O filho de ouro e a flor
"Os protagonistas dessa história não ligam se alguém vai saber sobre ela agora. Ela aconteceu quando o domínio dos Minori era apenas Escarion, quando os irmãos Zander ainda viviam em Gedeon e Urano Febe não era o último de sua família."
...
Ele estava com a cabeça sobre a barriga dela, dormindo tranquilamente. Danielle observava suas costas de vez em quando, ele usava bermuda preta e uma camisa branca fina, seu cabelo estava bagunçado e Dani não resistiu a vontade de fazer cafuné naquele cabelo grisalho.
Tyr era um soldado, treinava por horas todo o santo dia e ainda tinha os estudos, onde ele era o primeiro da turma sempre, e uma caminhada deixou ele exausto. Dani o convidou para ir ao chalé que seus pais compraram para cuidar do jardim de lá já que a tia de Danielle tinha viajado.
Ela pensou que Tyr recusaria por medo da mãe desconfiar de algo, mas lá estava ele, dormindo como um bebê.
Foi a primeira viagem dos dois, Dani não podia estar mais feliz e percebeu o quanto os dois precisavam disso.
Tyr Zander e Danielle Alfred completaram dois anos de namoro escondido, tudo o que queriam era passar um tempo juntos sem o risco de alguém fofocar sobre eles e a fofoca chegar aos pais.
Os pais de Dani ficariam furiosos com ela por ter escondido isso deles e por ela ter um relacionamento sem a sua permissão, o que não era apropriado, e os pais de Tyr... ele nem comenta, mas Danielle tem uma noção. Já viu a mãe dele. Magnólia era uma daquelas mães que planejou cada dia da vida de cada um dos filhos, até mesmo o casamento e com quem seria.
Em poucas palavras, Tyr e Danielle teriam muitos problemas se mais alguém descobrisse sobre eles.
Dani continuou lendo uma matéria sobre pessoas que chegaram em Escarion e não tinham condições de se manter pelo desemprego, isso a deixava furiosa.
Escarion era um reino que alcançou um patamar que os outros reis consideravam impossível, mas não compartilhava com ninguém. Um dia, ela esperava mudar isso, dar a outras pessoas o que ela teve.
Os pais de Dani, com muito esforço, conseguiram se manter no reino com o dinheiro que ganhavam vendendo flores. Começou naquela mesma casinha, eles iam à um festival anual numa cidade próxima e vendiam vários arranjos, até conseguirem um cliente em Gedeon e serem chamados por todos os nobres do rei para decorar festas e casamentos, além de decorar jardins.
Com isso, eles abriram uma floricultura ali mesmo, que cresceu com o passar dos meses. Não foi fácil, e Danielle esperava que para as outras pessoas não fosse tão difícil se estabilizar nem que leve tanto tempo nem que precisem criar o próprio negócio para se manter.
Sua divulgação melhorou mais ainda quando uma das Três Grandes Famílias Primordiais os chamou para decorar o aniversário de casamento da Chefe Magnólia Zander e o doutor Herasmos Zander, que por ter pego o sobrenome da esposa gerou assunto durante o jantar na casa de Dani.
Foi nesse dia em que ela conheceu Tyr.
Ele estava com os pais para avaliar a decoração, Danielle percebeu várias vezes que ele estava olhando para ela. Decidiu olhar de volta na próxima vez que percebesse, o que o fez corar e virar o olhar rápido.
Depois da festa, ele foi a floricultura da família de Dani uma vez, depois outra, outra, outra e outra. Todas com desculpas esfarrapadas que ele inventava para vê-la, até que Danielle perguntou "Quando você vai me chamar para sair?" e Tyr respondeu "Agora mesmo."
Danielle ri lembrando disso, de como a história dos dois começou.
O som de um carro estacionando vem lá de fora, Dani reconhece a voz de sua mãe quando ela grita de susto com alguma coisa e ouve seu pai cumprimentando o cachorro.
- Tyr.- Ela chama sussurrando, ele nem se mexe. - Tyr!- Dani chama de novo, sacudindo seu ombro e dessa vez ele resmunga.- Tyr, meus pais estão aqui.
Isso o faz levantar a cabeça, ele ouve o barulho da porta e salta da cama.
A sorte que eles tiveram foi que as coisas de Tyr estavam no armário ainda dentro da mala, Danielle o empurra para dentro do guarda roupa um segundo antes de seu pai abrir a porta do quarto.
- Dani, chegamos.- Seu pai anuncia com seu sorriso caloroso de sempre. Danielle continua com a mão apoiada na porta do guarda roupa, fingindo estar tudo bem.
- Oi, pai.- Ela cumprimenta com o mesmo sorriso.- Por que vieram?
Danielle não lembrava deles terem dito que viriam depois, ela jurava que teria a casa só para si e o namorado.
- Nós deixamos recado na secretária hoje de manhã, não ouviu?- Seu pai pergunta sem suspeitar de nada, por enquanto.
- Eu fui caminhar cedo.- Dani justifica com a mão ainda apoiada na porta, por um minuto ficou se questionando se Tyr respirava ali dentro.
- O que fez à tarde?- Seu pai pergunta casualmente.
"Você não quer saber, paizinho." Ela pensa, sentindo sua testa ficando suada ao ver seu pai analisando o quarto.
- Que bagunça, flor.- Ele diz.- Arrume isso antes que sua mãe veja.- Aconselha antes de fechar a porta, nem esperou a filha responder.
Danielle abre a porta do armário e Tyr salta lá de dentro, puxando o máximo de ar que conseguia.
- Estava prendendo a respiração?- Dani pergunta colocando a mão em seu ombro.
- Talvez eu tenha ficado com medo do seu pai me achar.- Tyr responde com um sorriso.
- Cuidado, ele fareja o medo.- Danielle diz com um sorriso zombeteiro, seu namorado segura a risada e eles lembram que não podem fazer barulho. - Você consegue descer pela janela?
- Claro.- Ele responde colocando a mala com alça transversal que trouxe nas costas.
- Dani!- Eles ouvem a mãe de Danielle chamar e a garota empurra o namorado para ele se esconder embaixo da cama antes da senhora Alfred abrir a porta.- De onde aquela caminhonete veio?
- Que caminhonete?- Danielle se faz de confusa, sabia muito bem de quem era aquela caminhonete.
- Uma enorme que está ali atrás, preta, novinha e com rodas enormes.- Sua mãe responde apontando para trás com os óculos na mão.
Foi a caminhonete onde ela e Tyr vieram, já que Dani pensou que seria melhor assim para o namorado conhecer o lugar e não se perder no caminho. Eles estacionaram atrás da casa, um pouco afastado, para que nenhum vizinho que passasse por lá avisasse aos pais de Danielle que tinha um carro caríssimo na frente do chalé deles.
- Eu não vi nenhuma caminhonete lá atrás, eu dormi a tarde toda.- Danielle dá de ombros e faz cara de inocente.
- Que estranho.- Sua mãe diz olhando para os lados, pensando.- Vou falar com o vizinho, ver se ele sabe de alguma coisa. Céu e Mar nos defenda que tenha algum louco andando por aqui.
- Verdade.- Danielle concorda.- Eu vou arrumar um pouco o quarto.
- Arrumar ele todo, Dani.- Sua mãe corrige.
- Sim, arrumar ele todo.- A jovem diz se inclinando para arrumar os lençóis, esperando sua mãe fechar as portas.
Quando ela fecha a porta, Dani ouve a tranca se mover sozinha. Tyr trancou a porta.
- Meu pai vai brigar comigo se eu deixar a porta trancada.- Danielle sussurra.
- Desculpa, mas eu não queria que você me empurrasse de novo.- Seu namorado diz saindo de baixo da cama.
- Você não reclamou quando eu te empurrei ontem.- Ela provoca quando Tyr fica de frente para ela. Ele era algums centímetros mais alto, Dani tinha que levantar o rosto para olhar nos seus olhos.
Ele imita o sorriso de Danielle e solta um suspiro fingido.
- Ah, as exceções que eu abro para você, minha flor.- Ele solta mais um suspiro e a beija nos lábios e desce até o pescoço. Danielle lamentou por seus pais terem chegado de surpresa, sentiu mais um pouco os lábios de Tyr contra sua pele e o afastou.
- Oh, sim.- Dani diz segurando seus ombros, ainda sorrindo.- Agora, temos que tirar você daqui.
Tyr vai até a janela, mas volta rápido para perto da cama.
- Seus pais estão lá embaixo.- Ele diz casualmente, como se ele não pudesse morrer caso o pai de Dani o encontrasse no quarto dela. - Melhor esperar eles saírem dali.
- Vamos tentar sair pelos fundos.- Danielle diz destrancando a porta.- Vamos.
Eles descem rápido as escadas, já estão no centro da sala quando escutam os pais de Danielle voltando para o chalé e Tyr corre para a cozinha.
- Ele provavelmente foi para o lago aqui perto.- Seu pai chegou conversando com sua mãe.
- Não acha melhor chamar a polícia?- A mãe de Dani pergunta fechando a porta.- Nem sabemos se ele pode aparecer aqui do nada.
- Eu já anotei a placa do carro caso alguma coisa aconteça.- O senhor Alfred diz subindo as escadas enquanto a senhora Alfred vai até o quintal.
- Vou ver como está o jardim, Dani.- Ela avisa.
- Tá bom, mãe.
Sua mãe sai da casa e Dani puxa Tyr para fora da cozinha, ele abre a porta da sala para sair, mas a segura antes de Danielle fechar e lhe dá um beijo rápido. Ela não consegue evitar o sorriso e as bochechas coradas.
De madrugada, Dani pegou o telefone, se trancou no armário para seus pais não ouvirem e ligou para o namorado.
- Oi, ursinho.- Ela cumprimenta logo que ouve a voz dele.
- Oi, minha flor. Deu tudo certo? Seus pais suspeitam de alguma coisa?- Tyr pergunta.
- Não, só uma camisa sua ficou aqui e eu disse que comprei no tamanho errado.- Danielle diz se sentando no chão e escorando na parede. - Foi fácil convencer eles já que é aquela sua verde horrorosa.
Os dois riem.
- Pode ficar com ela.- Tyr zomba.
- Eu vou queimar, isso sim.- Dani rebate, os dois riem de novo.- E você? Conseguiu sair?
- Uma viatura da polícia me parou perguntando o que eu estava fazendo.
- E então?- Danielle perguntou realmente preocupada.
- Eu fiz uma coisa...- Ele começa e Dani fica impaciente.
- Diga de uma vez! - Ela fala alto demais.
- Eu usei meu status de lorde para fazer o policial me deixar ir.- Tyr finge uma voz engomada, fazendo Danielle rir contra a própria vontade. - Ele não tinha noção de quem eu era.
- Seu palhaço. - Danielle diz.
- Seu palhaço.- Tyr corrige.
- É.- Dani concorda.- Vejo você semana que vem?
- Claro. Sempre.
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