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Capítulo 6 - Fuga Desenfreada

Aaron, o tirano reencarnado, finalmente despertou seu poder... mas o que ele teme mais: seus inimigos ou a si mesmo?”

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Este capítulo contém cenas intensas que incluem violência, perseguições, derramamento de sangue e momentos de grande tensão emocional. Recomendo cautela para leitores sensíveis a esses temas, pois a narrativa aborda situações que podem ser perturbadoras.

Se você optar por seguir adiante, esteja preparado para mergulhar em uma história carregada de desafios, onde o desespero e a luta pela sobrevivência moldam o destino dos personagens.
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Ethan corria, mas não sentia os pés. Cada passo afundava na neve fina que cobria o pátio como uma mortalha, enquanto o frio, que mordia seus tornozelos e subia pelas pernas, já não era algo que ele podia registrar conscientemente. Era o vento, no entanto, que mais o atormentava: ele queimava suas narinas e fazia seus pulmões arderem a cada respiração ofegante, mas ele não podia parar. Não agora.

Ele apertou os dedos em torno da mão de Aaron, guiando-o por entre a multidão que se movia caoticamente. Os rostos ao redor eram um borrão indistinto, formado por uma mistura de medo e confusão. Quando um aristocrata gordo bloqueou seu caminho, Ethan não hesitou: ele o empurrou com força suficiente para sentir a carne mole resistir antes de ceder.

— Ei! — o homem protestou, mas o tumulto logo o fez desistir.

Ethan, contudo, não olhou para trás. Não havia tempo para desculpas, nem mesmo para arrependimentos. A mão de Aaron, pequena e fria, era seu único foco, além de ser sua única âncora. O irmão soluçava baixinho, mas Ethan ignorou. Ele não podia parar, tampouco hesitar.

A arena estava abarrotada. Guardas, nobres e servos corriam em todas as direções, tentando entender o que estava acontecendo. Ethan sabia que muitos não eram o que pareciam: espiões, traidores. Ele podia sentir os olhares furtivos, o franzir de sobrancelhas e os sussurros abafados entre os grupos. Alguns hesitavam em sacar armas de seus anéis ou sacolas interespaciais, respeitando as proibições do Palácio Hibisco, mas outros não eram tão cautelosos.

Quando dobraram a esquina e entraram em um corredor flanqueado por pilares altos, o som da batalha diminuiu, ficando abafado pelas espessas paredes de pedra. Ethan respirou aliviado, mas a sensação de alívio foi breve. O jovem príncipe sentia a garganta apertada e os olhos ardendo, mas não apenas por causa do frio. Ele queria desesperadamente parar, respirar e encontrar uma solução, porém não havia tempo. Cada passo o levava para mais longe do pátio, mas também para mais perto do desconhecido.

À frente, um jardim começava a se revelar. Sua grama amarelada era pontuada por flocos de neve que caíam preguiçosamente. A cena parecia tranquila, idílica até, embora Ethan soubesse que o perigo ainda estava à espreita. Ele acelerou o passo, puxando Aaron atrás de si, enquanto seus pés quase deslizavam na neve que começava a se acumular.

Ethan arriscou olhar para trás e encontrou o olhar assustado de Aaron. O irmão soluçava baixinho, com lágrimas traçando suas bochechas vermelhas.

— Ethan... — começou Aaron, com a voz fraca e trêmula. — Para onde estamos indo?

Havia algo na maneira como Aaron perguntou, na incerteza infantil, que fez algo dentro de Ethan quase se romper. Ele queria parar, queria abraçar o irmão e prometer que tudo ficaria bem. Contudo, promessas eram mentiras que ele não podia bancar.

— Estamos saindo do Palácio Hibisco — respondeu Ethan, com a voz mais firme do que ele realmente se sentia. — Não pense. Apenas corra.

— Mas o Kaylus... e a mamãe... — Aaron tropeçou nas palavras, apertando ainda mais a mão de Ethan, como se isso pudesse impedi-lo de continuar correndo.

Ethan desviou o olhar e cerrou os dentes. Não havia espaço para dúvidas ou fraquezas, não naquele momento. Ele respirou fundo, sentindo o ar gélido rasgar sua garganta, e respondeu sem hesitar:

— Kaylus nos deixou! — Ethan interrompeu, com a frustração rompendo como um grito entre os dentes cerrados. — E mamãe... Ela está enfrentando tudo isso para nos proteger. O mínimo que podemos fazer é fugir!

Aaron não respondeu. Os soluços diminuíram, mas Ethan sabia que as lágrimas do irmão ainda escorriam.

Os gêmeos chegaram ao final do corredor, onde um edifício adornado com duas estátuas monumentais de qilins erguia-se à frente. As criaturas míticas, com suas escamas intrincadas e chifres majestosos, sempre simbolizaram proteção. Contudo, até elas pareciam incapazes de oferecer segurança naquele momento.

Ethan puxou Aaron na direção da floresta, onde as árvores mágicas, com folhas douradas que reluziam suavemente, poderiam lhes oferecer um refúgio temporário. Ele sabia que elas eram uma barreira contra as feras corrompidas, mas duvidava que os inimigos fossem detidos por algo tão simples.

O som pesado de garras batendo na terra congelada ecoou atrás deles, seguido pelo movimento de sombras entre as árvores. Ethan limpou a visão embaçada e percebeu os homens encapuzados montados em lagartos gigantes, cujas caudas chicoteavam o chão com uma violência selvagem.

— Lá estão eles! — gritou um deles.

— ESTÃO SE APROXIMANDO! — Aaron gritou, com a voz tremendo de pânico.

Ethan mal teve tempo de reagir. Flechas em chamas riscaram o ar, iluminando brevemente o ambiente com um brilho laranja quente. Outras, translúcidas como cristais de gelo, passavam como espectros em alta velocidade. Ele gritou ao receber o impacto de uma flecha no braço, que mais parecia uma ferroada de gelo. O corte era raso, mas a dor o fez vacilar. Seus pés se enroscaram, e ele tropeçou, caindo na grama congelada. A sensação fria queimou sua pele, enquanto ele se agarrava ao braço ferido, soltando um grunhido de dor.

— Ethan! — Aaron parou, ajoelhando-se ao lado do irmão. Havia desespero em seus olhos, mas também algo mais. Algo escuro, decidido.

— Continue... — Ethan conseguiu dizer, cada palavra rasgava sua garganta como se fosse uma batalha árdua. — Corra, Aaron... Não olhe para trás.

Mas Aaron não obedeceu. Ele nunca obedecia.

Aaron se levantou, hesitando por um breve instante, mas logo correu em direção aos perseguidores. E então, o mundo pareceu se despedaçar.

Uma luz dourada explodiu atrás de Ethan, uma claridade imensa que cegou seus olhos. Não era um fogo comum, nem havia chamas, mas o calor subia de forma brutal, como se o próprio sol tivesse desabado sobre eles. Ethan mal conseguiu processar o que estava vendo antes de o chão começar a ceder sob seu corpo, enquanto a neve se derretia para dar lugar a uma lama escura.

Aaron estava de pé no meio daquela luz, com os braços erguidos, como se o próprio ar se curvasse à sua vontade. O poder invisível, mas palpável, irradiava de suas mãos. Ethan viu, atônito, como os perseguidores começaram a recuar, percebendo que logo seriam engolidos por aquele poder abrasador. Mas era inútil. Alguns dos inimigos caíram, outros gritaram, mas todos foram tomados pela luz dourada, que os deixou irreconhecíveis, queimados como se o próprio sol os tivesse consumido.

Ethan piscou, tentando clarear a visão embaçada, enquanto o calor da explosão ainda o cercava, tornando difícil respirar. O ar, agora denso, carregava o cheiro de carne queimada, um odor tão forte que fazia sua garganta se apertar. Ele lutou para se levantar, mas o braço latejava com uma dor insistente, e a lama quente sob ele parecia querer puxá-lo para baixo.

Quando finalmente ergueu os olhos, ele viu Aaron parado no meio daquele inferno.

O irmão estava imóvel, cercado por um brilho dourado que ainda pairava no ar. Suas mãos estavam abaixadas, pendendo ao lado do corpo, mas pareciam que ainda queimavam, já que o calor invisível distorcia o ar ao redor. Ethan quis chamá-lo, mas as palavras morreram em sua garganta.

Ethan seguiu o olhar do irmão, e seu estômago revirou. O que antes eram homens montados em criaturas ferozes agora não passava de formas retorcidas e irreconhecíveis. Suas sombras estavam gravadas no chão, como cicatrizes permanentes. Ele tentou encontrar traços humanos entre os restos calcinados, mas não havia nada. Nenhuma voz, nenhum movimento. Apenas o silêncio opressivo do fim absoluto.

E foi então que Ethan viu Aaron começar a tremer.

O brilho dourado ao redor do irmão começou a enfraquecer, enquanto o corpo dele parecia prestes a desmoronar. Ele deu um passo para trás, tropeçou e caiu de joelhos na lama. Primeiro, ele ficou ali, imóvel, com os olhos fixos no chão, como se tentasse cavar um buraco com o olhar. Depois, o som veio: um soluço, baixo e rouco, seguido por outro, mais forte.

Ethan sentiu o coração apertar ao ouvi-lo chorar. Era um som estranho, quase desconhecido. Aaron nunca chorava assim, não na frente dele. Era algo reservado para os momentos em que achava que ninguém estava olhando, para os cantos escuros onde podia esconder suas lágrimas. Mas agora não havia esconderijo.

Ethan quis se levantar, quis ir até ele, mas o braço ainda latejava, enquanto seu corpo parecia pesado demais para se mover. Ele se limitou a assistir, impotente, enquanto o irmão soluçava mais alto, cobrindo o rosto com as mãos.

Então, Aaron afastou as mãos com um sobressalto, como se elas estivessem queimando. Ele olhou para elas, para as palmas avermelhadas e os dedos trêmulos, como se visse algo horrível ali. E talvez visse.

Ele não entende o que fez.”

Ethan queria dizer algo. Ele queria gritar, queria chamar o irmão de volta para o mundo real. Mas havia algo nos olhos de Aaron que o fez hesitar: um vazio assustador, misturado a pânico, como se ele estivesse perdido dentro de si mesmo.

Então, como se uma força invisível o movesse, Aaron começou a se levantar. Ele tropeçou no primeiro passo, mas forçou o corpo a seguir em frente. Cada movimento parecia um esforço doloroso, como se as pernas fossem feitas de pedra. Ele limpou o rosto com as mangas, mas as lágrimas continuavam a escorrer, marcando seu rosto já vermelho pelo frio e pelo esforço.

Ethan se forçou a levantar o tronco, apoiando-se no braço bom. Antes que pudesse dizer algo, Aaron já estava ao seu lado. O irmão se ajoelhou, ignorando a lama que manchava suas roupas, e estendeu a mão para o braço ferido de Ethan.

Ethan ficou paralisado. Ele olhou para aquela mão estendida, ainda tremendo, ainda irradiando um calor que ele podia sentir mesmo à distância. A lembrança do que aquelas mãos haviam acabado de fazer voltou como um golpe no peito: os gritos dos homens, a luz devoradora, os restos calcinados. Ele não queria que Aaron o tocasse.

Aaron hesitou. Ele olhou para suas próprias mãos de novo, e Ethan viu a dúvida crescer no rosto do irmão.

— Eu... eu não quis... — Aaron começou, mas sua voz quebrou em um soluço.

Ethan sentiu um nó na garganta. Parte dele queria afastar o irmão, gritar para que ele o deixasse em paz. No entanto, o olhar de Aaron o impediu. Havia tanta dor ali, tanta confusão. O irmão parecia pequeno, menor do que Ethan jamais o havia visto. Um garoto, nada além disso.

— Você está bem? — Ethan perguntou, com a voz tensa, mas sincera.

Aaron balançou a cabeça, enquanto apertava os punhos na lama.

— Eu não queria fazer isso... — disse ele, com a voz baixa e quebrada. — Eu não sabia que... que podia...

Ethan o observou, tentando encontrar as palavras certas. Ele queria confortá-lo, mas o cheiro de carne queimada, ainda pairando no ar, tornava tudo mais difícil. O campo ao redor estava coberto de sombras distorcidas e de corpos retorcidos em ângulos impossíveis. Não havia nada a dizer que apagaria aquela visão, nem para Aaron, nem para ele mesmo.

O silêncio entre eles ficou pesado, até que Aaron ergueu as mãos diante do rosto, olhando para os próprios dedos ainda manchados de luz dourada, como se fossem estranhos.

— Eu usei isso contra eles... — murmurou Aaron, quase para si mesmo. — E agora...

Ele parou, e Ethan viu a respiração do irmão acelerar. Os ombros subiam e desciam de forma errática. Aaron parecia prestes a se despedaçar.

— Aaron, olha para mim — Ethan disse, com a voz ficando mais firme, mas não dura. Ele precisava quebrar aquele momento antes que o irmão se perdesse de vez.

Aaron não respondeu, nem levantou o olhar.

— Aaron! — repetiu Ethan, mais alto. — Sim, o que você fez foi horrível. Não vou mentir. Mas você me salvou. E agora você está me ajudando.

Aaron tremeu, e sua atenção finalmente voltou para Ethan. Porém, nos olhos do irmão havia algo que ele não esperava: medo. Não do que estava ao redor, nem dos corpos ou do cheiro. Medo de si mesmo.

— Eu não quero machucar você... — murmurou Aaron, com a voz tão frágil que parecia prestes a se romper.

Ethan se aproximou devagar. Ele sentia o próprio coração acelerado, mas forçou-se a ignorar o medo que ainda o agarrava como um punho fechado em torno do peito.

— Você não vai — disse ele, mais calmo agora.

Ethan ajoelhou-se ao lado do irmão e segurou-lhe o pulso com cuidado. A mão de Aaron tremia, quente como uma brasa apagada, mas não havia força ali, apenas cansaço.

Aaron desviou o olhar, mas Ethan puxou-lhe a mão com cuidado, guiando-a para o ferimento.

— Cure-o. Eu confio em você. Sempre confiei.

Por um momento, Aaron pareceu hesitar, mas então assentiu lentamente. Ele colocou as mãos sobre o braço de Ethan novamente, e a luz dourada voltou a fluir. Dessa vez, porém, não era instável nem violenta. Era quente, suave, quase como um toque reconfortante. Ethan observou enquanto a pele se regenerava, o corte desaparecendo completamente diante de seus olhos.

Quando terminou, Aaron afastou as mãos rapidamente, como se temesse ter feito algo errado.

— Está... melhor? — perguntou ele, a voz hesitante, quase inaudível.

Ethan olhou para o braço, agora perfeito.

— Está perfeito. Mas agora quero te pedir uma coisa. — Ele segurou as mãos de Aaron, forçando-o a olhar diretamente para ele. — Prometa que não vai usar esse poder na frente de ninguém. É por causa dele que estamos sendo perseguidos. Você entende?

Aaron engoliu em seco e desviou o olhar, mas finalmente assentiu. Seu rosto estava pálido, e os olhos ainda arregalados de medo.

Ethan seguiu o olhar do irmão, virando-se para o cenário ao redor. Corpos carbonizados estavam espalhados pelo campo, com armaduras fundidas à carne. As montarias dos inimigos jaziam ao lado deles, suas escamas estavam reduzidas a cinzas em vários pontos. O cheiro de morte e calor era sufocante.

Rapidamente, Ethan colocou a mão sobre os olhos de Aaron, cobrindo-os antes que ele pudesse ver mais.

— Eu só queria assustá-los... — murmurou Aaron, com a voz cheia de arrependimento. — Eu não sabia que era capaz disso. Nós… estivemos apenas meditando. Kay disse que não faria mal.

— Eu também não entendo. — Ethan suspirou, ajudando o irmão a se levantar. — Precisamos pesquisar sobre isso. Depois.

Aaron assentiu novamente, mas continuou caminhando com a cabeça baixa, os ombros curvados, como se carregasse o peso de tudo o que havia acontecido.

Ethan olhou para ele e sentiu um aperto no peito. Aaron parecia menor, mais frágil, mas algo em seus olhos dizia o contrário. O irmão não era mais apenas um garoto. Não depois do que tinha feito. E isso o assustava mais do que qualquer inimigo.

Enquanto caminhavam, Ethan olhou uma última vez para o campo de batalha. Ele sabia que não deveria. Sabia que seria algo que voltaria em seus pesadelos. Mas olhou mesmo assim.

Os gritos surgiram primeiro como ecos distantes, misturando-se ao farfalhar das folhas e ao sussurro do vento entre as árvores mágicas. Ethan parou, os pés afundando na lama encharcada da floresta. Por um momento, ele pensou que sua mente estivesse pregando peças, mas então ouviu com mais clareza.

— Formem dois grupos! — rugiu uma voz grossa e autoritária.

— Cerquem o perímetro! Não deixem ninguém sair vivo! — gritou outra voz, mais aguda, mas igualmente ameaçadora.

Ethan sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele virou-se para Aaron, que estava parado como uma estátua, com os olhos fixos no chão e os lábios entreabertos em um pânico mudo. O irmão tremia, como se o som dos gritos tivesse drenado toda a força de suas pernas. Ethan apertou o ombro dele, com mais força do que pretendia, tentando arrancá-lo daquele transe.

— Estão vindo. — As palavras eram simples, mas carregavam todo o peso do desespero que Ethan sentia.

Aaron ergueu os olhos lentamente. Havia algo neles que fez Ethan hesitar: medo, claro, mas também algo mais sombrio, como o olhar de uma criança perdida em meio a um pesadelo do qual não conseguia acordar.

— Ei! Olha pra mim — disse Ethan, sacudindo o irmão de leve. — Nós vamos sair dessa. Mas precisamos nos esconder agora.

Aaron balançou a cabeça, como se tentasse limpar os pensamentos, mas seus movimentos eram desajeitados, como se ele não soubesse mais o que fazer com o próprio corpo.

Ethan olhou ao redor, desesperado por uma saída. Seus olhos percorreram as árvores sombrias que os cercavam. As folhas douradas das árvores mágicas lançavam um brilho fraco, mas insuficiente para iluminar a floresta densa. Foi então que ele viu.

— Ali! — apontou Ethan, indicando uma árvore alta, com galhos que se estendiam como braços ao céu. Era velha, mais velha do que qualquer outra ao redor. Sua casca grossa era marcada pelo tempo, coberta de musgo e líquen. — Precisamos subir naquela árvore. Vamos!

Aaron hesitou, seus olhos arregalados estavam fixos na árvore, mas ele não se movia.

— Vai, agora! — disse Ethan, empurrando o irmão pela cintura. — Sobe primeiro!

Aaron olhou para o irmão, com os olhos ainda cheios de dúvida, mas, após alguns instantes de hesitação, obedeceu. Suas mãos pequenas agarraram firmemente a casca áspera, e ele começou a escalar, enquanto os pés encontravam apoio nas saliências irregulares do tronco. Apesar de as folhas farfalharem levemente acima dele, Ethan não teve tempo de se preocupar com o barulho.

Enquanto Aaron continuava subindo, Ethan permaneceu na base da árvore, atento aos arredores. Aos poucos, o som das vozes na floresta tornou-se mais intenso, indicando que os assassinos estavam cada vez mais próximos. Muito próximos. Ethan conseguia distinguir claramente o som de passos pesados esmagando folhas secas, bem como o ruído metálico de armas sendo ajustadas.

— Eles não podem estar longe! Procurem sinais de luz ou fogo! — gritou a voz autoritária mais uma vez, com intensidade ainda maior.

Ethan rangeu os dentes e se apressou, agarrando-se a um galho mais alto. Embora seu braço ainda doesse — uma lembrança fantasma do ferimento que Aaron havia curado —, ele ignorou a dor e concentrou-se em cada movimento. Os galhos estalavam levemente sob seu peso, e ele prendeu a respiração a cada ruído, temendo ser ouvido.

Quando finalmente alcançou Aaron, encontrou o irmão sentado em um galho largo, com os joelhos pressionados contra o peito e as mãos agarradas ao tronco, como se sua vida dependesse daquilo. Ethan puxou-se para o mesmo galho, sentindo o coração martelar descontroladamente contra as costelas enquanto se acomodava ao lado do irmão.

— Fica quieto. Não faça nenhum som — sussurrou ele, ainda ofegante pela subida.

Aaron assentiu de imediato, mas o tremor em seus ombros deixava evidente o pavor que o consumia por completo.

Enquanto isso, Ethan tentou controlar a própria respiração. Contudo, a ameaça ao redor era impossível de ignorar. Ele sabia que, caso fossem descobertos, não teriam nenhuma chance de escapar.

Abaixo deles, as vozes dos perseguidores continuavam a crescer, cada vez mais próximas e ameaçadoras.

— Os príncipes não devem estar longe — disse um homem, cuja voz era alta o suficiente para atravessar as folhas densas da floresta.

— Procurem sinais de encantamentos! — gritou outro, reforçando a ordem com um tom igualmente ameaçador.

Diante dessas palavras, Ethan sentiu o peito apertar. Afinal, se os perseguidores percebessem o brilho fraco que ainda emanava das árvores ou encontrassem qualquer indício do poder de Aaron, eles certamente estariam condenados. Ele tentou, então, manter a respiração sob controle; no entanto, o som das botas esmagando a vegetação tornava-se cada vez mais alto e mais próximo, aumentando o peso do medo.

Foi nesse momento que Aaron soltou um soluço curto, chamando a atenção de Ethan, que imediatamente virou-se para ele com os olhos arregalados.

— Shhh! — sussurrou Ethan, levando um dedo aos lábios para silenciá-lo.

Embora Aaron tenha mordido o lábio inferior em um esforço para se controlar, o tremor em suas mãos persistia, revelando o estado de pavor em que ele ainda se encontrava.

Ethan olhou para baixo novamente, tentando calcular a distância entre eles e os soldados. Ele sabia que, caso fossem descobertos, não teriam tempo suficiente para fugir.

"Não podemos ser vistos. Não podemos ser ouvidos. É tudo o que precisamos, ficar quietos", pensou Ethan, embora o suor frio em sua nuca denunciasse que seria muito mais fácil dizer isso do que fazê-lo.

Ao seu lado, Aaron enterrou o rosto nos joelhos, enquanto os ombros ainda tremiam. Ethan sentiu um aperto no peito ao vê-lo daquela forma. O irmão era forte de um jeito que poucas pessoas conseguiam compreender, mas, naquele momento, essa força parecia estar se desfazendo sob o peso do medo e da culpa.

— Vamos sair dessa, Aaron — sussurrou Ethan, tentando soar mais confiante do que realmente se sentia. — Só fica comigo.

Abaixo deles, os soldados continuavam a avançar. Ethan fechou os olhos por alguns instantes e respirou fundo, tentando ignorar o som das ordens, dos passos e do perigo iminente.

Enquanto ele ainda tentava ouvir o que os soldados diziam abaixo, Aaron ofegou ao seu lado. O som foi baixo, mas suficiente para fazer Ethan virar-se instintivamente, com os olhos pousando no rosto pálido do irmão. Por um momento, pensou que fosse apenas o frio ou o nervosismo, mas, ao observar melhor, viu Aaron inclinar o pescoço de maneira estranha. Sua mão foi automaticamente para a gola da camisa.

— O que foi? — sussurrou Ethan, com uma voz que misturava irritação e preocupação.

No entanto, Aaron não respondeu. Em vez disso, um estremecimento percorreu o corpo dele, e então Ethan viu o que estava acontecendo. Algo pequeno e brilhante escorregou pela gola da camisa do irmão, movendo-se com uma graça serpenteante.

Era Lilian.

A fera mágica de Kaylus emergiu da camisa de Aaron. Sua pele verde brilhava fracamente sob o luar que se filtrava pelas folhas douradas. Embora fosse pequena — menor do que o punho de um homem —, sua presença parecia carregar um peso que não combinava com o seu tamanho. Seus chifres minúsculos reluziam como jóias, enquanto suas garras afiadas se prendiam ao tecido da camisa de Aaron antes que ela finalmente se ajeitasse sobre o ombro do garoto.

Aaron arregalou os olhos e prendeu a respiração.

— Ethan... — ele sussurrou, com uma voz trêmula e carregada de medo.

Ethan observou a serpente com atenção. Lilian tinha os olhos fixos em Aaron, com um olhar intenso que parecia enxergar mais do que deveria. Aaron desviou o rosto, enquanto suas mãos tremiam ao tentar puxar a gola para guardá-la de volta. No entanto, era tarde demais.

"Ele acha que ela sabe sobre seus poderes", pensou Ethan, estreitando os olhos. Ele compreendia o medo do irmão. Lilian não era apenas uma fera mágica; ela era algo mais. Havia algo em sua existência que Kaylus confiava de maneira quase desconcertante. Assim, se ela contasse a Kaylus sobre o que Aaron havia feito, ou sobre o poder que ele demonstrara…

Antes que pudesse pensar duas vezes, Ethan agiu por impulso. Sua mão disparou na direção de Lilian, agarrando-a rapidamente. A fera mágica se contorceu em sua palma, mas ele apertou os dedos, ignorando o movimento ágil do corpo pequeno e escorregadio.

— Escuta aqui, criatura — sussurrou Ethan, inclinando-se para mais perto. Sua voz era baixa, mas carregava uma intensidade perigosa. — Você não viu nada. Não ouviu nada. Se contar qualquer coisa ao Kaylus, vou arrancar esses chifres de você e—

No entanto, Lilian não permaneceu passiva. Ao virar a cabeça na direção de Ethan, seus olhos, que brilhavam como citrinos vivos, exibiam uma calma quase desdenhosa. Assim, antes que ele pudesse completar sua ameaça, a serpente arqueou o corpo e, com um movimento ágil, cravou levemente suas garras afiadas na mão dele. Esse beliscão foi o suficiente para fazê-lo afrouxar o aperto, permitindo que ela escapasse com um deslize fluido.

— Droga! — sibilou Ethan, instintivamente levando a mão ferida ao peito.

Aaron continuava imóvel, embora seus olhos estivessem novamente lacrimejando. Suas mãos tremiam, e ele se encolheu, apertando os lábios, esforçando-se para conter o soluço que subia em sua garganta. Apesar disso, foi inútil. O choro começou a escapar, suave no início, mas logo tornou-se um som que ressoava pela árvore.

— Aaron, cala a boca! — sussurrou Ethan, arregalando os olhos enquanto olhava para baixo, para a floresta, onde os soldados continuavam a vasculhar o terreno.

Contudo, o garoto parecia incapaz de parar. Ele cobriu o rosto com as mãos, tentando abafar o som, mas os soluços escapavam de qualquer maneira, cada vez mais altos.

Foi então que Lilian se moveu.

Ela subiu rapidamente até Aaron, com movimentos cuidadosos, como se temesse machucá-lo. Ela se acomodou no ombro do pequeno príncipe e, com delicadeza, inclinou sua pequena cabeça chifrada na direção do rosto dele. Por um momento, Ethan ficou paralisado, sem saber o que fazer, enquanto observava a cena.

Aaron parou de chorar. Ele piscou para Lilian, ainda com os olhos brilhando de lágrimas, mas agora havia algo mais neles: confusão, e talvez até um pouco de consolo.

Ethan franziu a testa. Ele percebeu que os olhos de Lilian não eram como os de um animal comum. Eles guardavam algo mais — algo humano. Era como se contivessem palavras não ditas, um entendimento profundo que ele não conseguia explicar.

Depois de um último toque na bochecha de Aaron, Lilian se afastou. Sem qualquer aviso, deslizou pelo galho onde estavam sentados e, em um movimento fluido, lançou-se ao vazio.

— Lilian! — sussurrou Aaron, alarmado, estendendo a mão como se quisesse impedi-la.

Mas a serpente desapareceu entre as folhas e galhos abaixo, indo de encontro ao chão com uma precisão quase impossível. Ethan inclinou-se para observar, mas Lilian já havia desaparecido na escuridão da floresta.

O silêncio que ficou no lugar dela parecia ainda mais pesado.

Aaron continuava olhando para o ponto onde Lilian havia sumido, com os ombros caídos e as mãos trêmulas repousando no colo. Ethan respirou fundo e colocou uma mão no ombro do irmão.

— Ela não vai contar — disse ele, embora sua própria voz denunciasse a incerteza. — E mesmo que conte, eu não vou deixar nada acontecer com você. Entendeu?

Aaron não respondeu, mas assentiu fracamente enquanto enxugava as lágrimas com a manga da camisa. Ethan sabia que suas palavras possuíam pouco peso, mas era tudo o que podia oferecer naquele momento. Ele olhou novamente para a floresta abaixo, onde os sons dos soldados ainda ecoavam ao longe. Lilian poderia ser muitas coisas, mas, naquele momento, ela era uma incógnita — uma que ele não sabia se deveria temer ou confiar.

***

O cheiro de carne queimada e madeira enegrecida pairava no ar como uma advertência cruel. Por isso, Cassian segurou as rédeas de sua montaria, forçando o animal a parar no topo de uma elevação. Em seguida, ele ergueu a mão, um comando silencioso, e o restante do esquadrão prontamente fez o mesmo.

A floresta parecia morta. O vento, frio e úmido, carregava o fedor acre da tragédia, misturado ao que Cassian sabia ser o cheiro da derrota. Não era o primeiro campo de batalha que presenciava, entretanto, aquele silêncio — pesado e opressor — fazia sua pele formigar.

Foi Matias quem desmontou primeiro. Suas botas afundaram na lama enquanto os outros permaneciam imóveis, como se esperassem que ele quebrasse o feitiço sombrio que envolvia o lugar. Contudo, quando seus olhos caíram sobre os corpos à frente, ele parou abruptamente, com o rosto endurecendo.

— Por todos os deuses... — murmurou ele, a voz embargada pelo horror.

Ali estavam os corpos espalhados como bonecos quebrados. O solo, queimado e ainda fumegante, exibia marcas profundas onde as chamas haviam devorado tudo ao redor. Além disso, alguns cadáveres tinham as bocas abertas, congeladas em um último grito, enquanto os olhos opacos refletiam o terror de seus momentos finais. Até os lagartos, montarias treinadas para resistir a quase tudo, estavam caídos, com o couro escamado reduzido a cinzas em muitos pontos.

— Quem fez isso? — sussurrou Lívio, quase inaudível, enquanto examinava as pegadas fundas cercadas por cinzas.

— As patrulhas, talvez? — sugeriu Erik, embora houvesse mais incerteza do que convicção em sua voz.

Cassian desmontou lentamente. Seus olhos de jade percorreram o cenário com cuidado, e ele inspirou profundamente, enchendo os pulmões com o ar saturado de fuligem e algo mais... algo amargo, que fazia sua garganta arder. Havia algo de errado naquele massacre, algo que ele não conseguia definir.

— Não, isso não foi feito por fogo comum — afirmou ele, enquanto se agachava ao lado de um corpo parcialmente carbonizado. Em seguida, tocou o solo escurecido ao redor, sentindo o calor residual. — Eles foram pegos de surpresa e cercados. Seus lagartos também estão aqui. Esses animais temem o fogo. Teriam fugido antes de isso acontecer.

Erik franziu a testa, mas, antes que pudesse perguntar algo, Cassian se levantou e olhou para as árvores ao redor. O frio da noite parecia apertar mais forte, como se a própria floresta reagisse ao massacre.

— Estamos no território dos Albélia — afirmou ele, com a voz baixa. — Um cultivador do Sol pode ter passado por aqui. Eles são conhecidos por coisas assim.

Com essas palavras, um silêncio desconfortável tomou conta do grupo. Matias apertou o cabo da espada, engolindo em seco, antes de perguntar:

— Acha que foram os príncipes?

Cassian não respondeu de imediato. Ele ergueu os olhos para o céu noturno, onde pequenos flocos de neve caíam suavemente. Seus cachos ruivos balançaram com a brisa, e, por um momento, ele parecia distante, perdido em pensamentos que os outros não podiam alcançar.

— Não sei quem foi — disse ele finalmente, sua voz cautelosa. — Mas o que sei é que quem fez isso é perigoso. E, se ainda estiver por perto, pode acabar conosco tão facilmente quanto acabou com eles.

Ele estava prestes a ordenar uma retirada quando um brilho atravessou a copa das árvores. Era um dourado intenso, quase ofuscante, que parecia pulsar como um coração vivo.

— Senhor! — chamou Erik, levando automaticamente a mão ao arco.

Cassian virou-se bruscamente, assim como os outros, e observaram a luz crescer em intensidade até explodir em um clarão, iluminando a floresta como se fosse dia. Contudo, quando a luz diminuiu, o que restou foi algo que nenhum deles esperava.

Lilian.

O dragão-serpente erguia-se entre as árvores. Seu corpo colossal estava enrolado ao redor de troncos caídos, e suas escamas verdes brilhavam como esmeraldas vivas, cada uma marcada por veios dourados que capturavam e refletiam a luz da noite. Seus chifres reluziam como lâminas, e seus olhos, fixos no grupo, brilhavam com algo que ia além da simples inteligência.

Cassian sentiu o peso daquele olhar e soube, naquele instante, que estavam em território dela.

— Fiquem juntos — disse ele, em um tom mais baixo do que pretendia.

— Devemos recuar! — sugeriu Lívio, quase em pânico. — Se conseguirmos chegar ao grupo no sul...

— Você acha que temos tempo para correr? — rebateu Erik, com a voz carregada de frustração. Ele segurava uma flecha em chamas, com o arco já tensionado. — Ela não vai nos deixar ir.

Cassian olhou para o grupo. Amanda e Matias estavam nervosos, mas ainda se mostravam prontos para lutar. Alex, seu irmão mais novo, estava mais próximo. Ele mantinha a mão na empunhadura da espada, com os olhos fixos em Cassian, aguardando uma ordem.

— Não temos outra escolha — declarou Cassian. Ele segurou o ombro de Alex e inclinou-se para falar em um tom baixo, mas firme: — Assim que o ataque começar, você vai levar Caitlyn e correr. Vá para o sul e procure Ivan.

— Não posso te deixar aqui! — Alex sibilou, com os olhos brilhando em um misto de raiva e medo. Ele apertou o braço do irmão com força, como se segurá-lo pudesse impedir o inevitável. — Quem garante que vocês vão sobreviver tempo suficiente para que o reforço chegue?

Cassian soltou um suspiro, mas não afastou a mão. Em vez disso, abaixou-se até ficar ao nível de Alex, seus olhos de jade encontrando os do irmão mais novo.

— Alex, isso não é uma discussão! — Sua voz era fria, mas firme — Eu sei que você acha que fugir é covardia, que é errado abandonar os outros, mas ouvir isso de você só me mostra o quanto ainda é jovem. — A voz de Cassian tornou-se mais suave, mas não perdeu a força. — Você acha que a coragem está em permanecer aqui, enfrentando essa criatura. Mas a verdadeira coragem, Alex, está em carregar o peso de escolhas difíceis.

A intensidade de suas palavras atingiu Alex como um golpe. Ele mordeu o lábio e desviou o olhar, lutando contra as lágrimas que queimavam em seus olhos.

— Olhe ao seu redor. Veja os que lutam ao seu lado. — Cassian gesticulou na direção de Amanda e Matias, que se preparavam com encantamentos e arcos. — Nenhum deles quer estar aqui, Alex. Nenhum deles deseja morrer. Mas estamos aqui porque acreditamos em algo maior do que nós mesmos.

— E eu acredito, Alex. Acredito que o império precisa cair. Não porque seja fácil ou bonito, mas porque é necessário. Enquanto a Família Albélia se senta em seus tronos dourados, o povo passa fome. Pessoas como nós lutam e morrem em guerras que eles criam. E eu me recuso a ficar parado, apenas assistindo.

— Eu sei disso, Cassian — Alex sussurrou, com os olhos cheios de lágrimas. — Mas não posso perder você também.

Cassian permitiu que um pequeno sorriso rompesse a dureza de sua expressão. Era um sorriso triste, mas carregado de aceitação e amor. Ele ergueu a mão e bagunçou os cachos ruivos de Alex, como fazia quando eram crianças.

— Você não vai me perder, Alex. Mesmo que eu não esteja mais aqui, sempre estarei com você. — Apertou o ombro do irmão uma última vez. — Lembre-se disso.

Alex sentiu a mão firme do irmão em seu cabelo antes de Cassian a retirar. Era um gesto simples, mas carregado de significado. Um silêncio pesado pairou entre os dois, enquanto Alex respirava fundo e assentia lentamente.

Em seguida, Cassian ergueu o braço, sinalizando o início do ataque. Flechas de fogo e água foram conjuradas, brilhando intensamente na escuridão da noite. Amanda e Mathias, mesmo com dúvidas, seguiram as instruções, concentrando-se na mira. Caitlyn e Alex, por sua vez, mantinham-se atentos, prontos para correr assim que a oportunidade surgisse.

O grito de Cassian cortou o silêncio.

— Agora!

As flechas cortaram o ar como meteoros, deixando rastros de fogo e vapor enquanto avançavam em direção ao dragão de escamas verdes. O brilho das chamas iluminava os rostos tensos dos combatentes, mas a criatura não recuou. Lilian, o dragão serpente, ergueu sua cabeça colossal, com as escamas verdes refletindo as chamas como um mosaico de esmeraldas vivas, pulsando com poder mágico.

O impacto foi imediato. Uma das flechas de fogo atingiu de raspão o lado de sua face, provocando uma explosão de faíscas. Outra passou perigosamente perto de seu olho, mas Lilian desviou com um movimento ágil. Então veio o rugido — profundo, primal, carregado de intenção assassina. O som reverberou pela floresta, sacudindo galhos e fazendo as árvores estremecerem.

— Deuses nos ajudem... — sussurrou Pedro, sem tirar os olhos da criatura.

Lilian inspirou profundamente, e as escamas ao longo de seu corpo ondularam como se absorvessem o poder ao seu redor. Quando soltou o ar, exalou um jato de chamas roxas. Era fogo, mas não um fogo comum. O calor era opressivo, e o ar ao redor vibrava. Até o som parecia abafado pela força destruidora da energia. O fogo consumiu árvores, solo e tudo em seu caminho.

— Suporte, ergam a barreira! — Cassian ordenou, sua voz firme perfurou o caos.

Amanda, Pedro e Mathias reagiram instantaneamente. Seus movimentos eram sincronizados pelo treinamento e pelo desespero. Deram três passos à frente, e cada pisada ressoou como um tambor na terra. A energia espiritual fluiu por seus corpos e, em um movimento coordenado, uma barreira de rocha ergueu-se do chão, sólida e protetora.

As chamas colidiram com a barreira, provocando uma explosão de fagulhas e calor. O rugido do fogo ecoava em contraste com os sons de estalos e rachaduras da rocha. Mesmo assim, a barreira resistia enquanto o grupo se esforçava para mantê-la de pé.

— Rápido, precisamos reforçar! — Amanda gritou, ofegante. O suor escorria por sua testa enquanto canalizava sua energia espiritual.

Pedro ajoelhou-se, os dedos traçando símbolos no chão enlameado. Seu cântico era baixo, mas o ar ao redor parecia pulsar, como se ele estivesse dobrando a própria terra à sua vontade.

— Meu lagarto... Onde está meu lagarto? — Lívio tropeçou no chão, os olhos frenéticos. Quando viu a carcaça carbonizada do animal, seu rosto desabou. Seus lábios tremiam enquanto murmurava: — Não... não pode ser...

Cassian rangeu os dentes. Cada segundo perdido os aproximava da morte.

— Amanda, a barreira vai segurar? — perguntou ele, com os olhos fixos em Lilian, que começava a deslizar ao redor da proteção. Suas escamas refletiam a luz como espelhos.

— Só por mais alguns segundos. Se ela soprar outro jato...

A barreira estremeceu novamente. Rachaduras surgiram, crescendo rapidamente como teias de aranha na pedra.

— Ela vai romper! — Mathias gritou, recuando dois passos.

— Mathias! — gritou Erik, correndo para a lateral da barreira. Ele se agachou atrás de um tronco caído, puxando Mathias com ele. — Precisamos contornar a fera. Se ficarmos aqui, morreremos!

Mathias assentiu, embora hesitante.

— E se ela nos perceber? — perguntou ele, com a voz carregada de temor.

— Então rezamos para que seja rápido — respondeu Erik, em tom firme. Ele olhou ao redor, calculando o caminho. — Vamos por ali, pelos troncos caídos.

Ambos começaram a se mover em silêncio, com cada passo medido para evitar folhas secas ou galhos que pudessem denunciar sua posição. O calor ainda pairava no ar, uma lembrança do fogo devastador que havia consumido o campo. O rugido de Lilian ecoou novamente, reverberando nos ossos dos dois homens enquanto se agachavam atrás de um tronco parcialmente queimado.

— Eles estão ali, na árvore — Mathias apontou para a grande árvore, visível através das copas chamuscadas ao longe.

Erik seguiu o olhar do companheiro e viu o que havia além. Dois garotos estavam sentados em um galho alto, ambos envoltos em mantos luxuosos de tecido negro com bordas de pele de raposa, que reluziam suavemente sob a luz prateada da lua. Apesar da batalha que rugia ao redor, eles pareciam estranhamente calmos. Tinham o mesmo rosto, mas cada um carregava uma expressão diferente: um dos gêmeos olhava fixamente para Lilian, com o queixo erguido em uma mistura de fascínio e temor, enquanto o outro mantinha o olhar atento e a expressão tensa, como se calculasse tudo ao seu redor.

Erik fechou os punhos, cravando-lhes as unhas nas palmas das mãos.

— Eles estão assistindo... — sussurrou, com a voz baixa e carregada de amargura. — Enquanto nossos companheiros morrem, eles apenas assistem.

Mathias não respondeu de imediato. Continuava a observar os garotos, com os olhos semicerrados em uma expressão de desprezo crescente. As vestes dos meninos permaneciam impecáveis, seus rostos, limpos, não apresentavam marcas de sofrimento ou privação. A visão de tanto conforto em meio ao caos era um insulto.

— Eles são só crianças... — murmurou Mathias, mas sua voz soava vazia, como se ele próprio não acreditasse nas palavras que dizia.

Erik balançou a cabeça em um gesto de reprovação.

— Crianças? Eles são Albélia. Filhos de uma família que transformou o império em um poço de miséria. Olhe para eles, Mathias. Enquanto suas peles estão protegidas por esses mantos caros, os nossos sangram. Olhe para Lívio, para Pedro! Eles estão lá atrás, enfrentando aquela coisa por nós. E esses... — Erik apontou para os garotos, os lábios tremendo de ira. — Eles não movem um dedo. Sabem que a fera matará cada um dos nossos, mas eles ficarão bem.

Mathias respirou fundo, mas não desviou os olhos dos garotos. Ele sabia que Erik estava certo. Tudo naquela imagem — os mantos, os rostos calmos, o olhar distante de um dos gêmeos — falava de uma vida que nunca havia conhecido dor ou sacrifício.

— Eles não são diferentes do resto da família deles — disse Erik, o ódio fervendo em suas palavras. — Para eles, somos nada. Apenas ferramentas ou, talvez, insetos que podem ser esmagados sem remorso.

— Então, o que vamos fazer? — perguntou Mathias, finalmente desviando o olhar para Erik.

Erik não respondeu de imediato. Seus olhos estavam fixos nos garotos, e sua mandíbula apertava-se enquanto tentava pensar em algo, qualquer coisa, que pudesse oferecer uma saída. No entanto, a verdade era que as opções eram poucas, quase inexistentes.

— Primeiro, chegamos até eles. Depois... — Erik fez uma pausa, e sua voz soou mais fria do que ele gostaria. — Depois decidimos o que fazer.

Mathias assentiu lentamente, embora a hesitação em seu rosto fosse evidente. Lançou um último olhar para os meninos. Um dos gêmeos, que não devia ter mais de dez anos, esfregava as mãos, como se tentasse afastar o frio. Seus olhos grandes e brilhantes estavam voltados para Lilian.

Eles não parecem monstros,” pensou Mathias. Mas, logo, sua mente voltou para o cenário que deixou para trás, para os corpos carbonizados de seus companheiros, e o sentimento desapareceu.

— Vamos.

Eles continuaram a avançar, protegidos pelas sombras da noite, enquanto se aproximavam da árvore. Cada passo trazia os rostos dos garotos mais perto, e, com eles, a lembrança de tudo o que haviam perdido.

Quando, finalmente, alcançaram a base da árvore, Mathias ergueu os olhos, com os punhos ainda cerrados.

— A missão vem em primeiro lugar. — Murmurou para si mesmo, como se precisasse de um lembrete.


Caros leitores, 

Que capítulo! Os gêmeos enfrentaram ameaças que colocaram suas vidas por um fio, mas o que mais chamou atenção foi o inesperado uso do poder de Aaron. Sua demonstração avassaladora nos lembrou de sua verdadeira identidade: um tirano reencarnado. E, ainda assim, há algo mais. Ao invés de agir com a frieza que se esperaria de um conquistador renascido, Aaron revelou algo surpreendente: medo. Não de seus inimigos, mas de si mesmo. Seria possível que ele carregue mais cicatrizes de sua vida passada do que imaginamos? E como isso moldará seu futuro? 

Deixem suas teorias, porque o próximo capítulo promete revelar ainda mais segredos — e talvez até mudar tudo o que acreditávamos saber. 

Com apreço, 
S.Y Ravena.

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