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II


Dante não dormiu em casa naquela noite.

Assim que o sol se pôs, ele começou a escutar algo rondando perto da casa. E um cheiro leve de podridão invadiu a residência. Olhar para o arranhão na janela da sala foi inevitável. Por via das dúvidas ele aumentou a proteção nas portas e janelas.

Antes que cogitasse achar que aquilo era exagero, ele escutou uma batida forte, seguida de arranhões na porta. Seu coração disparou. Ele foi para o seu quarto e bloqueou a porta e a janela com alguns objetos. O cômodo estava abafado, mas seu medo falava mais forte. Os barulhos na porta da frente ficaram mais altos e pararam  por um tempo. Tudo ficou em silêncio. Por via das dúvidas, Dante não tirou as proteções. O rapaz deve ter cochilado por um momento porque quando voltou a si, passos lentos e arrastados estavam vindo da direção do corredor.

O cheiro de podridão invadia seu quarto, causando enjoo. Um grunhido angustiante lhe causava arrepios. Respirar era difícil. Lágrimas invadiam seus olhos e ele nem sabia por quê. Um estrondo fez com que Dante se sobressaltasse. Batidas fortes ecoavam pela casa. O grunhido ficou mais alto. Mesmo com tantas quinquilharias fazendo uma barricada a porta tremeu. As batidas ficaram mais fortes. Antes que a criatura conseguisse entrar, e ele travasse de vez, Dante tirou todas as coisas de frente da janela e a destrancou. Enquanto saia, as batidas na porta aumentavam.

Seu corpo voltava ao normal numa transformação dolorosa. A espinha, antes curvada em um "S" perfeito, se rearranjava aos poucos, os estalos altos ecoando pelo beco. Seu grunhido habitual dava lugar a gemidos de dor. Aos poucos, o corpo deformado dava lugar a forma humana. Alguns ossos perfuravam órgãos e espetavam partes da sua pele. Ele catou suas roupas, escondidas próximas a uma lata de lixo e as vestiu.

Isso era uma parte que ele odiava em sua "vida dupla". Ele não tinha muito controle sobre si enquanto estava na outra forma. Não conseguiu ser silencioso o suficiente. O garoto escutou e é claro que fugiu a tempo.  



Já era por volta das sete horas da manhã quando Dante estava voltando para casa.

O velho coreto da cidade, parecia o único lugar menos pior para ficar. Era iluminado, não tão longe de casa. Até ele, com sua altura elevada, teve de se esforçar para pular as grades e entrar ali. E, para uma obra que havia sido abandonada pela prefeitura, até que não estava tão ruim. Ou talvez seu cansaço tenha falado mais alto depois de um tempo.

Depois que saiu pela janela de seu quarto, ele caminhou meio sem destino. A mente ainda tentando processar o que havia se passado. Ele tentou racionalizar a respeito. Podia ter sido um ladrão, o que ainda era ruim. Mas, seria um humano. Algo mais fácil de assimilar. Algo conhecido. Mas o cheiro, os grunhidos. Dante não havia visto nada, e achou melhor que continuasse assim. Seu celular descarregou por volta de uma da manhã interrompendo suas anotações sobre o recente acontecido. A partir daí ele começou a se guiar pelo relógio velho da cidade. Ele se lembrava que estava sempre atrasado, mas não sabia muito bem quanto tempo. Ele também não tinha cabeça para isso.

Será que aquele bicho iria voltar? O que aconteceria se tivesse caído no sono um pouco mais cedo? Como ele entrou? Por que ele?

Dante acordou encolhido num canto do coreto, com uma dor tremenda nas costas e uma barata andando sobre seus pés. O sol já havia nascido. Logo as pessoas começariam a sair na rua.

Passar pelas grades se demonstrou mais difícil do que antes. Mais cedo ele tinha o medo lhe estimulando a fazer as coisas meio sem pensar. Agora, ele só tinha dor nas costas, dor de cabeça e sonolência. Seus pés doeram quando ele caiu no chão.

Ele retornaria para casa.

Fechou os olhos, respirou fundo e ergueu a cabeça. Não tinha por que ter medo. Ele aguentou Vicente contando aquelas histórias, assustadoras demais para uma criança, da Cuca sua infância inteira. Quando tinha nove anos a pegadinha de primeiro de abril de seu padrinho, mancomunado com seu pai, foi uma cena de como seria um ataque de um lobisomem. Ele capturou um saci com as próprias mãos. Uma criaturinha arranhando sua porta não faz nem coçeg..

— OLHA O BICHO VINDO!

Os passarinhos que estavam na árvore próxima ao coreto voaram assustados com o grito emitido por Dante.

Luís gargalhava alto enquanto o outro rapaz se recuperava do susto.

Ele não esperava que teria aquele resultado, e foi simplesmente hilário. Ele se arrependeu de não estar gravando naquele momento.

— Tudo bem aí cara? — O saci perguntou enquanto limpava uma lágrima do canto do olho. Sua barriga estava até doendo.

A cor já voltava a Dante aos poucos. E o coração desacelerava os batimentos cautelosamente.

— Bom dia para você também. — Dante respondeu com rispidez — Pensei que ia parar de me atazanar.

Luís também se recuperou da crise de risos, embora um riso baixo sempre acabasse escapando.

— Não estou te atazanado, só queria falar contigo. Te vi ontem à noite. Você parecia meio bolado. Teve algum...convidado?

Do que adiantava tentar dizer que não, não é verdade.

— Não era bem um convidado.

Luís fez que sim com a cabeça.

— Faz pouco tempo que eu senti o cheiro dele lá na Rua da Lama. Fiquei procurando, mas não encontrei nada.

Dante que fez que sim com a cabeça dessa vez.

— Faz sentido ele ir para lá. Mesmo que alguém veja ele, o povo não tem muita moral com o resto da cidade. Se alguém contasse que viu o bicho ninguém acreditaria.

— Aquele povo é meio sem noção mesmo.

Dante deu um suspiro pesado. Sua cabeça latejava mais do que tudo e ele só queria sua cama no momento e a última coisa que queria era conversar. Mas por um lado, ficou feliz em ver gente.

— Já ouviu falar na proteção de sal ou café nas portas e janelas? — Dante assentiu — É bom colocar na sua casa. Parece que o bicho já tem uma vítima.

— Qual das duas é mais efetiva?

— Depende. Quando é seu aniversário? — Dante franziu o cenho — Eu sei que é estranho, mas é importante.

— Dezenove de abril.

Luís pensou um pouco antes de continuar.

— Coloque sal nas portas e janelas da sua casa. Ou ao redor da casa inteira, você que sabe. E antes de anoitecer, põe um pouco de mel (dentro de uma embalagem é claro) — Dante revirou os olhos para o capitão óbvio —, ou algumas frutas, ou os dois, no quintal da sua casa e pede proteção.

Dante assentiu novamente. Aquilo era maluquice, com certeza. Mas se certificou de lembrar das informações.

Felizmente ele não passou por mais ninguém quando retornava. Agora mais aliviado já que lhe fora dito que o bicho tinha ido para a rua que ficava no extremo oposto do lugar em que morava. Não que a cidade fosse tão grande a ponto de não ser possível retornar em pouco tempo, mas já era dia. Ele aprendeu que essas coisas só saem a noite.

Como estaria sua casa? Ele não tinha ideia. Mas não seria nada que ele não pudesse lidar. As coisas ficaram meio tensas porque ele estava despreparado, foi pego de surpresa. Agora que estava com a cabeça no lugar novamente, e poderia pensar direito.

Os espetos do portão da frente de casa tinham pouquíssimos resquícios de sangue seco. Sangue da criatura, com certeza. Os espetos do muro lateral tinham fiapos de roupa. Dele é claro. A porta da frente, juntamente com a porta do quarto foi arrombada. Em ambas tinham arranhões feitos com o que pareciam ser garras. A sala estava um pouco revirada, tendo marcas de arranhões em alguns lugares. Não havia o que destruir no corredor, então tudo estava normal. Já o seu quarto?

Bem, a cama, e tudo em cima dela, estava em frangalhos. Sua mesa, o chão, tudo estava arranhado. Os livros, notebook, as roupas do guarda-roupas, tudo estava no chão. Arranhões marcavam, também, o batente da janela por onde saiu.

Ele tinha muito trabalho a fazer.

Não deu para consertar tudo, mas a maior parte do estrago foi contida. Tirar os arranhões não seria possível, mas a ele posicionou as coisas na frente das marcas para tentar cobri-las. Antes que Roberto retornasse, Dante pintaria as paredes e as portas.

Acabou por volta do meio-dia e fez um almoço rápido. Depois saiu as compras.

O rapaz não entendeu direito qual linha de raciocínio Luís seguiu para lhe dar aquela orientação, mas por via das dúvidas, comprou uma garrafa de um litro de mel natural e escolheu as frutas mais bonitas. Antes de retornar para casa ele comprou um pacote de fraldas e uma mamadeira. Não, não era muito, mas era o que estava ao seu alcance no momento. Helena ficou agradecida.

Enquanto comprava pipoca no carrinho de Seu Claúdio na praça Dante ouviu algo que o chamou a atenção.

— Como que foi essa história mulher?

— Diz que depois que ela saiu do terço lá na matriz ontem ninguém mais viu ela. A filha e o genro não estão aqui porque foram tratar a doença do menino lá em Recife, então não tinha ninguém em casa para sentir falta. Hoje de manhã, que Laura foi levar goma para ela e estranhou que ela não estava em casa. Mais tarde, foi a agente de saúde esteve lá e não tinha ninguém em casa. Aí começaram a estranhar.

"Daqui a pouco, diz que Armando e Pitú, que estavam fazendo obra lá na casa dela, estiveram lá também. Como não tinha sinal de ninguém na casa, eles voltaram. Como eles também tinham obra na casa de Rosa, eles pegaram aquele caminho do lado do prédio abandonado, que era a sede do jornal na época que tinha, porque aquele caminho sai próximo da rua dela. Diz que quando eles estavam passando sentiram um fedor de coisa podre e viram os cachorros mexendo em alguma coisa. Quando foram ver o que era, era o corpo de dona Eulália.

— Oxente.

— Falaram que o corpo estava todo seco, parecia que tinha sido desidratado.

— Minha menina disse que estava rolando uma foto no grupo da cidade de como estava o corpo. Eu falei "nem me mostre". Eu não gosto de ver essas coisas.

— Eu fiquei sabendo por que dona Rosa me falou. Porque os meninos chegaram na casa dela esbaforido e ela veio me pedir açúcar para misturar com água para dar aos meninos. Para ver se eles se acalmavam.

— Misericórdia. O que será que foi isso?

— Deve ser essas viroses estranhas que surge por aí.

— Mas ontem eu vi dona Eulália no mercado e ela parecia bem. Eu até perguntei como que estava o neto dela. Ela disse que ele já estava melhor e que estava voltando esse fim de semana. E o menino saiu daqui quase, Deus me perdoe, mas saiu daqui quase morto. Ela estava toda feliz que ia ver ele de novo, aí acontece uma coisa dessas.

— Eu tenho para mim que foi aquele povo de fora que teve aqui uma vez, que falaram que eram de São Paulo e estavam fazendo um.... mochilão parece.

— Benção dona Dinha, benção dona Elisa.

— Deus abençoe.

— Deus abençoe menino. Esse povo que vem de longe e traz doença para a gente que está aqui...

As duas senhoras conversavam no banco da praça. Dante não estava sendo fofoqueiro, acontece que quando falam algo do seu lado, você escuta. Idai que ele tenha ficado um pouco próximo para poder ouvir melhor?

Então dona Eulália morreu e o corpo estava completamente desidratado. Que terrível. E ele sabia bem o que havia causado aquilo. Enquanto caminhava para casa, traçou um plano. E torceu para que desse certo.

Não era um plano de execução exatamente rápida, mas a criatura fez uma vítima. Quanto tempo até fazer outra? Logo ele arranjou um modo de executá-lo de forma mais instantânea e rezou para que desse certo.

Primeiro, como Luís disse, ele pôs um pouco de mel, achou melhor não pôr a garrafa inteira, e algumas frutas no quintal. Até organizou num pratinho. Ele pediu proteção para a casa de Helena. Agora que dona Eulália morreu, ela era a única pessoa que realmente prestava naquela cidade. Além de que, se aquele filho for do seu padrinho, ele sentia a obrigação de fazer algo já que, provavelmente, Roberto não faria.

Depois fez um círculo de sal ao redor da casa, um do lado de dentro, e por mais precaução, barricou as janelas e portas.

A noite, a criatura apareceu novamente. Dante estava acordado e mais atento. Ele havia se mudado para o antigo quarto de Vicente agora que já não tinha mais uma cama. Durante a faxina ele encontrou algo que havia visto a muitos anos. Ele encontrou quando se escondeu no quarto de seu pai quando estava brincando de esconde-esconde com o padrinho uma vez. Roberto o achou antes que ele mexesse. Eles mudaram de casa várias vezes e Vicente sempre escondia o Parabélum melhor.

Quatorze anos depois, Dante encontrou de novo numa faxina a um quarto que não era aberto a quase três anos. Ele não sabia como funcionava e se funcionava. Mas caso o bicho conseguisse entrar ele estaria seguro. E não, ele não ficou se questionando o porquê de o pai ter uma arma. Ele só pensou que poderia se defender.

Mas a criatura não conseguiu entrar.

Dante o escutou. Distante, mas escutou. Ele ficou rodeando a casa, nunca conseguindo se aproximar tanto de fato. Depois de um bom tempo da criatura correndo ao redor da residência, Dante se esgueirou para vê-lo pela janela. Ele não podia ter se arrependido mais.

Era alto demais, magro demais, a pele estava grudada aos ossos. Os braços chegavam à altura dos joelhos. Nas mãos não havia dedos. Apenas garras. Garras enormes. A criatura ficava curvada e andava mancando. A bocarra aberta em um rasgo que ia até a orelha exibia vários dentes pontiagudos. Não havia um nariz, apenas um buraco no lugar onde deveria ser. Os olhos eram completamente negros.

Dante tentou desviar o olhar. Se mover. Respirar. Sair de vista.

Mas nada além de uma lágrima solitária que escorria do seu olho se movia.

A criatura encarou o rapaz do outro lado do vidro. Talvez fosse por ter visto sua vítima, ou por ver como ele estava reagindo, o que deveria ser um sorriso macabro se abriu.

Dante lutou para lembrar seu próprio nome. 

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