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Capítulo 8 - Culpa Silenciosa

O poder do Sol é como uma faca de dois gumes: oferece força, mas também carrega uma dor que ninguém está preparado para suportar.”











Aaron caminhava devagar pela trilha coberta de gelo que serpenteava pelos jardins do Palácio Hibisco. O frio mordia sua pele mesmo sob o casaco grosso que usava, e cada passo fazia as pedras úmidas rangerem baixinho. Ao redor, os arbustos estavam salpicados de neve, e o vento que soprava entre eles trazia um silêncio gelado, quebrado apenas pelo estalar ocasional dos galhos congelados.

À sua frente, Ethan caminhava com passos leves, o rosto corado pelo frio e os olhos brilhando com uma alegria que Aaron não conseguia compartilhar. Ethan parecia alheio ao frio e a solidão do lugar, fascinado pelas feras mágicas que saltitavam entre os arbustos.

As criaturas eram fascinantes à primeira vista. Coelhos alados, com corpos macios cobertos por uma fina camada de pelos que pareciam cintilar sob o sol de inverno. Suas asas, delicadas como as de borboletas, batiam preguiçosamente, enquanto os pequenos núcleos mágicos em seus peitos emitiam um brilho pálido, como brasas prestes a apagar. Mas, para Aaron, tudo isso era insignificante. Eles eram frágeis, inúteis e desprovidos de propósito.

E, ainda assim, Ethan os achava maravilhosos.

Desviaram da trilha em direção aos arbustos. A neve acumulada em seus topos caía em pequenos montes sempre que Ethan os movia, rindo baixinho enquanto tentava atrair um dos coelhos. Ele se ajoelhou na neve, estendendo a mão com cuidado, e ficou parado, esperando.

Por um instante, nada aconteceu. Então, um dos coelhos saltou para frente, hesitante, e pousou na palma de sua mão. As asas vibraram, soltando um fino pó brilhante, e Ethan riu, encantado.

Aaron permaneceu onde estava, os braços cruzados contra o frio, observando em silêncio. O riso de Ethan ressoava pelo jardim vazio, misturando-se ao sussurro do vento. Por um momento, Aaron se sentiu como aquele jardim: bonito, mas congelado.

— Aaron, olha só! — chamou Ethan, a voz carregada de entusiasmo. Ele girou, segurando o coelho com cuidado para mostrá-lo. As asas batiam preguiçosamente, soltando mais partículas brilhantes. — Você já viu algo tão lindo?

Mas Aaron não respondeu. Estava longe dali, preso em seus próprios pensamentos. O frio parecia não alcançá-lo, tampouco o som da voz do gêmeo. Ele via flashes: o Palácio Hibisco em chamas, o sangue nas pedras da escadaria, os olhos aterrorizados de Ethan enquanto a árvore onde se escondiam queimava.

Ele piscou, voltando à realidade. Ethan chamava-o novamente, agora com uma ponta de preocupação na voz:

— Aaron?

Ele ergueu os olhos, piscando devagar. — O quê? O que você disse?

O sorriso de Ethan desapareceu lentamente. Ele pousou o coelho alado no chão, onde a criatura saltitou para o arbusto mais próximo.

— Está tudo bem? — ele perguntou. Sua voz era baixa, hesitante, como se não quisesse afastá-lo ainda mais.

Aaron suspirou, caminhando até Ethan antes de se deixar cair no chão ao lado dele. A neve fria penetrou rapidamente o tecido de suas roupas, mas ele não se importou. Sentou-se com as costas apoiadas no arbusto podado, fechando os olhos por um momento. Quando os abriu, sua íris escura refletia o rosto do irmão. Os cabelos alinhados de Ethan estavam salpicados pela neve que caía lenta, e havia algo na inocência daquela expressão que o fez hesitar antes de falar.

— Não. — Aaron quebrou o silêncio, finalmente. Sua voz saiu baixa e rouca. — Não está tudo bem.

Ethan inclinou a cabeça. Ele não respondeu, apenas esperou.

— Eu me sinto culpado — continuou Aaron, a voz vacilando. — Não importa como eu tente justificar, foi por minha causa que tudo aconteceu. Se eu não tivesse revelado que Leila era culpada, nada disso teria acontecido.

Ethan franziu o cenho, sua expressão era uma mistura de confusão e preocupação. — Você está falando do ataque aos palácios?

— Claro que estou! — Aaron ergueu a voz, mas logo suspirou, voltando a um tom mais baixo. — Aquelas pessoas morreram... por minha causa. Se eu tivesse ficado quieto, se não tivesse buscado ajuda, talvez elas ainda estivessem vivas.

— Isso não é verdade, Aaron. Você revelou os rebeldes, e salvou nossas vidas — Ethan colocou a mão no ombro de Aaron, apertando-o suavemente.

— E quantas eu coloquei em perigo? — rebateu Aaron, virando-se para encarar Ethan diretamente. Seus olhos estavam sombrios, quase duros. — E se eles voltarem? E se os rebeldes decidirem se vingar?

Ethan hesitou, mas não tirou a mão do ombro do irmão. — Mamãe nunca vai deixar isso acontecer.

— Mamãe não pode controlar tudo. — Aaron desviou o olhar, encarando a neve que caía lentamente. — Eles viram, Ethan. Eles me viram usar o poder do Sol.

O silêncio que se seguiu foi como um golpe. Ethan arregalou os olhos, mas não disse nada. Ele sabia o que isso significava. Aaron não era apenas um alvo para os rebeldes; ele era uma ameaça viva, algo que muitos temiam e odiavam.

— Você não tinha escolha... — sussurrou Ethan, finalmente.

— Eu sei. — Aaron fechou os olhos, inclinando a cabeça contra o arbusto. — Mas isso não muda o fato de que agora sabem quem eu sou. Eles vão me perseguir. E não vão parar até que eu esteja morto.

Antes que Aaron pudesse reagir, Ethan estendeu a mão e bagunçou seus cabelos negros, salpicados de neve. A brincadeira, leve e quase infantil, parecia deslocada em meio ao peso das palavras trocadas momentos antes. 

— Você está se preocupando demais, Aaron — disse Ethan, sua voz carregava uma profundidade que surpreendeu Aaron. — As pessoas que viram o que você fez já foram consumidas pelo fogo. Elas não voltarão para te assombrar, nem mesmo como fantasmas. Kallisto protege os filhos do Sol. 

Aaron piscou, surpreso, e depois soltou uma risada baixa. O som escapou de seus lábios como se fosse algo esquecido, guardado no fundo de sua alma. Havia um calor naquelas palavras, uma força tranquilizadora que ele não esperava encontrar.

— Filhos do Sol? — Aaron repetiu, um pequeno sorriso ainda pendurado no rosto. — O que você sabe sobre eles? 

— Só o que mamãe contava todas as noites — respondeu Ethan, com um encolher de ombros. — Histórias de ninar. Você sabe… sobre como o deus do Sol sempre cuida daqueles que carregam a luz em seu sangue. 

Aaron inclinou a cabeça, observando o irmão com um misto de diversão e ceticismo. Por um momento, esqueceu-se do frio, da culpa e até mesmo do medo. Mas o momento foi interrompido por algo à distância. 

Ethan parou de falar, sua atenção foi capturada pelo movimento à frente. Ele se levantou de onde estava e, com um coelho alado nas mãos, deu um passo à frente. 

— Aaron… olha. É mamãe. 

Aaron levantou os olhos, seguindo o gesto do irmão. Ao longe, caminhando com a graça de uma deusa, vinha a Imperatriz Grace. Seu vestido branco, puro como a primeira neve do inverno, parecia absorver a luz fraca do sol, tornando-a ainda mais etérea. Os bordados prateados, finamente trabalhados, serpenteavam pelo tecido como fios de gelo cintilante. Um manto de lã espessa, também branco, caía por suas costas, pesado, mas elegante. 

A cor do vestido não era apenas uma escolha estética. No Império do Sol, o branco era a cor do luto — uma lembrança silenciosa, mas poderosa, do peso que ela carregava. Ainda assim, nem o luto apagava a imponência da coroa que reluzia sobre sua cabeça: dourada, com raios de sol erguidos como chamas, adornada por pequenas pedras de ônix que absorviam a luz ao invés de refletí-la, como se a própria coroa lamentasse o que fora perdido. 

Ao seu lado, suas damas de companhia a seguiam em perfeita harmonia, vestindo armaduras azul-escuras com padrões de flores de hibisco douradas sobre os ombros. Cada uma carregava uma espada embainhada, mas a maneira como se moviam deixava claro que sabiam usá-las se necessário. Elas eram como uma extensão da autoridade da Imperatriz, uma força que fazia o frio desaparecer diante da presença esmagadora de Grace. 

— Aaron, vamos lá! — Ethan chamou novamente, mais empolgado desta vez. Ele desviou do arbusto e caminhou na direção da mãe. 

Aaron não se levantou. Não conseguia.

Ele observou Ethan ir, mas permaneceu encostado ao arbusto, seus olhos seguiam a figura imponente de Grace. Havia algo hipnotizante na forma como ela avançava: uma mistura de calor e gelo, de beleza e ameaça. Aaron sabia que Ethan não via isso. O irmão não a conhecia como ele. 

Mas Aaron enxergava mais. Ele via a sombra da imperatriz, o poder que a envolvia como uma segunda pele e que ela nunca hesitava em usar para proteger aquilo que julgava seu.

Ethan hesitou ao chegar perto dela, mas sua hesitação logo se desfez quando Grace afastou delicadamente os cabelos de sua testa e o beijou com ternura. Ethan sorriu, tímido, mas feliz, e saudou a mãe com uma voz doce.

Aaron sentiu o olhar dela sobre ele antes mesmo de ouvir sua voz.

— Aaron, querido, venha aqui.

Seu corpo ficou tenso. Cada palavra soava gentil, mas Aaron ouvia os ecos do passado, quando Grace não era tão amável, quando o frio dela era mais cortante que o vento de inverno. Ele engoliu em seco, seu olhar desceu para o coelho que se mexia devagar sobre a grama coberta de neve. Com um gesto cuidadoso, Aaron o acariciou e se levantou, observando o animal se afastar antes de finalmente se forçar a caminhar até ela.

Cada passo era um peso. A neve cedia sob seus pés, afundando como se quisesse puxá-lo para baixo. Ele viu o sorriso de Grace, tão caloroso que o fez estremecer. Era real. Ele sabia que era. A imperatriz não fingia sentimentos; ela era uma mulher íntegra demais para isso. Mas era esse o problema. Por que ela sorria para ele, quando ele não merecia?

Grace estendeu a mão, e ele parou diante dela, sentindo o cheiro do perfume delicado que emanava de suas roupas. Os dedos dela tocaram seu rosto, afastando uma mecha de cabelo caída sobre sua testa, e o gesto o fez recuar ligeiramente, sem que pudesse controlar o instinto.

— Que a graça de Kallisto te acompanhe, meu filho. — A voz dela era suave, quase um sussurro, mas havia algo nela que fez um arrepio percorrer a espinha de Aaron.

Ela beijou sua testa, os lábios tocando sua pele fria como se o abençoasse. Aaron ficou imóvel, incapaz de reagir. Ele queria acreditar que era apenas um gesto maternal, mas a dúvida corroía sua mente.

Ela sabe?”, pensou.

O medo se enraizava em seu peito, um frio mais gelado do que qualquer vento que pudesse soprar pelos jardins. Ele havia liberado sua aura durante o ataque ao Palácio Hibisco, uma força que nenhuma criança de dez anos deveria ser capaz de manifestar. Será que ela tinha sentido? Será que sua mãe olhava para ele agora, não como um filho, mas como o Tirano Sanguinário que um dia ele fora?

A dúvida era como veneno, espalhando-se lentamente, corroendo sua razão.

Aaron sentiu o peso do olhar dela. Mesmo assim, ele não se atreveu a encará-la diretamente. Grace havia mudado, isso era evidente. Ela não era mais a mulher que o tratava com frieza e indiferença. Mas, ao mesmo tempo, ele sabia que era perigoso confiar naquele sorriso.

— Está tudo bem, filho? — A voz de Grace o arrancou de seus pensamentos, tão gentil quanto antes.

Aaron assentiu, mesmo que a verdade estivesse presa em sua garganta. Ele sabia que tinha que ser cuidadoso. A imperatriz podia não ter descoberto ainda quem ele era, mas ela não era tola. E o maior erro de Aaron seria subestimá-la.

Com um gesto sutil, ela levantou a mão esquerda. Seu anel dourado brilhou à luz pálida do inverno, revelando um intrincado desenho de vinhas delicadas que pareciam dançar ao redor de seu dedo. Aaron observou com uma atenção quase obsessiva enquanto o anel reluzia, sua superfície dourada se iluminando brevemente antes que algo surgisse no ar.

Uma caixinha pequena, de jade e com detalhes de ouro, apareceu em sua mão. Era simples, mas de uma beleza inegável, como tudo que pertencia à imperatriz. Grace abriu a tampa com um movimento delicado, revelando o conteúdo.

Dentro, havia doces perfeitamente redondos, com uma camada translúcida que brilhava à luz do sol filtrada pela neve. Para qualquer um, pareceriam doces comuns — talvez feitos por um confeiteiro habilidoso, mas ainda assim inofensivos. Porém, para Aaron, aquilo era outra coisa.

Seus olhos captaram algo que escapava aos olhos comuns. Um leve brilho dourado emanava dos doces, pulsando como uma chama fraca e constante. Era óbvio: estavam encantados.

A dúvida ascendeu em seu peito como um incêndio. "Por quê?" A pergunta ecoava em sua mente. Por que Grace traria doces encantados? Era uma tentativa de envenená-los? Ou algo ainda mais sinistro? Ele sentiu o peso da caixinha mesmo sem tocá-la, como se ela carregasse uma ameaça invisível.

— Eu trouxe esses doces para vocês. — A voz de Grace era suave, mas havia algo naquela suavidade que fazia Aaron estremecer. — São especiais. Comprei-os pensando em vocês dois.

Aaron hesitou. Seu olhar alternava entre a mãe e os doces. Grace notou, e sua expressão mudou. Por um breve momento, seus lábios se curvaram ligeiramente para baixo, como se ela também estivesse se perguntando algo.

— Aaron? Você não quer? — perguntou, sua voz estava carregada de curiosidade genuína, além de algo que ele não conseguia identificar completamente.

Antes que ele pudesse responder, Ethan adiantou-se, pegando a caixinha com um sorriso empolgado:

— Obrigado, mamãe. Vamos guardar para mais tarde! — Ele sorriu, e Grace respondeu com um gesto de carinho, tocando o topo da cabeça de Ethan com a ponta dos dedos.

Aaron observava em silêncio, mas o fogo da dúvida ainda ardia em sua mente. Ele sabia que Grace não era descuidada. Tudo o que ela fazia tinha um propósito, e o encantamento nos doces não era coincidência. Mas o que ela queria com aquilo?

— Está frio aqui fora. É melhor voltarmos ao palácio antes que vocês fiquem doentes. — Grace quebrou o silêncio, ajeitando o manto sobre os ombros.

Enquanto os dois garotos seguiam Grace de volta ao palácio, o vento parecia mais forte, uivando entre as árvores e levantando redemoinhos de neve ao redor deles. Ethan segurava a caixinha com firmeza, como se ela fosse algo precioso. Aaron, por outro lado, mantinha seus olhos fixos nas costas da mãe.

"Ela sabe.”

Os doces não eram um presente. Eram um teste.

E ele não podia falhar.

O caminho para o Palácio Hibisco era longo e sinuoso, cercado pelos jardins que, mesmo em pleno inverno, mantinham a imponência de sua beleza. As árvores de folhas avermelhadas estendiam galhos nus contra o céu cinzento, enquanto os arbustos de hibiscos floriam teimosamente, suas pétalas douradas reluziam sob a luz fraca do sol. O vento era frio, mas suportável, e o som de passos sobre as pedras do caminho se misturava aos sussurros ocasionais das damas de companhia da imperatriz.

— Mãe, porque está usando este vestido? — Ethan perguntou. Ele franziu o cenho ao examiná-la.

Grace virou o rosto apenas o suficiente para olhar para ele, os lábios se curvaram num sorriso breve.

— É um dia especial — disse ela finalmente. — A guerra nos Reinos Inferiores se estabilizou, mas houve muitas baixas. Muita destruição. Hoje, seu pai e eu nos reuniremos com o povo para orar pelos que perdemos.

— Você ficará bem? — Ethan perguntou, em voz baixa, como se não quisesse que as damas ouvissem. — Eu... eu fico preocupado. E se os rebeldes aparecerem? E se tentarem fazer algo contra você?

Houve um breve silêncio. Grace não respondeu imediatamente, mas percebeu o olhar de uma de suas damas, uma jovem de olhos gentis e sorriso contido. O sorriso era dirigido a Ethan, como quem observa algo adorável e inocente. Grace conteve um suspiro. A preocupação de Ethan era ingênua, sim, mas havia uma doçura desarmante nela.

— Eu ficarei bem, querido — disse Grace por fim, com seus lábios formando um sorriso quase imperceptível. — Porque sei que vocês estarão seguros.

Ao entrarem na sala, o brilho dourado da manhã inundava o espaço, filtrado pelas amplas janelas de vidro. As paredes creme eram enfeitadas com quadros de molduras douradas, cada um representando paisagens bucólicas que pareciam deslocadas naquela atmosfera de tensão crescente. O lustre de núcleos mágicos pendia do teto como uma joia preciosa, seu brilho discreto amplificava a luz natural. Apesar da elegância, havia algo de desordenado na mesa ao centro: papéis espalhados, tinteiros destampados e pincéis que ainda pingavam tinta sobre a madeira polida. Um vaso com flores frescas adornava o canto, mas até mesmo o aroma sutil das pétalas parecia insignificante diante do peso silencioso que acompanhava Grace. 

— Quem fez este desenho? — perguntou Grace, sua voz era suave, mas marcada pela curiosidade. Ela pegou uma folha amarelada e fina, segurando-a contra a luz. Os traços tortos formavam círculos e linhas que pareciam feitos por mãos inexperientes, mas o esforço era evidente.

— Foi o Aaron. Estávamos entediados e, por isso, mandei os criados trazerem papéis e tinta para desenharmos — respondeu Ethan, aproximando-se e inclinando o corpo para olhar o desenho que a mãe segurava. — Queríamos algo para passar o tempo.

— E onde estão os seus? — Grace abaixou a folha e olhou para Ethan com atenção.

Ethan hesitou por um momento, desviando seus olhos para a mesa. Ele sorriu, mas o gesto tinha algo de tímido, quase envergonhado. 

— Fiquei... envergonhado com as minhas habilidades de desenho — admitiu ele, as bochechas ganhando um leve tom rosado. — Por isso, preferi apenas observar.

Grace assentiu com um sorriso gentil, compreendendo a insegurança do filho. O olhar da imperatriz logo se voltou para Aaron, que permanecia em silêncio, seus grandes olhos brilhavam com uma mistura de ansiedade e curiosidade.

— Aaron, a sua habilidade motora está muito boa. Continue praticando, e em pouco tempo verá como irá melhorar — disse ela, com um tom encorajador. 

Aaron inclinou a cabeça, esboçando um pequeno sorriso. Não porque estivesse feliz, mas porque sabia que era o que se esperava dele.

Para Aaron, suas pinturas não passavam de rabiscos sem valor, indignos de atenção. Ele sabia que qualquer um esperaria algo assim de uma criança. Ainda assim, ao ver os olhos da mãe pousarem sobre as folhas, sentiu o peso de um julgamento silencioso, como se cada linha trêmula fosse uma pista para sua verdadeira identidade. 

"Não dê motivos para suspeitarem," ele se lembrou, sentindo o suor formar-se na nuca. Era vital manter a farsa, até nos mínimos detalhes. Apesar de sua mente adulta gritar para que ele rejeitasse aquelas avaliações superficiais, Aaron se esforçou para parecer tímido e inseguro. Era um papel que ele precisava desempenhar com precisão, um disfarce que exigia cuidado constante. Mesmo em algo tão trivial quanto desenhos infantis, ele percebia o perigo de baixar a guarda. 

Grace observou-o por um instante antes de colocar os papéis de volta sobre a mesa com um gesto cuidadoso. Seu sorriso desapareceu gradualmente, substituído por uma expressão séria, embora ainda carregada de ternura. 

— Vocês já devem saber sobre a perda que a fera mágica de Kaylus sofreu.

O rosto de Ethan ficou imediatamente pálido, como se o sangue tivesse sido drenado de sua pele. Ele desviou os olhos para Aaron, mas o irmão já o encarava, com a mesma expressão de choque que Ethan se esforçava para esconder.

— C-como eu poderia não saber? Kaylus já me questionou sobre isso… — Ethan gaguejou, lembrando-se do dia em que ficou de joelhos no pátio do Palácio Lótus, humilhado e acusado pelo meio-irmão de ser um ladrão e um mentiroso. Era difícil esquecer os olhares que os soldados e criados lhe direcionaram quando passavam por ele.

— Eu sei disso — disse Grace, interrompendo os pensamentos dele. Ela torceu os lábios em um gesto que misturava compaixão e irritação. — Mas vocês precisam entender. Lilian levou anos para gerar esses cinco ovos. Anos. Vocês conseguem imaginar o que é perder dois filhos antes mesmo de vê-los nascer? 

A voz de Grace tremeu ligeiramente, o bastante para que Ethan se encolhesse.

— Não seria diferente caso eu estivesse em seu lugar. Nem consigo suportar a ideia de perder vocês. — Ela olhou diretamente para Aaron, que mantinha o cenho pesado.

— Eu... eu não sei do que você está falando — começou Ethan, mas a mão de Grace ergueu-se em um gesto firme, cortando suas palavras. 

— Não adianta negar — disse ela, seu tom mais frio agora. — Kaylus é um cultivador de núcleo dourado. Ele pode sentir tudo ao seu redor com seu sentido divino. No dia em que os ovos desapareceram, ele estava no Palácio Lótus, e sentiu quando vocês foram ao bosque. Vocês viram algo suspeito quando foram lá? 

— N-não que eu me lembre — gaguejou Ethan, desviando os olhos enquanto suas mãos suadas se entrelaçavam com nervosismo. Aaron percebeu suas orelhas ficarem vermelhas.

Grace não parecia convencida. 

— Aaron? 

Ela fixou os olhos no garoto, com um olhar perfurante que parecia ver através das camadas de silêncio e hesitação. Aaron sentiu o suor frio escorrer por sua nuca, mas manteve o tom firme. 

— Também não lembro. 

Grace ergueu uma sobrancelha, seus lábios se curvaram em um sorriso que não alcançou os olhos. 

— Sei que vocês estão escondendo algo. Será que precisarei mandar buscar algumas pílulas da verdade para fazer os dois falarem? 

Aaron engoliu em seco. O coração batia tão rápido que ele mal ouvia os murmúrios da sala ao redor. Não era apenas uma ameaça vazia; ele sabia do que sua mãe era capaz. Ela era uma imperatriz que não tolerava falhas, muito menos mentiras. 

— Estou esperando uma resposta — pressionou ela.

Ethan lançou um olhar desesperado para Aaron, mas encontrou apenas silêncio.   

Aaron cerrou os dentes, tentando organizar os pensamentos. A voz de Grace parecia distante agora, abafada por um zumbido crescente em seus ouvidos. Algo estava errado. Sua mente, normalmente tão ágil, tropeçava como se tentasse escalar uma montanha no escuro. Ele se lembrava dos ovos, dos filhotes. Mas Lilian havia posto cinco ovos? Não, isso não estava certo. Sempre foram quatro. Ele tinha certeza disso. 

Uma pontada aguda atravessou sua cabeça, forçando-o a levar a mão à têmpora. O som agudo em seus ouvidos intensificou-se, trazendo consigo flashes de algo distante, quase perdido.

De repente, viu a si mesmo, mais jovem, segurando um pequeno ovo entre as mãos. Mas não era só isso. Havia uma criatura ali, algo pequeno, sinuoso, de escamas negras que brilhavam como obsidiana. Ele conhecia aquela fera mágica. Por que essa memória parecia tão desconexa? E por que ele não conseguia se lembrar do que aconteceu com ela? 

— Aaron, eu não posso mais! Mamãe, nós não tínhamos más intenções ao pegá-los — confessou Ethan, sua voz trêmula. — Na hora, achamos que eram pedras preciosas e os levamos.

— Por que você não disse isso a Kaylus quando ele perguntou? — A frieza na voz de Grace era penetrante. — Poderia ter evitado todo este trabalho simplesmente devolvendo-os. 

Ethan hesitou, lançando um olhar preocupado para Aaron antes de responder: 

— Porque... foi Aaron quem os escondeu. Eu precisei esperar até que ele acordasse para saber onde estavam. 

Grace virou-se para Aaron, sua paciência estava claramente no limite. 

— Aaron, o que você tem a dizer? 

Aaron saiu do torpor ao ouvir seu nome. Por um instante, a sala pareceu girar ao seu redor, as vozes se tornaram distantes, e apenas o peso da memória o ancorava à realidade. Ele não conseguia entender onde a serpente de escamas negras havia ido parar. Até onde sabia, Kaylus não a havia pego. Isso era... estranho demais. 

Ele conhecia as lacunas de sua memória, os fragmentos que faltavam como peças de um quebra-cabeça perdido. O Túmulo de Espadas tinha roubado mais do que seu tempo; tinha arrancado partes de quem ele era, deixando apenas dor e arrependimento. Mas isso... Isso era diferente. Era como se algo tivesse sido deliberadamente apagado. 

Ele sentiu um formigamento na nuca, um arrepio gelado que subia pela espinha. Lilian pôs cinco ovos, dissera Grace. Não, isso não podia estar certo. Sempre foram quatro: Rurik, Astrid, Axel e Agnes. Ele tinha certeza disso. E a fera mágica? Por que ela parecia tão vívida em suas lembranças, mas ao mesmo tempo tão... inalcançável? 

— Mãe… — sussurrou Aaron, sua voz trêmula, quase quebrada. Ele sentiu os olhos ardendo, mas manteve-os fixos no chão. — Você ainda me odeia? 

A pergunta atravessou o ar como uma flecha, e o silêncio que se seguiu foi ainda mais pesado. Grace inclinou-se ligeiramente, e por um instante, algo em seu rosto endurecido parecia ceder. 

— Por que eu te odiaria? — Sua voz era firme, mas havia um toque de ternura — O que vocês fizeram foi grave, Aaron. Grave o suficiente para preocupar até mesmo Kaylus. Mas... eu não acredito que vocês tenham feito isso com má intenção. 

Aaron ergueu o olhar brevemente, apenas para encontrar os olhos da mãe. Eles estavam mais suaves agora, mas ainda carregavam a autoridade que fazia seu coração apertar. Ele desviou rapidamente, fechando os olhos para conter a torrente de emoções. 

Sentiu algo tocar sua mão. Ao abri-los novamente, viu os pequenos dedos de Ethan sobre os seus. O irmão estava ao seu lado, sorrindo com esforço, tentando oferecer algum tipo de apoio. Mas Aaron sabia o que aquele sorriso escondia: traição, arrependimento e medo. 

— Mamãe, podemos ficar com os ovos? — Ethan perguntou, a voz carregada de esperança infantil. — Aaron está muito apegado a eles. E eu também. 

Grace alternou o olhar entre os dois. Aaron a encarava com intensidade, enquanto Ethan tinha um olhar suplicante. 

— Esses filhotes não pertencem a vocês. Pertencem a Lilian. — Sua voz era suave, mas intransigente. — E é por isso que terão de devolvê-los. Depois disso, eu mesma providenciarei outros ovos, se for o caso. 

— Não queremos outros! — explodiu Aaron, sua voz soou afiada com desespero. Ele sabia que isso não era apenas sobre os filhotes. Era sobre ele, sobre algo que tinha perdido e que agora corria o risco de perder novamente. Agnes.

Grace respirou fundo, controlando a própria paciência. 

— Ouçam, uma serpente de nível Catástrofe não é um brinquedo. Lembrem-se do que Lilian fez na floresta. Criar uma fera mágica exige recursos que nem mesmo o Palácio Gardênia tem. Essas criaturas exigem frutos mágicos e ervas raras. Vocês entendem o que isso significa?

— Mas quando crescermos, isso não será um problema! — Ethan protestou. 

— Até que cresçam, as serpentes já terão atingido seu potencial destrutivo. — Grace lançou um olhar severo para ambos. — Vocês não sabem o que estão pedindo.






Caros leitores,

Neste capítulo, fomos convidados a adentrar um momento aparentemente simples, mas carregado de camadas e significados. A interação entre Grace, Ethan e Aaron não é apenas sobre desenhos ou ovos: é um reflexo das complexas relações familiares e do constante jogo de poder que permeia a narrativa. 

Grace, como imperatriz e mãe, caminha por uma linha tênue. Sua autoridade se mistura ao cuidado, mas também revela uma pressão implacável. Será que ela consegue equilibrar esses papéis sem sacrificar algo — ou alguém — no processo? 

Aaron, por outro lado, vive uma batalha interna constante. Como tirano renascido, ele se esforça para manter as aparências, desempenhando o papel de uma criança inocente. Mas sua mente está sempre em alerta, calculando, lembrando e lutando contra os ecos de quem foi.

E então temos Ethan, o elo mais vulnerável da família. Sua tentativa de proteger o irmão e agradar a mãe o coloca em uma posição difícil, mas sua lealdade também é uma força silenciosa. Será suficiente para mantê-lo à tona em um ambiente tão cheio de pressões? 

Este capítulo nos lembra que o poder, seja ele político ou emocional, vem sempre com um preço. A família imperial não é apenas unida por laços de sangue, mas também dividida por ambições, medos e segredos. 

Deixo a vocês, leitores, as perguntas que pairam no ar: até onde Grace está disposta a ir para proteger seus filhos? Aaron será capaz de esconder quem realmente é? E Ethan, conseguirá encontrar sua força ou será engolido por essas intrigas? 

Continuemos juntos nessa jornada, desvendando os mistérios e escolhas que moldam este mundo. 

Com apreço,
S.Y Ravena.

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