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Capítulo 7 - A Árvore Flamejante

“A autoridade de Grace não vinha do trono em que se sentava, mas do medo e do respeito que cultivava em todos ao seu redor.”



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Este capítulo contém cenas intensas que incluem violência, perseguições, derramamento de sangue e momentos de grande tensão emocional. Recomendo cautela para leitores sensíveis a esses temas, pois a narrativa aborda situações que podem ser perturbadoras.

Se você optar por seguir adiante, esteja preparado para mergulhar em uma história carregada de desafios, onde o desespero e a luta pela sobrevivência moldam o destino dos personagens.
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As folhas douradas ardiam como estrelas cadentes, consumidas pelas chamas azuis que dançavam ferozmente ao redor dos galhos. O crepitar do fogo misturava-se ao vento cortante da floresta Brumal, formando um som que mais parecia a risada áspera de um deus cruel. O calor tornava-se quase insuportável, mas os gêmeos permaneciam imóveis, escondidos em um dos galhos mais altos. Suas respirações eram contidas, abafadas pela fumaça e pelo medo de serem atingidos.

Aaron sentia o calor das labaredas em seu rosto, embora o frio do medo mantivesse sua pele gelada. Ele olhava para baixo, onde Erik estava, com os olhos fixos na árvore. O arco que o rebelde segurava brilhava com um tom sobrenatural enquanto ele preparava mais uma flecha. A cada disparo, as chamas se intensificavam, transformando o tronco da árvore em um inferno dourado. Erik não errava os tiros, mas tampouco mirava para matar. O que ele queria era simples: diversão.

— Vocês não podem se esconder para sempre — disse Erik, com a voz preguiçosa, como se estivesse afirmando uma verdade óbvia. Ele ergueu outra flecha, cujas chamas azuladas iluminavam-lhe o rosto, e sorriu de lado. — Escolham de uma vez: morrerão pelo fogo ou pelas flechas?

Aaron sentia as lágrimas escorrerem-lhe pelo rosto, quentes e misturadas ao suor. Ele apertou os olhos com força, tentando bloquear a visão do fogo e de Erik, mas o cheiro acre da fumaça e o som do riso cruel estavam por toda parte.

Ethan puxou-o para mais perto, apertando-o contra o peito enquanto suas mãos tremiam ao deslizarem pelos ombros do irmão. A fumaça fazia os dois tossirem, mas Ethan mantinha-se firme.

— Aaron, olhe para mim — murmurou. Sua voz era calma, apesar de seus braços trêmulos. — Está tudo bem. Vamos ficar juntos até o fim.

Aaron tentou erguer os olhos para o irmão, mas as lágrimas turvavam-lhe a visão. Tudo o que conseguia enxergar era o fogo... e, além do fogo, os olhos de Erik. Eles estavam fixos nele como os de um abutre: frios e calculistas.

Naquele instante de terror, flashes do passado invadiram sua mente como um lembrete cruel. Ele viu o Túmulo de Espadas, um lugar onde poder espiritual fluía como um rio invisível, enchendo o ar com uma energia sufocante. O santuário combinava imponência e reverência. As paredes de mármore, os pilares decorados com runas indecifráveis, as correntes de adamantita pendendo do teto — tudo parecia projetado para inspirar reverência e temor. No entanto, o maior peso não vinha do ambiente físico, mas do que ele seria forçado a enfrentar.

Quando Lituris ergueu-se sobre o altar, envolta em sua aura dourada, Aaron sentiu o poder da espada invadir seu corpo. Não foi um corte, não foi uma chama; foi um toque que o puxou para dentro de algo muito maior. A luz da espada o engoliu, e sua consciência deixou de ser sua. 

Por mil anos, ele reviveu na pele de cada homem, mulher e criança que havia sofrido por causa de suas decisões. Ele tornou-se os soldados que ele havia enviado para as guerras contra o País do Fogo, marchando para batalhas que não podiam vencer. Sentiu a dor de cada ferida, o desespero de cada morte solitária em campos de batalha esquecidos. 

Ele foi os agricultores cujas terras foram devastadas, os pais que enterraram os filhos durante as epidemias que varreram o império, e os famintos que choravam de dor em noites sem fim. Cada respiração era um lamento, cada passo, um peso insuportável. Ele sentiu a humilhação, o medo e a impotência de seu povo, que olhava para ele com esperança — esperança que ele esmagara com suas decisões negligentes. 

A cada alma que ele experienciava, o tempo parecia se expandir. Dias tornavam-se anos, anos transformavam-se em séculos. Para Aaron, foram mil anos de dor ininterrupta, um castigo que o dilacerava por dentro, mesmo que seu corpo físico permanecesse intacto no santuário. 

Quando o castigo finalmente terminou, ele despertou, caído de joelhos diante de Lituris. Seu corpo tremia, mas a maior ferida estava em sua alma. 

— Eu me arrependo! — gritou, com a voz rouca, reverberando pelo santuário. — Eu me arrependo do que fiz ao meu povo! Por favor, eu imploro, não me faça sentir isso novamente! É doloroso demais... 

Seus olhos estavam marejados, e as lágrimas deslizavam por seu rosto em torrentes. Ele agarrou o altar com as mãos trêmulas, como se buscasse apoio em algo sólido, mas o peso do que carregava era insuportável. 

Lituris, silenciosa e imponente, manteve-se sobre o altar. Sua luz, que antes parecia tão ardente e acusatória, tornou-se suave, quase acolhedora, como se analisasse o homem diante dela. Aaron, ainda ajoelhado e trêmulo, sentiu o peso daquela mudança, mas não ousou interpretá-la como perdão. 

Ele ergueu o olhar para a espada sagrada, os olhos inundados de lágrimas e desespero. 

— Eu me arrependo... — repetiu, com a voz rouca, quase um sussurro. — Por tudo. Eu me arrependo de tudo. 

Por um breve momento, o santuário mergulhou em um silêncio absoluto, como se o próprio tempo houvesse parado. Então, Lituris moveu-se. 

A espada ergueu-se no ar, flutuando com majestade acima do altar. Sua luz suave transformou-se em um brilho dourado intenso, quase cegante, que preenchia cada canto do santuário. Aaron cobriu os olhos com o braço, instintivamente recuando, mas não havia como escapar. Ele sabia que aquele momento não era um gesto de aceitação, mas o clímax de seu julgamento. 

E então ela o atingiu. 

Lituris desceu sobre ele com um impacto avassalador, não cortando sua carne, mas atravessando-o com uma luz pura e incandescente que parecia penetrar em sua alma. Aaron sentiu a energia da espada invadindo-o, queimando tudo o que havia de impuro em seu ser. A dor era inimaginável, como se cada parte de seu corpo estivesse sendo fragmentada e reconstruída ao mesmo tempo. 

Ele gritou, mas o som parecia desaparecer no brilho de Lituris, como se o santuário absorvesse sua agonia. O calor o consumia, como uma chama purificadora que não podia ser extinguida. Seus ossos pareciam vibrar, sua essência parecia despedaçar-se. E, no entanto, ao mesmo tempo, ele sentia algo mais profundo: um fio de esperança. 

A luz dourada começou a envolvê-lo por completo, transformando-se em um casulo radiante. Dentro dele, Aaron sentiu como se tudo o que ele fora — o peso de suas falhas, sua arrogância, sua negligência — estivesse sendo arrancado, camada por camada, até que sobrasse apenas uma essência crua, uma versão dele que não era nem perfeita nem vil, mas pura. 

Quando o brilho finalmente diminuiu, tudo ficou em silêncio. Aaron não ouviu mais o eco de Lituris, nem sentiu o peso esmagador do poder espiritual do túmulo. Tudo o que restava era um vazio silencioso, como o momento que antecede um amanhecer.

Então ele despertou. Não como um tirano, mas como um príncipe, um garoto que tinha um futuro pela frente e que poderia tomar novas atitudes.

O Túmulo de Espadas era belo em sua crueldade. Era um lugar de justiça, onde a perfeição e a dor coexistiam, e onde os que falhavam eram moldados novamente ou destruídos para sempre. Aaron sabia disso como ninguém. Mesmo agora, longe daquele lugar, ele sentia a luz de Lituris queimando em sua alma, como se o santuário o chamasse de volta, pronto para reiniciar o julgamento.

Aaron fechou os olhos com força. O calor das chamas ao redor da árvore trazia a memória de volta, tão real quanto o próprio Túmulo de Espadas.

Uma aura invisível, mas esmagadora, começou a emanar dele. Não havia malícia nela, apenas a força crua de um coração em conflito, repleto de medo, raiva e um desejo incontrolável de sobreviver. Ethan sentiu a mudança antes de qualquer outro. Ele recuou ligeiramente, com os pelos do corpo se arrepiando diante da energia crescente que parecia envolver o ar ao redor. 

— Aaron... o que está fazendo? — perguntou, a voz oscilando entre preocupação e desespero. 

Aaron não respondeu. Ele estava perdido em sua própria dor, em seu próprio clamor interno contra o Túmulo de Espadas e tudo o que ele simbolizava. Não era ódio pelo mundo ou sede de vingança; era uma rejeição visceral à ideia de voltar àquele lugar, uma vontade inabalável de lutar contra o destino que parecia pronto para arrastá-lo novamente. 

Lá embaixo, Erik congelou. O sorriso cruel que antes adornava seu rosto desapareceu, substituído por uma expressão de pura incredulidade. O arco escorregou de suas mãos, que agora tremiam incontrolavelmente. Ele deu um passo para trás, ofegante, como se o ar ao seu redor tivesse se tornado mais denso, sufocante. 

— O que... o que é isso? — balbuciou, antes de seus joelhos cederem e ele cair ao chão, incapaz de suportar o peso daquela presença. 

Mathias, que observava de sua posição escondida, tentou avançar, mas a aura o atingiu como uma onda esmagadora. Ele parou no meio do caminho, a visão turvando e suas forças evaporando como fumaça. Os pés pareciam presos ao chão, e ele caiu de joelhos ao lado de Erik, com o rosto pálido e o peito arfando, incapaz de se mover ou reagir. 

Ethan, horrorizado, agarrou o braço de Aaron, seus dedos apertavam a pele do irmão com desespero. 

— Aaron! — gritou, sacudindo-o. — Você precisa parar! Aaron!

A aura ao redor de Aaron os envolvia como uma tempestade invisível, mas agora hesitava, oscilando como chamas ao vento. As palavras de Ethan pareciam ecoar em algum lugar dentro dele, penetrando lentamente as camadas de medo e desespero que o consumiam.

— Por favor, Aaron! — insistiu Ethan, com a voz trêmula. — Seu poder de cura... Ele ficará impuro se você continuar! 

Aaron continuava de olhos fechados, o rosto contraído em agonia. Sua respiração era pesada, e cada arfada carregada de emoções que ele não conseguia conter. O peso do Túmulo de Espadas ainda o assombrava; as memórias do sofrimento e da punição o aprisionavam em um ciclo interminável de desespero.

Então, ele abriu os olhos.

Ethan parou, ofegante, como se o tempo tivesse congelado. Naquele momento, ele viu, refletido nos olhos do irmão, tudo o que Aaron estava sentindo. Não havia ódio ou desejo de vingança ali, mas apenas um medo avassalador, cru e visceral. Era o medo de morrer.

Aaron encarou Ethan, e sua voz soou fraca, quase um sussurro:

— Eu não quero morrer, Ethan... — Lágrimas começaram a brotar em seus olhos. — Eu não quero voltar para lá.

O tom de Aaron era tão quebrado, tão desesperado, que o coração de Ethan apertou.

— Aaron... — balbuciou Ethan, com os olhos também marejados. Ele não sabia o que dizer, mas fez a única coisa que podia. Puxou o irmão para si e o abraçou com força.

A intensidade da aura diminuiu, retraindo-se até desaparecer por completo. O ar parecia menos pesado, e a tensão que antes dominava o ambiente começou a se dissipar.

Apesar disso, Aaron não parou de chorar. As lágrimas escorriam de maneira incontrolável, marcando seu rosto com trilhas de dor e arrependimento. Ele segurou a camisa de Ethan com força, como se estivesse se agarrando à única coisa que o mantinha no presente, afastando-o das sombras do passado.

***





O calor da floresta Brumal parecia intensificar-se, mas, de repente, desapareceu. Ele foi substituído por um calor diferente, sufocante, que parecia emanar do próprio mármore do chão. Erik piscou, confuso. As árvores douradas, as chamas azuis e a fumaça que o cercavam momentos antes já não estavam ali. Agora, ele se encontrava em um lugar completamente distinto: a sala do trono.

O espaço era imenso, com colunas majestosas que se erguiam como sentinelas. Tapeçarias rasgadas pendiam das paredes, balançando suavemente sob um vento invisível. A luz da lua, filtrada por vitrais manchados de vermelho, banhava o salão com um brilho sombrio e inquietante.

No centro do salão, ele viu Aaron. Mas este não era o garoto que se escondia em um galho. Este Aaron era um homem adulto, sua presença preenchia o espaço com uma gravidade esmagadora. Ele usava uma armadura negra reluzente, marcada por golpes e manchas de sangue seco. Em seus ombros, havia um tecido branco que, em outra vida, poderia ter simbolizado pureza. Agora, ele estava tingido de vermelho, pesado com o sangue de suas vítimas. 

Uma máscara de raposa cobria metade de seu rosto, ocultando-o na região dos olhos, enquanto seus lábios permaneciam visíveis. Havia algo perturbador naquela máscara, mas não tanto quanto o olhar que se escondia por trás dela. Erik nunca tinha visto algo tão impiedoso, tão frio e cruel. Não havia traços de misericórdia ou compaixão, apenas um vazio aterrador. O terror que sentiu o fez tremer até os ossos. 

Erik sentiu o coração descompassado, martelando contra seu peito como se quisesse fugir antes dele. Seus pés estavam colados ao chão. O suor escorria por suas têmporas, e ele percebeu que estava segurando a respiração, como se qualquer som pudesse atrair a atenção de Aaron para ele. 

Aaron estava parado, segurando uma espada longa que pingava sangue fresco. A lâmina refletia a luz com um brilho ameaçador, como se ela própria estivesse viva, sedenta por mais. Aos pés do príncipe jazia um corpo. Erik sentiu o coração parar por um instante enquanto seus olhos registravam cada detalhe. Era Mathias.

Sua pele negra, que tantas vezes parecia resplandecer sob a luz do sol, agora estava opaca, sem vida. As vestes de proteção, reforçadas para tantas batalhas, estavam rasgadas, encharcadas de sangue. O manto negro que ele sempre usava para ocultar sua presença estava manchado, grudado à pele morta como uma segunda camada inútil. Sua garganta estava aberta, um golpe limpo, mas cruel, que encerrara sua vida em um instante.

Erik tentou desviar o olhar, mas viu mais corpos espalhados pelo salão. Ele reconheceu Oliver, Dylan e Arya, os príncipes do Império do Sol. Todos adultos, todos mortos. O sangue deles havia manchado o piso de mármore em poças viscosas que pareciam ainda pulsar. Seus corpos estavam mutilados, como se suas mortes tivessem sido algo mais do que meros assassinatos, algo feito para humilhar, para marcar.

O horror o preencheu como um veneno lento. Seus olhos voltaram para Mathias, e Erik sentiu uma onda de desespero e náusea crescer dentro de si. O companheiro que tantas vezes lutara ao seu lado agora estava ali, aos pés de Aaron, morto. Quando isso aconteceu? Melhor dizendo: como eles chegaram naquele lugar?

— Não... isso não pode ser… você fez isso? — murmurou Erik, a voz trêmula. 

Aaron levantou os olhos. Os dois se encararam. O olhar de Aaron era direto, esmagador, como se atravessasse a alma de Erik e descobrisse todos os seus medos, todos os seus segredos. 

N-não se aproxime! — gritou Erik, sua voz soou mais como um apelo do que uma ordem. Ele tentou recuar, mas seus pés não obedeciam. Aaron deu um passo à frente, o som metálico de sua bota ecoando pelo salão como um tambor fúnebre. 

— Fique longe! — Erik gritou novamente, desta vez mais alto, tentando convencer tanto a si mesmo quanto a Aaron. 

Mas Aaron não respondeu. Ele apenas levantou a espada. A lâmina pingava sangue, como o carrasco que já havia aceitado o destino de sua vítima.

Erik tropeçou para trás e caiu. O impacto com o chão ecoou pela sala, mas ele não sentiu dor. Tudo o que ele via era a lâmina descendo, brilhando como uma sentença inevitável. 

***




A noite estava iluminada pelas chamas que consumiam a floresta. O céu, normalmente sereno sob o domínio das estrelas, transformara-se em um palco de caos. A fumaça subia em espirais, manchando a escuridão com tons rubros, enquanto o calor opressor envolvia tudo ao redor. Acima daquele inferno, Grace voava, suas asas douradas pareciam feitas de luz líquida, pulsando com força a cada batida no ar denso.

Seus olhos varriam o cenário devastado, mas a fumaça teimava em esconder o que ela mais temia não encontrar. Seu coração parecia esmagado por uma força invisível, e o desespero tomou forma em sua voz, que rasgou a noite como um grito agonizante:

— Ethan! Aaron! Onde vocês estão?! 

O eco de sua voz reverberou entre as árvores em chamas, retornando como um lamento vazio. Ela gritou novamente, mas a floresta, indiferente, respondeu com o crepitar das chamas e o rugido distante de criaturas que lutavam por suas vidas.

Uma lágrima escapou de seus olhos, deslizando por seu rosto em meio à fuligem que manchava sua pele. Ela enxugou-a apressadamente, como se temesse que a fraqueza a consumisse, mas logo sentiu outra formar-se. O terror era inevitável, implacável. "Eles não podem estar mortos," pensou, repetindo para si mesma como um mantra enquanto continuava sua busca frenética.

Foi então que um rugido baixo cortou o som do fogo, chamando sua atenção. Lilian.

O dragão serpentino, cujas escamas verdes brilhavam como um mosaico de esmeraldas sob o reflexo das chamas, mantinha-se fixado em algo no solo — provavelmente os rebeldes. No entanto, ao ouvir a voz de Grace, ergueu lentamente a cabeça colossal, e seus olhos dourados encontraram os dela.

Grace não hesitou. Descendo como um raio, suas asas iluminaram o solo devastado enquanto ela pousava diante da criatura. A cada passo que dava em direção ao dragão, sua fúria parecia crescer, irradiando-se como uma aura opressora, algo que até mesmo Lilian, à distância, parecia reconhecer.

— Lilian! — gritou ela, sua voz soou feroz. — Onde estão os meus filhos?

As lágrimas caiam enquanto ela encarava os olhos dourados do dragão. Pela primeira vez em anos, Grace sentiu-se à beira de um colapso, mas não podia se dar ao luxo de ceder. Não agora.

O dragão inclinou a cabeça levemente, como se estivesse ponderando a pergunta, mas aquele gesto apenas inflamou ainda mais a raiva de Grace.

— Kaylus deixou meus meninos sob sua proteção! — rugiu ela, avançando mais um passo. Suas asas douradas ergueram-se atrás dela, tremulando como bandeiras de guerra. — Se algo tiver acontecido a eles… Eu juro, Lilian, que você pagará por isso.

Foi nesse instante que Grace ouviu a voz que desejava mais do que qualquer outra. 

— Mãe! Estamos aqui! — o grito de Ethan soou acima das chamas, cheio de urgência. 

Grace virou-se para a direção do chamado e viu a árvore em chamas, onde dois vultos estavam presos no galho mais alto. Sua respiração ficou pesada, quase ofegante. O vestido vermelho sangue que usava parecia absorver a luz das chamas, e seu cabelo negro, solto ao vento, ondulava como um manto sombrio. 

A imperatriz pousou no chão com a graça de um anjo vingador, seus saltos tocaram a terra devastada enquanto uma onda de calor irradiava ao seu redor. Seus olhos dourados, cheios de desespero, cruzaram-se brevemente com os de Aaron. Ele tremia visivelmente, os olhos arregalados como os de uma criança aterrorizada. 

Ethan, ao vê-la, começou a chorar, soluçando alto, mas chamando por ela ainda assim. 

— Mamãe!

— Está tudo bem! Eu estou aqui agora! — Grace declarou, sua voz era carregada com a força de quem prometia ir até o fim do mundo por eles. 

Ela levantou uma das mãos, e uma luz intensa, como um sol nascente, explodiu de seus dedos. A luz foi absorvida pelas chamas, apagando-as como se nunca tivessem existido. A árvore permaneceu intacta, embora suas folhas douradas agora estivessem cobertas por fuligem. 

Foi então que ela o viu. Erik.

O rebelde estava ajoelhado no chão, o rosto voltado para cima, como se estivesse preso em um transe profundo. Ele não parecia enxergar nada realmente, nem os gêmeos, nem Grace. Seus olhos opacos estavam fixos no vazio, e a respiração dele era irregular. 

A fúria de Grace acendeu-se como uma chama incontrolável. 

— Foi você? — sua voz era um sussurro perigoso. — Foi você quem os atacou? 

Ela não esperou por uma resposta. Com um movimento fluido, invocou seu chicote. A arma brilhou com uma luz dourada, reluzindo enquanto rachava o ar antes de atingir o rosto de Erik. 

O impacto foi brutal, e Erik despertou com um grito horrendo. Ele se contorceu, segurando o rosto com ambas as mãos, mas não parou de gritar. 

— O IMPERADOR LOUCO ESTÁ SEDENTO POR SANGUE! — ele berrava, repetindo as palavras como se fossem uma maldição. — FUJAM DO IMPERADOR LOUCO! FUJAM DO IMPERADOR LOUCO! ELE NÃO VAI PARAR ENQUANTO NÃO ESTIVER BANHADO EM SANGUE! 

Grace estreitou os olhos, deixando transparecer o nojo em sua expressão. 

— Cale-se! — ordenou ela, estalando o chicote novamente. No entanto, Erik continuava. A loucura era evidente no brilho de seus olhos.

— ELE NÃO VAI PARAR! NÃO VAI PARAR! — Erik continuava a gritar, sua voz esganiçada, misturada ao som do vento e ao crepitar distante das chamas que restavam. 

Grace avançou com passos firmes, a respiração pesada e a paciência completamente esgotada. 

Você atacou os meus filhos — disse ela, cada palavra carregada de ódio. — Não importa o que você tenha visto, não importa quem você tema... Aqui e agora, o seu destino é a morte. 

Com um movimento final, o chicote brilhou mais intensamente, e Grace lançou um golpe que silenciou Erik para sempre. O corpo dele tombou ao chão, imóvel, enquanto a luz dourada da arma desaparecia lentamente. 

Grace olhou para os galhos mais altos da árvore, onde seus filhos estavam presos. O coração dela apertou-se, mas seu rosto não demonstrava hesitação. Com um bater forte de suas asas douradas, ela ergueu-se no ar, voando em direção a eles.

Ela pousou suavemente no galho em que os meninos estavam, seu vestido escarlate ondulava como fogo vivo. O galho rangeu sob o peso dela, mas manteve-se firme. Assim que pousou, estendeu os braços para Ethan, que imediatamente correu para ela, chorando convulsivamente.

— Mamãe! — soluçou ele, jogando-se em seus braços.

Grace o abraçou com força, a mão deslizando pelo cabelo dele enquanto murmurava palavras de conforto.

— Está tudo bem agora, meu amor. Estou aqui. Você está seguro.

No entanto, quando virou-se para Aaron, algo dentro dela parou. Ele não se moveu. Não chorou. Apenas encarava-a com olhos arregalados e aterrorizados, como se estivesse diante de uma estranha.

— Aaron? — Grace chamou suavemente, estendendo o braço para ele. — Venha, querido. Estou aqui para proteger você.

Mas ele recuou.

— Não... — sussurrou Aaron, agarrando-se ao tronco com tanta força que seus dedos começaram a sangrar.

Grace piscou, sem entender. Medo? De mim? A ideia era tão absurda que a deixou momentaneamente imóvel.

— Aaron, sou eu — insistiu ela, a voz agora tremendo levemente. — Sua mãe. Por que está com medo?

Ele não respondeu, mas seu corpo tremia, o rosto pálido e os olhos ainda cheios de terror. Grace sentiu um aperto no peito, algo que ela não podia nomear. Por um instante, todo o caos ao redor parecia silenciar. O que fizeram a ele? Por que ele temeria a mim, de todas as pessoas?

Respirando fundo, ela estendeu a mão, mas Aaron afastou-se ainda mais, quase escorregando do galho.

— Aaron! — gritou ela, o pânico crescendo em sua voz.

Ela sabia que precisava agir rápido. Ethan estava seguro em seus braços, mas Aaron, se continuasse assim, poderia se machucar seriamente. Grace concentrou-se, invocando uma luz dourada.

— Está tudo bem, meu pequeno. Você só precisa descansar — disse ela com suavidade, enquanto a luz emanava de sua palma.

A magia envolveu o garoto como uma brisa quente e tranquilizadora, acalmando seu corpo tenso. Seus olhos, antes cheios de medo, começaram a fechar-se lentamente, e sua respiração tornou-se mais calma. Em poucos segundos, ele adormeceu, seu rosto finalmente relaxou.

Grace o pegou cuidadosamente em seus braços, apertando os dois filhos contra o peito.

— Mamãe está aqui agora — murmurou, sua voz carregada de amor e alívio.

Com os meninos seguros em seus braços, ela abriu as asas douradas mais uma vez, preparando-se para sair daquele lugar infernal. Cada batida das asas gerava uma onda de ar fresco, dissipando a fumaça ao seu redor enquanto ela se afastava da árvore.

Grace voou para longe do caos, levando consigo os dois pequenos pedaços de sua alma. Ethan ainda chorava baixinho em seu ombro, enquanto Aaron dormia profundamente, alheio à destruição ao redor.

Ela apertou os filhos contra si, uma única promessa queimava em seu coração: Nunca mais vou permitir que algo os machuque. Nunca mais.

***




O salão do trono irradiava uma luz dourada suave, emanada das dezenas de candelabros de cristal pendurados no teto abobadado. O brilho refletia-se nas tapeçarias pesadas que cobriam as paredes, cada uma bordada com os brasões dourados do Império do Sol. As cortinas brancas, penduradas nas janelas de vidro enormes, balançavam ligeiramente com a brisa fresca da noite, permitindo que o cenário noturno espreitasse timidamente para dentro. Lá fora, o céu estrelado cobria a vastidão do império, mas, dentro da sala, o clima era de tensão absoluta.

Sentado em seu trono de ouro maciço, Derick observava os nobres com um olhar firme. Seus olhos dourados cintilavam por trás da máscara esculpida com padrões solares. Sua postura imponente era reforçada pela elegância da coroa que repousava sobre sua cabeça, contendo raios dourados que irradiavam para todos os lados, simbolizando seu poder e autoridade celestial.

O silêncio na sala era profundo, sendo quebrado apenas pela voz de Ravus Taren, Ministro das Finanças, um homem de idade avançada e semblante grave, cujos olhos observavam tudo com um cuidado desconfiado.

— Majestade — começou Ravus, em tom grave e sincero, inclinando-se ligeiramente em sinal de respeito —, temo que o recente sequestro de Leila, filha bastarda de Timos Kaylon, esteja relacionado a algo muito maior. Os rumores sobre a lealdade da Casa Kaylon não podem mais ser ignorados.

Derick inclinou-se levemente, enquanto sua coroa com raios dourados reluzia à luz dos candelabros.

— Rumores, Ministro Ravus? — Sua voz grave cortou o silêncio com precisão. Ele controlava-se, mas a frieza de sua fala não escondia o tom impaciente. — Isso não me interessa. Preciso de fatos.

Ravus, tocado pela dureza da resposta, hesitou por um momento, mas prosseguiu:

— Meu imperador — disse ele, com a voz vacilante, embora firme em sua intenção. — Há indícios de que Timos Kaylon, apesar de sua posição influente no Conselho, mantém laços com indivíduos fora do nosso círculo de confiança. Sua filha bastarda pode ter sido usada como intermediária, e o sequestro sugere que ela possui algum valor estratégico.

Embora falasse calmamente, suas palavras ecoavam pelo salão, provocando murmúrios entre os ministros. Foi Bernad, Ministro da Agricultura, quem quebrou o silêncio, rindo com desdém:

— Valor estratégico? — indagou ele, cruzando os braços com evidente desprezo. — Talvez a moça esteja mais envolvida do que parece. Crianças rejeitadas têm um gosto peculiar por vingança.

O olhar de Derick endureceu. Ele sabia que as palavras de Bernad não eram totalmente sem sentido, mas o tom de desprezo era algo que não tolerava, sobretudo com tantas incertezas pairando sobre eles.

— Cuidado, Ministro Bernad — disse Derick, em tom de calma gelada, enquanto lançava-lhe um olhar fulminante. — Suas palavras podem ser tomadas como acusações. Devemos ser cautelosos, especialmente ao lidarmos com casas tão influentes quanto a dos Kaylon. Não podemos simplesmente atirar a culpa sem provas sólidas.

Erguendo-se lentamente do trono, seus passos ecoaram pelo salão enquanto ele descia os degraus. Sua presença alargava-se como uma sombra, obrigando os conselheiros e ministros a se manterem em uma atenção rígida.

— Timos Kaylon está sob minha vigilância há décadas. — Sua voz era firme e autoritária, e sua postura tornava-se ainda mais imponente à medida que ele se aproximava da mesa em arco onde os conselheiros e ministros estavam reunidos. — Ele é um homem calculista, mas, até agora, não mostrou sinais de traição aberta. No entanto, se existe até mesmo uma sombra de dúvida sobre sua lealdade, será investigado.

Nathaniel Alfierce, que até então permanecera em silêncio, inclinou-se ligeiramente antes de intervir:

— Majestade, permita-me sugerir outra linha de investigação. Este sequestro pode ser parte de algo maior, talvez um movimento coordenado para desestabilizar as Casas Nobres. E se o verdadeiro alvo não forem os Kaylon, mas o Conselho como um todo? Devemos expandir nossa vigilância para evitar sermos surpreendidos novamente.

O olhar de Derick permaneceu firme, mas um lampejo de interesse cruzou-lhe os olhos ao ouvir as palavras do Ministro da Justiça. Ele parou ao lado da mesa, repousando uma das mãos sobre a madeira polida. Seus dedos tamborilavam de forma rítmica, como se ponderasse a sugestão.

— Um movimento coordenado contra o Conselho? — Derick repetiu lentamente, como se testasse o peso da ideia. — Não seria a primeira vez que os rebeldes tentam explorar nossas vulnerabilidades internas. Mas, Ministro Alfierce, sua proposta sugere uma ameaça de proporções muito maiores. Você tem algo concreto ou está apenas especulando?

Nathaniel manteve-se firme, embora a tensão fosse perceptível em sua expressão.

— Não tenho provas conclusivas no momento, mas há padrões que não podemos ignorar. O massacre nas masmorras do Palácio Hibisco e o desaparecimento de Leila Kaylon logo em seguida... Tudo isso parece mais do que uma coincidência.

A sala mergulhou em um silêncio pesado. As palavras de Nathaniel Alfierce ecoaram como uma verdade incômoda.

Rebeca, ergueu-se abruptamente, fechando o leque com um estalo que quebrou a tensão momentânea.

— O patriarca Alfierce levanta pontos válidos — afirmou ela, pausando para olhar cada rosto na sala antes de prosseguir. — E já que estamos falando da família Kaylon, devemos lembrar que, durante séculos, eles serviram como o escudo do Império, travando batalhas intermináveis nas fronteiras. Suas bandeiras foram erguidas há três séculos, quando as forças do País do Fogo ameaçaram nossas terras. Naquele tempo, os Kaylon enfrentaram inimigos que a maioria dos solares só conhece por lendas: os híbridos¹.

Respirando fundo, um leve tremor surgiu em sua mão que segurava o leque.

— Desde então, a epidemia dos híbridos¹ tem se alastrado. Não apenas nas fronteiras, mas em áreas cada vez mais próximas do coração imperial. É intrigante — e perturbador — que esse fenômeno tenha começado justamente quando os Kaylon se estabeleceram nas fronteiras.

Os conselheiros murmuraram entre si, mas Rebeca, Preceptora das Damas ergueu a mão, exigindo silêncio.

— Não estou insinuando que os Kaylon sejam responsáveis pela propagação. Longe disso — acrescentou ela, suavizando o tom, embora suas palavras continuassem pesadas. — Mas devemos questionar por que tais ocorrências estão intrinsecamente ligadas às regiões que eles governam e defendem. Afinal, enquanto o Conselho desfruta de estabilidade, os Kaylon vivem há séculos em guerra constante contra inimigos que desafiam as leis da natureza.

Voltando-se para o Ministro de Finanças, concluiu com firmeza:

— Se existe uma conspiração contra o Conselho, devemos perguntar: quem realmente lucra com essa instabilidade? Será que a propagação dos híbridos, o desaparecimento de Leila e o ataque ao Palácio Hibisco são eventos desconexos? Ou algo, ou alguém, está manipulando as circunstâncias para nos dividir?

— E o que sugere, Preceptora? Que eles foram seduzidos pelo inimigo? — indagou Derick.

— Não sugiro nada, Majestade. Apenas que o inimigo pode estar mais próximo do que pensamos.

Após a fala de Rebeca, o salão foi tomado por um silêncio tenso. Contudo, logo o murmúrio dos conselheiros cresceu em intensidade. Alguns sussurravam entre si, enquanto outros trocavam olhares divertidos ou céticos.

— Fascinante, Rebeca. —Ministro Bernad inclinou-se para a frente, como se estivesse realmente intrigado, mas o tom de sua voz carregava evidente ironia. — Então, segundo sua teoria, os Kaylon são responsáveis por abrir passagem para os efervescentes, espalhar a epidemia híbrida e, por algum motivo, também envenenar dois príncipes e facilitar a fuga de Leila. Realmente, se eu não soubesse melhor, pensaria que está tentando transformar essa Casa em uma espécie de vilã. Este é um enredo digno de uma tragédia teatral, pois agora, por causa de uma filha bastarda, os Kaylon não estão ligados apenas à facção anti-imperador, mas também ao caso da epidemia híbrida.

Alguns conselheiros soltaram risadas nervosas, mas o tom geral era de incredulidade.

Elliot Marthen, Ministro dos Assuntos Religiosos, pigarreou, atraindo a atenção de todos.

— Devo admitir que esta análise é... intrigante. No entanto, conectá-la a uma conspiração deliberada da Casa Kaylon exige provas substanciais. Afinal, os Kaylon têm sido um pilar de resistência contra o País do Fogo por séculos. Sugestões precipitadas podem desestabilizar nossa relação com uma casa tão vital para o império. Devemos lembrar que eles não estão aqui para se defender.

— Preceptora Rebeca, suas palavras são ousadas, mas não desprovidas de mérito. — A voz de Derick soou grave e imponente, rompendo o silêncio pesado. — Contudo, não permitirei que este Conselho se torne um palco para acusações infundadas.

Ele fez uma pausa, permitindo que suas palavras ecoassem pelo salão. Os conselheiros se remexeram em seus lugares, alguns trocando olhares incertos.

— Investigaremos as terras dos Kaylon, mas faremos isso com discrição. Quero relatórios detalhados sobre suas atividades, alianças e interações com as forças do País do Fogo. Se houver algo a ser descoberto, descobriremos. Mas não cometeremos o erro de transformar uma casa aliada em inimiga sem provas concretas.

Rebeca inclinou levemente a cabeça, em sinal de respeito.

— Agradeço, Majestade. Não espero nada menos do que justiça.

Com um aceno, Derick afastou-se lentamente da mesa central, caminhando pelo salão em direção à seção onde Darius estava sentado. O príncipe herdeiro mantinha-se com os braços cruzados com a atenção sobre Rebeca que lhe encarava de maneira pesada.

Um leve sorriso tocou seus lábios ao notar a atenção do pai sobre si. Darius ergueu o olhar, encontrando o de Derick com firmeza. Embora não trocassem palavras, o príncipe transmitiu em silêncio uma mensagem clara: ele sabia o que os ministros estavam planejando. Queriam a queda da Casa Kaylon, e usavam o caso de Leila Kaylon como o gatilho para incitar o caos, como se o crime da mulher fosse apenas uma desculpa para acender o fogo sobre a pilha de palha acumulada.

Os passos de Derick o levaram até Kaylus, sentado ao lado de Rick O’Otaley, o Alquimista Real. Ambos conversavam em tom baixo, trocando informações que pareciam ser de alguma importância. O’Otaley, envolto em um manto de um azul escuro profundo, apenas murmurava, mas seus olhos brilhantes denunciavam a intensidade de seus pensamentos.

Sem pronunciar uma palavra, Derick afastou-se da mesa em arco onde os ministros estavam reunidos. Os olhos atentos de cada conselheiro seguiam seus movimentos. Seu manto luxuoso, feito de tecido dourado com bordados escarlates, arrastava-se atrás dele, deslizando pelo piso de mármore como uma sombra viva enquanto subia os degraus rumo ao trono.

Quando finalmente se assentou no trono, a grandiosidade de sua posição parecia preencher o espaço.

— A justiça será nossa prioridade, mas não pretendo deixar este assunto inteiramente nas mãos do Conselho. — Derick interrompeu o ar pesado do salão com sua voz firme.

O olhar do imperador vagava entre os rostos dos Ministros. Ele conhecia bem os sussurros que circulavam pelo salão, rumores que apontavam sua confiança na imperatriz como um sinal de fraqueza ou, pior, de favoritismo. Sabia que haviam conspirado para afastá-la do Palácio Imperial, usando seu rigor e frieza como justificativa para limitá-la ao Palácio Hibisco. Não era ingênuo. Permitir que Grace fosse enviada para tão longe foi, de certa forma, uma concessão estratégica. No entanto, ele também sabia que sua esposa, mesmo a quilômetros de distância, era mais perigosa do que qualquer um dos conselheiros ali presentes.

— A imperatriz foi quem deu o primeiro passo na investigação sobre o envenenamento dos príncipes. — Sua voz reverberou pelo salão, carregada de firmeza inabalável. — Foi em seu palácio que as pistas começaram a se revelar, e as consequências, claro, a afetaram diretamente.

Seguiu-se um silêncio denso, quase sufocante. Derick podia sentir a hesitação no ar antes de ela ser quebrada por Elliot Marthen, cuja voz grave e pausada fez-se ouvir.

— Majestade, com todo o respeito, — começou ele, escolhendo cuidadosamente as palavras, — a imperatriz é, sem dúvida, uma mulher de grande sabedoria. No entanto, seu estilo... é outro. O que me preocupa é a abordagem que ela pode tomar neste caso. A imperatriz possui um punho de ferro, e sua frieza é bastante conhecida. Seus métodos, embora eficazes, podem ser... excessivamente rigorosos para um caso tão delicado. Será que realmente queremos envolver alguém com tamanha autoridade em um assunto tão volátil? Não deveríamos, ao menos, considerar outras alternativas antes de tomar uma decisão final?

— O que você chama de "excessivamente rigoroso" é, para mim, um reflexo da razão pela qual Grace está onde está — respondeu ele, com uma calma controlada. Sua voz, agora mais baixa, estava carregada de autoridade imperturbável. — Ela não chegou ao topo porque foi condescendente com os erros do império. Não é apenas uma Reverenda Imortal², mas alguém que, ao longo dos séculos, aprendeu a observar o que os outros não veem. Sua frieza, como você a chama, é o que lhe permite enxergar além do óbvio, além do que a maioria sequer poderia imaginar. Não é por acaso que ela é a imperatriz.

Enquanto falava, Derick observava as reações dos conselheiros. Alguns, como Bernad, mostravam-se visivelmente frustrados, enquanto outros, como Rebeca, demonstravam uma mistura de interesse e cautela. Ele sabia que mencioná-la tão diretamente era arriscado. Grace não era amada por eles. Respeitada, talvez, mas não amada. E ele sabia muito bem a diferença entre essas duas coisas.

Rebeca, que estava à margem da mesa, observava a troca com um sorriso sutil. Era claro que a decisão de Derick dividia o Conselho, mas ela não estava surpresa. Desde que Grace fora enviada ao Palácio Hibisco, muitos conselheiros acreditavam que haviam finalmente limitado sua influência. Entretanto, ali estava ela novamente, moldando o destino do império, mesmo à distância.

Derick fez uma pausa, permitindo que suas palavras ressoassem no silêncio crescente. Ele sabia que sua decisão não agradaria a todos. Incluir Grace significava reforçar sua autoridade e, ao mesmo tempo, desafiar os limites impostos pelo Conselho. Mas ele confiava em sua esposa tanto quanto confiava em si mesmo.

Ele olhou para Elliot Marthen mais uma vez, sua voz agora carregava uma frieza que ecoava a da própria imperatriz.

— Não permitirei que os métodos da imperatriz sejam questionados. A decisão está tomada.

***




O Gabinete da Imperatriz, no Palácio Hibisco, era uma mistura de imponência e delicadeza. As paredes eram revestidas com painéis de madeira escura, entalhados com símbolos solares e ornamentos florais. Grandes estantes de livros ocupavam boa parte do espaço, suas prateleiras preenchidas com tratados, grimórios e relatórios imperiais. No centro da sala, a mesa de Grace era uma obra de arte: feita de madeira escura com veios dourados, brilhava suavemente sob a luz dos núcleos flutuantes no teto abobadado.

Atrás da imperatriz, uma janela alta deixava a luz do sol filtrada por cortinas leves de seda dourada. Mesmo sob a aparência etérea do ambiente, a presença de suas damas de companhia lembrava que aquele lugar também era um bastião de força. Três mulheres altas e imponentes estavam estrategicamente posicionadas ao redor da sala. Vestiam armaduras leves, feitas de couro e metal dourado, que refletiam a luz de maneira quase intimidante. As espadas curtas, elegantemente embainhadas na cintura, eram complementadas por faixas escarlates que indicavam sua posição como protetoras pessoais da imperatriz.

Elas não diziam uma palavra, mas observavam atentamente a interação entre Grace e o príncipe Kaylus, prontas para agir ao menor sinal de ameaça.

Grace inclinou-se levemente na cadeira, deixando os dedos deslizarem sobre a superfície lisa e fria da mesa enquanto seus olhos dourados — tão brilhantes quanto cruéis — se fixavam no homem à sua frente.

— Você desviou de sua responsabilidade, como sempre. E agora tenta justificar a negligência de Lilian com histórias sobre ovos e suspeitas infundadas — disse ela, sua voz agora mais baixa, mas carregada de desprezo.

Kaylus endireitou-se, sentindo o peso do olhar da imperatriz e o julgamento implícito em cada palavra.

— Lilian não foi negligente. Ela fez o melhor que podia em uma situação imprevisível! — Ele tentou manter a voz firme, mas a imperatriz não deixou de perceber o tom defensivo.

Grace ergueu a mão, silenciando-o antes que continuasse.

— Não estou interessada no que você acredita ser “o melhor”. O que importa para mim é que meus filhos foram colocados em risco. — Ela pegou a xícara de porcelana e girou-a lentamente entre os dedos, sem beber. Seu olhar nunca deixou o rosto de Kaylus. — Você deveria saber que minha paciência tem limites.

Ele cerrou os punhos, o maxilar contraído.

— Eu aceito minha responsabilidade nisso. Foi minha falha, não dela — disse Kaylus, tentando recuperar o controle. — É por isso que estou aqui. Já comecei a seguir os rastros do círculo mágico que Leila usou para escapar. Vou encontrá-la e garantir que ela pague pelo que fez.

Grace inclinou-se levemente para frente, apoiando os cotovelos na mesa.

— Você espera que seu castigo se resuma a isso? Não se engane, Kaylus. Esta missão é o que se espera de você como alguém que falhou. Você vai seguir os rastros de Leila até o fim do mundo, se necessário, e trará respostas.

Kaylus engoliu em seco, mas assentiu.

— Eu entendi. E farei o que for preciso, Majestade.

Grace recostou-se na cadeira, a postura ligeiramente mais relaxada, mas a intensidade de sua voz não diminuiu.

— Espero que isso seja verdade. Porque, se falhar novamente, não será Lilian quem pagará as consequências. Será você.

As palavras pairaram no ar como um julgamento absoluto. Uma das damas de companhia, que até então permanecia imóvel, deu um passo discreto à frente, o som de sua bota contra o chão ecoando pela sala. Era um lembrete de que a autoridade de Grace era inquestionável e que qualquer hesitação de Kaylus não seria tolerada.

Kaylus abaixou a cabeça ligeiramente em um gesto de concordância, mas sua expressão mostrava que ele lutava para manter a calma.

— Não falharei, Majestade. Mas… peço que converse com os garotos. Eles foram os únicos a entrar no bosque quando os ovos de Lilian desapareceram. Esses filhotes são preciosos e não podem ficar longe da mãe.

— Os filhotes podem ser preciosos para ela, mas não o suficiente para que Lilian se lembrasse de protegê-los quando mais precisavam. Sua fera não tem foco, Kaylus. Empolga-se em uma batalha e esquece o verdadeiro objetivo. Meus filhos sofreram as consequências. É por isso que está confinada agora, não por capricho meu, mas porque sua falha foi inaceitável. E você carrega essa mesma culpa, o que torna esta tarefa mais do que merecida.

O maxilar de Kaylus contraiu-se visivelmente, e o brilho nos olhos dele tornou-se mais sombrio. Ele respirou fundo, tentando manter a calma, mas a fachada de educação que sempre sustentava começou a desmoronar. 

— Com todo respeito, Majestade, mas não engolirei seus insultos. Lilian pode ter falhado, mas não agiu com desleixo ou negligência. Ela fez o melhor que pôde. E quanto aos seus comentários sobre a minha tarefa, aceitarei o castigo, mesmo que saiba que, para a senhora, qualquer esforço meu será sempre insuficiente. 

Grace arqueou uma sobrancelha, mas manteve-se em silêncio, apenas observando enquanto ele continuava. 

— Apenas peço que, antes de descartar minha utilidade de vez, pergunte aos gêmeos se viram algo no bosque enquanto caminhavam por lá. Pode haver algo que escapou à minha atenção. 

Grace inclinou-se para trás na cadeira, cruzando os braços com um ar de desdém, e antes que ela falasse algo, ele completou:

— Aaron já demonstrou antes que esconde coisas por medo, como no caso da ex-governanta — Kaylus continuou, tentando soar o mais razoável possível. — E, honestamente, Majestade, eles podem ter visto algo que não compreenderam na hora. Qualquer detalhe pode ser crucial para entender o que aconteceu.

Sempre era a mesma história quando se encontrava com Grace. Se realizava algo digno de reconhecimento, ela fazia questão de buscar falhas; e, se por acaso cometesse um deslize, ela seria a primeira a apontar, com um riso frio que parecia reverberar em seus ouvidos como uma sentença de humilhação. 

Diante do imperador, suas conquistas frequentemente eram celebradas, reconhecidas como contribuições significativas para o império. No entanto, aos olhos de Grace, nada disso parecia importar. Suas realizações eram reduzidas a insignificâncias, tratadas como meros movimentos previsíveis de um peão em um tabuleiro que ela manipulava com frieza e desdém.

Grace inclinou a cabeça levemente, observando Kaylus com um olhar calculado. Após um longo momento de silêncio, ela suspirou e falou com um tom controlado: 

— Muito bem, Kaylus. Conversarei com meus filhos sobre os ovos. Mas mantenha suas expectativas baixas. Eles ainda estão se recuperando, e pode ser que não estejam dispostos a falar sobre isso agora. 

Kaylus sentiu um misto de alívio e gratidão, embora permanecesse cauteloso. 

— Agradeço, Majestade. Isso já ajuda bastante. 

Grace levou a xícara aos lábios, encerrando a conversa — ou assim parecia. Antes que Kaylus pudesse sair, ela perguntou, casualmente, sem revelar sua verdadeira intenção:

— E o Palácio Lótus? Fiquei sabendo sobre a fatalidade. Precisa de alguma ajuda por lá? 

Kaylus sentiu o peso da pergunta, embora a voz dela fosse cuidadosamente neutra. Ele levantou o olhar, encontrando os olhos dourados da imperatriz, que o observavam com uma mistura de indiferença e curiosidade. 

— Está tudo sob controle — respondeu, esforçando-se para manter o tom firme. — Já estamos cuidando dos reparos e da segurança. 

Grace assentiu, satisfeita com a resposta, mas sem demonstrar nada além de um leve interesse. 

— Ótimo. Você está dispensado. 

Kaylus curvou-se levemente em respeito e saiu da sala, mantendo a postura rígida até a porta do gabinete se fechar atrás dele. Só então permitiu-se respirar, o alívio imediato sendo logo substituído pela raiva.

Ele odiava essas conversas.

Cada palavra dita naquela sala parecia carregada de veneno, cada troca de olhares uma batalha perdida. Grace não via nada além de falhas nele, ou talvez preferisse assim. Ele caminhou pelos corredores silenciosos, mas seus pensamentos voltaram-se para a noite do ataque em seu próprio palácio. 

O som das espadas ainda ecoava em sua mente. Rebeldes atravessaram os portões como uma maré negra, matando guardas, saqueando cofres e revirando cada canto. Os sobreviventes haviam dito que eles não estavam ali apenas por riqueza ou caos. Eles procuravam algo — ou melhor, alguém.

— Onde estão os príncipes gêmeos?

A pergunta havia sido repetida como um mantra, com cada rebelde interrogando as vítimas antes de matá-las.

Kaylus se lembrava do cheiro de sangue e fumaça, dos corpos no chão, dos olhos de um guarda agonizante que murmurava: “Eles achavam... que estavam aqui…”

Mas os gêmeos nunca estiveram no Palácio Lótus naquela noite. Eles estavam longe, no Palácio Hibisco. Como os rebeldes sabiam o suficiente para atacar, mas não o suficiente para perceberem que sua informação estava errada?

Ele apertou os punhos, olhando para a floresta Brumal pela janela. Metade destruída, metade silenciosa, como uma lembrança do que havia sido perdido.

Um pressentimento pesado crescia em seu peito. Se os rebeldes tinham informações falsas, havia alguém entre eles que estava manipulando as coisas. E se, por acaso houvesse uma falha no círculo de confiança do império, ele a encontraria. Não importava quem estivesse envolvido.








GLOSSÁRIO:

⁰⁰1 Híbridos: Os Híbridos são criaturas originárias do País do Fogo, criadas como armas de guerra por meio de experimentos genéticos que combinam células humanas com células de feras mágicas. Eles foram desenvolvidos com o propósito de serem guerreiros perfeitos, possuindo habilidades físicas e mágicas muito superiores às de humanos comuns. No entanto, após atravessarem as fronteiras do Império do Sol, os híbridos desencadearam uma epidemia devastadora, propagando sua condição por meio de contaminação direta.

↪️ Condição Transmissível: A presença de um híbrido representa um risco para a sociedade, pois sua condição é transmissível, podendo transformar outros humanos em híbridos por meio de contato direto com seu sangue ou fluidos corporais, o que facilita a propagação descontrolada. Uma vez infectado, o humano começa a sofrer uma mutação dolorosa, transformando-se em híbrido ao longo de poucos dias. A propagação descontrolada resultou em uma epidemia que o Império do Sol luta para conter.

⁰⁰2 Reverendo Imortal: O Reverendo Imortal é um cultivador que alcançou um nível elevado de desenvolvimento espiritual, físico e mental, estando a dois passos da imortalidade absoluta e do posto supremo de deus do Sol. Embora poderoso, o Reverendo pode enfrentar um gargalo em seu progresso, que exige a acumulação de experiências significativas em vida e a prática de virtudes como retidão, sabedoria e autocontrole. 

Esse título representa um estágio avançado, mas não definitivo, no caminho do cultivo, sendo necessário superar o gargalo para ascender ao posto de Oficial Celestial, um subordinado direto do deus do Sol, o líder supremo do Império do Sol. A filosofia do Reverendo Imortal ecoa ideias do taoísmo, como a busca pela harmonia, pela perfeição interior e pela superação de limites através da conexão com as forças universais.

Nota da autora:

Caros leitores,

Neste capítulo, o foco esteve em tensionar as relações pessoais e políticas entre os personagens, enquanto ampliamos as implicações de um conflito maior que ameaça o equilíbrio do império. Grace e Kaylus, embora em lados opostos da dinâmica de poder, foram construídos para refletir um tema essencial: responsabilidade e falha.

Para Grace, é sobre o custo de proteger seus filhos em um mundo onde até aliados podem ser suspeitos. Ela é implacável porque precisa ser; a autoridade dela depende disso. Mas, ao mesmo tempo, há camadas humanas na sua rigidez — sua raiva não é apenas política, é pessoal. Cada palavra dela neste capítulo foi calculada para mostrar que, mesmo em sua posição, ela sente. E, ainda assim, ela nunca deixa isso transparecer completamente. 

Para Kaylus, o desafio é diferente. Ele é um homem tentando provar seu valor em meio a um sistema que o vê como dispensável, mas sem perder sua moral ou convicção. Trabalhar sua vulnerabilidade e raiva contida enquanto tenta lidar com Grace foi essencial para dar peso ao personagem e mostrar como suas escolhas influenciam a narrativa maior. 

Além disso, o mistério se aprofundou: Darius, os rebeldes, os gêmeos. Este capítulo serviu como um ponto de transição, onde pequenos detalhes — um aviso dado, um ataque planejado, uma pergunta sobre os garotos — se conectam para formar um quadro maior. Foi uma oportunidade para provocar os leitores e deixá-los ansiosos para o que vem a seguir. 

Se há algo que aprendi ao escrever este capítulo, é que a narrativa ganha força quando os personagens são impulsionados por suas falhas tanto quanto por suas virtudes. Nenhuma cena é só sobre o que acontece; é sobre o que está escondido nas entrelinhas, o que os personagens não dizem, mas sentem. E às vezes, o silêncio pode ser tão poderoso quanto uma ação explosiva. 

Espero que essas reflexões sejam úteis para quem também está construindo mundos e personagens. Às vezes, as tramas mais marcantes não estão nas batalhas ou nos grandes eventos, mas nos olhares trocados, nos julgamentos velados e nas decisões que parecem pequenas — até que não são mais. 

Com apreço, 
S.Y Ravena.

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