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Capítulo 16 - A Fonte dos Segredos pt.2

A verdade emergiu de maneira crua: o poder que todos temiam não vinha de fora, mas de dentro”









O sacerdote permaneceu imóvel, sua figura quase fundida ao ambiente solene do santuário. O silêncio parecia tão espesso quanto o ar, e os olhos de Xerxes, fixos em Aaron, eram como ganchos puxando cada palavra não dita para a superfície. Finalmente, ele quebrou a quietude, sua voz tão tranquila quanto perigosa.  

— Interessante, — murmurou Xerxes, mais para si mesmo do que para os outros.

Aaron arqueou uma sobrancelha, mas sua descrença era evidente em cada linha de sua expressão.  

— Interessante? — ele repetiu, sua voz carregada de algo cortante, quase desafiador.  

Xerxes assentiu devagar, como se saboreasse as palavras antes de liberá-las.  

— Enquanto tantos outros desejam desesperadamente o poder do Sol, você o despreza, — disse ele, como quem enuncia uma verdade óbvia, mas ainda assim fascinante. — É raro. Quase todos os príncipes e princesas que passam por este teste chegam aqui ansiosos para provar seu valor. Mas você... você se esquiva, como se o peso do Sol fosse uma maldição, não uma glória.  

— Isso não significa nada, — disse Ethan, apressado, sua voz baixa, quase um pedido de desculpas. — Aaron só...  

Xerxes levantou uma mão, o gesto calmo e autoritário como o de um rei dispensando objeções.  

— Não precisa se explicar, jovem príncipe, — disse ele, sua voz tão suave quanto aço frio. — Mas devo admitir... agora estou ainda mais curioso quanto à afinidade elemental de alguém com pensamentos tão graves em relação ao império.  

Aaron cruzou os braços, seu olhar perfurando Xerxes.  

— Sua curiosidade pode ser perigosa, sacerdote — respondeu ele, o tom baixo e pesado.  

Xerxes inclinou levemente a cabeça, um sorriso quase imperceptível curvando seus lábios.  

— Talvez, — admitiu ele, seus olhos brilhando com algo insondável. — Mas também é a chave para a verdade, não acha?  

Ethan respirou fundo, tentando acalmar o tremor que tomava seus ombros. O santuário, antes frio, agora parecia sufocante, como se a tensão entre os três estivesse enchendo o ar. Ele olhou para Aaron, depois para Xerxes, buscando alguma âncora, algo que o impedisse de se afogar naquele momento.  

— Se o senhor prometeu que nada do que acontecesse aqui sairia daqui… então… eu confio em sua palavra, — disse Ethan finalmente, sua voz hesitante, mas decidida. Ele lançou um olhar breve para Aaron. — Faremos o teste.  

Aaron virou-se lentamente para Ethan, seus olhos arregalados em incredulidade.  

— Faremos? — ele repetiu, o tom de escárnio gotejando de cada sílaba. — Eu não concordei com isso!  

— Sim. O sacerdote prometeu. Ele é um homem de fé, — disse Ethan, sua cheia de convicção. — Além de ser um Oficial Celestial. Ele não mentiria.  

Aaron soltou uma risada curta e cortante, que ecoou pelo santuário como o som de uma lâmina contra pedra. Ele deu um passo à frente, voltando-se completamente para o irmão. Quando finalmente falou, sua voz veio carregada de amargura.

— Homem de fé? Fé em quê, Ethan? — perguntou ele, apontando para Xerxes com um gesto abrupto. — Em um deus que vira o rosto enquanto seu império apodrece? Em sacerdotes que se dizem servos da luz, mas que ignoram o clamor de quem sofre?

Ethan ergueu o rosto ao ouvir as palavras do irmão, inicialmente surpreso pela intensidade da sua resistência. Contudo, à medida que Aaron continuava, o choque em seus olhos foi dando lugar a uma expressão diferente. Ele franziu a testa, e uma ruga teimosa surgiu entre suas sobrancelhas. Seus lábios, que antes pareciam prestes a soltar uma objeção, agora estavam firmemente pressionados.

Havia determinação em sua postura, mas também algo que Aaron frequentemente percebia no irmão: um lampejo de resistência. Ethan sustentou o olhar de Aaron, mesmo quando a fúria controlada do gêmeo parecia atingir o ápice, como uma onda quebrando contra a muralha de seu próprio silêncio.

— Eles não nos ouvem, Ethan. Nunca ouviram. Quando suas preces não são atendidas, sabe o que dizem? Que é culpa sua. Que você não teve fé suficiente. E quando você está de joelhos, quebrado, eles estendem a mão. Não para levantá-lo, mas para cobrar. Moedas por suas bênçãos vazias. Isso é fé para você?    

Quando Aaron terminou, suas palavras permaneceram no ar, como chicotes invisíveis que ainda ressoavam no espaço pesado de tensão. Ethan respirou fundo, o som nítido em meio ao silêncio opressivo.

— Isso não é justo, Aaron, — ele disse finalmente, sua voz baixa, mas clara. — Não é justo tratar todos como se fossem iguais àqueles que você pode ter conhecido ou visto em sua visão.

Sua mão tremia levemente ao lado do corpo, mas Ethan prosseguiu, mantendo o olhar fixo no de Aaron, firme e teimoso.

— Você pode pensar o que quiser sobre fé. Pode desprezar tudo isso — e apontou brevemente para o sacerdote e o santuário —, mas eu não. Quero acreditar que ainda existe algo ou alguém digno de confiança.

Houve uma pausa, uma pequena hesitação enquanto Ethan desviava os olhos, apenas para retorná-los logo depois, com renovada firmeza.

— E mesmo que você esteja certo… — ele continuou, agora mais baixo, mas com uma intensidade que rivalizava com a de Aaron. — Não vou deixar seu ceticismo decidir por mim.

Aaron apertou os olhos, fixando o irmão como se pudesse perfurá-lo com o olhar. Ele viu a determinação queimando em Ethan, uma chama teimosa que brilhava mesmo nas tempestades mais violentas. Era essa obstinação, pensou ele, que um dia o levaria à ruína. Finalmente, Aaron soltou o ar pelo nariz, um som breve e cortante, que reverberou pelo santuário com a mesma aspereza de sua expressão.

Sem uma palavra, ele se virou, o movimento brusco revelando mais cansaço do que raiva, e caminhou até o outro lado da fonte, afastando-se do gêmeo. A água imóvel refletia o teto alto como um espelho, distorcendo os detalhes das abóbadas douradas em um borrão cintilante. Ali, ele ficou, quieto, enquanto o peso de suas palavras não ditas pairava sobre o ambiente, denso como a fumaça de um incêndio.

Ethan permaneceu onde estava, com o olhar fixo em Aaron. Ele podia sentir o desapontamento do irmão. Ainda assim, não desviou os olhos, não se deixou curvar. Quando finalmente se virou, encontrou o olhar de Xerxes.

— Estou pronto, — disse Ethan, com a voz surpreendentemente firme.

Xerxes não respondeu de imediato. Seus olhos escuros, tão profundos e insondáveis quanto a água da fonte, varreram o jovem príncipe, avaliando-o. Ethan se obrigou a sustentar o olhar, embora suas mãos tremessem ao lado do corpo. O sacerdote pareceu notar.

— É mesmo? — perguntou Xerxes, finalmente.

Aaron se virou ligeiramente ao som da voz, sem encarar ninguém diretamente.

— Só um tolo confia em um sacerdote, — disse ele, cada palavra carregada de uma amargura que pingava como veneno. — Ou em um deus que prefere o silêncio ao lamento dos homens.

Ethan ignorou o comentário, embora seu maxilar tivesse se apertado por um instante. Ele deu um passo à frente, a postura rígida.

— Estou pronto, — repetiu ele, com mais força desta vez. — O que eu preciso fazer?

Xerxes inclinou a cabeça, e então, algo que poderia ser chamado de um sorriso curvou seus lábios – mas era um sorriso tão vazio quanto um poço seco. Sem dizer mais nada, ele deu um passo à frente e retirou um objeto que parecia ter estado escondido em meio às dobras de sua túnica branca.

Era uma adaga pequena, mas de uma beleza cruel. A lâmina, afiada como o inverno, brilhava com um tom prateado que parecia absorver a luz ao invés de refletir. O cabo era adornado com filigranas douradas, traçadas em formas que lembravam raios ou raízes profundas, entrelaçadas como se contassem uma história que ninguém ousava decifrar. Enquanto a segurava, parecia que o ar ao seu redor pulsava, carregado de uma energia silenciosa e implacável.

— É simples, — disse Xerxes, finalmente. Havia algo em sua voz que fez Ethan sentir um arrepio correr por sua espinha. — Derrame seu sangue na fonte. Ela revelará o que está escondido.

Antes de se aproximar da fonte, Ethan lançou um olhar para Aaron. Não havia palavras em seus olhos, mas o significado era claro: uma súplica silenciosa para que o irmão ficasse onde estava, que não interferisse. Aaron cruzou os braços e sustentou o olhar, mas permaneceu em silêncio. Sua expressão, dura como pedra, não oferecia apoio nem condenação.

— Tudo bem, — murmurou Ethan, quase inaudível, como se falasse apenas para si mesmo.

Determinando-se a seguir em frente, ele levantou a adaga. Com um movimento rápido, cortou a palma da mão. A dor foi uma onda súbita, aguda e breve, mas suficiente para fazê-lo prender a respiração. Ele sentiu o sangue quente escorrer, e quando olhou para a ferida aberta, viu gotas escarlates brilhando como rubis.

Com a mão trêmula, Ethan estendeu o braço sobre a fonte. A primeira gota de sangue caiu na superfície com um som abafado, quase inaudível, mas o impacto foi como uma explosão silenciosa. A água ondulou, as sombras se contorceram e, em seguida, tudo parou. A folha flutuante começou a afundar, lentamente, como se sugada por uma força invisível.

Por um instante, o mundo pareceu congelar. Então, a fonte começou a brilhar. Primeiro, era um brilho suave, como o de uma vela distante. Mas logo cresceu, tornando-se uma luz fluorescente que irradiava como uma estrela prestes a se apagar. O ar ao redor ficou mais denso, pesado.

Ethan deu um passo para trás, os olhos arregalados. Ele olhou para Xerxes em busca de respostas, mas o sacerdote estava fixo na fonte. Sua expressão, que até então era impassível, endureceu, e uma linha profunda se formou em sua testa. Não era surpresa que marcava seu rosto – era preocupação.

— Sacerdote, o que significa isso? — perguntou Ethan, sua voz quebrada por um tremor. Ele queria soar firme, mas o medo estava ali, enterrado em cada palavra.

— Sua aptidão é extraordinária, jovem príncipe, — disse finalmente, sua voz baixa, quase um sussurro, mas carregada de peso. — Mas o que vejo aqui... vai além do que era esperado.

Ethan franziu a testa, os olhos saltando entre o sacerdote e a fonte.

— Algo errado? — ele perguntou, tentando soar calmo, mas sua voz falhou ligeiramente.  

Xerxes hesitou, e quando falou, sua voz parecia ter perdido parte da firmeza habitual.

— Você possui afinidade com os quatro elementos: fogo, água, terra e ar, — explicou ele. — Isso, por si só, já é raro. Mas há algo mais.  

— Algo mais? — repetiu Ethan, quase sem perceber.    

— Esses elementos estão se unificando. Fundindo-se em algo novo. Um elemento que transcende os outros. — Xerxes parou, e por um momento parecia estar escolhendo as palavras com extremo cuidado. — Sombras.

Aaron sentiu o frio envolver sua pele como uma segunda camada, um lembrete desconfortável de que ele estava ali, preso naquele momento. Ele percebeu que havia prendido a respiração, mas, mesmo ao soltá-la, o peso em seu peito não diminuiu.

Sombras.

A palavra soou em sua mente como o toque de um sino distante, reverberando em seus pensamentos. Ele olhou para Ethan de relance, tentando entender como alguém como ele poderia carregar algo tão... errado. Sombras não pertenciam ao Império do Sol. Elas eram um eco de algo estranho, estrangeiro – um lembrete das histórias que sua mãe, a imperatriz, preferia não contar.

Aaron desviou o olhar para a fonte, agora quieta como um espelho traiçoeiro, escondendo as profundezas que havia revelado momentos antes. Ele não gostava do que ouvia, mas pior do que isso era o que sentia. Medo. Não por si mesmo, mas por Ethan. Seu irmão, sempre o mais hesitante, sempre o mais ansioso para agradar, agora carregava algo que nenhum deles podia entender completamente – e talvez nunca entenderiam.

— Não pode ser, — Ethan murmurou, a voz baixa e trêmula. Seus lábios tremiam levemente, e ele apertou a adaga contra o corpo, como se isso pudesse afastar o peso das revelações. — Deve haver algum engano… Podemos tentar de novo, certo? Talvez o teste tenha falhado. Havia… luz durante o teste, não havia? Isso não faz sentido.

Xerxes manteve sua postura firme, mas seu olhar era ponderado, quase melancólico. Ele balançou a cabeça devagar, como se lamentasse o que precisava dizer.

— A luz que você viu era a sua essência se manifestando enquanto os elementos lutavam pelo equilíbrio, — explicou ele, sua voz calma, mas carregada de um peso quase paternal. — Mas o resultado não deixa espaço para dúvidas. Este elemento não é um erro, jovem príncipe. Ele é parte de você.

Aaron notou o tremor nas mãos de Ethan e o modo como ele parecia encolher diante da realidade. Por um momento, hesitou. Mas a vulnerabilidade do irmão, tão exposta, o forçou a agir.

Com um suspiro baixo e algo próximo da relutância, ele se aproximou, estendeu a mão e segurou a de Ethan. Assim que seus dedos envolveram os de seu irmão, a dor familiar o atingiu. Era como se brasas tivessem sido colocadas sob sua pele, um calor sufocante que se espalhou pela palma de sua mão, queimando lentamente.

A dor era intensa, mas Aaron manteve o contato. Soltar significaria algo pior que o desconforto físico – seria como abandonar Ethan àquele peso insuportável que agora compartilhavam.

Ethan ergueu os olhos para ele, suas íris negras como tinta líquida, refletiram uma tristeza que Aaron não estava preparado para enfrentar. Aaron desviou o olhar, sentindo algo como um nó apertar sua garganta. Ele não gostava de ver Ethan assim – vulnerável, quebrado por algo que ele mal podia compreender.

— Aaron… — Ethan começou, mas sua voz falhou, e ele voltou a encarar a fonte, o silêncio entre eles era carregado de uma dor não dita.

A dor queimava mais intensamente agora, como se o próprio poder de Aaron estivesse lutando contra aquele ato de conforto. Mas ele não recuou, mesmo quando sentiu seu próprio coração acelerar em resposta.

Finalmente, Aaron soltou a mão de Ethan, devagar, como quem solta algo que poderia quebrar a qualquer momento. O alívio da dor veio imediatamente, como uma onda fria apagando o incêndio, mas não antes de deixar sua marca: um formigamento persistente que parecia ecoar pelo braço.

Ele soltou um suspiro baixo, quase imperceptível, mas o som foi carregado de exaustão. Aaron evitou olhar para a própria mão, temendo que o gesto fosse percebido, e ergueu o rosto para Xerxes. Sua expressão estava fria agora, quase indiferente, enquanto se forçava a recolher qualquer emoção que pudesse ter escapado.

Xerxes, que observava a interação com atenção, deu um passo à frente.

— E você, príncipe Aaron, — disse ele, a voz agora mais direcionada, mas sem perder o tom respeitoso. — Tem certeza de que não deseja fazer o teste? Sua afinidade também pode revelar verdades importantes.

— Não é necessário, — respondeu ele, sua voz cortante, como gelo. — Mas ficaria agradecido se pudesse explicar mais sobre o elemento de sombra.

Xerxes o estudou por um momento, os olhos avaliativos, antes de assentir.

— Muito bem, me acompanhem — respondeu ele, e virou-se em direção à saída do santuário. — O poder das sombras é um poder incomum para alguém do Império do Sol, mas não é necessariamente errado. É apenas… incompreendido.

Assim que saíram, as grandes portas brancas do santuário fecharam-se atrás deles com um som grave, selando a tensão que ainda pairava no ar. O corredor em que entraram parecia diferente agora – mais escuro, mais frio, como se a energia do santuário não pudesse alcançar aquele lugar.  

Ethan mordeu o lábio, como se buscasse coragem para falar, e finalmente murmurou, a voz ainda carregada de incerteza:

— Por que ele é incompreendido?

Xerxes parou no meio do corredor, e suas roupas brancas e longas ondularam suavemente com o movimento, conferindo-lhe uma presença quase etérea. Ele virou-se lentamente, seus passos ecoaram no silêncio pesado, e seu olhar pousou primeiro em Ethan, como quem avalia algo frágil, e depois em Aaron, com a intensidade de quem enxerga através de máscaras e defesas. 

Quando finalmente falou, sua voz soou baixa, mas carregada de autoridade, combinando firmeza e um tom gentil que desarmava.

— Antes de responder, jovem príncipe, permita-me fazer uma pergunta, — disse Xerxes, com a tranquilidade de quem pesa cada palavra. — Por que você ficou tão aflito ao descobrir sua afinidade?

Ethan piscou, surpreso com a inversão da conversa. Ele hesitou, seus olhos buscaram algo nos rostos de Aaron e Xerxes, como se procurasse uma rota de fuga. Finalmente, suspirou e abaixou a cabeça.

— Porque… eu já vi algo assim antes, — começou ele, sua voz tão baixa que quase desaparecia no ar. — Tínhamos pouco mais de quatro anos. Nossa babá havia nos levado à sala do trono, estava ocorrendo o baile de primavera.

Xerxes permaneceu em silêncio, ouvindo atentamente. Aaron franziu a testa, mas não interrompeu.

— Aaron e eu estávamos brincando debaixo da mesa. Foi quando aconteceu, rebeldes invadiram o salão através das janelas — continuou Ethan, a voz trêmula. — Eles usavam algo… algo sombrio para lutar. Era como um mal agouro. A sensação era sufocante. Havia gritos, choro… sangue. Pensei que seria nosso fim.

Ele parou, a lembrança claramente o afetando. Ethan ergueu os olhos para Xerxes, suas íris negras estavam cheias de confusão e medo.

— E agora você está dizendo que eu carrego isso?

Xerxes suspirou, seu olhar suavizouvenquanto ele dava um passo à frente.

— Não, príncipe, — disse Xerxes, com um tom quase paternal. — O que você descreveu não é o poder da Lua.

Ethan franziu o cenho, a dúvida evidente em seu rosto.

— Mas… parecia tão… sombrio.

— E era, — interrompeu Xerxes, balançando a cabeça lentamente. — Mas não por ser um poder lunar. O que você enfrentou provavelmente veio de cultivadores corrompidos.

— Cultivadores corrompidos? — Ethan repetiu, confuso.

Xerxes assentiu, sua expressão carregada de pena.

— Quando a energia espiritual de um cultivador é tomada pela ambição ou pelo ódio, ela se distorce. O poder que antes era puro torna-se uma força destrutiva, uma sombra de sua verdadeira natureza. Não tem nada a ver com o poder da Lua. — disse Xerxes, sua voz baixa, quase melancólica.

O sacerdote virou-se novamente, retomando a caminhada pelo corredor, como se cada passo carregasse a gravidade de suas palavras.

— Como eu disse, esse poder é incompreendido no Império do Sol, — continuou ele. — Isso se deve não apenas ao passado, mas também ao que ele representa: o desconhecido. E o desconhecido, jovem príncipe, sempre foi o maior medo dos homens.

Aaron permaneceu em silêncio, mas o jeito como encarava as costas do sacerdote indicava que estava ouvindo com atenção. Ethan, no entanto, parecia mais ansioso.

— Muitos anos atrás, o Reino do Fogo, governado por suas próprias paixões e interesses, aliou-se ao Império da Lua, um território cujo poder é entrelaçado com o das sombras. Juntos, eles organizaram ataques coordenados contra o Império do Sol. Foi uma guerra longa e sangrenta, que devastou os Reinos Inferiores.

Os passos de Ethan vacilaram por um instante.

— Houve… uma guerra? — ele perguntou, como se nunca tivesse ouvido falar daquela história.

— Houve, — respondeu Xerxes, lançando um olhar breve por cima do ombro. — Uma guerra que terminou com uma trégua tão frágil quanto uma folha prestes a cair. Durante o conflito, o herdeiro do poder do Sol Piedoso, o príncipe John Galish de Albélia, perdeu sua vida. Ele era conhecido por seu poder de cura e purificação. Sua morte foi um golpe terrível para o império.

Ethan baixou os olhos, absorvendo o peso da história.

— E como a trégua foi feita?

Xerxes fez uma pausa antes de continuar, sua voz mais sombria.

— Foi uma trégua conquistada com sangue. Na noite em que as tropas lunares invadiram os Reinos Inferiores, o atual príncipe herdeiro, Darius, retaliou de maneira implacável. Ele arrastou membros importantes da realeza efervescente até o centro de um de seus próprios acampamentos e... arrancou-lhes as cabeças. — A voz de Xerxes tornou-se fria, distante, como se ele próprio estivesse revisitando aquelas memórias. — A carnificina foi suficiente para fazer as tropas inimigas recuarem, mas não antes de fazerem exigências: a libertação de reféns e a devolução de alguns territórios.

Aaron franziu o cenho, mas permaneceu em silêncio. Ethan, no entanto, parecia ainda mais inquieto.

— E depois disso? — perguntou Ethan, tentando esconder a apreensão em sua voz.

— Alguns batalhões lunares ficaram para trás, talvez por descuido ou por decisão estratégica, — respondeu Xerxes. — Mas o povo do Sol, camponeses, agricultores, ferreiros – todos os que sofreram sob os ataques –, retaliaram. Eles os caçaram sem piedade, movidos pelo ódio.

O silêncio caiu sobre os três, interrompido apenas pelo eco dos passos no chão de mármore.

— Você acha… — Aaron começou, hesitando. — Que ainda há lunares aqui?

Xerxes olhou por cima do ombro, sua expressão mais séria do que antes.

— É possível, — disse ele. — Mas, se houver, eles estão escondidos. Os lunares não podem passar despercebidos por muito tempo. Seus olhos, geralmente prateados ou azulados, brilham como o luar. Suas feições são marcantes, quase sobrenaturais. E seu sangue, — ele pausou, como se buscasse reforçar a gravidade de suas palavras, — é prateado como mercúrio.

Ethan desviou o olhar, como se as palavras fossem pesadas demais para suportar. Ele olhou brevemente para Aaron, mas sua expressão era impenetrável, como uma muralha que recusava ser derrubada.

— É por isso que o poder lunar é tão temido aqui, — disse Xerxes, finalmente. — Ele não apenas traz o eco do passado, mas também a promessa de algo que o Império do Sol não está preparado para aceitar.

Enquanto caminhavam, o silêncio pesado que havia pairado entre eles começou a se dissipar. Sons de passos e vozes distantes chegaram aos seus ouvidos, quebrando o isolamento gélido do corredor. Cultivadores passavam ocasionalmente por eles, reverenciando Xerxes com acenos discretos antes de seguirem apressados, os mantos ondulavam levemente ao serem atingidos pelas rajadas de vento frio que invadiam os corredores.

Quando o grupo emergiu do corredor, encontraram-se em um jardim interno. A visão era surpreendente, quase irreal, dada a estação. Embora o inverno reinasse do lado de fora, cobrindo o mundo com sua geada cortante, ali o cenário era um contraste vibrante: um espaço de serenidade emoldurado por colunas de mármore cobertas por finos cristais de gelo que brilhavam como joias sob a luz. Árvores de folhas mágicas e flores encantadas desafiavam o frio, suas cores ricas e saturadas pareciam aquecer o ar em volta.

Ethan diminuiu o passo, seus olhos demorando-se nas águas límpidas que refletiam a luz dourada do sol filtrada pelas janelas altas. Uma camada de geada acumulava-se nas bordas das pedras ao redor dos riachos, como uma moldura delicada para a paisagem mágica. Por um momento, a tensão em seu rosto suavizou, e Aaron percebeu isso, embora não dissesse nada.

Ele próprio não se permitiu relaxar; cada detalhe do ambiente parecia uma distração perigosa, algo feito para enganar os sentidos. Ele notou como o frio persistia ali, ainda que domado, como um lembrete silencioso de que o inverno não podia ser completamente afastado.

Xerxes guiou-os pela passarela de pedra, seus passos ecoavam suavemente no ambiente calmo, enquanto o ar frio acariciava suas faces. Do outro lado, uma grande porta de madeira ornamentada com entalhes delicados foi aberta por dois acólitos. A madeira parecia ter absorvido o inverno – toques de geada adornavam seus detalhes, capturando a luz dourada como uma tapeçaria de gelo vivo.

Eles entraram em um salão grandioso. O espaço era vasto, com um longo corredor que se estendia até um altar elevado no topo de uma série de degraus. Bancos cristalinos perfeitamente alinhados ladeavam o caminho, suas superfícies cintilavam como gelo lapidado sob a luz suave que preenchia o lugar. O frio parecia mais pronunciado ali, intensificado pelo brilho etéreo dos bancos, como se a própria arquitetura fosse uma homenagem ao inverno.

O teto alto era decorado com mosaicos que representavam cenas antigas, cada uma narrando histórias heróicas que pareciam vivas, quase pulsantes. Os mosaicos cintilavam, cobertos por uma camada de gelo fina e translúcida, que parecia amplificar as cores vibrantes das cenas.

Xerxes parou no centro do salão, virando-se para os gêmeos. Seus pés fizeram um som baixo e quase reverente no piso de mármore, coberto aqui e ali por finos rastros de neve levada pelo vento que escapara das portas abertas.

Quando começou a falar, sua voz tinha o tom de uma oratória, algo que parecia carregado de história e reverência.  

— No início, havia o deus do Sol, Kallisto, aquele que moldou estas terras com seu poder, — começou ele, suas palavras ecoando pelo espaço vazio. — Mas Kallisto não é o único deus. Além dele, há três outros, cada um reverenciado em partes diferentes do mundo.  

Xerxes levantou a mão, como se apontasse para algo invisível.  

— A primeira é Diana, a fada. Ela é adorada no País da Água, muito além das fronteiras do Império do Sol. Seu poder flui nos rios e mares, alimentando a vida e trazendo equilíbrio.  

Aaron o encarou, intrigado, mas não disse nada enquanto Xerxes continuava.  

— O segundo é Ignis, a fênix. Ele é reverenciado no País do Fogo, onde sua força e fúria moldam as terras vulcânicas e protegem os que vivem sob seu domínio.  

Xerxes fez uma pausa, permitindo que as palavras fossem absorvidas antes de prosseguir.  

— E, por último, há Rowan Eckart. Ele é aquele que governa sobre os dragões e criaturas mágicas. Rowan é o deus da Lua, e seu poder… — Xerxes parou, seus olhos fixando-se em Ethan, como se quisesse enfatizar a importância do que estava prestes a dizer. — …é o que aqui chamamos de sombras.  

Ethan sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele se sentou em um dos primeiros bancos, ao lado de Aaron.

— Rowan? Ele é… o protetor do Império da Lua? — perguntou, sua voz vacilante.  

Xerxes assentiu lentamente.  

— Sim. No Império da Lua, seu poder é uma fonte de reverência e orgulho. Mas aqui, no Império do Sol, ele é visto como uma ameaça. Sombras e luz estão em constante conflito, e, para muitos, a existência de uma coisa ameaça a outra.  

Ethan apertou os joelhos, claramente perturbado. Seus olhos correram para Aaron, que o encarou de volta. Nos olhos do irmão, Aaron viu medo e preocupação, mas havia algo mais, algo que ele não soube definir.

— Então… o que isso significa para Ethan? O que ele pode fazer com isso? — Aaron perguntou.

Xerxes inclinou-se levemente. Seus olhos pousaram sobre Aaron primeiro, com uma intensidade quase desconfortável, antes de deslizarem para Ethan, que ainda parecia processar o peso das palavras anteriores.

— Significa que seu irmão carrega um poder que pode tanto mudar seu destino quanto determinar o de outros, — respondeu ele, sua voz ecoando pelo salão com um tom grave. — Mas o que ele fará com isso… ainda está para ser visto.

Aaron estreitou os olhos, a desconfiança claramente refletida em sua expressão. Ele parecia inclinado a continuar pressionando o sacerdote, mas hesitou. Quando finalmente falou, havia uma leve hesitação em sua voz, um toque de curiosidade relutante.

— Esse Rowan Eckart… — começou Aaron, os olhos fixos em Xerxes. — Ele já foi visto alguma vez? Ou é apenas uma dessas histórias inventadas para controlar o povo? Como fazem aqui no Império do Sol?

O salão pareceu reter a pergunta, como se até mesmo as paredes precisassem processar a ousadia da dúvida de Aaron. Xerxes ergueu as sobrancelhas, surpreso com a franqueza do príncipe, mas logo um sorriso surgiu em seus lábios – não de deboche, mas de quem aceita o desafio com prazer.

— Cético como sempre, príncipe Aaron, — disse ele, sua voz assumindo um tom quase indulgente. — Mas sua dúvida não me ofende. Um deus não é um mito para aqueles que entendem o que significa transcender.

Aaron arqueou uma sobrancelha, esperando uma explicação.

— Rowan Eckart não é apenas um nome ou uma ideia, — continuou Xerxes, agora com um tom mais sério. — Ele é alguém que alcançou o estágio final da cultivação, o "Imperador Imortal". Ele transcendeu os limites do que podemos compreender.

Ethan, que havia permanecido em silêncio, levantou o rosto.

— Então ele existe? Ele já esteve… aqui? — perguntou, sua voz oscilando entre dúvida e fascinação.

Xerxes assentiu lentamente.

— Sim. Houve uma única aparição de Rowan Eckart no Império do Sol, há cerca de oito mil anos.

Os olhos de Ethan se arregalaram, enquanto Aaron cruzava os braços, tentando esconder sua surpresa.

— Oito mil anos? — Ethan murmurou, quase como se falasse consigo mesmo.

— O que ele estava fazendo aqui? — perguntou Aaron, sua curiosidade finalmente superando sua resistência.

Xerxes pausou, seus olhos se estreitando ligeiramente, como se buscasse as palavras certas para descrever algo que ele mesmo não entendia completamente.

— Não sabemos ao certo, — disse ele, com um tom cauteloso. — Mas é registrado que ele rompeu o escudo mágico que protege o Reino de Inoaden.

Aaron franziu o cenho.

— Inoaden? — ele repetiu, a palavra saindo quase como um desafio.

— Sim, — confirmou Xerxes. — Um dos Reinos Superiores do Império do Sol.

Aaron balançou a cabeça, a incredulidade visível em sua expressão.

— E você quer que eu acredite que ele chegou tão longe? Que ele atravessou todas as barreiras do Império do Sol sem ser detido?

Xerxes não parecia abalado pelas palavras de Aaron. Pelo contrário, havia um brilho enigmático em seus olhos.

— Se Rowan Eckart quisesse fazer algo contra o Império do Sol, — disse ele, sua voz baixa, mas carregada de intensidade, — nada o impediria.

As palavras de Xerxes pareciam pairar no ar, ganhando peso à medida que o silêncio se alongava. Aaron não respondeu de imediato, seus pensamentos estavam claramente em tumulto, enquanto Ethan parecia perdido na gravidade do que havia sido dito.

— O que aconteceu depois que ele entrou em Inoaden? — perguntou Ethan finalmente, sua voz quase um sussurro.

— Ele permaneceu lá por cerca de duas horas, — respondeu Xerxes. — O que fez nesse tempo é um mistério, mas quando saiu, restaurou o escudo mágico que ele mesmo havia destruído. Há quem diga que o encantamento que colocou era ainda mais poderoso que o antigo, erguido pelos Oficiais Celestiais.

Ethan apertou os lábios, seu olhar caindo para o chão, enquanto Aaron soltava um suspiro baixo, os braços ainda cruzados.

— E o que isso significa? — Aaron perguntou, sua voz cortante. — Que ele estava testando as defesas do Império do Sol?

— Talvez, — disse Xerxes, com um sorriso que não alcançava os olhos. — Ou talvez ele tenha vindo por algo que considerava importante. Rowan Eckart não é um homem de impulsos vazios. Cada movimento dele carrega um propósito.

O salão voltou a mergulhar no silêncio, enquanto os irmãos processavam as palavras do sacerdote. Ethan parecia perturbado, mas também fascinado, enquanto Aaron mantinha sua expressão sombria, sua mente trabalhava rápido.

Por fim, foi Ethan quem quebrou o silêncio.

— Ele é… tão poderoso assim?

Xerxes olhou para ele, e desta vez, havia algo quase paternal em sua expressão.

— Ele é mais do que poderoso, jovem Ethan. Ele é uma força. E forças como Rowan Eckart não pedem permissão.





Caros leitores,

Vocês chegaram ao capítulo 16, e eu me pergunto: viram o suficiente?  

Este foi um capítulo de revelações – e não apenas da verdade sobre os elementos que fluem em Ethan, mas também sobre os perigos que acompanham o poder. A fonte não revelou apenas afinidades elementais; ela expôs segredos, medos e possibilidades sombrias. E, como vocês sabem, no mundo do Império do Sol, conhecimento pode ser perigoso.  

Ethan, o jovem tímido, carrega agora um peso inesperado. Um elemento que não pertence a este império, mas que está incrustado em sua essência. Sombras. O que significa ser tocado por algo que é rejeitado pelo lugar onde você nasceu? Será que ele aceitará sua conexão com o império da Lua, ou tentará apagá-la, temendo as consequências? Ethan é jovem e moldável, mas o que ele fará com o que descobriu?

Há outro aspecto que eu quero que vocês considerem. Este capítulo nos dá um vislumbre de um mundo muito maior. Além de Kallisto, existem outros – Diane, a fada do País da Água, e Ignis, a fênix do País do Fogo. Mas é Rowan Eckart, o protetor do Império da Lua, que mais nos intriga agora. Ele é mais do que um deus distante. Ele representa um contraste direto com Kallisto, um rival filosófico e talvez algo mais.  

Agora, eu pergunto: será que luz e sombras são tão opostas quanto nos ensinaram a acreditar? Ou será que as duas são parte de um mesmo ciclo, inevitavelmente ligadas? Ethan e Aaron, cada um com seus próprios poderes, parecem ser um reflexo disso. Vocês acham que eles podem coexistir como irmãos, ou será que o destino deles está em rota de colisão?  

Eu não darei as respostas. Isso seria fácil demais.  

Mas saibam disto: o que vimos neste capítulo é apenas o início. Os poderes revelados, os segredos guardados, e as escolhas feitas hoje moldarão o que está por vir. E, como bem sabem, escolhas carregam consequências – algumas que não podem ser desfeitas.  

Fiquem atentos. Cada palavra foi trabalhada para plantar uma semente que germinará nos capítulos que virão. Nada aqui é por acaso.

Com admiração e intriga,  
S.Y. Ravena

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