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Distração

24

  As inúmeras perguntas que se formavam na minha língua coçava para sair, mas ainda sim continuei em silêncio, pelo menos até alguém bater na porta e uma moça de cabelos escuros e olhos castanhos aparecer carregando algumas roupas e um balde.

—Ur me disse para entregar isso.

Ela estendeu as coisas na minha direção.

—Se precisarem de algo é só chamar.

Havia duas mudas de roupa simples, duas capas na cor palha e dois pares de calçados de couro. Fiquei me perguntando se iriam servir pouco antes de erguer o novo vestido encarando a raposa branca.

—O quê foi?

Revirei os olhos e por sorte não demorou muito para ele entender o que eu queria.

—Não enrole.

Foi a única coisa que ouvi antes de Eylef sair.

Não enrole...

Repeti suas palavras pegando algumas das flanelas limpas mergulhando-as no balde.

—Como se fosse fácil tomar banho assim.

Levei um bom tempo para me limpar, a sujeira parecia ter impregnado na pele, mas consegui tirar o sangue grudado ao redor do ombro ferido. A aparência estava bem melhor do que antes, o que era um ótimo sinal.

Sem pressa, amarrei as tiras de couro atrás do vestido até a roupa ficar ajustada no corpo. Quando terminei de pentear o cabelo abri a porta dando de cara com Eylef.

—Ficou bom?

Seus olhos me analisavam de cima a baixo.

—Podia ter demorado menos.

Abri espaço para que ele pudesse entrar.

—Não é fácil limpar o corpo com panos molhados! — bradei em direção a porta já fechada — E vê se não demora também!

Me sentei no chão do corredor, não queria dar nenhum passo em direção as outras portas, muito menos voltar lá para cima com todos aqueles homens bêbados. Então esperei, esperei e esperei, quase ao ponto de criar teias de aranha quando a porta finalmente abriu.

—E depois eu é que demoro!

Empurrei o ferrolho com força sentindo minhas pernas formigando. Estava prestes a iniciar uma discussão acalorada comparando sua demora com a minha quando as palavras sumiram.

Eylef estava sentado na cama usando as roupas novas. Sobre as flanelas usadas estavam o manto vermelho e as tiras que cobriam seu corpo, ou boa parte delas, já que suas mãos, antebraços e pescoço continuavam com as faixas brancas. Em meio aos tons claros da roupa, a rosa vermelha na máscara chamava ainda mais atenção, assim como o brilho prateado dos seus olhos em meio a luz laranja da bola flutuante.

—O que foi?

Sem saber ao certo o que dizer, apontei para o alto da sua cabeça deixando as palavras fluírem.

—Seu cabelo ainda é um ninho...

Eylef parecia incrédulo com o que ouviu, e confesso que minha reação não foi diferente.

Tanta coisa para falar...

Contendo minha vontade de esconder o rosto continuei encarando a fenda brilhante dos olhos da raposa. Agora que as palavras simplesmente saíram eu precisava sustentá-las.

—Não combina com sua nova aparência.

—E?

—E, se me lembro bem, ouvi aquele homem falando de tratar de negócios, nesse caso a aparência é importante, como alguém pode te levar a sério assim?

Eylef não respondeu, porém, se eu fosse uma formiga, com certeza já teria sido esmagada por aquele olhar mortal. Mas ainda assim continuei firme.

—Do que adianta ter esse ar intimidador se sua própria aparência caçoa de você?

—Está insinuando que sou uma piada?

—Estou — tirei o pente de um dos bolsos do vestido — Será que agora tenho argumentos o suficiente para te fazer ver que tenho razão?

Podia sentir as fagulhas que vinham por de trás da máscara acertar minha pele causando arrepios, até que, para a minha surpresa, ele virou de costas.

—Não toque em mim que não seja o cabelo.

Oi?

Ainda tentava digerir as informações.

Eylef cedeu?

—Quer que eu mude de ideia?

Sua voz me trouxe de volta.

—Não...

Por algum motivo senti as mãos tremerem enquanto me aproximava da cama. Eu estava tensa. Aquele não era um objetivo que eu tinha em mente, e não esperava conseguir sua permissão. Mas lá estava eu, um pente na mão e um amontoado de fios para desembaraçar.

Foi ideia sua, foi insistência sua...

No fundo eu esperava encontrar um nó impossível de ser desfeito, puxar com força demais e ouvir uma bronca, mas para o meu espanto, assim que o pente tocou os fios escuros o entalhe da borboleta cintilou em uma fraca luz azul enquanto o objeto deslizava com facilidade pelas mechas na minha mão.

Fantástico!

Devagar separei mecha por mecha me deliciando ao ver os nós serem desfeitos com uma facilidade espantosa pelo pente magico. No fim, quando tive certeza de não ter esquecido nenhum fio, apreciei a longa extensão do cabelo tão escuro quanto a noite cair como uma cascata pelas costas da raposa se espalhando no meu colo.

—Isso!

Eylef estava quase levantando quando agarrei sua roupa puxando-o de volta.

—O que pensa estar fazendo?!

—Eu é que pergunto?!Por acaso enlouqueceu?!

—Escuta aqui!Não vou correr o risco de ver meu trabalho se transformar naquela massaroca de novo!Então não ouse se levantar até eu dizer que pode!

Murmurando alguma coisa que eu não entendia Eylef sentou cruzando os braços na frente do peito. Podia sentir a raiva fervilhando em suas veias enquanto respirava fundo várias e várias vezes.

Ótimo!

Contendo as palavras que ameaçavam sair, separei o cabelo em três mechas trançando toda a extensão, quando terminei fiz um laço firme prendendo os fios com uma fita azul que enfeitava o decote do meu vestido.

—Pronto, pode levantar.

Eylef ficou de pé tomando distância, seus olhos ainda brilhavam de um jeito ameaçador enquanto me encarava. Mas eu não me importei, só conseguia admirar a longa trança balançando as suas costas enquanto algumas mechas ainda caiam ao lado da máscara escondendo as orelhas.

—O que foi?!Não me diga que ainda quer me usar para fazer mais algum de seus experimentos!

Sorri.

—Você está ótimo, sabia?

Vi o espanto em seus olhos, as mãos abrindo e fechando como se buscassem alguma coisa para desviar a atenção, mas como não havia nada ao seu alcance ele continuou ali, parado e em silêncio por bons segundos.

—Eu...

O som de batidas preencheu o cômodo impedindo que ele continuasse.

—Pode entrar.

Admirando uma última vez a nova aparência da raposa branca, me encolhi no colchão antes de Ur, segundo o que a moça de mais cedo disse, aparecer na porta.

—Estou atrapalhando?

Seu olho castanho parou sobre mim.

—Não, vamos ao que realmente interessa.

A raposa caminhou até uma das cadeiras indicando a outra com a mão.

—Quanto antes resolvermos isso, melhor para os dois.

—De acordo.

Observei os homens sentaram um de frente para o outro, a pequena bola laranja flutuando entre eles esticando suas sombras pela parede. Mais uma vez era como se eu não estivesse ali.

—O que deseja saber?

Nosso anfitrião foi o primeiro a falar.

—O templo de Bast, como estão as coisas por lá?

Vi a confusão transparecer no olho castanho.

—O imperador de Zolaryan toma conta do lugar, não preciso dizer que é tão protegido quanto o próprio castelo.

Senti a tensão de Eylef chegar até mim, mas graças a sua postura confiante creio que mais ninguém percebeu.

—O Touro tinha algo importante em sua posse, uma caixa feita de madeira de ébano, duas espadas entalhadas nas laterais e uma coroa no tampo, onde ela está? O peito de Ur subia e descia em um movimento rápido.

—Estou esperando.

—Roubada — ele finalmente falou — Antes da morte do coroa, não conseguimos impedir eles de entrarem.

—Eles quem?

—Lordes da noite.

Um silêncio perturbador tomou conta do cômodo ao ponto de eu conseguir ouvir as batidas do meu coração.

Lordes da noite...

Perguntas e mais perguntas fervilhavam dentro da minha cabeça, mas não arrisquei dizer nada, ainda mais quando vi o punho de Eylef se fechar com força.

—Quantos?

—Dois.

—Como eles eram?

Pela careta de Ur imaginei que não fosse uma memória que ele gostaria de reviver.

—Uma mulher e um homem, Hella e Moriá, foi como eu ouvi eles se chamando.

Droga...

—Adianto que não quero me envolver com nada que diz respeito a Moonyr, muito menos enfurecer alguém de Zolaryan, isso é tudo o que tenho para falar sobre eles.

—Compreensível.

—Ótimo, se já dei as informações que tanto queria então a dívida do meu pai está paga.

Ur já estava se levantando quando Eylef o impediu.

—Só mais uma coisa.

O olho castanho brilhava em expectativa.

—Como ele morreu?

A pergunta nos pegou de surpresa, tanto que demorou um pouco para ouvirmos uma resposta.

—Foi a Doença da Guerra.

Sem fazer mais nenhuma pergunta, Ur tomou o assunto por encerrado indo em direção a porta onde saiu em silêncio.

Mas já?

Assim que ficamos a sós Eylef se reclinou na cadeira respirando fundo.

A conversa tinha sido rápida, rápida demais, mas a julgar pelo seu estado, diria que também foi exaustiva.

—Você está bem?

—Estou.

—Não é o que parece.

—Então não se dê o trabalho de perguntar.

Deixei o silêncio tomar conta do quarto, mesmo com as inúmeras perguntas que eu tinha para fazer eu sabia que não era o melhor momento.

—Quando vamos embora?

—Assim que amanhecer.

Olhei através da cortina empoeirada vendo a escuridão do lado de fora.

Essas eram as informações importantes que ele tanto queria?

Eu consigo ouvir daqui...

Percebi que os olhos da raposa me observavam.

—Do que está falando?

—Seus pensamentos, dá para ouvi-los daqui.

—Bom, acho que não sou a única então...

Mais uma vez o silêncio.

—Pergunte.

Dessa vez foi eu que o encarei.

—Vamos, pergunte logo o que quer saber.

—Pensei que odiasse meu interrogatório.

—Porque ele me distrai.

—Quer dizer que você precisa se distrair agora?

—Preciso.

Sua sinceridade me pegou de surpresa. Mesmo que não demonstrasse a conversa com Ur realmente o abalou de alguma forma que eu não entendia.

—Sabe muito bem que se eu começar com minhas perguntas não vou parar tão cedo.

Eylef balançou a mão, um gesto para que eu prosseguisse.

Ele está realmente mal...

Mesmo que as inúmeras perguntas gritassem ansiando por respostas, decidi não tocar no assunto que Ur levantou, até porque, que tipo de distração seria essa? Se alguém quer esquecer um problema não vai ficar falando sobre ele.

Bati de leve os pés na cama chamando sua atenção.

—Quando eu era pequena comi uma flor rosa achando que meu cabelo ficaria colorido...

Mais uma vez senti o peso dos seus olhos sobre mim.

—Fiquei doente.

Esperei, esperei, e esperei um pouco mais, até finalmente ouvir sua voz.

—Você comeu uma flor?

—Eu tinha seis anos.

—Para o cabelo ficar rosa?

—Seis anos...

Pelo grande rio — o ouvi murmurar — É realmente maluca...

—Eu era uma criança!

—Não me surpreenderia se tivesse comido as flores no caminho até aqui.

—As plantas desse mundo brilham e pulsam como um coração!Nem se eu fosse uma cabra!

—Será?

Estreitei os olhos.

—De qualquer forma isso é algo que nunca vou esquecer, igual a vez que coloquei pó de mico nas calças de um menino que me chamava de piolhenta — encarei o teto lembrando do garoto que tirou as calças pulando no cocho onde os cavalos bebiam água. Inconscientemente sorri — E sabe qual é a melhor parte?Nunca descobriram que foi eu.

Eylef me encarava com um misto de espanto e incredulidade.

—O que foi?

—Você sempre foi motivo de confusão...

—Em minha defesa, nunca procurei encrenca com ninguém, os outros que sempre me atazanavam.

—E você colocava pó de mico na roupa de todo mundo?

—Não, alguns eu só ignorava.

—Não tentou comer o pó de mico?

Senti a provocação em sua voz.

—Não, mas confesso que eu gostaria de ter um pouco agora.

—Você é terrível.

Respirei fundo me deitando na cama, o colchão afundou com meu peso enquanto a madeira do suporte rangia.

—Só fiz o possível para sobreviver, mas é claro que me diverti com algumas coisas.

—E ele estava certo?

Arqueei uma sobrancelha.

—Você tinha piolhos?

Abri a boca em um perfeito O.

—É claro que não!

O vi inclinar a cabeça.

—Sei...

—Você tem muita sorte de eu não ter nada ao meu alcance agora, sabia?

—Como se você fosse capaz de me acertar.

—Não duvide das minhas capacidades.

—Longe de mim, senhora pó de mico.

Estreitei os olhos pensando seriamente em levantar e jogar o balde de água suja nele.

—Cansei de conversar — me virei em direção a parede — Tenha uma boa noite.

—É claro que terei, quando você sair da minha cama.

—Não lembro de ter visto seu nome escrito aqui.

—E por acaso o seu está?

—Deitei primeiro.

—Então levante.

Bocejei.

—Me acorde quando for a hora de irmos, ok?

Fechei os olhos, o sono tomando conta de mim aos poucos conforme a luz laranja diminuía quando senti uma mão empurrar minhas costas me prensando contra a parede.

—Ei!

Mal tive tempo de entender o que aconteceu quando Eylef se acomodou na maior parte do colchão.

—Eu estava aqui antes!

—E?

Encarei o prateado dos seus olhos. Eles estavam perto. Muito perto. Como duas estrelas começando a brilhar no céu noturno.

—E... — minhas palavras haviam sumido — Nada! — me virei — Vou dormir que ganho mais!

No que minha vida se transformou?

Não demorou muito para que a luz da bola flutuante sumisse inundando o quarto na mais profunda escuridão. Sem que eu quisesse estava de volta ao poço, a sensação da dor, do medo, do desespero pareciam sussurrar de algum lugar distante nas trevas.

Não estou mais lá...não estou mais lá...

Deixei os pensamentos fluírem, levando as más lembranças embora até o exato momento em que encontrei Eylef. O famoso monstro que aterrorizava as histórias da minha cidade. Um demônio sem sentimentos. Um destino pior do que a própria morte. Mas que havia salvado minha vida, se preocupado comigo, cuidado de mim, e que agora estava aqui, deitado bem ao meu lado.

O que aconteceu para ele ter ido parar em um lugar como aquele?

Tentei ver os contornos da máscara da raposa na escuridão.

Será que nesse tempo alguém sentiu sua falta?

Estar preso já era um destino horrível, mas ser abandonado e esquecido por todos que você conhecia parece ser algo muito pior. Eu sabia que as pessoas que ajudei ainda lembrariam de mim, ainda teriam alguma gratidão pelo que fiz mesmo que minha fama já tivesse sido destruída com as acusações de feitiçaria. Mas será que depois de anos alguém ainda teria esperanças de me ver voltar para casa?

Provavelmente não...

Senti um estranho aperto no peito quando deixei as palavras escaparem da minha boca em um baixo sussurro.

Se caso você desaparecesse, eu sentiria a sua falta...

Duas estrelas surgiram na escuridão.

—Por que isso agora?

Sua voz também estava baixa.

Sei lá...só tive vontade de falar...

Aos poucos escutei sua respiração se misturar com a minha, os únicos sons em meio ao silêncio. Já estava sentindo o cansaço me envolver junto da escuridão quando uma voz distante sussurrou no meu ouvido, quase como um sonho disperso.

—Tenha uma boa noite, Sophie...

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