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❛ 𝟎𝟑: ━━━ capítulo três.

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( CAPÍTULO 03 )


— Então deixe-me ir também. — Loki queria esbravejar, derramar por sua boca seu descontentamento, entretanto, comediu-se perante o pai. Um copeiro robusto que não deveria ter mais de doze anos servia-lhe vinho numa taça de prata, posicionado ao lado de Hlidskialf, o opulento e dourado trono mágico de Odin. O Pai de Todos alimentava seus lobos Geri e Freki, retirando pedaços de carne da travessa em seu colo com um punhal. Os dois fiéis escudeiros do líder dos Aesir encaravam-no enquanto mastigavam.

Loki desviou os olhos.

— Thor dará conta de realizar uma visita amigável com os Elfos de Álfheim, Loki. Não é necessário que se mobilize também; ele deve aprender ser cordial e menos petulante sem sua presença para suavizá-lo.

Não quero acompanhá-los para ser a babá de Thor, ponderou com desgosto. Seu desejo era vistoriar a magia intensa que os ljosalfar cultivavam — estar na presença de Freyr também lhe seria benéfico, considerando que paparicar o Deus da Prosperidade lhe renderia bênçãos futuras. Mas principalmente porque Daínn iria.

— É exatamente por isso que insisto em salientar que devo ir com ele. Thor nunca foi bom em diplomacia. — Sacudiu as mãos, sentindo-se ansioso. A palma formigava e seu temperamento não queria lidar bem com a rejeição.

— E ele precisa aprender, filho. — Seu pai sorria pacientemente. — E não fará isso sempre tendo você resolvendo tudo por ele.

Loki preparou a resposta na ponta da sua língua, prestes a proferi-la, quando as portas deslizaram. Poupou um olhar por sobre o ombro, observando o carrasco das masmorras adentrar acompanhado de soldados. Um intento sobre qual confusão sucedeu-se o empertigou enquanto ele caminhava até os degraus do trono e voltava-se de frente para os homens.

O carrasco — Loki não sabia o nome dele, mesmo conhecendo que o velho homem servia seu pai desde que suas primeiras memórias remontavam — possuía olhos incolores que mal eram apercebidos pela ofuscação dos roxos abaixo deles, consequência de noites mal dormidas em prol da cautela com prisioneiros. Era quase de todo careca, com poucos chumaços longos de cabelo pendendo de sua cabeça. Os soldados de seu pai, com elmos dourados e chifrados afastaram-se dele assim que o homem caiu sobre os joelhos com o teto da cúpula de Odin acima de si.

Quando ele pôs-se a falar, narrara que Eldred de Vanaheim tentou escapar. Sua debilidade pela quantidade de anos cumprindo pena auxiliou para que ele fosse capturado mais uma vez. Eldred. O avô de seu Daínn. Sangue do sangue dele. Um fantasma que eles estiverem muito felizes em relegar durante todo aquele tempo.

Odin permitiu que Loki o acompanhasse até às masmorras, vistoriando o homem que há quase duas décadas ocasionou uma rebelião repleta de sanguinolência.

As masmorras assemelhavam-se a um labirinto impenetrável. O recinto possuía um forte odor de acre. Diferentemente de todo o resplendor dourado de Asgard, ali, as paredes eram de pedra vermelha, mas maciça como a biblioteca, com exceção da suntuosidade. O corredor que ele atravessava com o pai era muito estreito, com lodo subindo pela parede semelhante a trepadeiras.

Os prisioneiros eram impedidos pelos mecanismos de magia avançada, mas não disfarçavam o desdém conforme eles passavam.

E Loki franzia o nariz com o cheiro quase insuportável.

— Proteja-se sua mente. — O pai alertou, assim que saíram do corredor e foram surpreendidos por uma escada espiral. Quão resguardado aquele homem era? Assentiu lentamente, até que subiu degrau por degrau. Havia uma janela pequena que concedia uma iluminação porca, já que a maior fonte de luz era concebida pelos braseiros.

Assim que finalizaram a subida, lá estava. Grossos portões de ferro se erguiam e uma luz branca e pálida percorria o formato quadrado do portão. Magia. E, dentro da cela, estava o homem que Loki supôs ser Eldred. Em aparência deveria ser mais jovem do que seu pai, mas os anos cativos o deixaram velho e decrépito, com uma aparência horrorosa; suas unhas eram longas como garras e tinham um tom nada saudável de amarelo, a barba e o cabelo enormes e emaranhados e o corpo magricelo jogado contra a parede.

O velho Eldred estava empertigado e de nariz empinado. Mesmo com saúde debilitada, encarou Odin com um olhar que exalava desafio e uma chispa de malícia. Loki, por sua vez, optou por permanecer a certa distância, ocultado pelas sombras de uma pilastra. Cruzou os braços, pensando como Dáinn não possuía nada daquele homem, dando-lhe o questionamento de se eles realmente compartilhavam algum sangue — pois Daínn era como o sol, brilhando, refulgindo, nunca oscilando em um estado lúgubre como aquele.

— Eldred de Vanaheim, — Seu pai iniciou, secamente, a voz de barítono ecoando andar abaixo. — Sua tentativa de fuga é fútil. Asgard é seu cárcere, e aqui você permanecerá.

— Que honra a minha receber a visita de tão ilustre monarca em minha humilde morada. — Eldred redarguiu, venenoso, revelando uma ironia amarga.

Odin permaneceu imperturbável diante das palavras maledicentes, sua expressão austera não revelando nenhum sinal de fraqueza. Loki costumava a admirá-la quando criança, sua resiliência taciturna que ele disfarçava com palavras amáveis e pacíficas.

— O que pretendia ao desafiar a segurança de Asgard? — Odin inquiriu, adicionando um passo à frente. Eldred curvou os lábios em um sorriso, revelando dentes amarelados.

— Pretendia a liberdade, meu senhor. — A diversão se afugentou, a boca atribuiu-se em uma linha dura conforme palavras agressivas e ousadas resvalaram-se. — algo que nenhum rei ou deus pode controlar.

— Ele assassinou Radulf, majestade. — Um soldado deu um passo à frente, mantendo a cabeça baixa ao confidenciar, escutando a risada desrespeitosa de Eldred. — Ninguém sequer viu como ele fez, apenas encontramos o corpo quando viemos para o horário da refeição.

Seu pai apertou os olhos, como se lamentasse.

— Quando sairmos daqui, traga a família até minha torre. Quero prestar minhas condolências e prestar meu respeito e ajuda a eles.

O homem assentiu, parecendo satisfeito com a condescendência do rei.

O que o surpreendia, deixando-o verdadeiramente como uma pulga atrás da orelha, era que mesmo trancafiado atrás de uma masmorra, fizera aquilo. Inacreditável. Loki atiçou-se, curioso a respeito de tal informação com os detalhes porcos que lhe foram apresentados. Ele aproximou-se um pouco mais, mantendo os ouvidos atentos. Contudo, sua movimentação também atraiu o olhar do prisioneiro.

— Quem é esse, Odin? Pelas roupas, porte… não me diga que é seu filho… — Eldred questionou, malicioso, apontando para Loki. — Qual deles?

Loki sabia quando deveria ficar quieto, mas Odin hesitar por um momento deixou sua língua pesada no céu da boca. O silêncio pairou na masmorra, antes do Pai de Todos finalmente responder com cautela:

— Este é Loki.

— Loki… — O homem proferiu seu nome pausadamente, como se o testasse na ponta da língua.

Uma conversa passiva-agressiva desenvolveu-se rapidamente. Seu pai tentou de todas as formas persuadir o homem para descobrir como ele conseguira assassinar o infortúnio guarda — até mesmo ofereceu uma condição mais cômoda em sua cela — mas nada do que dizia parecia ser avantajado por Eldred. Loki tentava se desvincular dos olhares que ele lançava, como se soubesse algo muito curioso a respeito de sua pessoa. Proteja sua mente, o pai alertou, mas deveria proteger seus trajetos também.

Compreendeu que proteger sua mente não se referia a Eldred usar sua telepatia, já que a barreira criada na sala a bloqueava, mas sim como suas palavras ardilosas poderiam penetrá-la.

Mais tarde, Loki sentiu o sabor da validação quando Odin encarou o fundo de seus olhos e o instruiu a alavancar as barreiras, tornando-as mais resistentes. Ele realizou o favor, com gosto, sentindo-se… visto, considerado por ele, pela primeira vez. E Eldred não receberia comida até que revelasse como conseguiu escapar. Homens como eles poderiam sobreviver sem ela por um tempo com tranquilidade, então não seria uma chave tão substancial. Porém, era a comida que lhe trazia vigor e provavelmente alimentava o que quase o permitiu escapar.

Naquela noite, ele estava afundado nas peles de sua cama com Daínn descansando em seu peito. Loki passava seus dedos delicadamente pelo cabelo dele, sua obsessão gradual. Sentia-se pegajoso, mas com aquele mesmo sentimento satisfatório de sempre. Suas pernas ainda tremiam com espasmos, mal conseguindo abrir os olhos.

— Eldred tentou escapar. — Reunindo toda a coragem perpetrando em si, confessou quase em um murmúrio. A cabeça de Daínn em seu peito se mexeu e percebeu quando os calcanhares entrelaçados com o seu ficaram tensos. — Seu avô.

As cobertas franziram-se quando Daínn se ergueu, apoiando uma mão em cada lado de seu corpo. Sua respiração pesada bateu em seu rosto, ele pôde sentir, mas com a coragem diluída em seu âmago, Loki não conseguiu encará-lo nos olhos, subindo a ponta de seu dedo pelo braço do amante, desenhando a veia saltada.

— Como… como ele conseguiu? — Ver a oscilação atribuída a Daínn criou-lhe um certo tipo de indignação ainda maior pelo sangue dele.

Loki suspirou.

— Não se sabe. Ele recusa-se a falar. A barreira que o mantém preso foi reforçada, mas…

— Querido… — Daínn chamou, utilizando uma das mãos para jogar seu cabelo escuro para atrás do rosto. Loki ergueu os olhos, então, encarando-o, sua pele brilhando à luz da grande lareira. — Não precisa suavizar nada para mim. O que ele fez? Matou alguém, não foi?

— Sempre me atrai pelo fato de você ser um bom entendedor. — Suas mãos transitaram dos braços para a pele macia da cintura, moldando os dedos do meio na carne.

Loki sentiu-se melhor quando observou o sorriso que se instalou no rosto de seu companheiro.

— As vezes é tão fácil me esquecer da existência dele… — Daínn desabafou, soltando as mãos do colchão de penas e caindo levemente com o queixo apoiado no torso de Loki. O príncipe alternou  as mãos para o cabelo, continuando a massagear o topo da cabeça. — O real motivo pelo qual fui trazido para cá anos atrás.

— Nunca foi sua culpa. — Loki prendeu seus olhos no dele, tentando transparecer toda a voracidade de suas palavras. — Você era uma criança.

— Eu sei. — Redarguiu com um murmúrio acanhado. — Ainda sim, nunca mudou o fato dos olhares que sempre recebi.

— São todos tolos imbecis que jamais chegarão aos seus pés. — Ele esbravejou e uma centelha de raiva inflamou seu peito, lembrando-se de como o povo asgardiano sempre desprezou a família de Daínn, procriando o ódio por seus antepassados, nele.

— Gosto de pensar pelo lado bom. — Ele disse de repente, começando a escalar pelo torso. Loki deu um tapa em seu ombro, sorrindo divertido; Daínn, sendo mais pesado que ele, o fez arfar quando sentiu-se pressionado na cama que rangia.

— Qual lado? — Indagou, em um suspiro pesado. Sua mão prensou o ombro de Daínn, aproximando seus rostos até que os narizes se tocaram.

— O que eu conheci você.

Loki nunca se acostumaria com aquilo; tinham dezenove anos quando se beijaram pela primeira vez e agora, vinte anos depois, ainda sentia aquela ociosidade revirando seu intestino, ocultando seus reais sentimentos e olhando-o com segundas intenções apenas de longe. Hoje, as declarações de Daínn eram constantes, o que não significava que ele estava acostumado. Sempre uma surpresa — o acelerar estúpido de seu coração, o tremor em suas pálpebras.

— Você não sente falta de Vanaheim? — Loki resolveu perguntar para não continuar o encarando como um tolo bobo. Daínn pareceu pensativo por um momento.

— Às vezes. — Foi sincero, sem amargura. — Mas estou banido de lá, portanto, não posso retornar. Ao menos, sua mãe trouxe a mim a única coisa de meu passado que ainda me importava.

Frigga não abalou-se com os direcionamentos de Odin até que Vigdis recebesse autorização para visitar o sobrinho. Havia muitas lágrimas da parte dela por vê-lo, alegando o quanto ele parecia com a mãe e estava bonito. Loki ficou feliz porque Daínn também ficou. A mulher partira, mas se viam com certa constância.

— Não posso acreditar que meu pai me manterá aqui enquanto lhe manda para Álfheim. — Loki reclamou, exibindo um bico que fora prontamente beijado por Daínn.

— Serão apenas alguns dias. Retornarei em breve. — Alegou, selando um beijo na testa, outro em cada bochecha, no queixo, na ponta do nariz, sob os olhos (o que fez Loki gargalhar) até que em seus lábios novamente, abrindo sua boca, mergulhando a língua nela e mordiscando seu lábio. Um gemido involuntário rolou de sua garganta.

— Portanto. — O príncipe, em um gesto inesperado, pressionou firmemente as mãos contra os braços de Daínn e o jogou para o lado, montando nele, ainda sentindo a ardência na boca. Seu amante ergueu uma sobrancelha, mas havia uma malícia inegável em suas pupilas. A língua acariciou os lábios inchados e as mãos subiram pelas pernas, causando-lhe arrepios, até apertarem sua cintura. — Permita que eu me despeça adequadamente.

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Loki entediou-se rapidamente observando todos paparicarem Balder, o sobrinho de sua mãe associado à Justiça e Sabedoria.

Sabedoria. Que piada.

Bardos narravam suas canções através de flautas, lira, harpa e tambor. A música parecia a única coisa capaz de atenuar sua inveja latente adjunta da taça de vinho em sua boca, o gosto tanino e ácido que salivava o fundo de sua garganta — Loki sempre o antepôs sobre o hidromel.

Era uma pena que Thor e Daínn estivessem ausentes. Os três, juntos, sempre zombariam, ridicularizando O Bravo com palavras venenosas censuradas pela enfadonha Lady Sif. Loki a odiaria se não soubesse que os sentimentos românticos da moça eram direcionados a Thor, e não a seu Daínn. Era um pouco desconcertante observar sua paixão tão evidente e fervorosa e como apenas seu irmão parecia não perceber — ou disfarçava que não.

Balder era sempre o bom. Disseminando coisinhas compassivas, felizes e entediantes cheias de boa vontade. Isso claramente atraiu uma plateia estúpida o suficiente para salientar seu ego maldito.

— Vamos, filho, jogue. — Sua mãe pousou animadamente uma mão em seu ombro, um sorriso tão bonito no rosto originado pelo idiota Balder. Esticou-lhe um tomate entre os dedos, apanhado por ele. A textura fria era amigável na ponta dos dedos e realizar aquilo com um tomate tão saudável soava como um desperdício. Abaixou a cabeça para disfarçar quando revirou os olhos.

Depositando sua taça na mesa, mirou em Balder, que prontamente desviou. O tomate bateu na parede atrás dele e a maculou com o tom carmesim espatifado. Que novidade. Todos riram exageradamente, enquanto faziam o mesmo. Percorrendo seu olhar pelo salão, encontrou o pobre Hod sem direção alguma afastado dos demais. Loki se ergueu, com brio, caminhando em direção a ele assim que uma ideia vertiginosa e nada correta floresceu em seus pensamentos; enfiou a mão no bolso, manuseando os dedos, invocando magia… de seus pensamentos, formou-se um dardo que parecia um saco de pedras pendendo ao lado de seu corpo. Loki quase tropeçou, cautelosamente cuidando para que seu dedo não fosse lacerado. Apenas se desviou dos copeiros e servas que passavam com as travessas em uma velocidade ritmada.

— Hod! — Ele chamou, fingindo falsa simpatia. — Reconhece-me?

Seu primo buscou a voz, até que seu rosto encontrou o dele. Hod não poderia enxergar desde que nasceu.

— Primo. — O Deus o cumprimentou, abrindo um sorriso ingênuo. — Sim, seu cheiro sempre me deixa alerta para qual será sua brincadeira da vez.

Loki fez um som falsamente ofendido. Ele gostava de Hod, sempre o notou como um semelhante a ele. Também ofuscado pelo tolo irmão mais velho… mesmo que Hod fosse bom, diferentemente dele.

— Não leve isso para o lado pessoal, é preocupação.

Loki estalou a língua.

— Não levarei, primo, não se preocupe. Estou me retirando para meu quarto, vim apenas cumprimentá-lo. — Sentiu-se realmente mal por mentir para ele, ainda mais a coisa que pesava no bolso. — Mas entristece-me as falsas calúnias povoadas sem apreciar uma boa diversão.

Hod soltou uma gargalhada, enfim. Dando um tapinha no ombro dele, o Deus da Trapaça estava prestes a se retirar, quando mais uma vez ouviu a voz carregada de Hod chamá-lo.

— Primo?

— Sim, Hod? — Redarguiu passivamente.

— Ainda estão jogando? — Inquiriu, nada pretensioso, mas um sorriso perverso procedeu-se dos lábios de Loki, pingando malícia.

— Estão, sim. — Informou naturalmente, passando os olhos pelos arredores. Todos estavam focados demais em Balder. Quase eximiu um som de vômito.

Ele acompanhou quando a dúvida abateu-se na face de Hod. Ele parecia sugar o canto inferior da bochecha pela forma como ela afundou, elegendo suas próximas palavras, e Loki desejava ardentemente que fossem as que ele desejava ouvir—

— Você tem algo para que possa jogar também?

Aí estava. Loki continuou suavizando suas expressões, ações, sabendo muito bem que o primo poderia ser ciente delas.

— Espere. — Ele pediu, enfiando a mão no bolso. Aproveitando aquele breve momento enquanto afundava a mão, fingindo remexer, encantou o dardo para que acertasse seu alvo desejado. A magia correu em seu sangue, ele sentiu, um prenúncio de que a escolha feita era ruim. — Aqui! — Ele ergueu o objeto de vários centímetros, apanhando a mão de Hod jogada contra a perna e abrindo e afrouxando os dedos.

Depositando o objeto na palma, notou quando ele tremeu um pouco.

— Pesado, não?

— Sim. — Hod afirmou com uma risadinha, até que ela desapareceu. — Mas… não acha perigoso?

Loki fingiu seu melhor tom complacente.

— Mas de qualquer forma, nosso Balder sempre desvia, não?

Isso pareceu ser o suficiente para convencer Hod. Ele assentiu com vigor.

— Estarei indo me recolher, Hod, entretanto, conte-me amanhã como foi.

Os lábios de Hod abriram-se em um sorriso, que se possível serviu apenas para fazer com que o Deus da Trapaça sentisse-se ainda mais culpabilizado e com remorso. Não pensaria nisso. Despediu-se dele e seguiu para o corredor.

Enquanto o atravessava, escutou ao longe os gritos emitidos.

Alvo atingido.

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O dardo atingiu bem a clavícula de Balder, disseram mais tarde.

Foi uma bagunça, pois quando Loki caminhou pelo salão naquela manhã, com a aurora despontando através dos vitrais, os servos ainda limpavam a poça de sangue mau cheirosa que impregnara-se no chão. Um cheiro metalizado permeava o ar, quase difundindo-se com o de sua culpa.

Loki começou a ficar preocupado quando percebeu todos retidos. Deveria pensar que não havia coisa boa nisso.

Quando o pai o chamou em sua Torre, a sala que abrigava o faustoso trono que sua bunda de tratados de paz regidos assentava, o príncipe jamais o vira demonstrar tamanha decepção anteriormente, nem mesmo quando Thor duelou com o gigante Thrymr — após esse ter roubado-lhe o Mjölnir — e vestiu-se para um casamento, disfarçado de Freya, para matar o gigante… mas acabou matando todos os outros convidados no processo, também.

Certamente que Loki dera a idéia da noiva, mas ao menos ele não executou ninguém.

Com o único olho que lhe restava, Loki notou como ele parecia lacrimejado, sofrido.

Balder era o mais querido entre os deuses e certamente a tristeza de seu pai correspondia-se a seu trágico destino.

Hod contou a verdade de quem lhe dera o dardo. Não fora difícil para seu pai concluir, com a informação adquirida, o que ele realmente fez. Enfeitiçou-o, utilizando de feitiçaria das trevas. Todos os outros já estavam exauridos demais de suas brincadeiras, mas atingir o precioso Balder havia sido uma linha que não deveria ser cruzada.

Mesmo naquela posição, sua ruindade não permitiu lamentá-lo por Balder, o que enfureceu ainda mais Odin — e não é como se ele ainda houvesse morrido, só não estava acordado também — ele precisou ser desacordado enquanto vedavam seu sangramento para que seus movimentos sôfregos estagnassem e nenhuma outra veia se rompesse.

Entristeceu-se por Hod que também seria punido — não o culpava pela delatação. Mas nem de longe seria tão terrível quanto a dele.

Loki só sabia pensar com que olhos Daínn veria isso, pois a aversão por Balder jamais o levaria a atentar contra sua vida.

Daínn.

Ele não poderia avisá-lo, não poderia se despedir… De repente, Loki viu-se em pânico. Pensou em sua mãe também, onde o julgamento de Frigga alinhado a Daínn era o único que lhe importava.

Loki não a viu em lugar nenhum enquanto o pai o levava para um espaço montanhoso que desabava no mar. Eles entraram em uma gruta profunda e desabitada que seria seu exílio até que os outros Aesir decidissem que ele teve sua devida punição.

Enquanto isso, ficaria sem Daínn, sem saber o que se passava na cabeça dele e lidando com sua maior punição que seria a distância de seu amante incubida a ele. Seus olhos encaravam o pai com raiva… como ele poderia colocar Balder sobre Loki? Era o Pai de Todos, não precisava seguir as ordens de ninguém.

Odin simplesmente respondeu: “Não posso ser condescendente apenas porque és o meu filho.”

Pois que os demônios de Niflheim retornassem à tona para atormentá-lo.

Não deveria maldizer o Pai. Mas já estava contaminado o suficiente.

Piorou quando o ácido da serpente começou a derramar-se em seu rosto.

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Odin sempre soube. Os olhares escandalizados que Loki lançava para aquele homem, seus sorrisos indiscretos e fornicação nada tácita. Evidenciava para todos o relacionamento que mantinha com Daínn Vídarsson, aquela coisa indecente e imoral. Frigga sempre o impedira de agir, dar um fim aquela vergonha e mancha na família, encerrar aquilo de uma vez por todas, até mesmo quando optou por dar a vida aquele pequeno menino que seria uma serventia melhor, morto. Até pensou que poderia ser Daínn o percursor por trás da quase fuga de Eldred — mas não fora, o que desinibiu suas expectativas de que Odin poderia culpabilizá-lo.

Loki longe deveria ser bom… Daínn cansaria-se dele naquele ínterim e em seu retorno, o filho estaria em fúria pela postergação de seu amante impudico e seus atos devassos.

Não fora isso a suceder-se; Thor precisou segurar fortemente Daínn em seu lugar enquanto Sif tentava apaziguar a situação com seu tom ameno. O homem exigiu saber onde Loki estava e quando Odin pareceu confrontá-lo com a realidade cruel do que Loki exerceu, ele não se importou.

Teve a afirmação naquele momento que Dainn não parecia incomodado com isso, porque sabia da capacidade de seu filho — o que ele era, a monstruosidade terrível que abrigava em seu âmago.

Tão sujo e corrompido quanto ele.

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Loki sempre disse e pensou que ele era um sol. Quando o dia começava com a estrela surgindo no horizonte, as pessoas costumavam a pensar em uma nova oportunidade, uma chance, pois o dia anterior era substituído por um novo.

Seu sol sempre fora Daínn.

Mesmo com a repreensão e frustração espelhada em seu rosto, tudo que ele fez enquanto aproximava-se da gruta que fedia a peixe e era açoitada pelos respingos da água, espumando-se nas pedras escuras, Daínn caiu na areia e encantou um enorme cálice pendurado no teto pedregoso.

A queimação se dissipou. Seu coração doeu. O veneno preenchia o cálice enquanto sabia, que mesmo não merecendo, em sua personalidade apodrecida, teria Daínn em seu enlace.

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