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Capítulo 20 - Os Seis Níveis de Cultivo

Os fracos chamam de destino, os tolos chamam de sorte. Eu chamo de vontade. No fim, só aqueles que se recusam a cair continuam a subir”











O chá fumegava na xícara de porcelana fina entre as mãos de Aaron. As espirais do vapor subiam preguiçosamente, se desfazendo no ar morno da sala, aquecendo seus pensamentos mais do que seus dedos. Além do corrimão de madeira polida, o jardim parecia um sonho congelado — suas árvores estavam despidas, os galhos esqueléticos esticando-se contra um céu cinza, como dedos suplicando ao vazio. Mas havia manchas de verde, folhas resistentes que cintilavam como joias sob um encanto sutil. Uma visão bela e inquietante, como uma promessa vazia de que a vida persistia, mesmo quando o frio devorava tudo.

Aaron mordeu o bolinho de amora sem grande entusiasmo. O gosto, normalmente uma explosão agridoce que o reconfortava, parecia vazio hoje, como se o inverno também tivesse roubado o sabor. As pedras de calor embutidas nas paredes de mármore exalavam um calor constante, transformando aquele cômodo em um refúgio surreal, um mundo apartado da realidade cruel do frio lá fora. Havia algo perturbadoramente artificial na perfeição do lugar, algo que o deixava ainda mais consciente de que o mundo além do jardim não compartilhava daquele conforto.

Então, ele ouviu os passos.

Um som ritmado no corredor, como o prelúdio de algo inevitável. Aaron ergueu os olhos, mastigando devagar enquanto Ethan surgia na entrada da sala. Seu irmão parecia impecável, algo que se tornava frequente, com o uniforme vermelho e alinhado, e os cabelos penteados de forma meticulosa. Mas havia algo fora do lugar, um detalhe que chamou a atenção antes mesmo que Ethan se aproximasse: o cheiro. Era um perfume suave e floral, um contraste gritante com o aroma amadeirado e neutro que o irmão geralmente carregava. Hibisco.

Aaron colocou a xícara sobre a mesa com um leve estalo e observou o gêmeo enquanto ele caminhava até a mesa. Os movimentos de Ethan eram precisos, quase calculados, mas Aaron viu o que outros poderiam ignorar — a rigidez nos ombros, a hesitação disfarçada no modo como ele evitava seus olhos. Ethan era muitas coisas, mas um bom mentiroso não era uma delas.

— Onde você estava? — Aaron perguntou, sua voz cortou o ar com uma tensão sutil.

Ethan parou. Seu olhar encontrou o de Aaron apenas por um instante antes de desviar, como se não quisesse dar à pergunta a importância que ela exigia. Com movimentos precisos, puxou a cadeira e sentou-se, ajeitando-se com disciplina. Então, forçou um sorriso pequeno e vazio, sem qualquer emoção real.

— Bom dia para você também, Aaron.

Aaron não sorriu de volta. Não piscou. Apenas ficou ali, observando, medindo cada detalhe com a paciência de um homem que sabia que a resposta já estava ali, esperando para ser dita. Ele apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos diante da xícara esquecida.

— Eu perguntei onde você estava. — Desta vez, sua voz saiu mais baixa, mas o peso era inegável, uma exigência que não podia ser ignorada.

Ethan desviou o olhar novamente, pegando o garfo para espetar uma fatia de maçã que descansava em um prato de cristal. Ele a levou à boca com uma lentidão calculada, mastigando como se o simples ato de comer fosse sua única preocupação no momento.

— Não sabia que precisava lhe informar cada vez que saio para respirar. — A resposta veio acompanhada de um encolher de ombros casual demais, polido demais. Um esforço visível de quem tentava manter o controle, mas sabia que já estava jogando na defensiva.

Aaron não se moveu. Seus olhos permaneceram fixos no irmão, captando cada nuance, cada hesitação mal disfarçada sob uma máscara de indiferença. Ele esperou — e esperou — deixando que o desconforto se acumulasse, pesado como o ar antes de uma tempestade.

A criada se retirou por fim, fazendo uma reverência rápida antes de fechar a porta atrás de si. Só então Aaron deslizou a mão para o bolso, os dedos fechando-se ao redor do objeto escondido ali. Com um gesto preciso, retirou uma pequena caixa e a colocou sobre a mesa. Empurrou-a lentamente na direção de Ethan, sem dizer uma única palavra.

O irmão fitou a caixa como se esta pudesse mordê-lo. A tensão em seu rosto traía a tentativa de indiferença.

— Você usou o anel.

As palavras caíram pesadas, afundando no silêncio da sala como uma pedra lançada em águas paradas. Ethan piscou, a surpresa passando brevemente por seus olhos antes de desaparecer. A fatia de maçã permaneceu esquecida no garfo, suspensa no ar entre a ação interrompida e a inevitabilidade da resposta.

Por um instante, ele nada disse, e Aaron percebeu que o silêncio falava mais do que qualquer desculpa poderia.

— Foi só um teste. — Ethan finalmente disse, mas o tom casual era artificial, e ambos sabiam disso.

— Um teste? — Aaron repetiu, sua voz cheia de ironia. — Pelo cheiro nas suas roupas, eu diria que sua pequena "curiosidade" te levou ao Palácio Hibisco.

Ethan apertou os lábios, a tensão cresceu em seu rosto. Seus olhos encontraram os de Aaron por um instante, mas logo desviaram. Isso era tudo o que Aaron precisava.

"Bingo!” pensou Aaron.

— Isso não tem nada a ver com você.

— Ah, tem tudo a ver comigo. — A voz de Aaron era controlada, cada palavra sua era cuidadosamente medida. Ele se levantou devagar, circulando a mesa como um predador estudando sua presa. — O Palácio está vazio, e você sabe disso. Então, ou foi para lá por um motivo que não quer me contar, ou está tentando esconder algo que eu já percebi.

Ethan levantou-se abruptamente, e a cadeira raspou no chão com um som agudo que ecoou pela sala.

— Eu não preciso da sua permissão para sair ou para usar esse artefato mágico! — A voz de Ethan cortou o ar, elevada, carregada de uma irritação crua que raramente escapava. Não era um tom firme e controlado, mas algo que transbordava, como se ele tivesse segurado aquilo por tempo demais. — Ou será que o problema não é o anel, e sim o fato de eu ter tomado a decisão sem você?

Aaron parou. Por um momento, ficou imóvel, como se absorvesse o que acabara de ouvir. Então, lentamente, girou para encará-lo, e Ethan viu o que não esperava: surpresa.

E por um segundo — apenas um segundo — Aaron sorriu.

Não um sorriso debochado ou cruel, mas de genuíno espanto e... satisfação? Como se visse algo ali que esperava há muito tempo. Como se soubesse que aquela explosão era inevitável e, agora que finalmente acontecia, não pudesse evitar apreciar o momento.

Mas o sorriso durou pouco. Um instante depois, Aaron soltou um suspiro longo e recompôs-se, apagando qualquer vestígio de emoção. A frieza retornou como uma máscara recolocada com perfeição.

— Me desculpe se te dei essa impressão. — Sua voz saiu ponderada, como se estivesse escolhendo cada palavra com cuidado, mas o brilho em seus olhos desmentia a calma aparente. — Você realmente não precisa da minha permissão.

Aaron avançou um passo, preenchendo o espaço entre eles. A tensão se estendeu, esticada como um fio prestes a se partir.

— Mas precisa entender que o que faz tem consequências. Guarde seus segredos, Ethan. — A voz de Aaron caiu para um sussurro, mas cada palavra parecia afiada como uma lâmina. — Eu não me importo com o que você estava fazendo... contanto que não coloque nenhum de nós em perigo.

Ethan vacilou por um segundo, o olhar fixo no chão, a mandíbula travada. Aaron viu a forma como seus punhos se fecharam ao lado do corpo, o orgulho ferido, a raiva crescendo sob a pele.

— Eu não fiz nada que possa nos prejudicar. — Ethan finalmente disse. Mas havia uma nota de incerteza, sutil, mas evidente. E Aaron, é claro, percebeu.

Por um momento, Aaron não respondeu. Ele apenas manteve o olhar fixo no irmão, avaliando cada pequeno movimento, cada piscada, como se pudesse enxergar a verdade oculta por trás das palavras.

— Espero que esteja dizendo a verdade. — Aaron falou por fim, sua voz agora mais neutra, mas ainda carregada de uma autoridade que não podia ser ignorada. — Porque, se não estiver, você sabe tão bem quanto eu que os erros aqui custam caro.

O silêncio que se seguiu era denso, quase sufocante. Ethan desviou o olhar, as mãos cerrando-se ao lado do corpo enquanto tentava controlar a onda de emoções que ameaçava transbordar.

Aaron voltou para seu lugar à mesa, pegando a xícara de chá e levando-a aos lábios. Ele tomou um gole, permitindo que o calor do líquido se espalhasse, mas o amargor em sua boca parecia ainda mais forte agora.

Ethan permaneceu onde estava por alguns instantes, como se estivesse travado entre a vontade de dizer algo e o desejo de fugir. Mas ele sabia que a conversa tinha acabado. Aaron havia deixado isso claro.

Sem dizer mais nada, Ethan virou-se e saiu da sala. O som de seus passos ecoou pelo corredor, ficando cada vez mais distante até que tudo ficou em silêncio novamente.

Aaron ficou ali, sozinho. Seus olhos vagaram pela xícara em sua mão antes de se fixarem na cadeira vazia à sua frente. O cheiro de hibisco ainda pairava no ar, uma lembrança persistente do que acabara de acontecer.

Ele pousou a xícara de volta na mesa e fechou os olhos, permitindo que sua mente voltasse ao que Ethan havia dito – e ao que ele não havia dito.

Havia segredos escondidos ali, isso era claro. E, por mais que Aaron quisesse acreditar que Ethan não faria nada que os prejudicasse, a incerteza se recusava a desaparecer.

Ethan, o Palácio Hibisco, o anel...” As palavras ecoavam em sua mente, uma lista de peças desconexas que ele sabia que precisava juntar antes que fosse tarde demais.

Às sete e meia em ponto, Aaron caminhava pelo corredor do Palácio Gardênia, acompanhado de uma criada. O eco suave de seus passos sobre o piso de mármore reluzente parecia amplificar o silêncio ao redor, criando um contraste com as conversas abafadas que escapavam de outras salas. A criada, em um vestido azul-marinho impecável, mantinha a postura ereta e a cabeça ligeiramente inclinada enquanto guiava Aaron até o local indicado.

Quando chegaram à porta de madeira ornamentada com entalhes de gardênias e folhas, a criada parou, fazendo uma reverência antes de abrir a porta para ele.

— Esta é a sala, Alteza. O mestre do cultivo o encontrará aqui.

Aaron assentiu brevemente, um gesto que não precisava de palavras, e entrou na sala.

O espaço estava surpreendentemente acolhedor, ainda que carregasse a opulência característica do palácio. Uma grande mesa de madeira escura dominava o centro do cômodo, cercada por cadeiras estofadas com um tecido carmesim profundo. Janelas altas deixavam entrar a luz dourada do amanhecer, que refletia nos detalhes de ouro que adornavam as molduras dos quadros e as prateleiras repletas de livros.

Ao lado da mesa central, um sofá baixo e longo, forrado em couro escuro, estava posicionado em frente a uma pequena lareira. A chama estava acesa, mas baixa, apenas o suficiente para aquecer o ambiente sem sufocá-lo. Em um canto, havia um armário com instrumentos mágicos, seus vidros reluzindo sob a luz suave das luminárias encantadas que flutuavam no teto.

E ali, sentado no sofá de couro, estava Ethan.

Os olhos de Aaron encontraram os do irmão por um instante. Ethan manteve o olhar firme, mas havia algo ali – uma mágoa, talvez até irritação. Aaron percebeu imediatamente que Ethan ainda estava ressentido por causa do confronto anterior. Mas, ao contrário do que Aaron esperava, não foi ele quem desviou o olhar. Ethan olhou para o lado, os ombros rígidos e o semblante fechado.

Aaron franziu o cenho ligeiramente. “Ele deveria estar irritado? O contrário seria mais lógico,” pensou. Ethan era quem estava ocultando segredos, e ainda assim, era ele quem agia como a vítima.

Respirando fundo, Aaron escolheu uma cadeira ao lado da mesa principal, longe o suficiente para manter a distância que Ethan parecia querer. Ele se acomodou no assento estofado, sentindo a maciez do tecido contra as costas, mas seu olhar voltou para o irmão.

O silêncio entre eles foi quebrado pela voz de Ethan.

— Você é igual a ela, sabia? — disse Ethan, a voz baixa, mas afiada.

Aaron piscou, confuso por um momento.

— O que você está dizendo? — perguntou.

Ethan virou-se para ele, os olhos brilhando com um misto de desafio e algo mais profundo – talvez tristeza.

— Você age exatamente como a mamãe. — A voz de Ethan tremia, não de medo, mas de emoção reprimida. — Sempre achando que pode controlar tudo ao seu redor. Como se... como se fosse melhor que todo mundo.

Aaron inspirou fundo, sentindo o ar preencher seus pulmões como se puxasse um pouco de controle para si. Seu olhar caiu sobre o irmão – o cenho franzido, os punhos cerrados. Ethan queria uma resposta, uma negação feroz, uma explosão de raiva. Mas Aaron não lhe daria isso.

— Eu não sou como ela. — Sua voz soou firme, mas dentro de si algo vacilou, uma rachadura fina no gelo que cobria suas certezas.

Ethan soltou um riso baixo, mas sem humor.

— Claro que é. Você falou comigo como se eu fosse um soldado seu, não sua família. Não percebe, Aaron? Você tem o mesmo olhar dela. O olhar que pesa, que diz que sabe mais.

As palavras atingiram Aaron como um golpe. Ele sempre temera Grace, sua frieza, sua maneira indiferente de lidar com as pessoas, especialmente com ele e Ethan. E agora, ouvir que ele era igual a ela... era quase insuportável.

— Eu faço isso porque me importo. Porque, se eu não for firme, quem vai ser? Você? — Ele se inclinou levemente para frente, os olhos fixos no irmão. — Você mente, esconde segredos e ainda age como se eu fosse o problema. Mas adivinha? Se eu pareço com ela, é porque preciso ser assim. Alguém precisa proteger a gente.

Ethan apertou os punhos, os nós dos dedos ficando brancos, mas permaneceu em silêncio por alguns instantes. Finalmente, Ethan soltou um suspiro, os ombros relaxando um pouco.

— Já ouvi isso antes. — Sua voz estava mais calma, mas carregava algo entre o cansaço e a lembrança amarga. — Você sabe... a mamãe disse algo parecido uma vez, quando nos afastou do Palácio Imperial e nos mandou para cá. "Estou fazendo isso porque preciso proteger vocês."

Aaron sentiu o corpo enrijecer com aquelas palavras.

— E mesmo agora, Aaron, você está aí... pensando se deveria ser assim. — Ethan apoiou a mão em ninho no queixo, os olhos fixos no irmão. — Refletindo sobre cada palavra que disse, sobre cada coisa que fez. É a mesma coisa que ela faz, sabe? Ela também para e pensa, e no fim, toma decisões como se só ela soubesse o que é melhor para todo mundo.

Ethan não estava errado, e isso era o que mais o incomodava. Ele sabia que sua mãe agia daquela forma por sentir o peso de suas responsabilidades – mas isso não tornava mais fácil lidar com a ideia de que ele estava seguindo pelo mesmo caminho.

— Talvez você tenha razão. — Aaron finalmente admitiu, a voz carregada de uma sinceridade rara. — Talvez eu me pareça com ela.

A confissão deixou um gosto amargo em sua boca. Dizê-lo em voz alta fazia a ideia parecer mais real, mais palpável. Era como abrir uma porta que deveria permanecer fechada. Ele viu a surpresa passar pelo rosto de Ethan, um lampejo breve, mas logo apagado, substituído pelo mesmo ar de cautela de sempre. Ethan não gostava de ser pego desprevenido.

O silêncio se prolongou por um instante antes de Ethan se impulsionar levemente no assento, inclinando-se na direção de Aaron.

— Então talvez você também entenda por que eu fiz o que fiz. — Ethan disse.

— O que você quer dizer? — perguntou, mantendo a voz neutra, mas atento a cada detalhe. A maneira como Ethan sustentava o olhar por um momento a mais do que o necessário. O modo como ele umedeceu os lábios antes de continuar.

Ethan hesitou, um segundo apenas, mas foi o suficiente para Aaron perceber. Ele estava escolhendo as palavras com cuidado.

Então, com um gesto lento, Ethan enfiou a mão no bolso interno do casaco e retirou um pequeno saquinho interespacial². Seus dedos tremiam levemente ao segurar o objeto, como se o peso dele fosse maior do que aparentava.

— Eu fui ao Palácio Hibisco. — A confissão veio rápida, mas medida. Ethan o observava com atenção, como se tentasse ler cada reação sua antes mesmo que ela surgisse.

Aaron manteve o olhar fixo no saquinho. Seu instinto lhe dizia que aquele pedaço de tecido escondia algo muito mais significativo do que Ethan queria admitir.

— Mas não foi para fazer nada errado.

A resposta pareceu ensaiada demais. Ethan sempre soube como se antecipar às perguntas, como dobrar as palavras para que parecessem menos ameaçadoras.

— Então por que você foi? — perguntou, mantendo o tom deliberadamente calmo.

Ethan abriu o saquinho² com um movimento cuidadoso e enfiou a mão dentro dele. Quando a retirou, segurava um livro. A capa de couro envelhecido trazia runas gravadas que brilhavam fracamente sob a luz da lareira. Ele o colocou sobre a mesa, empurrando-o lentamente na direção de Aaron.

Aaron não tocou no livro de imediato. Em vez disso, olhou para o irmão.

— Usei os papéis mágicos para procurar livros que pudessem me ajudar... com o meu elemento. — Ethan disse, os ombros relaxando ligeiramente. Mas algo ainda estava errado. Suas orelhas estavam vermelhas. Um sinal de nervosismo e mentira.

Aaron inclinou-se para pegar o livro, virando as páginas com cuidado. O cheiro de papel envelhecido misturava-se ao perfume de hibisco impregnado na capa. Ele leu o título mentalmente, sentindo as palavras se formarem em sua mente como um presságio.

"Elementos sob o Olhar da Lua."

As páginas estavam repletas de diagramas detalhados e anotações meticulosas. Era um livro valioso, sem dúvida. Mas não era o livro que preocupava Aaron. Era a maneira como Ethan falava dele. Como se quisesse que Aaron olhasse para aquilo e visse apenas aquilo.

— Possuo uma junção de elementos problemáticos, que estão se reunindo e criando algo que não entendo. Precisava de algo que explicasse melhor como lidar com isso. Não é como se a mamãe fosse me ajudar... e você também não sabe muita coisa sobre cultivo.

Aaron levantou os olhos para encará-lo.

Aquela última frase não fora dita por acaso. Ethan estava testando-o, jogando migalhas para ver se ele desviaria o foco, se morderia a isca e discutiria sobre Grace ou sobre seu próprio conhecimento limitado.

Mas Aaron não mordeu a isca.

Ele fechou o livro com um movimento firme e o colocou sobre a mesa entre eles.

— Você foi à biblioteca. — Ele repetiu, não como uma pergunta, mas como uma afirmação, deixando que as palavras se acomodassem no ar.

Então, empurrou o saquinho de volta para Ethan.

— Certo.

Ethan piscou. Um traço de surpresa passou por seu rosto antes que ele conseguisse escondê-lo.

— Só isso? — perguntou, tentando manter o tom neutro, mas Aaron percebeu a hesitação.

Aaron o observou por um longo momento antes de responder, seu rosto inexpressivo, como uma máscara esculpida em pedra.

— Se é o que você diz, não tenho motivos para duvidar.

Mas, por dentro, ele sentia um nó apertando seu peito.

Queria confiar em Ethan. Queria acreditar nele. Mas algo em seu instinto gritava que nem tudo havia sido dito.

E se havia uma coisa que Aaron aprendera ao longo dos anos, era que as mentiras mais perigosas não eram as descaradas, mas as que se escondiam entre verdades cuidadosamente escolhidas.

O som de passos ecoando pelo corredor interrompeu seus pensamentos. O ritmo era constante, deliberado, sem pressa, mas carregado de intenção.

Aaron endireitou-se na cadeira, ajeitando a postura automaticamente, um reflexo condicionado por anos de disciplina. Do outro lado da mesa, Ethan enfiou o saquinho de volta no casaco com pressa, os dedos se fechando ao redor do tecido como se esconder o objeto pudesse apagar tudo o que havia sido dito.

Seus olhos se encontraram por um breve instante. Nenhuma palavra foi dita, mas muito foi compreendido. Eles já haviam passado por isso antes. O instinto de se preparar para o inesperado fazia parte de suas naturezas.

A porta se abriu.

O homem que entrou era esguio, alto, com cabelos grisalhos presos na nuca e um semblante tão austero que parecia esculpido em pedra. Cada detalhe nele – desde a postura impecável até o manto negro com bordados prateados que brilhavam sob a luz da lareira – exalava controle e precisão.

Aaron não precisou ouvir seu nome para saber que estava diante de alguém perigoso.

— Príncipes de Albélia, — começou ele, sua voz profunda e autoritária preenchendo cada canto da sala, — é uma honra ser o mestre que guiará vossas altezas a partir de hoje.

Ethan fez um breve aceno, um gesto polido, mas sem real interesse. Aaron, por sua vez, manteve os olhos fixos no homem, absorvendo cada detalhe. Claude Lombardi. O nome já circulava pelos corredores há semanas, envolto em rumores e especulações. Alguns diziam que ele havia sido tutor de nobres poderosos em terras distantes. Outros murmuravam que ele tivera laços diretos com a própria Imperatriz em sua juventude.

O que quer que fosse verdade, uma coisa era certa: ele não estava ali apenas para ensiná-los.

Claude fez uma leve reverência antes de continuar:

— Meu nome é Claude Lombardi, e serei responsável por sua educação em uma série de disciplinas que acredito serem essenciais para moldá-los, não apenas como príncipes, mas como futuros líderes.

Aaron sentiu a escolha das palavras como um peso invisível sobre seus ombros. Moldá-los. Como metal bruto na forja de um ferreiro. Não prepará-los, não orientá-los, mas moldá-los. Isso significava que Lombardi não os via como príncipes a serem instruídos, mas como ferramentas a serem afiadas.

Ele caminhou até a mesa principal, pousando as mãos sobre o tampo de madeira com um gesto calculado, os olhos medindo os dois irmãos.

— Sob minha orientação, — disse ele, com uma pausa dramática que parecia planejada, — vocês aprenderão as artes que guiaram os maiores imperadores e estudiosos da história.

Aaron manteve-se imóvel, mas sentiu algo dentro de si se enrijecer. Ele já ouvira variações dessas palavras antes. Professores e mentores que chegavam cheios de promessas, de regras, de métodos infalíveis para transformá-lo em algo maior. Todos eles falavam com a mesma certeza imutável, como se seus ensinamentos fossem um destino inevitável.

Claude ergueu uma mão, numerando os tópicos com os dedos enquanto falava:

— Caligrafia e pintura, para ensinar-lhes paciência e precisão.
— Os nove capítulos sobre a arte matemática, para desenvolverem a lógica e a clareza de pensamento.
— Poesia e prosa, para entenderem a beleza das palavras e o poder da narrativa.

Aaron sabia bem o poder da narrativa. A corte inteira era construída sobre histórias bem contadas, e seus pais eram mestres nessa arte. Ele aprendera que uma mentira bem narrada podia valer mais que um exército bem treinado.

— Música clássica, para refinar vossas sensibilidades e aprenderem a harmonia.

Ethan finalmente reagiu – um breve levantar de sobrancelha, um sinal claro de desdém. Aaron não precisava perguntar para saber que seu irmão achava essa disciplina inútil.

— As cem escolas do pensamento, para explorarem a filosofia e a sabedoria de diferentes eras e povos.
— A vastidão do universo, para reconhecerem quão pequenos somos diante do cosmos, mas também para entenderem a grandiosidade do conhecimento.
— Os cálculos da corte solariana, uma disciplina complexa que governa os ciclos do Império e suas estratégias.

Agora isso era interessante. Aaron trocou um breve olhar com Ethan. Ambos sabiam o peso dessa disciplina. Não era apenas matemática – era o estudo da estrutura do poder, das engrenagens ocultas que faziam o Império funcionar.

— E, por fim, cultivação básica, a fundação que sustentará vossas habilidades no futuro. Cada uma dessas disciplinas é mais do que um simples campo de estudo. Elas são ferramentas que, quando dominadas, lhes permitirão compreender o mundo em todas as suas facetas – e, mais importante, moldá-lo.

O mestre do cultivo terminou sua explicação com um olhar satisfeito, como se estivesse avaliando o peso de suas próprias palavras.

— Quero deixar algo claro desde o início. — Claude olhou diretamente para os dois príncipes, sua voz tornando-se mais firme. — Não estou aqui para ser um professor comum. Não vou apenas transmitir conhecimento, mas desafiá-los a cada passo. Vocês errarão, e errarão muito. Mas é através dos erros que aprenderão a grandeza.

Claude manteve as mãos cruzadas atrás das costas enquanto caminhava pela sala, seu olhar penetrante alternando entre os dois príncipes, como se quisesse garantir que cada palavra fosse absorvida e compreendida. Seu tom era firme, calculado, carregado de uma autoridade natural que não precisava de esforço para se impor.

— No vasto e enigmático mundo do cultivo, existem seis níveis distintos que um praticante deve dominar para alcançar a verdadeira iluminação e poder. — Ele começou, sua voz ressoando como um trovão contido. — Cada nível não é apenas uma marca de progresso, mas uma transformação. Pensem nesses níveis como uma jornada que moldará corpo, mente e espírito, forjando-os como um ferreiro forja sua espada.

Ethan inclinou-se ligeiramente para frente, os olhos cintilando com uma curiosidade genuína. Aaron, por outro lado, permaneceu ereto, seu semblante neutro, mas observava atentamente. Ele conhecia homens como Claude—eruditos que viam o conhecimento como um instrumento de poder, estrategistas que pesavam cada frase antes de pronunciá-la.

— O primeiro nível, — continuou Claude, — é chamado Terrestre. Ele se divide em duas etapas fundamentais: Condensação de Energia Espiritual e Formação de Meridiano.

Ele fez uma pausa deliberada, voltando-se para os príncipes com um leve sorriso que não alcançou os olhos. Um professor habilidoso sabia que o silêncio, quando bem usado, podia despertar tanto respeito quanto as palavras certas.

— Na fase de Condensação de Energia Espiritual, o cultivador aprende a sentir e manipular a energia ao seu redor. Esse é o fundamento de tudo. Vocês aprenderão a puxar essa força invisível para dentro de si, a refiná-la e concentrá-la, moldando-a com paciência e precisão. Muitos falham nesse estágio porque tentam acelerar o processo, mas um cultivador que não domina sua própria energia é como um soldado tentando brandir uma arma que não sabe empunhar.

Ethan franziu a testa, absorvendo cada palavra.

— E os meridianos? — ele interrompeu, a curiosidade evidente. — Eles são como... canais dentro do corpo?

Claude assentiu, satisfeito com a pergunta.

— Exatamente. Na Formação de Meridiano, vocês abrirão esses canais, permitindo que a energia flua livremente por seus corpos, fortalecendo tanto a mente quanto a carne. Mas esse processo não é simples. Meridianos bloqueados podem causar desequilíbrios, tornar o fluxo instável ou até mesmo danificar permanentemente o corpo de um cultivador.

Aaron cruzou os braços, seus olhos analisando Claude com mais atenção.

— Então, o primeiro nível é apenas uma preparação?

Claude inclinou ligeiramente a cabeça, como se pesasse a pergunta antes de responder.

— Uma preparação essencial, Alteza. — Sua voz carregava a firmeza de alguém que não admitiria contestação. — Muitos subestimam o Terrestre por ser o começo, mas se os meridianos forem mal formados ou a energia espiritual for condensada de forma errada, todo o progresso futuro será instável. Construir um império sobre uma fundação fraca é uma sentença de ruína, e o mesmo vale para o caminho do cultivo.

Aaron fez um leve aceno, assimilando a explicação.

Claude retomou seu ritmo, sua presença preenchendo a sala como uma maré crescente.

— O segundo nível é conhecido como Terra Celestial e se divide em três estágios: Formação Básica, Intermediária e Avançada de Núcleo.

Ele deu um passo à frente, suas mãos se movendo sutilmente enquanto falava, como um escultor moldando uma visão invisível diante deles.

— O núcleo é o coração do cultivo. Ele começa a se formar no nível Terrestre, mas no Terra Celestial é onde ele realmente se fortalece. — Claude fez uma breve pausa antes de continuar. — Na Formação Básica, vocês consolidam esse núcleo, tornando-o estável e resistente. Ele se tornará um reservatório de energia, permitindo que o cultivador canalize seu poder sem desgaste excessivo.

Ethan inclinou a cabeça, absorvendo cada detalhe, e Aaron percebeu que, pela primeira vez, seu irmão estava genuinamente envolvido.

— Já na Formação Intermediária, esse núcleo é aprimorado, aumentando sua capacidade de armazenar e manipular energia. O controle se torna mais refinado, permitindo ataques mais precisos e defensas mais eficazes. E, finalmente, na Formação Avançada, o núcleo atinge um estado de quase perfeição. Ele se torna mais do que uma reserva de poder – transforma-se em uma fonte ininterrupta de energia espiritual, como um sol interno alimentando todas as habilidades do cultivador.

Ethan não conseguiu esconder o brilho de entusiasmo que passou por seus olhos.

— E isso nos torna mais fortes?

Claude soltou um leve sorriso – um que não denotava arrogância, mas uma paciência afiada, como se estivesse prestes a dar uma lição importante.

— Força é apenas uma consequência. — Ele respondeu, seu tom firme. — O que o Terra Celestial realmente lhes concede é equilíbrio e controle. Sem controle, a força é inútil.

Aaron, que até então permanecera em silêncio, inclinou-se levemente para frente.

— E qual é o próximo nível?

Claude virou-se para ele, sua expressão endurecendo levemente.

— O terceiro nível é chamado Céu Celestial. Ele também é dividido em três fases: Formação Básica, Intermediária e Avançada de Núcleo Dourado.

Aaron não reagiu imediatamente, mas processou a informação com atenção. Núcleo Dourado. Um nome que não soava como um simples título, mas como um limiar. Algo que separava os meros praticantes dos verdadeiros cultivadores.

Claude percebeu a mudança na postura de Aaron e continuou:

— O Céu Celestial marca o verdadeiro começo da ascensão de um cultivador. Se o Terra Celestial é onde vocês aprendem a refinar e equilibrar sua energia, o Céu Celestial é onde vocês transcendam a limitação mortal. — Ele então ergueu um dedo. — Na Formação Básica de Núcleo Dourado, a energia espiritual de um cultivador atinge um estado altamente condensado, aumentando exponencialmente sua resistência e longevidade.

Aaron ouviu atentamente. Esse era o tipo de conhecimento que fazia a diferença entre governar e ser governado.

— Na Formação Intermediária, a energia espiritual começa a irradiar para fora do corpo, alterando fisicamente o cultivador. Reflexos mais rápidos, força aprimorada, sentidos aguçados.

— E na Formação Avançada? — Ethan perguntou, ansioso pelo conhecimento.

— Na Formação Avançada do Núcleo Dourado, um cultivador começa a se afastar do que é humano. — Sua voz era grave, lenta, medida com precisão. — Até esse ponto, a energia espiritual é um recurso. Algo que vocês extraem do mundo, refinam dentro de si e utilizam para fortalecer seus corpos e mentes. Mas o Núcleo Dourado… ele não se contenta em armazenar energia. Ele se torna uma fonte própria.

Aaron não se moveu, mas por dentro, sentiu a espinha enrijecer. Claude falava como se o próprio poder fosse um ser vivo, algo que crescia dentro do cultivador como uma criatura faminta, esperando o momento certo para reivindicar seu hospedeiro.

— O que isso significa? — Ethan perguntou, a voz mais baixa do que antes.

Claude olhou diretamente para ele.

— Significa que, no nível avançado, um cultivador não precisa mais extrair energia. Ela flui dele, como um rio que nunca seca, como um fogo que nunca se apaga. Um mestre desse nível pode sustentar-se inteiramente de sua própria força, sem precisar repousar. A fome, a exaustão, o sono… tornam-se conceitos irrelevantes.

Ethan entreabriu os lábios, como se quisesse dizer algo, mas ficou em silêncio. Aaron, no entanto, percebeu a hesitação nas palavras de Claude, a forma como seu tom mudou sutilmente no final.

— Mestre, qual o preço para obter esse poder? — Aaron perguntou.

— O preço, Alteza, é o tempo.

Claude fez uma pausa, deixando o peso da palavra assentar sobre eles antes de continuar.

— O Núcleo Dourado consome tudo o que é humano no cultivador. Em troca, ele oferece algo que poucos ousam sonhar: longevidade. Um mestre no ápice desse nível pode viver quatrocentos, quinhentos anos… talvez mais, se sua força for verdadeiramente extraordinária.

— Kaylus — Ethan começou, sua voz baixa, mas firme. — Ele já atingiu o Núcleo Dourado?

Claude voltou-se para ele, seus olhos azuis brilhando com um misto de respeito e algo mais difícil de definir.

— Eu diria que é provável. — Ele falou pausadamente, como se pesasse cada palavra. — O príncipe Kaylus Albélia é um exemplo de grande disciplina e poder, e o Núcleo Dourado seria uma consequência natural para um cultivador como ele.

— E você, mestre? — Ethan perguntou, com um meio sorriso perspicaz. — Se não for indiscrição... em qual estágio do cultivo você está?

Aaron virou levemente a cabeça para observar a reação de Claude. Ele duvidava que alguém tão experiente fosse se gabar, mas também sabia que homens como ele não se esquivavam de uma pergunta dessas.

Claude permaneceu calmo, a postura imutável, mas havia uma gravidade sutil em sua expressão quando respondeu:

— Sou um Reverendo Imortal.

O ar pareceu se tornar mais espesso ao redor de Aaron. Um frio cortante percorreu sua espinha, um arrepio que nada tinha a ver com a temperatura da sala. Seus dedos se fecharam sobre o tecido de suas vestes antes que ele percebesse, e ele relaxou a mão lentamente, como se nada tivesse acontecido.

— Isso significa… — Ethan começou, a voz medindo cada sílaba. — Que você já ultrapassou o Núcleo Dourado?

Claude fez um leve aceno de cabeça.

— Exato. — Ele cruzou as mãos atrás das costas, sua postura impecável. — Já faz muitos séculos que deixei esse estágio para trás. Minha jornada no cultivo começou há mais de novecentos anos.

Aaron pressionou os dentes contra o lábio, sentindo o gosto metálico do sangue quando a pele rompeu. Novecentos anos. As palavras pairavam sobre a sala como um véu pesado, e ele se forçou a manter a expressão neutra. Não era a longevidade de Claude que o incomodava. Era o que isso significava.

"Se um Reverendo Imortal puder ver através de mim..."

O pensamento apertou em sua garganta como dedos invisíveis. Ele se obrigou a relaxar os ombros antes que a tensão o denunciasse, antes que seus músculos traíssem o medo que fervia sob a superfície. Claude era tão experiente quanto Grace. A imperatriz o observara com olhos de ferro e gelo, testara suas palavras, pesara seus gestos, mas ainda não fizera nada. Um jogo, talvez. Um erro.

Ou talvez ela já soubesse.

O ar pareceu mais denso ao seu redor, o peso de um passado que não era apenas lembrança, mas um crime esperando ser descoberto.

"E se Claude der asas às suas suspeitas?"

Aaron engoliu em seco. O gosto amargo do medo permaneceu em sua língua.

Ele não podia ceder, não ali, não agora. O menor deslize, o menor tremor, e a dúvida se transformaria em certeza. Eles o caçariam como um cão doente. Ele conhecia a história tão bem quanto qualquer um. Homens como ele não recebiam misericórdia.

Seus ombros estavam rígidos. Respirou fundo, lento, sentindo o ar preencher seus pulmões, dissipar a opressão em seu peito.

Aaron inclinou-se ligeiramente para frente, os dedos apertando os joelhos sem perceber. Seus pensamentos estavam descontrolados, correndo em direções perigosas. Ele precisava de foco.

— Se você é um Reverendo Imortal, então deve conhecer Xerxes. O Oficial Celestial.

Ao ouvir o nome, Claude deixou escapar um leve sorriso – um daqueles que não traziam humor, apenas lembranças distantes. Mas seus olhos permaneceram afiados, pesando Aaron.

— Xerxes… sim, eu o conheço. — Sua voz baixou ligeiramente, carregada com a lentidão de alguém que sabia o peso daquilo que dizia. — A última vez que o vi, ele era um príncipe no deserto de Úrsula, envolto em sedas e ouro. Depois, o encontrei em Inoaden, nos picos de gelo, vestindo o manto de um mestre cultivador. Era um homem diferente, ou talvez apenas um homem que soube trocar de pele tantas vezes que ninguém mais lembrava qual era a original. E agora… ele é um sacerdote…

Claude sorriu de novo, um leve erguer de lábios que nada entregava. Não havia alegria naquele sorriso, nem escárnio, apenas o traço sutil de um homem que sabia mais do que dizia e que talvez nunca dissesse tudo.

— Ou pelo menos, assim dizem. — Ele falou lentamente, como se pesasse cada palavra antes de soltá-la no ar. — Mas Xerxes sempre foi muitas coisas.

Os olhos de Claude se voltaram para Aaron, avaliando-o com um brilho calculado. Seus olhos azuis, tão profundos quanto um céu de inverno, pareciam desvendar segredos invisíveis, sondando cada pensamento que o jovem príncipe pudesse tentar esconder.

— E, como todo homem que sobrevive por tempo demais, é impossível dizer onde termina a lenda e começa a verdade.

Ethan franziu o cenho, seu olhar fixo em Claude, como se buscasse compreender algo além das palavras.

— Pela maneira que fala, vocês parecem ser próximos.

Claude assentiu lentamente.

— Sim, Alteza. Xerxes e eu somos discípulos de um mesmo mestre. Isso faz de nós, irmãos. — Ele respondeu.

Ethan ergueu as sobrancelhas, incrédulo.

— Como é possível que alguém como você, com mais de novecentos anos, tenha um mestre? — Ele perguntou, sua voz carregada de curiosidade, mas também de dúvida.

Claude riu baixinho, um som que ecoou suave, mas pesado, como o crepitar distante de uma fogueira prestes a se apagar.

— Porque ele não é um mestre comum. — Disse, e por um instante, seu olhar se perdeu, adquirindo um brilho distante, quase nostálgico. — Ezaleu viveu em uma era de ordem e harmonia no Império do Sol, um tempo em que as espécies e os reinos coexistiam em equilíbrio. Ele é um Oficial Celestial que serviu diretamente ao deus do Sol.

— O deus do Sol? — Ethan repetiu, devagar, como se testasse o sabor das palavras em sua boca.

Claude manteve sua postura ereta, quase imponente, como se as lembranças de Ezaleu exigissem tamanha reverência. Seus olhos – os olhos que sempre pareciam observar o mundo sob uma lente de cálculo – agora estavam carregados de algo mais: uma mistura de respeito e admiração.

— Sim. Ezaleu foi um dos poucos cultivadores em toda a história do Império a alcançar tamanha proximidade com o divino. Sua sabedoria e poder são incomparáveis. Ele é uma lenda viva, e sua influência ainda molda o mundo do cultivo até hoje.

Aaron, que permanecera calado até então, manteve seu olhar fixo em Claude, os pensamentos fervilhando em sua mente.

— Se ele é uma lenda viva, — Aaron começou, falando devagar, escolhendo suas palavras com precisão, — então é possível que o próprio Kallisto também seja real.

Claude inclinou levemente a cabeça, e um pequeno sorriso apareceu, tão fugaz quanto um raio de sol em um céu nublado. Havia algo de melancólico em sua expressão, uma mistura de mistério e peso.

— Algumas histórias não precisam de provas para serem reais, Alteza. — Ele respondeu com calma. — Mas a verdade é que há muitos mistérios no mundo do cultivo que permanecem além da nossa compreensão. Ezaleu tocou o divino, mas isso não significa que podemos entender os desígnios de Kallisto.

O silêncio que se seguiu foi breve, mas intenso. Claude então respirou fundo, deixando a gravidade do momento se dissipar, enquanto sua postura relaxava.

— Mas essa, príncipes, é uma história para outro dia. — Ele continuou, seu tom voltando a ser didático e firme. — Vamos retomar nossa explicação sobre os níveis do cultivo.

Os príncipes endireitaram-se em seus assentos, a atenção completamente voltada para o mestre.

Claude entrelaçou as mãos à frente do corpo por um instante antes de começar, sua voz firme e cadenciada.

— O quarto nível da cultivação é conhecido como Reverendo Imortal. — Ele fez uma pausa, permitindo que as palavras ecoassem na mente dos irmãos. — Esse nível é dividido em três fases distintas, cada uma representando uma transformação essencial na jornada de um cultivador.

Ele começou a caminhar lentamente pela sala, como se os movimentos ajudassem a ordenar seus pensamentos.

— A primeira fase é a Formação Básica da Alma Nascente. Neste estágio, o cultivador deve estabilizar a energia vital dentro de si, equilibrando as forças internas e externas que regem seu corpo e sua alma. É nesse processo que ocorrem as primeiras mudanças físicas significativas. Ossos comuns começam a se transformar em ossos divinos, tornando-se condutores de poder imensurável.

Ethan inclinou-se ligeiramente para frente, os olhos faiscando de curiosidade, mas não interrompeu.

— A segunda fase é a Formação Intermediária da Alma Nascente. — O tom de Claude tornou-se mais intenso. — Aqui, o cultivador ultrapassa os limites da percepção comum. Sua consciência se expande, conectando-se ao fluxo da energia universal. Esse vínculo com o cosmos permite manipular forças em uma escala que a maioria consideraria impossível.

Claude parou de andar e virou-se para encará-los. Seu olhar afiado analisou os irmãos antes de continuar.

— E então chegamos à terceira e última fase: a Formação Avançada da Alma Nascente. Este é o ápice do nível de Reverendo Imortal. O cultivador atinge um estado de sintonia quase perfeita com a essência espiritual do universo. A longevidade se estende por mil anos ou mais, e sua presença se torna uma força que pode moldar a realidade ao seu redor.

O peso de suas palavras encheu a sala. Ethan abriu a boca, hesitou e fechou-a novamente, como se escolhesse com cautela o momento certo para falar. Claude percebeu, mas não pressionou. Em vez disso, cruzou as mãos atrás das costas e voltou-se para a grande janela, onde a luz do dia se derramava em tons suaves.

— O quinto nível da cultivação é chamado Oficial Celestial. — Sua voz carregava uma reverência sutil. — Aqueles que alcançam esse estágio são vistos como entidades quase divinas. Seu domínio sobre as artes da cultivação é absoluto. São capazes de manipular não apenas energia, mas também o próprio destino de reinos inteiros. É dito que os Oficiais Celestiais atuam como guardiões do equilíbrio entre os mundos mortal e celestial.

Um vento suave fez as cortinas estremecerem levemente.

— E, por fim, há o sexto nível. O auge da cultivação. — Claude virou-se novamente para os gêmeos, e seu olhar parecia atravessá-los. — Imperador Imortal.

O silêncio na sala tornou-se absoluto.

— Essa é a ambição suprema dos cultivadores. O ápice da iluminação e da imortalidade verdadeira. Um Imperador Imortal não é apenas um ser poderoso — ele se torna um símbolo de poder que está acima de todas as coisas. Seu domínio sobre a energia transcende as leis da criação, e sua vontade pode moldar realidades inteiras. São lendas vivas, figuras que existem além do tempo, cujas histórias são contadas e recontadas por incontáveis gerações.

Ele finalizou, deixando o peso do que dissera pairar no ar.





Aos leitores que caminham comigo nesta jornada,  

O capítulo 20 marca um momento de reflexão e impacto. Ethan, ao olhar para Aaron, vê mais do que um irmão – vê um reflexo da própria imperatriz. A frieza calculada, o controle inabalável, a maneira meticulosa com que ele se move pelo jogo do poder... Era como olhar para sua mãe através de outra face. E, ao ouvir essas palavras, Aaron caiu em si. Percebeu que, sem notar, trilhava os mesmos passos dela, moldando-se a uma figura que sempre observou à distância, mas nunca se imaginou espelhando.  

Essa revelação não é apenas um confronto entre irmãos, mas uma virada silenciosa na mente de Aaron, um despertar para algo que pode definir seu futuro. 

E então há o mestre Claude, aquele que, com palavras firmes e olhos carregados de conhecimento, trouxe uma verdade que mudará tudo. Suas explicações sobre os níveis da cultivação não são apenas um ensinamento – são a chave que abre as portas do sobrenatural na jornada dos gêmeos. Até aqui, a história caminhou nas sombras da política, da intriga e dos jogos de poder. Mas agora, o extraordinário começa a se erguer. O cultivo não é apenas força; é transcendência, transformação. O mundo diante deles se expandiu, e o caminho que antes parecia definido agora se desenha como um vasto território inexplorado, repleto de mistérios e desafios além da compreensão humana. 

Este capítulo não é apenas um avanço na história. Ele é um marco. O ponto onde realidade e fantasia começam a se entrelaçar, onde os gêmeos deixam de ser apenas príncipes e passam a ser peças de algo muito maior. 

A partir daqui, tudo muda. 

Com expectativa pelo que está por vir,
S.Y Ravena

GLOSSÁRIO:

¹Anel de teletransporte: Um anel mágico que permite ao usuário se teletransportar para locais predefinidos, facilitando o deslocamento instantâneo.

²Saquinho interdimensional: Um pequeno saco mágico capaz de armazenar uma quantidade surpreendente de itens, utilizando um espaço dimensional alternativo.

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