses com toda a gente, meu amor. Todos têm o seu preço, e eu tenho a disponibilidade de pagar.

Aranha chegou-se mais a ele, deixando-o cheirar o seu pescoço. Ela sabia o quão verdade aquilo era.

Foi ela a primeira a desviar-se, com um sorriso matreiro no rosto. Leonard ficou inclinado por um momento a mais antes de se endireitar sobre o banco alto. Olhavam os dois para o palco onde agora eram apresentados os escravos treinados. Nenhum deles mostrava qualquer emoção além do aborrecimento. Ele provavelmente não sentia mesmo nada, o psicopata que era, e ela sabia que mostrar fraqueza era algo que podia ser usado contra si e por isso evitava fazê-lo.

Ele virou-se para o bar e pediu um copo de vinho do bom. _ É só isso que tens, Aranha? _ perguntou enquanto esperava.

_ Eu depois mando-te o ficheiro completo, junto com a conta, _ gozou ela.

_ E descobriste isto tudo antes de saber que ela seria convidada? A Rainha mantém essa lista muito bem protegida.

_ Eu tenho os meus métodos.

Leonard não acreditou nem por um momento que ela pudesse ter roubado a lista de convidados do Leilão. Provavelmente achava improvável que sequer a pudesse ter visto. Mas a Aranha não admitiria que tinha usado os serviços de Annemie antes e que essas pesquisas advinham daí.

_ Suponho que não tenha sido tão fácil quanto decobrires sobre mim mas, visto que ela usa o próprio nome, também não deve ter sido assim tão difícil.

Ela podia ter feito aquela pesquisa enquanto dormia, mas isso não a ia impedir de cobrar o valor completo. Acrescentar custos se se deparasse com algum contratempo era mais o seu estilo.

Leonard bebia o vinho como o snob que era. Atrás de si, os empregados de bar organizavam-se para quando o leilão acabasse e a multidão fosse para ali despedir-se. No palco, faltavam poucas apresentações, a rainha estava demasiado focada no espetáculo para lhe prestar atenção a ela e a Allen. O público estava ansioso pelo final que se aproximava, cansados da longa tarde.

_ É mais difícil encontrar algo de útil com quem esconde a identidade, não? Isto é uma pergunta totalmente hipotética.

Ela riu-se, mas não respondeu.

_ Quanto cobrarias por informação sobre ti? _ Ele tomou mais um golo do deu vinho, e depois ficou a fazê-lo dançar no copo. _ Ou de alguém como tu. Hipoteticamente, está claro.

_ Está claro, _ repetiu ela.

Analisou-o de cima a baixo, reparando como estava relaxado e não tinha problemas em desafiar o seu olhar.

_ Quando um objeto imovível se encontra com uma força imparável, quem vence? _ acabou ela por dizer. _ Neste hipotético em que eu me posso espiar a mim. Porque na realidade, a minha segurança não está à venda.

Ele sorriu, cheirando o seu vinho de olhos postos no palco. Aparentemente estava satisfeito com a resposta, e isso enervava-a.

_ Ficas a noite? _ acabou ele por perguntar.

Aranha espreitou para ver a reação dele quando respondeu que _ Sim. _ Para sua surpresa, ele parecia estar à espera disso.

_ Achei que assim fosse. Dá-te mais tempo para tratar do que aqui vieste fazer, não é? _ Ele riu e ela, pela primeira vez, hesitou. _ Eu cá por mim vou aproveitar a noite. _ Olhou-a com um calor no olhar antes de se levantar. Usou os europeus beijos para lhe sussurrar _ Quem te deu razão para ficar pela primeira vez fez algo de bom para nós ambos. _ e na outra face _ saberás onde o meu quarto fica. Ou então consegues encontrá-lo sozinha?

Depois afastou-se, andando até à parede para se encostar. O último item do leilão já tinha sido apresentado, e o público não tarda estaria a dispersar. Ainda não tinham acabado as licitações e já havia gente nova a sentar-se ao bar.

Agora que estavam cansados e/ou semi bêbados é que era a melhor altura para ela conseguir informações úteis. E por quem melhor começar do que quem se sentou logo a seu lado?

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