Cap 2 - eu estou feliz
Me levanto cedo, arrumo minha cama, faço alguns exercícios, escovo os dentes enquanto tomo um banho gelado, visto meu terno, penteio meu cabelo e bebo um copo de água em seguida como uma fruta.
Essa era minha rotina todos os dias, essa era minha maldita vida, vivendo de casa ao trabalho, sem animação, sem ânimo, sem prazer. Quando digo prazer, não quero dizer aos prazeres carnais e sim o prazer de viver, de me sentir livre, de poder gritar para o mundo "Eu estou vivo!!" caralho, como eu quero isso.
Aperto com força a maçaneta da porta pensando sobre isso, guardo a chave no meu bolso e caminho até meu carro perdido nos meus pensamentos, paro na metade do caminho ao escutar um som parecido com alguém vomitando. Quando olho em direção ao som, involuntariamente puxo os lábios para trás e enrugo o nariz fazendo uma feição de nojo vendo Cecília vomitar... ao lado do meu carro. Me aproximo dela e quando ela olha para cima, transformo minha feição em um sorriso gentil.
Essa não era a primeira vez que eu falava com Cecília, mas quando ela me olha sinto algo se mexer em mim como se fosse a primeira vez... seus olhos, sinto vontade de arrancá-los pra serem só meus, era incrível o quão hipnotizantes e profundos eram. Ah Cecília... eu sinto que você quer alguém pra ouvir tudo o que você segura, você quer que alguém te escute chorar, não é?
-- Está tudo bem? Falo me abaixando até a altura dela, já que a mesma estava encurvada, a ofereço um lenço do meu bolso gentilmente.
-- E isso te interessa? A garota diz grosseiramente puxando o lenço da minha mão
-- Bem, você está vomitando na porta da minha casa e pra piorar apoiada no meu carro... acho que isso é um interesse meu querendo ou não. Falo dando um choque de realidade a ela, isso a deixa constrangida então cambaleando para o lado ela limpa a boca com o lenço e o joga no chão, por Deus.. ela estava claramente bêbada seria mais um dia chegando em casa ao som de gritos
-- Que resposta de babaca, até parece que eu gostaria de me apoiar nesse carro imundo
ela aponta o dedo para o meu rosto
eu só estou aqui porque não aguentei segurar até em casa
-- Entendo, mas garanto que esse carro está mais limpo do que esse chão...
a garota aperta os lábios com raiva
Essa expressão de raiva dela, ah.. que vontade tenho de agarrar seu pescoço até essa raiva se transformar em medo.
-- Gostaria de ajuda com algo a mais?
Pergunto com um sorriso falso no rosto, afastando a mão dela cuidadosamente
-- Não quero sua merda de ajuda
Ela diz me dando as costas, quase caindo por conta de seus próprios pés. A observo calmamente até chegar em casa, jogo o lenço no lixo e entro no meu carro passando álcool em minhas mãos, dirijo até meu trabalho
Aquela boquinha suja dela, aquele comportamento... estou farto de observar e pensar no que eu poderia fazer mediante a isso, eu não tenho nada a perder nessa merda, então porque? porque eu me seguro...
Caminho pela empresa em direção a minha mesa, ninguém me dava bom dia e sequer me olhavam, eu era definitivamente invisível. Ligo o computador velho e me sento na cadeira começando meus trabalhos, eu apenas passava arquivos de um livro empoeirado e antigo para a pasta digital do computador.
-- 19h20 --
Passei do horário pra evitar todo o estresse que eu teria que passar escutando Cecília gritar novamente. Desligo e organizo tudo, pego meus pertences e vou em direção ao meu carro, me locomovendo até em casa.
"Mais um fim do mesmo ciclo..."
Era o que eu pensava, até avistar algo incomum, o pai da Cecília gritando, ok... eu devo confessar que isso me deixou surpreso a ponto de arregalar os olhos.
Estaciono meu carro no mesmo lugar de sempre e saio devagar, eles pareciam nem se importarem com a minha presença então eu aproveitei pra me sentar ao lado da cerca para escutar, é eu sei, um puta descaramento mas sinceramente foda-se isso nunca aconteceu, nunca os vi tão putos, com certeza vou escutar a porra toda.
-- JÁ ESTOU FARTO DISSO CECÍLIA, VOCÊ SÓ SABE GRITAR, BRIGAR E SAIR ESCONDIDO! AINDA VOLTA BÊBADA VOMITANDO PELA CASA NOS DANDO TRABALHO, NÃO SOMOS OBRIGADOS A PASSAR POR ISSO, TER CORTADO SUA MÃE FOI O CÚMULO!
Tampo minha boca querendo rir, espera.. cortado? meu Deus, isso é tão ridículo que tenho vontade de rir na cara deles, como uma filha pode ter atitudes tão absurdas com os pais? ou melhor, até onde os pais permitiram isso? é ridículo o quão frouxo eles são, até ele gritando com ela consigo sentir o medo na voz.
Escuto a mãe dela chorando e então o pai abaixa a voz suspirando, aproveito e olho de lado entre a cerca que nos separava. Cecília estava com as mãos fechadas e o corte não era tão feio, parecia que ela tinha feito aquilo apenas pra assustar. Então escuto o pai dizendo.
-- Não da mais Cecília, não dá mais pra conviver com você, não dá pra tentar... fazer você virar uma pessoa, hoje você vai embora e eu não quero saber pra onde você vai, a partir de hoje não quero saber de você como filha, nossos laços estão cortados. Eu não sabia que você me daria tanto trabalho se eu pudesse eu nunca teria te escolhido naquele maldito dia...
Escolhido? Mas fui cortado dos meus pensamentos ao ouvir os gritos de Cecília
-- VAI A MERDA, EU ODEIO VOCÊ, EU NÃO TE PEDI PRA ME ADOTAR, EU TAMBÉM NUNCA QUIS VIR PRA ESSA CASA IMUNDA, VOCÊ E ESSA.. VADIA, SÃO DOIS FILHOS DA PUTA! EU NÃO FICARIA AQUI NEM MAIS UM DIA MESMO! VÃO PRO INFERNO!
A garota entra dentro de casa, provavelmente para arrumar as roupas. Olho para o relógio e já eram 20h da noite, o pai de Cecília abraça a mulher e vai para os fundos da casa.
Porra... adotada? ta certo que Cecília não se parecia em nada com os "pais", mas nunca que eu desconfiaria disso..
Dou uma risada surpreso
Então quer dizer que eles não a querem mais...
Dou uma pausa para pensar
Eles não a querem mais...
E então meu rosto se ilumina e meu coração começa a acelerar
Eles não a querem mais! Cecília não tem onde ficar, não tem contatos, não tem dinheiro, ela não tem nada, não posso acreditar que tudo está tão fácil assim, nada mais me impede de tê-la, não preciso me preocupar com policiais atrás dela ou os pais preocupados, ela não tem ninguém
Tampo meu rosto tentando me conter, tentando conter meus risos, eu podia sentir meus olhos brilhando... caralho, caralho,
CARALHO!! eu to feliz!! eu não acredito que estou me sentindo assim.. mas espera, eu nunca fiz isso.. Que se foda, isso que é gostoso, tão bom tão bom que me excita, eu não sei nem por onde começar.
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