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Capítulo 3 - Biblioteca Privada

O destino tem um senso de humor peculiar, e parece que desta vez ele escolheu rir de mim”
















Aaron avistou o gazebo de madeira, parcialmente encoberto pelas vinhas que se enredavam nas colunas. Os vasos de cerâmica estavam alinhados do lado de fora e sobre a mureta de proteção que circundava o gazebo, com arranjos de camélias vermelhas que exalavam um perfume suave. A visão das flores trazia uma estranha sensação de nostalgia que ele não conseguia ignorar.

No centro do gazebo, Ethan estava sentado em uma cadeira, debruçado sobre uma delicada mesa, com o queixo apoiado na mão, os olhos fixos em algum ponto indefinido à sua frente. A toalha branca, cuidadosamente bordada, cobria a mesa, que exibia frutas frescas, um delicado bule e uma torta de mirtilo recém-assada, o aroma doce permeava o ar.

— Terra chamando Ethan? — Aaron tentou manter a leveza na voz, mas havia um peso em seu peito que não conseguia ignorar. As palavras saíram com um tom de curiosidade que mal escondia sua preocupação.

Ethan levantou o olhar, visivelmente abalado. Seus olhos se arregalaram momentaneamente antes de se recuperarem. Um sorriso nervoso se formou em seus lábios, mas falhou em alcançar seus olhos.

— Aaron? Há quanto tempo está aí? Não te vi chegar — respondeu, sua voz um pouco mais aguda do que o normal, como se tentasse disfarçar um desconforto interno.

Aaron subiu os degraus do gazebo e se sentou, observando o gêmeo com uma atenção sutil. Algo estava errado.

— Qual o problema? — Aaron perguntou.

— Problema? Nenhum. Só… estou um pouco pensativo hoje, não é nada demais — Ethan murmurou. O tom de sua voz era evasivo, um esforço desesperado para desviar a atenção do que realmente sentia.

— É o Kaylus? Está desconfortável por ele estar nos abrigando? Eu sei que está irritado pelo que ele fez, mas… — Aaron começou, pronto para derramar o chá em sua xícara.

— Aaron. — Ethan o interrompeu com um tom que não permitia discussão — Será que podemos caminhar um pouco?

Sem esperar pela resposta, Ethan se levantou e desceu os degraus de madeira que levavam ao caminho de pedrinhas. Seus passos eram decididos, mas seu corpo ainda carregava uma tensão invisível. Ele avançou para a área gramada, onde as acácias floridas se espalhavam em fileiras. As flores amarelas, vibrantes e radiantes, destacavam-se contra o verde profundo da grama, criando um contraste quase irreal.

Aaron o seguia de perto, seus olhos fixos nas costas do irmão, notando a rigidez em seus ombros e o jeito inquieto com que ele se movia.

Eles entraram na trilha sinuosa e estreita que conduzia ao Bosque dos Pessegueiros. O aroma doce dos frutos maduros misturava-se à brisa fria, criando um ambiente de calma ilusória. Enquanto isso, o céu se enchia de nuvens cinzentas, tornando o ambiente cada vez mais ausente dos calorosos feixes de raios solares.

Ethan parou abruptamente, fechou os olhos e respirou profundamente, liberando o ar pelos lábios. Foi perceptível que, aos poucos, seus ombros rígidos relaxavam. Depois, ele se voltou para Aaron e caminhou até ele com passos decididos.

— O que você quer? — Aaron perguntou, recuando um passo involuntário. Seu coração acelerou e uma sensação de ansiedade o envolveu.

— Só vou segurar a sua mão. — Ethan respondeu, estendendo a mão com um olhar gentil, mas que carregava uma profundidade inexplicável. Hesitante, Aaron aceitou o gesto. Enquanto caminhavam, o silêncio pesado entre eles foi rompido por Ethan: — Agora que penso, nunca te perguntei o motivo de odiar o nosso palácio.

Aaron desviou o olhar, pensativo. Por que odiava tanto o Palácio Gardênia? Talvez porque era frustrante estar preso em um lugar que representava tudo o que queria deixar para trás.

Em sua vida passada, não havia um Ethan que o ajudasse quando dissesse que se sentia mal, ou uma mãe que o abraçasse com amor como se realmente estivesse feliz por vê-lo com saúde. Era apenas Aaron com sua visão ingênua sobre o mundo, onde tudo parecia às mil maravilhas, até que a realidade o atingiu com força. Ele respirou fundo, tentando controlar a maré de emoções que ameaçava transbordar.

— É claustrofóbico — começou ele, sua voz baixa quase se perdia com os sons dos seus passos. — Cada sala, cada corredor... Eles me sufocam.

Os olhos de Ethan suavizaram, e ele apertou a mão de Aaron com mais firmeza, como se quisesse transmitir toda a segurança do mundo através daquele simples gesto.

— Eu sempre pensei que amasse a vida no palácio — Ethan confessou, seu tom carregava uma sinceridade que parecia vir de uma dor compartilhada.

Aaron soltou uma risada, balançando a cabeça.

— Você não é cego, Ethan. Tenho certeza de que percebeu como somos tratados… como se fôssemos menos importantes do que os outros. Não te incomoda ver que os filhos das concubinas têm uma vida melhor que a nossa?

Ethan respirou fundo, o peso das palavras de Aaron pairava entre eles.

— Também me sinto assim às vezes. Claustrofóbico. — Ethan respondeu, com o olhar distante. — Apesar disso, estou tentando ver as coisas de uma maneira diferente. Mesmo que o palácio não seja o lugar mais luxuoso e que estejamos longe de ser os favoritos, temos um ao outro, e apesar das circunstâncias, é tudo pela nossa proteção.

— Desculpe, mas eu não estou disposto a me iludir como você. Eu mereço mais do que a vida num palácio escondido no meio do nada. — Aaron respondeu, frustrado.

Ethan pareceu hesitar, como se estivesse pesando suas palavras cuidadosamente.

— O Palácio Gardênia é cercado pelas fortalezas dos nossos irmãos mais velhos. Portanto, não há como chegar até nós sem antes passar por eles. Pode não parecer, mas este lugar, que você tanto odeia, está em uma localização estratégica — Ethan explicou, tentando oferecer uma perspectiva diferente.

Aaron arqueou uma sobrancelha, com um sorriso irônico se formando em seus lábios. Se fazia tudo parte de uma estratégia, então por que, em sua vida passada, ninguém se importou em ajudar enquanto o pobre Palácio Gardênia sofria com invasões?

A resposta parecia óbvia. Kaylus estava ocupado demais com suas próprias terras, Darius se encontrava nos Reinos Inferiores, batalhando contra as forças inimigas que tentavam tomar as terras do império, enquanto Markus raramente se afastava da Muralha Fronteiriça. O resultado foi que os palácios estavam frequentemente desprotegidos e abandonados.

— Que seja. Depois de passar por aquela situação, percebi que existem coisas mais importantes do que brincar. — Aaron disse, desistindo do assunto.

— Como estudar? — Ethan supôs.

— Cultivar¹ também. — Aaron deu de ombros.

— Entendi, então você quer cultivar e estudar. Parece uma boa ideia; por que não fazemos a solicitação de um professor à nossa mãe? Não deve haver problema nisso — Ethan disse, pensativo.

— Você acha mesmo? — Aaron perguntou, e recebeu um aceno de cabeça em resposta.

Na época em que governou o império, Aaron acumulou um vasto conhecimento, a fim de se tornar um líder exemplar. Portanto, a última coisa que poderia ser chamado era de “inculto”. No entanto, havia um dilema: se ele começasse a demonstrar que sabia mais do que deveria para alguém da sua idade ou posição atual, as pessoas poderiam desconfiar. A possibilidade de pensarem que ele estava possuído por algum soldado do exército inimigo era grande, o que colocaria sua vida e sua posição em risco.

Os solares, habitantes do império do Sol, não acreditavam em reencarnação, pelo menos não entre eles. Para eles, a única entidade capaz de reencarnar alguém era o deus do Sol, e como ele não existia mais, essa possibilidade era praticamente nula. Contudo, havia relatos de lunares², efervescentes² e aquarianos² invadindo corpos de não-cultivadores com o objetivo de se infiltrar entre a população do império e coletar informações. Aparentemente, seus Imperadores Imortais³ não tinham nada melhor para fazer.

Se Aaron fosse descoberto, estaria em grandes problemas. No fim, ficava a pergunta: quem o trouxe de volta? Ele acreditava que a espada sagrada estava envolvida. Foi através de um golpe de Lituris que ele pôde retornar à infância. O príncipe não tinha ideia de como e por que ela fez isso.

— Você soube o que aconteceu na noite passada? — Ethan perguntou hesitante.

— Não, o que houve? — Aaron perguntou, sentindo uma má impressão.

— Já deve saber que Kaylus se juntou à investigação da nossa mãe, eles estão focados em chegar ao fundo dessa questão — Ethan disse. A cada passo que dava, sentia as pernas pesarem; era como se arrastasse grilhões pesados em cada uma delas.

— Sim, ele comentou da última vez. Eles conseguiram alguma pista?

— Ontem à noite, nosso irmão liderou um grupo de homens armados até o nosso palácio. — Ethan disse, percebendo quando Aaron se deteve, encarando-o surpreso. Ele engoliu em seco, desviando sua atenção daquele par de olhos negros inquisitivos que refletiam seu rosto pálido. — Leila foi detida. Você fugiu naquele dia porque estava com medo. É por causa dela? Você pensa que Leila envenenou nossa comida? — Ethan esperou pela resposta com uma expressão séria, mas só o que veio foi o silêncio — Diz alguma coisa!

— Desculpe, eu não queria que descobrisse dessa forma — a voz de Aaron era quase um sussurro, carregada de tristeza e empatia — Mas o que posso fazer quando foi ela mesma quem procurou por isso? Não posso fechar os olhos e agir como se tudo estivesse bem, quando não está!

— Você devia ter me falado o que estava acontecendo, pensei que confiasse em mim! — Ethan disse frustrado, enquanto seus olhos buscavam encontrar os de Aaron, estes que refletiam um turbilhão de emoções.

— Mas eu queria te dizer, só… não podia, eu sabia que você reagiria assim. Você está do lado dela.

— É claro que estou! Leila não tinha motivos para fazer isso. Ela é uma pessoa amável e sempre nos tratou muito bem! — Ethan balançou a cabeça, incrédulo. — Você está sendo ingrato!

— Você é tão tolo… — Aaron disse decepcionado, recuando um passo — Aquela mulher vendeu nossas informações aos rebeldes. Eu ouvi tudo enquanto ela conversava com um deles ao pé da minha cama, meu pulso estava tão fraco que pensaram que eu estava morto. Eu estava com tanto medo que em minha primeira oportunidade reuni forças e fugi. Ethan, eles também iam te matar! Se você não estivesse com a mamãe naquele momento, estaria morto agora!

— Aaron… — Ethan sentiu um calafrio percorrer sua espinha. As palavras do irmão ecoavam em sua mente, cada uma delas trazia uma nova onda de choque e incredulidade.

— Não acredita em mim? Por acaso acha que eu estava delirando? Eu sei muito bem o que ouvi! — Aaron levantou a voz, seus olhos brilhavam com uma mistura de raiva e incredulidade — E se você parar para pensar em suas atitudes, verá que ela realmente é suspeita. Você também foi envenenado, então por que não está com raiva?

— Mas, é a Leila, ela cuida da gente desde que éramos bebês. Ela não seria capaz disso — Ethan respondeu, pasmo, suas sobrancelhas estavam franzidas em confusão e descrença. Ele balançava a cabeça lentamente, incapaz de aceitar a verdade nas palavras do irmão.

— É por isso que eu não queria te contar, você não confia em mim, mesmo quando estou me esforçando para me dar bem com você! Sinceramente? Estou cansado disso! — Aaron retrucou com amargura, virando-se bruscamente. Ele começou a andar rapidamente, cada passo seu era carregado de determinação.

— Aaron, aonde você está indo? Aaron, volta aqui! — Ethan gritou, despertando de seu torpor. Ele correu atrás do irmão, sentindo uma urgência crescente.

[...]

Ethan se sentava sobre uma pedra grande, abraçando os joelhos. A brisa suave acariciava seu rosto, trazendo consigo o cheiro fresco da vegetação ao redor do lago. O silêncio era interrompido apenas pelo som ocasional de um firebird cantando ou pelo ruído distante das folhas balançando. Ao seu lado, Aaron balançava os pés descalços na água cristalina do lago. A sensação refrescante da água era uma distração bem-vinda dos pensamentos sombrios que o assolavam. Ele fechou os olhos por um momento, tentando se concentrar apenas no presente, deixando para trás as lembranças que pesavam em sua mente.

Em algum momento durante sua fuga, ele ouviu o choro de Ethan em meio aos seus chamados, foi impossível ignorá-lo. Era estranho, já que o garoto sempre agia de maneira tão madura e confiante.

— Você mencionou ter ouvido Leila conversar com alguém ao pé da sua cama, mas isso não é prova suficiente para que Kaylus possa prendê-la. Além disso, ele poderia pensar que é tudo fruto de um delírio. — Ethan murmurou, incapaz de ocultar totalmente sua inquietação.

— É que eu não te contei tudo — Aaron admitiu suavemente. Ele ergueu o rosto para observar o céu, que parecia refletir a gravidade de suas próximas palavras.

— Então você tem provas? Quais? — Ethan perguntou, a ansiedade era clara em sua voz.

— Eu vi quando ela triturou algumas folhas e as colocou na comida, mas não sabia dizer o que era. Só recentemente, ao sentir novamente o cheiro, comecei a considerar a possibilidade de ser veneno.

— Soube que realizaram uma busca no quarto dela. Se a mandaram para a prisão, é provável que tenham encontrado algo que a incrimine — Ethan disse, desanimado.

— Sim, a essa altura, Leila já deve estar sendo interrogada. — Aaron respondeu.

— Será que há alguém por trás dela?

— E você ainda tem dúvidas? — Aaron tocou a maçã do rosto onde uma gota de chuva caiu — Está começando a chover, é melhor voltarmos!

Os gêmeos correram por entre as árvores enquanto os pesados pingos de chuva caíam sobre suas cabeças, encharcando suas vestes reais. A terra abaixo de seus pés estava cada vez mais escorregadia, forçando-os a acelerar o passo. Quando finalmente alcançaram o jardim com suas flores delicadas e arbustos podados, avistaram o pátio do Palácio Lótus. Ali, os guardas, em filas de dois, continuavam seu treino, alheios ao temporal que se intensificava.

***

O ar estava impregnado com o aroma suave de incenso, misturando-se ao cheiro fresco da terra molhada que vinha da janela ligeiramente aberta, por onde a chuva incessante tentava invadir o santuário de paz que era o quarto. Sobre um tapete no chão, estava Aaron em um estado de profunda meditação. As pernas estavam cruzadas numa postura que refletia serenidade e os olhos firmemente fechados. Seu objetivo era claro: cultivar seus poderes. Uma prática que exigia concentração e paz interior.

Foi neste momento de quietude e foco que ele foi abruptamente trazido de volta à realidade pelo som firme de batidas na porta do quarto. Era Ethan, cuja voz atravessou a madeira maciça com uma mistura de hesitação:

— Aaron, posso entrar?

Com um suspiro leve, o príncipe desfez sua postura de meditação e se levantou, movendo-se em direção à porta com passos suaves e a abriu, revelando Ethan parado do outro lado. Surpreendentemente, sua expressão era serena, um contraste marcante com a vulnerabilidade que havia demonstrado momentos antes.

— Ethan — Aaron cumprimentou, afastando-se para permitir a entrada do irmão, que sorriu ao vê-lo — Aconteceu algo?

Ethan caminhou até o sofá de veludo escuro, que exibia um padrão sutil de flores, e sentou-se, com Aaron acompanhando-o logo em seguida.

— Preciso de um motivo para vir te ver? — Ethan perguntou, desviando-se da pergunta inicial.

— Não, claro que não. Só achei um pouco estranho. Imagino que tenha muitas coisas em mente.

Percebendo a relutância do irmão, Aaron decidiu mudar de assunto para algo mais tangível.

— Que tal irmos à biblioteca? — Ele perguntou.

— De jeito nenhum, quer nos arrumar problemas? — Ethan rebateu, fazendo uma careta diante da sugestão.

— Mais cedo, você comentou que talvez alguém esteja por trás das ações de Leila. Eu acho que tenho uma pista. O homem que conversava com ela mencionou vagamente sobre uma tal “Facção Anti-Imperador”. Ele disse que Leila estava fazendo uma grande contribuição para a causa. Não tenho todos os detalhes, mas acredito que se investigarmos, poderemos descobrir algo importante — Aaron respondeu, ciente de que estava omitindo alguns detalhes.

— É uma boa ideia, mas precisamos ir justamente na biblioteca de Kaylus? Vamos esperar até que mamãe mande nos buscar para visitá-la no Palácio Hibisco; quando estivermos lá, poderemos procurar pela informação que precisamos. — sugeriu Ethan, seu tom mostrava uma mistura de ceticismo e pragmatismo.

Ao ouvi-lo, Aaron se perguntou o motivo da imperatriz ser tão liberal com eles. Pelo que lembrava, ela fez o máximo que pôde para tirá-lo do trono, e para entregá-lo a quem? Ao traidor, amigo de efervescentes e lunares! Em seu caso, ela não sabia que seu protegido era o verdadeiro inimigo.

Mas isso foi bem feito para aquela mulher orgulhosa; ela viu com seus próprios olhos as barreiras do Império do Sol caírem por terra enquanto os reinos eram invadidos por dragões ferozes e navios voadores com bandeiras dos territórios do Fogo, Água e Lua. Contudo, esse não era o foco, e sim o motivo dela lhe favorecer nesta vida. Muito provavelmente, a resposta estivesse com Ethan, já que sem ele todas estas situações imprevisíveis não estariam acontecendo.

— Vai demorar, e eu não vejo problema algum em irmos à que tem aqui. Vamos Ethan, só vamos procurar a informação que precisamos e então saímos. Não vai machucar ninguém — Aaron tentou convencê-lo.

— Seremos só nós dois? — Ethan perguntou, recebendo um aceno em resposta. — Nesse caso, pode até ser possível que consigamos entrar, mas me pergunto se encontraremos o que precisamos.

— E por que não encontraríamos? — Aaron perguntou, confuso.

A biblioteca estava logo ao alcance deles e, ao seu ver, não havia empecilho algum, fora Kaylus, que poderia ficar irritado com a ideia de ter seus preciosos livros passando pelas mãos de duas crianças traquinas.

— Será que você esqueceu que nenhum de nós sabe ler? — Ethan perguntou, parecendo se divertir com a situação.

Não dava para perceber na superfície, já que Aaron congelou sua expressão facial ao ouvir o lamentável lembrete, mas algo bem lá no fundo em seu interior rachou e, na mesma hora, quebrou em pedaços. Não sabia dizer o que era, mas talvez fosse a fina barreira que o permitia continuar com o bom senso, porque, no momento, sentiu uma vontade terrível de se estapear por causa de sua própria estupidez.

A terrível realidade de que se tornou uma criança foi despejada sobre ele como um balde de água fria. Seja lá o que Ethan fosse, Aaron não podia deixar que descobrisse que sabia demais. Às vezes, ele se esquecia da possibilidade de que esta criança poderia ter uma alma tão antiga quanto a sua. Para Aaron, era como se os dois estivessem em um jogo onde o primeiro a se expor perderia.

— Ei, não me ofenda. Não é como se eu não tivesse aprendido uma ou duas coisas com meus livros! — Aaron gaguejou.

— Ah é? E o que você aprendeu de útil com seus livros ilustrados? — Ethan se aproximou e cruzou os braços, deslocando o peso do corpo para uma das pernas.

— Huh, bem — a voz de Aaron vacilou. — Não me subestime. Eu posso identificar algumas palavras soltas! — Ele apontou o indicador para Ethan, começando a sentir vergonha de si mesmo.

A que ponto havia chegado? Por que, sempre que se tratava dessa criança, as coisas tomavam esse rumo?

— Quer saber? Eu vou lá, nem que seja apenas para olhar as pinturas nas paredes. Você vem se quiser! — Aaron exclamou, caminhando a passos apressados pelo irmão que o encarou incrédulo.

A esse ponto, já não valia mais a pena ir até a biblioteca. Ter se esquecido que “não sabia ler" foi um erro fatal, mas Aaron não iria se recolher para que Ethan pensasse que tinha ganhado a discussão.

— O quê? Volte aqui, Aaron. Você só vai nos causar problemas! — Ethan elevou o tom de voz ao vê-lo abrir as portas e sair correndo para o corredor. Ele se apressou e correu atrás dele — Aaron!

As paredes do longo e estreito corredor possuíam tons frios e eram decoradas com enormes pinturas vitrificadas, cujos vidros refletiam a luz difusa que penetrava pelos janelões. As obras de arte, meticulosamente escolhidas, retratavam paisagens etéreas e cenas abstratas, envoltas em molduras douradas que adicionavam um toque de elegância ao ambiente.

Altas pilastras de mármore, imponentes e espaçadas de maneira equidistante ao longo do corredor, conferiam uma sensação de grandeza e solenidade ao espaço. Sua textura lisa e suas linhas retas guiavam o olhar em direção ao teto, onde uma série de lustres delicadamente trabalhados pendia, espalhando uma luz suave que realçava os detalhes arquitetônicos. A cada poucos metros, grandes janelões de vidro se intercalavam, revelando o esplendor do jardim externo, onde se encontravam as acácias e camélias. Pequenos caminhos de pedra serpenteavam entre os canteiros, convidando à contemplação.

Infelizmente, Aaron não podia parar para apreciar a vista, nem desviar seu caminho para o jardim a fim de fazer sua meditação diária; isso era impossível com Ethan o perseguindo e ameaçando levá-lo de volta ao quarto.

— Não pense em dar mais um passo daí! — Ethan exclamou ao pararem em frente a uma grande porta dupla, cujas maçanetas douradas se assemelhavam à cabeça de um leão.

— É apenas uma biblioteca, você não precisa ser tão exagerado assim.

— Não é "apenas uma biblioteca". Lá dentro deve conter relíquias inestimáveis que Kaylus coletou durante suas viagens. Não quero nem imaginar o que pode acontecer se ele descobrir que entramos. — Ethan olhou para os lados, averiguando se havia alguma testemunha por perto.

— Está com medinho? — Aaron provocou com um sorriso, tocando a maçaneta.

— Você está mesmo falando sério? Será que não entende que precisamos de permissão? E olha que ironia, a gente nem sabe ler, então qual é a necessidade de entrarmos?

Ethan mal havia terminado de falar quando arregalou os olhos, direcionando sua atenção para o fim do corredor. Antes que Aaron pudesse perguntar o motivo de seu assombro, teve sua mão agarrada e foi arrastado aos tropeços para dentro da biblioteca.

— Ethan, o que houve? Eu só estava brincando. A gente não precisava entrar — Aaron perguntou, surpreso.

— Silêncio!

Eles correram para o fundo da biblioteca e, ao entrarem em um corredor de livros, Ethan o empurrou, fazendo com que se abaixasse.

— Eu não entendo, o que está acontecendo? Por que você está fazendo isso? — Aaron sussurrou, vendo o irmão olhar apreensivo por entre uma brecha de livros faltantes.

Era possível que Kaylus estivesse chegando? Se fosse, Aaron entenderia a reação de Ethan, até porque ele guardava ressentimento desde o dia em que foi intimidado e envergonhado na frente dos guardas e criados.

No momento em que as portas se abriram, uma figura adentrou a biblioteca, movendo-se tão silenciosamente que por um instante, Aaron pensou tratar-se de uma mulher. Contudo, logo descartou a ideia, lembrando-se de outra classe conhecida por seus passos furtivos: os assassinos.

Olhando ao redor em busca de uma solução, o príncipe percebeu que estava cercado apenas por livros, e não havia nada que pudesse fazer com eles além de lançá-los no invasor. Além disso, provavelmente estavam protegidos por algum encantamento. Em um ato desesperado, agarrou um livro ao acaso, mas estranhamente, não sentiu a descarga elétrica percorrer o braço.

Será que havia outro tipo de encantamento sobre ele? Aaron achava difícil acreditar que Kaylus teria sido tão negligente a ponto de deixar seus preciosos livros desprotegidos.

O silêncio no corredor tornou-se opressor à medida que os passos se aproximavam. A tensão crescia a cada segundo, e Aaron, instintivamente, tentou espiar pela fresta deixada entre os livros, mas tudo o que viu foram os livros da estante do outro corredor. Ethan, percebendo o que ele segurava, o olhou com pavor contido, como se um único movimento em falso pudesse ser desastroso.

— Por que pegou esse livro? — Ethan sussurrou, mal conseguindo esconder o nervosismo.

— O que estão fazendo aqui? — A voz profunda de Darius soou, tão grave e carregada de autoridade que ambos se viraram de imediato, assustados. Ele estava parado no início do corredor, sua presença era tão esmagadora quanto seu poder. — Não me ouviram? — repetiu ele, sua voz soando mais como uma ordem do que uma pergunta.

Aaron estava paralisado, incapaz de processar a presença inesperada de Darius. A sensação de opressão parecia esmagar seu peito, tornando sua respiração cada vez mais superficial. Seus olhos arregalados fixavam-se no irmão mais velho, lutando para lidar com a surpresa e o medo. No entanto, por trás da paralisia, uma raiva fria começava a ferver em seu interior, uma chama calculada que contrastava com o pânico visível.

Cada passo de Darius exalava uma aura de elegância e superioridade. Sua armadura negra parecia absorver toda a luz ao redor. Aaron fixou o olhar na espada desgastada pendurada em sua cintura, sentindo um repúdio crescente. Sabia que aquela espada não era a primeira de Darius; o príncipe frequentemente trocava suas armas conforme perdiam o fio em combate, recolhendo as espadas de inimigos derrotados. A visão daquela lâmina, agora em posse do irmão, evocava uma sensação de nojo profundo em Aaron.

Pelo canto do olho, viu Ethan se erguer e caminhar até Darius. Aaron não sabia de onde ele havia tirado forças, mas não podia ficar atrás. Com o olhar baixo, levantou-se e seguiu-o, mantendo-se um passo atrás.

— Minhas saudações, príncipe herdeiro. — cumprimentou Ethan, tentando ocultar seu nervosismo. Ele colocou a mão sobre o peito em um gesto de respeito e inclinou a cabeça com um grau de deferência. — O que lhe traz aqui?

— Responder uma pergunta com outra não é muito educado, irmãozinho. Responda à minha primeiro — Darius replicou. Seus olhos dourados, símbolos do poder do Sol, brilhavam à luz tênue, enquanto ele exibia um sorriso que parecia cortês, mas carregava um certo peso. A aura ao seu redor era poderosa, digna de um Oficial Celestial.

— Estávamos entediados e decidimos explorar o palácio. Não acredito que Kaylus se importe, já que ele não mencionou nada contra isso — Ethan respondeu rapidamente, evitando olhá-lo diretamente.

Darius estreitou os olhos, fazendo os gêmeos sentirem como se suas mentes estivessem sendo sondadas. Ele então se aproximou, circulando-os lentamente com uma elegância inquietante.

— Explorar? — Ele saboreou a palavra, pronunciando-a devagar enquanto lançava um olhar contemplativo para as prateleiras ao redor, repletas de volumes antigos e valiosos. — Os dois estão explorando uma biblioteca privada... Sabem que nem todos têm o privilégio de retirar esses livros, certo? — Com um leve gesto do queixo, indicou o volume que Aaron segurava firmemente contra o peito, como se fosse um tesouro. — O encantamento nas estantes está ali por uma razão específica, provavelmente para impedir que mãos indesejadas os toquem. Me entregue este livro. O fato de você conseguir retirá-lo não significa que Kaylus vá ignorar esse feito.

Aaron lançou um olhar para Ethan, que acenou com a cabeça, como se dissesse que estava tudo bem. No entanto, Aaron não pôde deixar de notar as mãos trêmulas do irmão, cuja expressão permanecia imperturbável. Algo estava errado. Ethan estava com medo, mas se esforçava para não deixar transparecer.

O que Darius representava para ele?

— Aaron, você ouviu? Entregue o livro a Darius. — insistiu Ethan, sua voz vacilou levemente.





GLOSSÁRIO:

⁰1 Cultivador: Alguém que treina artes espirituais ou marciais geralmente para se tornar poderoso e aumentar sua longevidade, meditação e cultivação são práticas comuns entre cultivadores.

⁰⁰2 lunares, efervescentes, e aquarianos: Povos do Império da Lua, Império do Fogo e Império da Água.

⁰⁰3 Imperador Imortal: O Imperador Imortal é uma entidade que atingiu o pico absoluto do cultivo, transcendente em sabedoria, poder e controle sobre as forças que regem o cosmos. Ele ultrapassou os limites mortais e até divinos, reinando soberanamente sobre outros deuses e seres celestiais. Dotado de um domínio incomparável sobre a vida, a morte e o tempo, o Imperador Imortal é capaz de controlar o curso dos eventos, moldar o destino de civilizações e manipular as leis fundamentais do universo. Sua presença é vista como uma força inevitável e indomável, e sua autoridade é inquestionável, tanto entre mortais quanto entre deuses.

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