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Capítulo 12 - Ficha de Comunicação

Irmãos de alma são a prova de que a verdadeira família é escolhida no coração, não definida pela genética”







Quando finalmente chegaram aos portões do Palácio Gardênia, os guardas, vestidos com uniformes impecáveis, inclinaram-se em uma reverência curta e formal. As melhorias no lugar eram evidentes, quase gritantes. O exterior, outrora negligenciado, agora reluzia com paredes de calcário branco, polidas até parecerem mármore, refletindo a luz mágica dos núcleos de energia montados em postes altos que flanqueavam a entrada.

As janelas, emolduradas por intrincadas molduras douradas, destacavam-se em harmonia com a fachada. A partir dos portões, a longa avenida ladeada por árvores mágicas recém-plantadas levava à entrada principal, onde uma escadaria de pedra impecável se estendia até o imenso pórtico. Os galhos das árvores reluziam com pequenos frutos que pulsavam com uma energia discreta, enquanto feras mágicas de baixo nível vagavam preguiçosamente pelos jardins bem cuidados. Suas presenças pareciam cuidadosamente orquestradas, mais um símbolo de ostentação do que de funcionalidade.

Apesar das mudanças superficiais, Aaron sentiu que o palácio ainda carregava as sombras de sua antiga decadência, escondidas sob a superfície reluzente.

Dentro de um dos quartos, a grandiosidade continuava. O teto era alto, decorado com molduras douradas que desenhavam padrões elaborados ao redor de um lustre de cristal, cujas luzes mágicas agora estavam apagadas. As cortinas de veludo pesado, tingidas em um tom profundo de verde-esmeralda, caíam até o chão, emoldurando janelas que alcançavam o teto e que, quando abertas, ofereciam vistas para os jardins impecáveis.

Ethan moveu-se com uma precisão inquietante. Ele foi até a mesa de cabeceira e abriu uma gaveta, retirando de dentro um bastão de luz que pulsava levemente em sua mão. Com um movimento rápido, fechou as cortinas, mergulhando o ambiente em penumbra. Com um estalo, ativou o bastão, e a luz esverdeada se espalhou pelo quarto como névoa, iluminando as paredes decoradas com tapeçarias e o chão coberto por um tapete grosso e desbotado.

Ethan entregou o bastão a Aaron.

— Pegue-o.

Aaron o aceitou, observando cada movimento do irmão com atenção.

Ethan caminhou até um conjunto de poltronas dispostas em torno de uma mesa baixa. Livros, rolos de bambu e uma tigela de cerâmica decoravam o centro. Ele puxou a poltrona mais próxima com ambas as mãos, o móvel rangeu em protesto, até revelar um baú de tamanho médio escondido embaixo. Suas bordas reforçadas com metal estavam corroídas pelo tempo, e a tampa exibia uma camada fina de poeira.

Aaron se aproximou, agachando-se ao lado do irmão. Ethan destrancou o baú com uma chave que tirou do bolso, e quando levantou a tampa, o cheiro metálico de moedas misturou-se ao leve odor de papel antigo.

Dentro do baú havia uma coleção estranha e incongruente: livros de capa dura, brinquedos gastos, artefatos mágicos que brilhavam fracamente sob a luz verde, pequenos sacos de pano colorido que tilintavam ao menor movimento, e uma boa quantidade de moedas de ouro, prateadas e até algumas de cobre.

Aaron segurou o cálice dourado com dedos cuidadosos, mas o modo como o girava entre eles não era desprovido de malícia. As pedras preciosas incrustadas na base brilhavam à luz mágica do bastão de Ethan, lançando reflexos dançantes pelo quarto.

— Parece que você andou empilhando algumas coisas de valor. — Sua voz carregava uma nota de curiosidade casual, mas o brilho nos olhos traía algo mais afiado. — Por que decidiu juntar o ouro?

Ethan, ajoelhado diante do baú, apenas ergueu os ombros em resposta, como se a pergunta não merecesse grande consideração.

— Imaginei que mais tarde precisaríamos usá-lo para algo importante, assim como está acontecendo agora. — Ele respondeu enquanto puxava uma pequena espada de madeira, bem desgastada, do fundo do baú. Depositou-a no tapete com um gesto quase reverente, antes de se levantar e, num movimento rápido, bagunçar o cabelo de Aaron.

Aaron recuou levemente, a surpresa momentânea transformou-se em um olhar de advertência, mas Ethan já havia se voltado novamente para o baú, aparentemente alheio à reação do irmão.

— Até agora, apenas os imperadores de três gerações atrás puderam ter um vislumbre de Lituris — continuou Ethan, o tom ligeiramente mais baixo, quase como se temesse ser ouvido pelas próprias paredes. — Isto é, através dos rituais que os sacerdotes do Templo da Divindade organizavam. Ouvindo assim, parece que se passou pouco tempo desde a última aparição da espada. Mas o tempo de vida de um humano comum não se aplica a eles. Os imperadores do passado eram cultivadores que viveram por milênios.

Aaron riu, um som curto e cínico que cortou o silêncio. Ele pousou o cálice no chão com cuidado, como se o objeto merecesse mais respeito do que a história que acabara de ouvir.

— Parece tão injusto; a pessoa precisa ser digna para herdar um pouco de poder e, no fim, ainda precisa devolvê-lo com juros. — Ele balançou a cabeça, descrente. — É como se apenas adiasse a data da morte. Não é à toa que pararam de praticar esses rituais loucos.

Enquanto falava, seus dedos encontraram uma caixa de madeira entalhada no baú. Ele a ergueu, examinando os detalhes trabalhados com habilidade, antes de abrir a tampa. Lá dentro, um conjunto de pedras preciosas brilhava com uma luz interna, como se guardassem algum segredo que desejava escapar.

Aaron fixou o olhar nas gemas, e sua expressão endureceu por um instante. Ele já havia visto Lituris, não uma, mas duas vezes. Se é que se pode contar mil anos como "uma vez". A primeira foi quando a espada o escolheu no templo, um gesto que deveria simbolizar honra, mas que o príncipe sempre considerou uma armadilha bem disfarçada. Ela doou a ele uma pequena parcela de poder, o suficiente para mudar o curso de sua vida — e de muitas mortes. A segunda vez foi no Túmulo de Espadas, onde Lituris parecia carregar uma memória própria, uma consciência que o assombrava com cada ação que tomava.

Ele fechou a tampa da caixa com um movimento brusco, como se quisesse trancar as lembranças junto com as pedras preciosas.

— Sim, realmente parece injusto, mas do meu ponto de vista é um bom trato. Um trono, poder... e quanto aos juros, um dia todos morrem, não é? — Ethan ergueu os olhos do baú, sua voz soando mais calma do que deveria. — Tanto mortais quanto imortais, ninguém escapa do destino. Sabe, Aaron, para herdar um trono não basta força de vontade e inteligência. É preciso poder, e é isso que Lituris oferece.

Ele voltou a vasculhar o conteúdo do baú, tirando a ficha de comunicação. Com gestos metódicos, começou a recolher os objetos espalhados no carpete, como se a conversa fosse apenas um pensamento distante, algo para preencher o silêncio.

Aaron observava o irmão, seus dedos brincavam com a bolsinha de moedas que havia pegado. O irmão deslizou o último objeto para dentro do baú antes de fechar a tampa com um som surdo.

Aaron desviou os olhos, fixando-os em um ponto distante na parede. As palavras de Ethan traziam lembranças que ele preferia manter enterradas. Ele conhecia o futuro, ou pelo menos conhecia uma de suas versões, e nela, Lituris não era apenas uma arma. Era uma promessa e uma maldição, entrelaçadas como as garras de uma fera pronta para rasgar a carne de quem ousasse segurá-la.

Naquele futuro, a guerra se aproximava como uma sombra imensa, cobrindo os Reinos Inferiores e além. O imperador, pressionado pelos inimigos de fora e pelo caos de dentro, veria sua autoridade questionada enquanto os escudos mágicos do império começavam a ceder. E, em um momento de desespero, ele invocaria Lituris.

Aaron fechou os olhos, revivendo o brilho sinistro da espada quando foi chamada ao mundo dos homens. Lituris não vinha sem custo; ela nunca vinha. Mas naquele instante, o imperador aceitou a barganha. Ele usou o poder da lâmina para fortalecer os escudos que protegiam os reinos centrais, criando barreiras que repeliam os ataques iminentes.

O povo o aclamou como herói, mas Aaron sabia o que viria depois. Sempre vinha algo depois.

O ato de heroísmo desencadeou uma onda de pânico e desespero. Milhares tentaram atravessar as fronteiras para buscar refúgio nos reinos protegidos, deixando vilarejos abandonados e terras devastadas em seu rastro. O caos espalhou-se como um incêndio descontrolado. Marguentano¹ tornou-se um barril de pólvora, e o imperador passou a caminhar sobre um fio de navalha, dividindo sua atenção entre conter a crise humanitária e organizar a defesa contra inimigos que não descansavam.

Aaron abriu os olhos lentamente, sentindo o peso daquele futuro se enroscar ao redor de seu peito como uma corrente fria. Ele sabia o quão tênue era o equilíbrio que Derick tentaria manter. Cada decisão seria um jogo de azar, cada escolha, um risco calculado que poderia destruir tudo.

Poder é uma coisa engraçada” pensou Aaron “Não importa o quanto se tenha, sempre parece insuficiente.”

— É estranho que nosso imperador tenha vivido tanto tempo — começou Ethan. Seus olhos escuros brilhavam sob a luz suave do bastão, uma intensidade incomum que parecia carregar segredos e revelações. — Se pararmos para pensar, as circunstâncias são... peculiares. Ele tinha cerca de trinta anos quando realizou o golpe de estado e matou o próprio pai, assumindo o trono. Desde então, já se passaram seiscentos e quarenta anos. Impressionante, não acha?

Aaron permaneceu em silêncio, apenas observando o irmão. O brilho nos olhos de Ethan era perturbador, como o de alguém que começava a ver as peças de um tabuleiro antes escondido.

— Dizem que ninguém pode subir ao trono sem ser escolhido por Lituris — continuou Ethan. — Mesmo que alcance níveis elevados de cultivo, acabará morrendo prematuramente. No entanto, os rumores indicam que nosso pai nunca passou pelo ritual com a espada.

Derick era uma incógnita. Sempre fora. Nem mesmo Aaron podia explicar ao certo a fonte de sua longevidade. Sim, ele podia ter se tornado um Oficial Celestial, as chances eram enormes, mas e Lituris? Por que ela permitiu que ele fosse tão longe? De onde veio sua confiança para matar seu pai, Carl Albélia e se assentar no trono do Império do Sol?

Será que Derick já sabia que não morreria?

— Consegue adivinhar o por que de estamos tendo essa conversa? — Ethan perguntou, inclinando-se ligeiramente para frente, apoiando os cotovelos no baú, seus olhos estavam fixos nos de Aaron, esperando que ele compreendesse a importância do que dizia.

— Para me informar? — arriscou Aaron, desconfiado. Havia algo no olhar de Ethan que o incomodava, uma intensidade que não combinava com sua idade.

"Que diabos esse garoto está planejando?"

Ethan soltou uma risada curta, o tipo de som que não carregava humor.

— Você é meio lerdo às vezes. Estou falando disso porque, ao possuir o poder do Sol, você tem a chance de desbancar Darius e herdar o trono!

As palavras de Ethan pairaram no ar como uma faca prestes a cair. Aaron encarou o irmão, e por um momento, o silêncio entre eles parecia mais pesado do que o frio que os cercava.

O trono? O trono do Império do Sol?

Aaron riu, mas o som era vazio, carregado de ironia.

Nunca. Nem em mil anos. Ele conhecia o peso daquele trono, os sacrifícios que exigia, o sangue que exigia. Documentos intermináveis, intrigas palacianas, diplomacia desgastante. Para Aaron, o trono era uma prisão dourada, onde o poder vinha à custa da liberdade.

Quem, em nome do Sol, tinha metido essas ideias na cabeça de Ethan?

Sim, Darius não era digno. Todos sabiam disso. Mas o trono não era uma solução, era uma sentença. Markus e Dalila também tinham herdado o poder do Sol, e ambos eram mais experientes, mais aptos. A ideia de Aaron voltar àquela vida era absurda.

— Por que eu aceitaria essa responsabilidade? — perguntou ele, finalmente, o cenho pesado, a voz carregada de desprezo. Um sorriso irônico ameaçava escapar de seus lábios, mas ele o conteve.

A ironia não lhe escapava. Tudo o que mais queria era fugir daquele lugar, daquele sistema, mas ali estava Ethan, com seus planos grandiosos e irrealistas. Se ele não dissesse algo, Ethan cresceria alimentando aquele pensamento insensato.

Ethan manteve-se firme, seus olhos brilhando com algo que Aaron reconhecia como determinação.

— Por que não? — retrucou ele. — Darius não é digno de nada disso. E você, Aaron, pode fazer diferente.

Aaron balançou a cabeça, sentindo uma mistura de frustração e exasperação.

— Certo. — Sua voz carregava um toque de sarcasmo. — Isso é o que você planejou para mim. Mas e você? O que vai fazer?

A pergunta pegou Ethan de surpresa. Ele hesitou por um instante, mas logo recuperou a compostura.

— Eu... eu quero ser respeitado. Quero viver junto com a minha família e ter poder para protegê-la.

Aaron riu baixinho, mas não havia humor em sua expressão. Ele inclinou-se para frente, deixando a luz esverdeada do bastão iluminar seus traços tensos.

— Parece que você busca paz. Mas e se isso não for o que sua família deseja? — Ele ergueu uma sobrancelha, o tom frio como o vento que cortava os picos de Inoaden. — E se ela quiser ver o império em chamas? Você usaria o poder e o respeito que conquistou para lutar por ela?

Ethan piscou, mas não recuou. Pelo contrário, inclinou-se ainda mais para frente, aproximando-se ao ponto de seus rostos ficarem próximos. Os olhos dele estavam fixos nos de Aaron, intensos como brasas que se recusavam a apagar. Cada palavra que dizia parecia sair carregada de uma convicção tão firme que tornava impossível ignorá-lo.

— É isso o que seu coração deseja? — perguntou Ethan, a voz baixa, mas carregada de algo que Aaron não conseguia definir.

— O quê? — Aaron franziu a testa, sentindo um arrepio percorrer-lhe a espinha.

— Isso não é apenas sobre você, Aaron. — A voz de Ethan ganhou um tom afiado, quase como se falasse de um lugar muito além de sua idade. — Já viu a situação dos Reinos Inferiores? Miséria, fome, desespero. Tudo por causa desse ciclo de guerras. E sabe o que é pior? Inúmeros grupos surgiram para lutar contra nós porque acreditam, com todas as forças, que nossa família é a causa de tudo. Então, eu te pergunto novamente: é realmente isso que seu coração deseja?

Aaron inclinou a cabeça, observando o irmão com desconfiança. Ethan era muitas coisas — ingênuo, idealista, teimoso — mas nunca tão direto.

— Quem é a sua família? — perguntou Aaron, seus olhos se estreitando.

— Você. — Ethan respondeu sem hesitar.

Aaron congelou, surpreso. Ethan estava falando sério. Ele considerava um assassino como sua família? Um tirano que havia destruído reinos, manchado ruas com sangue e extinguido linhagens inteiras?

— Somente eu? E os nossos irmãos? — Aaron perguntou, ainda atordoado.

Ethan bufou, o rosto endurecendo.

— Kaylus não se importa com a gente. Ele só começou a nos notar depois que roubamos os ovos de Lilian. Darius? — Ethan apertou os lábios antes de continuar. — Darius é um mentiroso nato. Nunca dá para saber se ele está falando a verdade. Então, eu resolvi que cada palavra que sai da boca dele é falsa. Ele nos odeia, Aaron. Você não percebe? Ele sempre nos odiou, desde o começo. Quanto aos outros príncipes... — Ele deu de ombros, despreocupado. — Eles não me interessam.

Aaron piscou, surpreso. O pequeno Ethan, com suas bochechas coradas de juventude e sua voz ainda em transição, carregava uma amargura que parecia grande demais para ele.

— E a im... — Aaron pigarreou, desconfortável. — E a mamãe? Você não a considera como família?

Ethan hesitou, mas só por um instante.

— Ela só nos trata bem porque somos crianças. Crianças são fáceis de controlar. Mas quando crescermos e nos tornarmos guerreiros, ela nos tratará como trata nossos irmãos. Não se trata apenas de indiferença, Aaron. Ela os usa. Darius é mantido sob controle, ele é príncipe herdeiro perfeito apenas na aparência, porque não pode errar sem pagar caro por isso. E Kaylus? Ela o enviou à Muralha Fronteiriça como um castigo, mesmo sabendo que ele procurava pelos ovos. Ela está esperando para ver quando ele quebrará. É assim que ela age.

— Mas isso não importa. Quando ela decidir que não somos mais úteis ou que podemos ser usados de outras formas, nós ainda estaremos juntos — Ele olhou para Aaron, e havia algo de implacável em sua expressão. — Por isso eu disse: você é a minha família.

Aaron sentiu um nó apertar-se em sua garganta. Ethan o encarava com uma determinação quase dolorosa, o tipo de olhar que não permitia questionamentos. Ele conhecia bem aquele olhar — um misto de esperança e convicção — e talvez fosse isso que o incomodava tanto.

Ethan não falava de família como a maioria das pessoas fazia. Não era sobre Grace, Derick, ou os muitos irmãos que compartilhavam o mesmo sangue. Para ele, família era escolha, era confiança, era cumplicidade. Ethan estava falando sobre ser Irmãos de Alma — algo que transcendia laços sanguíneos e títulos. Era um voto silencioso, mais forte do que qualquer juramento.

Aaron sabia exatamente o que isso significava. Ser Irmão de Alma não era apenas caminhar ao lado de alguém, era carregar o peso de suas falhas, suas dores e seus sonhos, como se fossem seus. Ethan queria isso dele, queria que Aaron fosse seu pilar, sua fortaleza.

Mas Aaron não era nada disso.

Ele desviou o olhar, incapaz de sustentar a intensidade dos olhos do irmão. Sempre que Ethan falava sobre essas coisas, sobre família e lealdade, Aaron sentia como se estivesse sendo examinado sob uma luz que expunha todas as suas rachaduras.

O que Ethan não sabia — o que ele nunca poderia saber — era que Aaron não era digno disso. Ele era um muro de pedras soltas, erguido às pressas sobre um terreno instável. Ethan se apoiava nele com tanta confiança, mas Aaron temia o momento em que desabaria e o esmagaria.

— B-bem… huh, por que não usa logo a ficha de comunicação? — Aaron forçou um sorriso, desconcertado, tentando mudar de assunto. — Eles não vão nos deixar sair se ficar tarde.

Ethan ajustou a ficha de comunicação entre os dedos, seu olhar fixo no pequeno símbolo alquímico gravado na superfície polida. Era um artefato simples à primeira vista, mas Aaron sabia que sua simplicidade era uma máscara. Havia algo intrinsecamente misterioso em como aquela pequena peça de magia condensava tanto poder.  

Ele observou enquanto o irmão tocava delicadamente o símbolo. A ficha iluminou-se com um brilho fraco, sua luz trêmula competiu com o verde esmeralda do bastão que Aaron segurava.

Por um momento, tudo ficou em silêncio, exceto pelas suas respirações lentas e o som ocasional do vento batendo contra as janelas. O frio parecia atravessar as paredes, envolvendo os dois garotos em um abraço gélido. Então, de repente, um chiado baixo ecoou da ficha de comunicação, tão inesperado que os fez sobressaltar.  

— Você tem certeza de que sabe o que está fazendo? — Aaron perguntou, estreitando os olhos para Ethan.  

O irmão acenou com a cabeça, aparentemente mais confiante do que a situação justificava. — É só pensar na mamãe. — Sua voz era calma, mas havia uma determinação inabalável em suas palavras.  

Antes que Aaron pudesse articular suas preocupações, o chiado cessou, e uma voz fria como gelo quebrou o silêncio.  

— Quem está entrando em contato com a imperatriz? — A voz de Helena era incisiva, cortante, como se fosse mais uma arma do que um som.  

Ethan respirou fundo, hesitando apenas por um segundo antes de responder. — Sou eu, Ethan Albélia. Quero falar com a minha mãe.  

Houve um momento de silêncio, longo o suficiente para que Aaron sentisse o peso dele. Então, a mudança na voz de Helena foi quase palpável. A frieza inicial cedeu espaço a um tom mais suave, quase cordial, mas ainda envolto em um profissionalismo que mantinha uma barreira nítida entre eles.

— Príncipe Ethan, é uma honra ouvir sua voz. No entanto, receio que a imperatriz não esteja disponível no momento. Sua Majestade partiu ontem para o Palácio Imperial e, até agora, não há previsão de seu retorno.

Ethan lançou um olhar para Aaron, tentando mascarar a decepção que pesava em seus olhos. Ele murmurou, quase em um sussurro:  

— E agora? O que vamos fazer?  

Aaron inclinou-se, apoiando os cotovelos no baú, o bastão de luz em sua mão projetava um brilho esverdeado que acentuava as linhas de preocupação em seu rosto. Ethan aproximou a ficha de comunicação dele, esperando que o irmão assumisse o comando.  

— Aqui é o Aaron. — Sua voz saiu mais rouca do que pretendia, mas clara o suficiente para ser ouvida.  

O silêncio do outro lado foi quebrado por uma pausa que parecia arrastar-se, até que a voz de Helena retornou, ligeiramente surpresa.  

— Príncipe Aaron. — A mudança no tom era perceptível; a formalidade se misturava com uma nota de respeito. — Que honra. Espero que esteja cuidando bem do ovo que lhe foi confiado.  

Aaron bufou, desviando o olhar para o chão. — Não estou cuidando de nada, na verdade. Kaylus ainda está chateado e não permite que vejamos os ovos.  

— Entendo — disse Helena, sua voz suavizando-se em um tom que parecia quase consolador. — O príncipe Kaylus é… zeloso em seus deveres. Mas tenho certeza de que isso mudará em breve. As situações difíceis às vezes se resolvem por si mesmas, Alteza. Seja paciente.  

Aaron ergueu os olhos para Ethan e, por um momento, hesitou antes de responder: — Obrigado.  

Mas sua mente não estava em agradecimentos. Havia uma questão mais urgente. Ele inspirou fundo e perguntou: — Existe alguma maneira de contactarmos minha mãe?  

Helena pausou novamente, mas desta vez havia um traço de cautela em sua voz quando respondeu: — Por que estão procurando a imperatriz?  

Ethan respondeu antes que Aaron pudesse dizer qualquer coisa, com uma rapidez que sugeria que ele já tinha a resposta planejada. — Queremos ir à capital. Precisamos de alguém que possa nos escoltar.  

Helena suspirou audivelmente, seu tom adquirindo um peso novo. — Príncipes, temo que isso será difícil. Ainda estamos trabalhando para identificar os rebeldes que se infiltraram. Não seria seguro para vocês, nem para ninguém que os escoltasse.  

As palavras pareciam mais um golpe do que uma explicação, e Aaron viu o semblante de Ethan murchar. Por um momento, o silêncio pairou entre eles. Então, Aaron quebrou o momento com um sorriso e uma voz carregada de provocação.  

— Isso não importa — ele disse, cortando qualquer tentativa de argumentação de Helena. — Ainda assim, queremos ir à capital. Não me diga que minha mãe só tem incompetentes ao seu comando.  

— Príncipe — Helena começou, o tom dela agora carregado de preocupação real.  

— Se você não nos ajudar — continuou Aaron, ignorando-a completamente —, entraremos na floresta e encontraremos o caminho sozinhos.  

A resposta de Helena foi imediata, quase um grito abafado: — Vocês não podem fazer isso! Não têm ideia do que…  

Mas antes que ela pudesse terminar a frase, Aaron arrancou a ficha de comunicação das mãos de Ethan, o irmão protestando com um “Aaron!” que ecoou pelo quarto. Ele olhou para o artefato por um momento. Então, com um movimento rápido e decidido, quebrou a ficha contra a borda do baú.  

O estalo foi alto, quase como o som de um trovão no silêncio do quarto.

Ethan olhou para os pedaços da ficha espalhados no chão como se esperasse que eles pudessem se juntar novamente por vontade própria. Ele ergueu os olhos para Aaron, a incredulidade ainda evidente em sua expressão.  

— Você quebrou a ficha? — perguntou, a voz oscilando entre raiva e descrença. — Aaron, você está realmente pensando em atravessar a floresta?  

— É claro que não. Não podemos chegar à Muralha da Grande Vigia a pé, além de perigoso, é longe. E, mesmo que chegássemos lá, eles não abriram os portões. No máximo, nos mandariam de volta.

Ethan cerrou os punhos, o rosto se contorcendo entre alívio e irritação. — Então o que foi tudo isso? Por que quebrou a ficha?  

Aaron ergueu o bastão de luz, girando-o lentamente entre os dedos. A luz verde refletiu em seus olhos.

— Porque Helena não nos levaria a sério se não fizéssemos algo drástico. Agora, ela sabe que estamos dispostos a tomar decisões que ninguém esperaria. — Ele inclinou a cabeça ligeiramente, observando o irmão. — E, para o caso de você não ter percebido, Ethan, às vezes é melhor ser imprevisível do que parecer desesperado.  

Ethan cruzou os braços, um suspiro pesado escapando de seus lábios. — Isso não faz sentido. E se ela não fizer nada? E se ficarmos presos aqui?  

Aaron deu de ombros. — Então esperamos. A questão é: você acha que ela vai correr o risco de nos deixar fazer algo tão estúpido quanto cruzar a floresta sozinhos? Helena sabe bem do que somos capazes.  




Queridos leitores,  

As páginas deste capítulo nos mergulham em uma dança de sombras e luzes, de segredos sussurrados e verdades ainda veladas. Aaron e Ethan, dois irmãos cujas almas estão tão entrelaçadas quanto divididas, começam a trilhar caminhos que podem os unir ainda mais... ou separá-los para sempre.  

Pensem, por um instante, sobre o que foi dito e, mais importante, o que não foi dito. Ethan, com sua determinação juvenil e idealismo fervoroso, vê no irmão algo que talvez nem o próprio Aaron reconheça. Mas Aaron não é um herói clássico. Ele carrega um passado que, em muitos aspectos, o define mais do que o presente, e isso o torna tão fascinante quanto imprevisível. Será que Ethan realmente compreende o que significa confiar em alguém como ele?  

E quanto ao império? É sempre mais fácil falar de mudanças quando estamos fora do poder, não é? Ethan sonha em construir algo melhor, mas sonhar é fácil; governar é que é o verdadeiro fardo. Aaron sabe disso, e talvez por isso se recuse a enxergar no trono algo além de uma prisão. Mas eu pergunto a vocês: será que o destino de um império pode realmente ser ignorado? Ou o poder tem sua própria forma de encontrar aqueles que mais tentam evitá-lo?  

E então, temos Derick, o imperador. Quase sete séculos de reinado. Um golpe, um trono conquistado, uma espada que escolhe. Como alguém pode reinar por tanto tempo sem se perder no próprio poder? Ou será que ele já se perdeu há muito tempo, e o que resta é apenas um reflexo do homem que foi? 

As perguntas são tantas quanto as possibilidades, e as respostas, como sempre, serão encontradas nas decisões que nossos personagens fazem.  

Com admiração e um toque de inquietação,

Nos vemos no próximo capítulo.  

Com apreço,  
S.Y Ravena.

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