Parte V
Coisas ruins acontecem o tempo todo e honestamente eu nunca tive simpatia por ninguém, não seria agora que mudaria.
Quando cada porta se fechou vislumbrei o meu triunfo.
Segui por entre os espaços e entradas que somente eu conhecia, o sorriso rasgou o meu rosto quando a primeira escolhida foi Nancy Quinn, a garota passava o olhar por todo o local esperando algo acontecer e eu faria isso por ela.
O projetor iluminou a parede que foi tomada pela fisionomia da menina, os cabelos negros soltos e a risada fina, completamente bêbada, não demorou para que outra pessoa se juntasse a ela no vídeo. Roupas foram despidas e a nudez revelada, mas havia um porém, Nancy não dizia ser quem era e foi nítido na reação do rapaz com ela.
Karl Quinn, o verdadeiro nome da boneca de porcelana, que escondia toda a mudança que passou no período de sua adolescência antes de ingressar em Napoleoni. O olhar horrorizado cresceu no rosto de Nancy e suas mãos tentaram arrancar a transmissão do vídeo que se seguia com palavras ofensivas para a garota.
A coroa não estava mais com ela.
O barulho do projetor caindo quase me fez rir ao ver o pânico no olhar dela quando o vídeo não parou, o cenário estava impecável e Nancy agora provavelmente era motivo de burburinhos e fofocas por todo o salão de festa.
Levei a mão ao telefone e digitei a mensagem, "Atenda o celular. " Disquei o número e o som ressoou pelo cubículo, estava na hora de brincarmos.
Ao atender mantive meus olhos fixos nela, enquanto o aplicativo modificava minha voz.
— Gostaria de jogar comigo, Nancy?
A garota vasculhou toda a sala em busca de encontrar alguém.
— Isso não tem graça idiota, eu quero ir embora.
Sai pelas sombras e me aproximei sorrateiramente, Nancy estava de costas e não viu o momento que coloquei a faca em seu pescoço tapando sua boca para abafar o grito.
— Vamos ver o quão divertido é drogar alguém, você já ficou chapada Nancy? — Ela balançava a cabeça enquanto eu arrastava seu corpo para perto da mesa de centro.
Sentei a garota e prendi seus pulsos e tornozelos com fivelas, a bandeja estava ao lado de uma bacia de ponche. Tirei a tampa revelando os comprimidos coloridos. Coloquei minha mão pegando uma grande quantidade e com a outra apertei as bochechas dela colocando-os para dentro de sua boca e fechando, enquanto ela se debatia tentando cuspir.
— Eu não sei o que usei naquela noite, então fiz questão de pegar todos exclusivamente para você minha boneca. — Virei o ponche batizado na garganta dela escutando a crise de tosse e as lágrimas no canto de seus olhos. Gargalhei ao vê-la buscando se soltar conforme colocava mais remédio em sua boca.
Soltei as amarras e observei Nancy levantar completamente grogue trombando no móvel.
— Boa sorte para encontrar a saída, seja rápida antes que eu chegue em você, contarei até cinco antes de ir.
Abri a porta e apenas fiquei olhando ela cambaleando escorada nas paredes virando para trás assustada.
Ergui a faca e sorri, elevei a mão e levantei um dedo, contando os segundos para me aproximar. Vê-la tentar correr foi satisfatório e melhor quando ela tropeçou nos próprios pés e caiu, chorando como uma criança. Caminhei sem pressa em direção a ela, meu olhar fixo aos seus.
Quando me inclinei o grito ressoou implorando para viver e as desculpas jogadas de forma qualquer.
— Eu não queria fazer aquilo, eles me obrigaram! — As lágrimas escorriam por suas bochechas manchando sua face e borrando toda maquiagem.
— Até que ele é bonitinho quando não está usando aquelas roupas largas, não se parece tanto com um psicopata. — Repeti as palavras — assim eu me pareço mais com um? — Questionei, passando a faca por sua artéria — posso ser o que você quiser, doce Nancy.
— Ivar, pare com isso.
— Ivar está morto, vocês mataram ele naquela noite, deixando para trás somente essa carcaça apodrecida.
Raspei a lâmina no pescoço dela, fundo o suficiente para sangrar, mas não tanto para matá-la, não naquele momento, alcei o objeto, mas esse cravou na mão da garota que foi erguida sendo audível o grito em seguida. Puxei a faca e sorri.
— Nos vemos na saída, Nancy, se você não morrer sangrando ou de overdose tentando chegar até lá.
Me levantei e caminhei para a outra porta, Ryder Hancock estava esperando pelo seu momento de atuar, mas para ele eu não seria apenas o bobo da corte, me tornaria o lobo para comer o porco após destruí-lo.
Trocar de roupa não foi difícil, encarei meu reflexo no espelho e admirei o smoking preto com a gravata borboleta, olhei para a máscara de lobo e a coloquei. Ao entrar na sala Ryder me encarou e sorriu como o perfeito mauricinho que é. A roupa de palhaço combinava com ele, principalmente quando ele seria a atração daquela sala.
O pai de Hancock trabalhava em um açougue, me recordo das diversas vezes que fui até lá comprar qualquer carne que fosse e em uma delas Ryder fez questão de me arrastar para a parte onde os animais ficavam pendurados e deixar claro que se eu não ficasse de olhos bem abertos terminaria ali ou pior.
Ainda sinto o cheiro da podridão e o líquido daqueles animais que foram despejados sobre a minha cabeça, passei a noite inteira esfregando a pele e lavando os cabelos enquanto Amélia passou dias com os cabelos loiros vermelhos tentando dia após dia limpá-los, porém o sangue parecia permanente e se eu olhasse para minhas mãos poderia facilmente vê-lo.
Ryder arqueou a sobrancelha quando fui em direção às taças, e enchi as duas entregando uma para ele. O líquido virou abruptamente descendo por sua garganta.
— Sério? Só isso? Esperava mais de você, Murdock. — O escárnio no seu tom de voz fazia meu estômago retorcer.
Ah precioso Ryder se você soubesse que estava apenas no começo e o que aconteceria depois certamente teria corrido.
Eu tinha noção da nossa diferença de porte físico e entrar em uma briga com o atacante do time não era e nunca seria uma opção, por isso sorri ao ver a figura feminina adentrar pelas sombras e posicionar a seringa no pescoço do garoto levando-o a um sono profundo.
— Vamos jogar.
Carregar ele para o centro da mesa de banquete foi difícil, mas não impossível, a máscara de porco cobriu sua face permitindo ver somente os olhos. Levantei o rosto atento aos ganchos pendurados e sinalizei, notando as garras descerem.
Perfurar a pele de Ryder com cada um aumentou a minha satisfação e incendiou meu interior, principalmente ao girar a alavanca e ver seu corpo subir ficando pendurado como um animal abatido.
O som angustiante foi o alerta de que ele tinha acordado, seus braços e pernas tentavam se mexer, mas isso só ajudava os ganchos a rasgarem mais e realçar seus grunhidos.
— Harper? — O olhar dele focou na garota ao meu lado que tocava gentilmente o meu ombro — me tire daqui porra! Isso não tem graça!
Um sorriso se formou nos lábios dela, escondendo metade da sua face pela máscara do coelho. Os passos suaves foram em direção a serra elétrica, enquanto eu posicionava o balde abaixo de Ryder.
O som alto estrugiu e eu segurei a serra posicionando próximo a perna esquerda de Hancock.
— O que você vai f-fazer? — A voz falha me fez gargalhar e jogar a cabeça para trás misturando a risada feminina que se sentou na ponta da mesa com as pernas cruzadas e os braços apoiados, esperando o seu banquete.
— Eu vou te cortar e fazer de jantar, porquinho — as palmas ecoaram em esplendor e sorri para ela que retribuiu sinalizando para eu continuar.
É incrível como a carne é facilmente dilacerada e os ossos quebrados com o movimento certo, desmembrando cada membro que ia de encontro ao chão. Ryder berrava e aquilo parecia música, quando cheguei em sua cabeça seus olhos pularam para fora um pouco.
Minha camisa social branca tornou-se vermelha, os respingos contornaram o smoking e escorreram pela pelagem do lobo. O balde esparramava o líquido pelo piso.
Observei a rainha se levantar e ligar o projetor, ao fundo a figura do garoto no abatedouro, rindo enquanto acertava os animais, cortando suas partes e assistindo eles grunhir em sofrimento. Ao lado dele estava a menina loira, Harper Jones, o olhar frio e calculista – incomodada com a cena de Ryder se divertindo.
— " Quero ver se fosse você no lugar deles, se estaria rindo dessa maneira. " — A voz dela ecoou do vídeo pela sala que piscava com as luzes vermelhas, imitando perfeitamente o cenário do açougue.
No fim Ryder não riu nem sequer um segundo enquanto eu arrancava seus órgãos e estraçalhava cada membro.
— Nos encontramos na saída.
Abri a porta pronto para continuar minha trajetória e ao fechar tive o vislumbre dela recolhendo as partes dilaceradas, afinal Ryder precisava chegar ao fim do labirinto e encontrar os seus amigos.
Quando cheguei a terceira trilha encontrei Aiden Russell amarrado pelos pulsos e pendurado no centro da sala, apagado. No último halloween haviam quatro pessoas e ele era um, o cortês cameraman. Utilizando a cabeça de burro que representava bem o tamanho minúsculo de seu cérebro.
— Você demorou, achei que teria que fazer isso sozinho. — Murmurou a outra pessoa soltando a fumaça de cigarro pelos lábios com torpor.
— Você sabe o peso que uma serra elétrica tem?
— Não sei, nunca precisei usar uma.
Revirei os olhos, andando até Aiden que continuava dormindo.
— Precisamos acordar ele. — O sorriso se alargou no garoto que usava metade da máscara de um urso cobrindo até o nariz.
— Me dê as honras.
Dei dois passos para trás e apreciei o balde repleto de água fria ser lançado na direção de Aiden, o menino acordou puxando o máximo de ar em uma lufada longa. Os olhos arregalados quando avistou nós dois parados encarando-o.
— Que merda é essa, Dick?
O silêncio seguiu sendo quebrado somente quando coloquei o vídeo.
Duas crianças, uma loira e outra de cabelos pretos, ambos correndo e rindo, melhores amigos que fizeram uma promessa selada por um aperto de mão fajuto que não foi devidamente cumprido.
A cena cortou e revelou os garotos maiores, Aiden sorria bagunçando o cabelo do loiro que ria extrovertido unindo seus lábios em um selinho, mas a gargalhada cessou quando o soco atingiu seu estômago e o olhar escureceu quando Ryder, Harper e Nancy se aproximaram.
— Fique longe de mim seu gay de merda — os quatro amigos saíram entre risadas, mas o olhar de Dick permaneceu fixo em Russell.
Tolo Aiden, mal sabia ele que seus amigos sabiam sobre sua sexualidade e adoravam vê-lo maltratar Dick bem diante de seus narizes.
O ponto alto de toda aquela encenação foi na viela, a filmagem feita com precisão da violência sexual de Dick. Desviei os olhos para o garoto esperando encontrar dor, mas eles brilhavam como fogo ardente esperando para entrar em combustão e eu teria o prazer de atear gasolina.
Desencostei da parede e fui até Aiden.
— Nós não somos o seu saco de pancadas, Russell. — Passei a mão por seu abdômen e sorri, fechando-a em punho e acertando seu estômago vendo-o se contorcer e gemer. — Essa noite vamos descarregar toda a nossa fúria em você.
Chamei Dick com o dedo, atento a sua aproximação, retirei a máscara de lobo deixando-a cair no chão e sorri para Aiden que me encarava surpreso.
— Fique longe dele seu psicopata! — As pernas se moviam e os braços forçavam para baixo.
Puxei o loiro pela gola da camisa social e uni nossos lábios com ferocidade, não era um conto de fadas, mas foi satisfatório ouvir os berros do outro me abominando. Meu corpo foi inclinado pelas mãos de Dick e me sentei na cadeira com ele subindo em meu colo.
Joguei a cabeça para trás, gemendo e abri os olhos fixando em Aiden – sorri ao ver a fúria refletida neles. Minhas mãos percorriam todo o corpo do garoto em uma apresentação exclusiva para Russell.
No fundo acabei percebendo que eu e Dick éramos parecidos e por isso, detestava a ideia de nos tornarmos amigos. Não precisava de alguém tão fodido quanto eu ao meu lado, me lembrando sempre que a vida era um penhasco mortal e insano.
Descobrir bilhetes amorosos de perdão foi engraçado, Dick me fuzilou com o olhar durante minutos até eu ter a brilhante ideia de destruir o coração de Aiden e dar o troco pelo acontecimento tenebroso que tornou eu e o loiro amigos.
Dick se levantou e passou a mão pelos lábios borrando mais o batom vermelho que marcou sua boca inchada. Ele esticou a mão para mim e sorriu ao me puxar, mordendo meu beiço antes de se afastar e virar na direção de Aiden.
— Você se lembra da nossa aula sobre a Inquisição? —O moreno arqueou a sobrancelha e começou a rir, perdendo o fôlego conforme a gargalhada se intensificava.
Eu era uma pessoa com zero intolerância e paciência, só que Dick conseguia ser pior, bem pior. Não me surpreendendo quando o soco atingiu em cheio o rosto de Russell, respingando sangue pelo nariz – provavelmente tendo quebrado.
E não parou ali, ele realmente descarregou todo o seu ódio no seu mais novo saco de pancadas, me arrastando junto para a nossa seção de tortura.
Os dois gargalhando conforme o menino chorava implorando para que parássemos, Dick era insano como eu e isso me fazia gostar cada vez mais dele. Só paramos ao notar o rosto completamente inchado e as marcas roxas cobrirem o corpo do menino.
As mãos ensanguentadas retiraram a franja clara do rosto angelical do garoto que caminhava em direção a onde estava nosso brinquedo especialmente escolhido a dedo para Aiden. A madeira longa arrastava pelos dedos compridos do loiro que mantinha o sorriso largo.
— Existe algo bem interessante na Inquisição, uma tortura, feita exclusivamente para pessoas acusadas de bruxaria e algo semelhante ao que você e os ratos dos seus amigos fizeram comigo.
Encostei na parede deixando que Dick pudesse dar continuação a nossa brincadeira, aquele poderia ser meu momento de vingança, mas para o menino loiro ia muito além.
— O empalhamento. — A voz saiu arrastada e lenta, seus dedos tocaram a parte afiada da estaca improvisada que fizemos — tem duas formas de realizar, uma atravessando o coração e a outra acredito que você já saiba qual é.
—Você não está falando sério, né? Nos conhecemos desde crianças, nós namoramos! — Ele gritou tentando se soltar — você disse que me amava e agora quer enfiar a merda de um pau em mim?
— O seu amor não impediu que você fizesse isso comigo.
Não sei quantas vezes ele abriu e fechou a boca em busca de uma resposta, ela não viria e eu não daria tempo de Aiden fazer Dick se sentir culpado ou com pena.
Segurei a mão fria por cima da madeira e entrelacei nossos dedos encorajando-o para continuar, eu sei, me chamem de manipulador e sádico, mas não estava no meu plano deixar nenhum deles saírem vivos dali.
Me afastei e o sorriso tirano se alojou na face de Dick.
— N-n-não, n-não faça isso! Eu imploro! Faço tudo o que vocês quiserem!
— Me ajude aqui Ivar, vamos recriar a minha cena.
Abaixei a calça do garoto e pude ver meu mais novo amigo inclinar o braço e levantá-lo como se estivesse com um taco de beisebol na mão. Queria que o berro de Aiden ecoasse por todo o local como Ryder fez, porém, sua voz falhou e as lágrimas inundaram seus olhos.
As mãos de Dick erguiam-se com maestria e sua gargalhada contemplava a lamúria de Russell. Conforme ele repetia o movimento dizia atrocidades para o menino: " Quero que você sinta o mesmo que eu, que isso não perfure somente você, mas a sua alma ao ponto de você morrer por dentro. " " Não chore, querido, eu faço isso porque te amo. " — Murmurou exatamente as palavras que escutou de Aiden um dia depois do que aconteceu ao ir visitar Dick no hospital.
Eu estava lá – trancado no banheiro – mas, me lembro perfeitamente de como o moreno distorcia as suas ações em afeto. Fico feliz em ter feito Dick retribuir todo esse carinho mentiroso.
O corpo caiu praticamente desfalecido no chão quando cortamos a corda e Dick colocou o garoto por cima de seus ombros.
— Nos vemos na saída, agora vá encontrar aquela vadia desalmada. — Ri concordando e fui para a última trilha.
Era a hora de lançar os dados e definir o grande prêmio que a rainha das mentiras ganharia. Harper Jones sempre desejou ser a protagonista de Napoleoni e eu a transformei em uma grande estrela, a soberana das aberrações. Já existia um fim para ela antes mesmo de começarmos.
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