Capítulo 1 - O Retorno do Tirano
“O tempo é uma lâmina afiada: ele corta para a frente, mas as feridas profundas sempre sangram para trás.”
Aaron abriu os olhos lentamente, fixando-os no teto acima de si. A superfície era simples e opaca, mas sua mente vagava em um turbilhão de dúvidas. Enquanto isso, seu corpo pulsava de dor; cada fibra parecia incendiada, tornando qualquer tentativa de movimento quase impossível. Afinal, onde estava e como havia chegado ali?
Sua última lembrança era de estar no Túmulo de Espadas, sofrendo um castigo outorgado por Lituris. Lá, ele havia clamado por misericórdia, mas tudo que recebeu foi um golpe devastador que selou sua consciência. No entanto, ao despertar, encontrou-se naquele quarto desconhecido. Ele estava deitado em uma cama macia e espaçosa, o que contrastava com a crueza de suas memórias. No ar, o cheiro de remédios permeava o ambiente, misturando-se ao odor adocicado e nauseante da morte.
Nesse momento, Aaron decidiu testar os limites de seu corpo. Primeiramente, tentou mover os dedos dos pés, e depois, os das mãos. Embora cada músculo reagisse com uma dor lancinante, ele prosseguiu. Lentamente, sentiu que ainda tinha controle sobre si, ainda que os movimentos fossem difíceis e os esforços, extenuantes.
Foi então que um som o trouxe de volta à realidade: passos. Eles vinham do corredor, aproximando-se gradualmente. O eco de botas firmes quebrava o silêncio, preenchendo o ambiente com uma tensão palpável. Imediatamente, o corpo de Aaron ficou tenso; por um momento, a dor foi relegada ao fundo de sua mente enquanto ele reagia à ameaça iminente. Com esforço, forçou-se a retomar a posição inicial, fechando os olhos e desacelerando a respiração para fingir que ainda dormia.
— Tem certeza de que o príncipe morreu? — indagou uma voz masculina, grave e autoritária, enquanto o ranger das botas ecoava no assoalho de madeira do quarto.
“Príncipe?”, pensou Aaron, ainda imóvel sob as cobertas. “Que príncipe?”
— Sim. Verifiquei o pulso dele duas vezes antes de informar a imperatriz — respondeu uma voz feminina, baixa, mas firme. O tom era direto, quase profissional, mas havia algo nele que Aaron reconhecia, mesmo sem entender por completo.
— E o outro? Como está? — O homem perguntou.
Houve uma pausa antes da resposta. Quando ela veio, soou hesitante:
— O príncipe Ethan esteve entre a vida e a morte por alguns dias, mas... melhorou após tomar um antídoto. Ninguém sabe de onde veio, ou quem o entregou, mas o fato é que funcionou.
— Um antídoto? — O homem suspirou, e Aaron ouviu passos pesados, como se ele estivesse começando a andar em círculos. — Você só precisava garantir que os gêmeos morressem. Onde o garoto está agora? Talvez eu consiga reverter a situação.
Houve um longo momento de hesitação antes que a mulher respondesse:
— Ele está com a imperatriz.
A tensão no ar tornou-se palpável. Quando o homem voltou a falar, sua voz havia se tornado mais fria e controlada.
— Nesse caso, não há nada que eu possa fazer. — Suspirou brevemente — Leila, já demorei demais aqui. Preciso voltar ao meu posto antes que os outros guardas percebam minha ausência.
Aaron sentiu o sangue ferver, mas sua mente, mesmo entorpecida, o segurou. A voz da mulher, “Leila”, parecia estranhamente familiar. Não o nome, mas o timbre, a forma como ela falava com aquela calma calculada. Era impossível. Ele tinha certeza de que a havia matado, séculos atrás, com suas próprias mãos. E, ainda assim, ali estava ela, discutindo envenenamentos e traições como quem negocia grãos no mercado.
— Entendo. E quanto à líder? — perguntou Leila, sem demonstrar emoção.
— Não se preocupe. Vou tentar apaziguar as coisas com ela.
Os passos começaram a se afastar, um som que trouxe alívio e ao mesmo tempo frustração. A porta foi aberta e em seguida, fechada com um baque surdo, mergulhando o quarto em um silêncio pesado e opressor.
Aaron continuou imóvel por mais alguns instantes, encarando a escuridão com olhos semicerrados. O que ouvira era suficiente para compreender que estava em um território hostil, cercado por inimigos que o queriam morto. E pior: eles acreditavam que ele já estava morto.
No entanto, uma pergunta continuava ecoando em sua mente: quem era o salvador que dera o antídoto ao outro príncipe? E por que parecia que ele próprio, Aaron, fora deixado para apodrecer naquele quarto frio?
Será que tudo isso fazia parte de um sonho?
Aaron tentou mover o braço, mas a dor o fez ranger os dentes. Com um esforço que o deixou sem ar, ergueu-se da cama. O quarto girou, e ele sentiu o gosto amargo do sangue coagulado em sua garganta. Ele o vomitou num gesto desesperado, e as manchas rubras se espalharam pelo tecido branco.
E então viu. Suas mãos.
Pequenas, rechonchudas, irreais. Aquelas não eram suas mãos. Não podiam ser suas mãos. Ele arrancou as cobertas de si, expondo pernas curtas e frágeis, a pele lisa de um corpo infantil. O choque o atingiu como um golpe.
— Não… não, tudo menos isso! — As palavras escaparam de seus lábios carregadas de medo. Sua voz era fina, aguda, desesperada. Não era sua voz.
Cambaleando, quase cego de horror, arrastou-se até o espelho de bronze. A superfície opaca refletia apenas sombras, mas ele reconheceu a silhueta. Não podia ser verdade, mas era. Ele viu o que sempre temeu: a versão mais frágil, mais desprezível de si mesmo.
A figura no espelho, um garoto de olhos afiados e confusos, que brilhavam com determinação, e cabelos negros desgrenhados, era uma versão menor de si mesmo. Ali estava a notícia mais chocante do século: o grande imperador tirano do Império do Sol renasceu. E, para piorar, na época em que era apenas um fracote, com a cabeça a prêmio!
— Eu quero ir embora, Lituris, sua espada maldita, eu sabia que você estava tramando algo. Me tira daqui agora! — A voz de Aaron ecoou, misturando raiva e súplica.
Renascer não era exatamente uma má notícia, era mil vezes melhor do que ficar naquele santuário, revivendo suas memórias. Mas por que tinha de ser justo na época de sua infância? Quanto teria agora? Dez anos?
Não houve um só instante em que não se arrependesse por ter sido um completo inútil, que só fazia o que Darius sussurrava em seu ouvido. Ele não estava em seu melhor juízo, mas sabia que poderia ter feito algo para mudar o curso dos eventos, para não acabar daquela forma miserável.
Aaron olhou ao redor com nostalgia, concluindo que aquele era o mesmo quarto em que viveu durante a infância. As paredes de tons neutros, as tapeçarias desbotadas, o piso de madeira escura e os móveis de boa qualidade não deixavam dúvidas: ele estava de volta ao odiável Palácio Gardênia, o lugar onde muitas de suas piores lembranças foram forjadas.
Naquela época, sobreviver era seu único objetivo. Cercado por guerras, perseguições e incontáveis livramentos de morte, houve um momento em que perdeu a sanidade e enlouqueceu. Era uma mancha vergonhosa em sua história, especialmente para alguém que um dia foi proclamado como o Imperador da Luz.
— Então, realmente retornei? — Aaron murmurou, com um tom de desdém amargo. — Literalmente cuspi no túmulo dos meus antepassados, e ainda assim me trazem de volta. Não acham que já sofri demais? Entendi, essa é a continuação do meu castigo. Se é assim, vamos ver quem ri por último!
Ele não hesitaria nem por um instante em fugir daquele palácio quando surgisse a oportunidade. Estar naquele lugar era o mesmo que ter um alvo com cores vibrantes pintado nas costas. O pensamento o fez estremecer, mas foi rapidamente arrancado de suas divagações pelo som ecoante de passos apressados no corredor externo.
Imediatamente ficou em alerta, ele varreu o ambiente com o olhar, procurando desesperadamente um lugar para se esconder. Seus olhos fixaram-se em uma cortina cinza, suavemente iluminada pela luz difusa, que cobria uma janela — sua rota de fuga. Movendo-se com cautela, ele se esforçou para não tropeçar nas próprias pernas, ainda desajeitado naquele corpo pequeno e frágil.
Ao alcançar a janela, ele não perdeu tempo. Puxou uma cadeira para mais perto, posicionando-a sob a abertura. Subiu com dificuldade e esticou-se o máximo que pôde para destrancar o ferrolho com dedos trêmulos. Assim que conseguiu, empurrou a janela com um rangido baixo e, sem hesitar, esgueirou-se pela abertura, lançando-se para fora.
A queda no chão gramado foi dura; suas pernas protestaram com dores agudas, e seus olhos lacrimejaram diante do brilho ofuscante do sol. Mesmo assim, Aaron forçou-se a levantar, os músculos tensionavam enquanto observava o jardim arborizado à sua frente.
— Governanta Kaylon, espero que você tenha uma boa explicação para isso! — A voz fria de Grace ecoou no quarto vazio, encontrando apenas os lençóis brancos, agora manchados de sangue, como testemunhas do ocorrido.
— M-Minha senhora, o príncipe estava aqui até há pouco… eu realmente não sei o que aconteceu — Leila gaguejou, desejando fugir do olhar inquisidor da mulher.
— O que está esperando, sua imprestável? Vá procurá-lo! — Grace ordenou, irritada. Uma dama de companhia fez um gesto urgente para que a governanta se apressasse.
— Mamãe, para onde levaram o Aaron? — a voz embargada de um menino cortou o ar, carregada de emoção.
Encostado contra a parede, sob a janela, Aaron escutava atentamente aquela conversa estranha. Quando, afinal, a imperatriz tivera um terceiro filho? Pelo que se lembrava, Darius era seu único irmão legítimo. Então, quem era aquele garoto?
Essas dúvidas o inquietavam, mas o mais preocupante era a própria mulher. A imperatriz sempre fora uma pessoa perigosa. Fugir antes de ser descoberto parecia a única opção sensata.
Virando-se para correr, sentiu, de repente, seu pulso ser agarrado. Um calafrio percorreu sua espinha, e, com o coração acelerado, ele se forçou a olhar para trás, encarando o rosto daquele que o impedia de escapar.
— Eu encontrei o príncipe, ele está aqui! — o guarda imperial anunciou, elevando a voz para que todos no quarto pudessem ouvi-lo.
— Me solta! Eu ordeno que me solte agora! — Aaron gritou, tentando se libertar do aperto firme. Era tão doloroso que por um instante, temeu ter o pulso quebrado.
Não demorou para que a imperatriz surgisse. Seu semblante estava abatido; os olhos âmbar, agora avermelhados pelo choro, estavam circundados por olheiras escuras, denunciando noites mal dormidas.
— Filho, você… você está vivo! — Grace exclamou, com a voz embargada e os olhos marejados, enquanto seu corpo exalava um alívio quase palpável.
Grace não hesitou, ela correu em direção a Aaron. A grandiosa soberana do Império do Sol baixava completamente sua guarda. Ela avançava com a urgência de alguém cuja vida dependia daquele momento. Mas Aaron? Ele só conseguia sentir um medo avassalador brotando do mais profundo de sua alma, misturado a uma raiva sufocante e um rancor que o consumia.
Com o coração disparado, ele olhou desesperado ao redor, à procura de uma rota de fuga. Tudo o que via eram árvores, grama e pessoas — damas de companhia e guardas da imperatriz. O peso dos olhares sobre ele o sufocava. Não havia escapatória.
Então, Grace o alcançou e o envolveu em um abraço apertado. Sua respiração estava entrecortada por soluços profundos, e o choro, que ela tentava controlar, escapava em gemidos baixos e dolorosos. As dobras volumosas do vestido vermelho se espalharam ao redor deles, manchando a relva com seu carmesim intenso. Aaron sentia o corpo trêmulo de sua mãe contra o seu, enquanto a mão dela, nervosa, segurava sua nuca com firmeza, como se precisasse se assegurar de que ele estava realmente ali, vivo.
Nada fazia sentido para ele. Aquela não podia ser a mesma mulher que, em outra vida, o tratara com frieza, desprezo e ódio. O que a imperatriz estava tramando?
Enquanto tentava decifrar o comportamento estranho da mãe, seu olhar foi atraído por uma criança que se aproximava. Tinha feições semelhantes às suas, e o rosto corado e úmido de lágrimas. Os olhos do garoto brilhavam, carregando uma mistura de alívio e ansiedade que o confundiu ainda mais. Aaron desviou o olhar, incapaz de compreender o que estava acontecendo.
— Hoje pela manhã, Leila disse para mamãe que você tinha morrido, mas eu sabia que ela estava errada! — Ethan disse, com a voz embargada. Ele correu em direção a Aaron e o abraçou com força.
Aaron estava chocado demais para assimilar a informação. Por um breve momento, a ideia de que a imperatriz pudesse estar planejando sua morte para substituí-lo por um sósia¹ passou por sua mente. Mas... "mamãe"? Que história era essa?
Tudo bem que suas memórias estavam uma completa bagunça, mas certamente não ao ponto de ele ter esquecido a existência de um irmão gêmeo!
***
— Está me ouvindo? — A voz de Ethan era baixa, carregada de preocupação, enquanto ele se inclinava para frente. Sentado ao lado de Aaron na cama, tentava, pela segunda vez, segurar a mão do irmão, mas Aaron se desvencilhou com um gesto brusco. — Você está estranho desde que te encontramos vagando lá fora. Não está se sentindo bem? Quer que eu chame o médico imperial de novo?
— Já disse que estou bem. — A voz de Aaron saiu rouca, quase abafada. — A propósito... em que ano estamos?
Ethan franziu o cenho, claramente surpreso pela pergunta. Coçou a nuca, sentindo o rubor subir às bochechas, meio embaraçado. — Para falar a verdade, eu também não sei... — Ele desviou o olhar, envergonhado.
— Pode descobrir para mim? Só não diga que sou eu quem quer saber.
— Claro, mas por que você quer saber isso agora? — Ethan se inclinou ligeiramente, sua curiosidade transparecendo no tom da pergunta.
Ele não conseguia esconder sua estranheza. Aaron, normalmente, só pensava em pregar peças nos criados ou se afundar em livros repletos de pinturas de feras mágicas e lendas antigas. Nunca demonstrara interesse por questões mundanas ou pela passagem do tempo.
Aaron esboçou um sorriso cansado, mas seus olhos estavam distantes. — Apenas uma curiosidade. Algo me diz que vou ficar muito tempo nesta cama... seria bom me atualizar. — Ele bocejou, cobrindo a boca com a mão, tentando esconder o cansaço crescente.
— Eu vou perguntar à Leila; ela deve estar preparando o nosso banho agora — Ethan prometeu, levantando-se da cama com um salto e caminhando até a porta. Antes de sair, olhou para o irmão com um sorriso suave — Não se preocupe, não vou demorar.
Assim que Ethan deixou o quarto, o silêncio envolveu Aaron como uma sombra. Ele afundou no travesseiro, o peito apertado por uma sensação de ansiedade crescente, o tempo parecia se arrastar, e sua mente fervilhava com pensamentos que ele não conseguia controlar.
Minutos depois, a porta se abriu novamente, e o príncipe se sobressaltou, erguendo-se rapidamente na cama. Seus olhos varreram o quarto, como se esperassem ver algo além de Ethan.
— Desculpa, te assustei? — Ethan perguntou, fechando a porta com suavidade e se aproximando devagar. — Eu te disse que não demoraria.
— Você... demorou. — A voz de Aaron saiu mais baixa do que pretendia, quase como se ele estivesse falando consigo mesmo.
Ethan riu suavemente, aproximando-se da cama e sentando-se no mesmo lugar de antes.
— Não se passaram nem dez minutos. — Ele sorriu, tentando aliviar a tensão.
Aaron olhou para ele, suas mãos agora inquietas no colo, os dedos brincando nervosamente.
— Pareceu mais... muito mais.
— Eu procurei a governanta por todo o palácio, mas não a encontrei. Tive que perguntar aos criados da cozinha. — Ethan suspirou, endireitando-se. — Disseram que estamos no ano seiscentos e setenta do reinado do Sol do Império, Derick Albélia.
Aaron assentiu, absorvendo a informação. — E sobre as investigações?
Ethan hesitou, mordendo o lábio inferior.
— O criado não sabia muito... mas ouvi rumores de que os prisioneiros ainda não confessaram. Não há sinais de um julgamento por enquanto. — A incerteza tingia sua voz, e ele observava Aaron com atenção.
Aaron ficou em silêncio por um longo momento, seu olhar fixo no cobertor.
— Entendi. — Sua voz era controlada, mas havia algo frio em suas palavras.
— Quer saber de mais alguma coisa? — Ethan perguntou, a preocupação evidente em seu tom.
— Não... por enquanto, isso é o suficiente. — Aaron respondeu, inclinando a cabeça para trás e fechando os olhos por um momento, exausto.
Ethan se inclinou levemente, seu rosto refletia uma mistura de preocupação e carinho. — Tenta descansar. Eu vou ficar por aqui... se precisar de qualquer coisa, é só me chamar. — Ele hesitou antes de completar, a voz baixa e sincera: — Eu sei que você quer ficar sozinho... mas não vou sair daqui agora, não posso.
Aaron abriu os olhos e olhou para o irmão, um turbilhão de emoções eram refletidas em seus olhos. Ele respirou fundo, tentando se acalmar. — Eu... agradeço, Ethan. — Forçou um sorriso, mas ele não conseguiu esconder a tristeza subjacente.
***
O quarto de Aaron estava banhado pela luz suave do dia, que entrava através da janela alta de vidro, filtrada pelas cortinas brancas semi-transparentes. A brisa leve agitava as cortinas, trazendo consigo o aroma fresco da floresta ao redor. Era um contraste gritante com o clima tenso que pairava no ar.
Alguns dias haviam se passado desde o incidente com o veneno. O médico imperial Cliven, um homem de porte imponente e cabelos longos que caíam sobre os ombros, retornara ao Palácio Gardênia para reavaliar a saúde de Aaron. Ele se sentou em uma cadeira ao pé da cama, ajustando o monóculo, enquanto seu olhar clínico examinava o príncipe. Suas ombreiras douradas, incrustadas com pequenos símbolos mágicos, reluziam sob a luz suave, tornando sua presença ainda mais imponente. Ao seu lado, uma dama de companhia, enviada pela imperatriz, mantinha-se em pé, como uma sombra, a uma distância respeitosa.
— O príncipe aparenta boa saúde — começou Cliven, com a voz firme e ponderada. — Mas me pergunto o que pode ter ocorrido nesse período. — Ele cruzou os braços, os olhos fixos em Aaron com um misto de preocupação e curiosidade. — Até recentemente, seu estado era tão grave que seu corpo rejeitava qualquer antídoto. Cheguei a pensar que não haveria mais esperança.
— Isso significa que posso finalmente sair dessa cama? — Aaron perguntou, impaciente, os olhos brilhando com uma mistura de determinação e frustração.
Ficar deitado era uma tortura, especialmente sabendo o que o aguardava fora daquele quarto. O Palácio Gardênia, apesar de toda sua tranquilidade aparente, era o último lugar em que ele gostaria de estar. O verdadeiro culpado pelo envenenamento ainda estava à solta, enquanto inocentes pagavam por um crime que não haviam cometido. E era seu dever corrigir isso.
Cliven, que já estava acostumado à impaciência do jovem príncipe, inclinou-se ligeiramente, observando Aaron por sobre o aro do monóculo.
— Príncipe, recomendo fortemente que descanse mais. Essa recuperação súbita me preocupa. Não seria prudente forçar-se agora, sem garantias de que está totalmente curado. — Sua voz era calma, mas firme.
— O quê? Não! Não, não, não! — Aaron exclamou, sua voz subia uma oitava enquanto se sentava abruptamente. Ele se arrastou para fora da cama com um movimento desesperado, pegando Ethan e o médico completamente de surpresa. — Eu já estou bem! Não vou ficar deitado nessa cama igual a um moribundo apodrecendo!
Ethan, que estava observando a interação com atenção, interveio com a voz firme e carregada de reprovação.
— Você está sendo muito teimoso, Aaron! Não faz nem uma semana que você estava à beira da morte. Por que não consegue apenas... ficar quieto?
Aaron bufou, desviando o olhar. Ele sabia que seu corpo estava se curando mais rápido do que o normal, graças ao poder do sol que corria em suas veias. O que Ethan e Cliven não entendiam era que ele não podia se dar ao luxo de esperar. Cada momento de inatividade era um risco, uma chance a mais para seus inimigos agirem.
— Três dias. — Cliven se pronunciou, interrompendo a tensão entre os irmãos. — Vou lhe dar três dias para se recuperar completamente. Depois disso, farei uma nova avaliação. Até lá, peço que descanse e siga minhas recomendações. Príncipe Ethan, conto com você para garantir que ele não se esforce demais.
— Pode deixar comigo, doutor. — Ethan respondeu com um aceno firme, lançando um olhar severo para Aaron, que apenas bufou em resposta.
O médico se levantou, pegando os frascos com o líquido vermelho brilhante e entregando-os à dama de companhia.
— Estes são os remédios que o príncipe deve tomar. Uma colher por dia será suficiente. — Cliven explicou, observando a dama enquanto ela assentia e guardava os frascos com cuidado.
— Três dias, não é? — murmurou Aaron, com uma ponta de sarcasmo. — Assim que levantar dessa cama, eu vou aprender esgrima, e não quero ninguém atrás de mim dizendo o que devo ou não fazer.
— Esgrima? — o médico imperial perguntou confuso, momentaneamente pausando seu trabalho — Isso é ótimo, alteza. Pensei que não tivesse interesse em aprender a lutar.
Ethan, percebendo a tolice que o irmão estava prestes a dizer, interveio.
— Não lhe dê atenção, Sr.Cliven, Aaron continua meio grogue por causa dos medicamentos que tomou hoje cedo. Não está falando coisa com coisa — Ethan disse, pousando uma mão reconfortante no ombro de Aaron.
Instantaneamente, Aaron sentiu um arrepio percorrer sua espinha, uma sensação de queimação sob o toque de Ethan. Ele se afastou abruptamente, quase tropeçando no tapete. Ethan, surpreso, manteve a mão suspensa por um momento, como se tentasse entender o que havia acabado de acontecer.
A tensão pairava no ar, pesada e densa. Ethan desviou o olhar, escondendo a tristeza que começava a se formar em seus olhos.
Não era a primeira vez que Aaron recebia esse olhar. Em sua vida anterior, os membros do Conselho viam sua aversão como uma prova de frieza. Para eles, a recusa não passava de um gesto de desdém.
Por mais que tentasse, o príncipe não conseguia explicar para si mesmo a raiz exata de seu desconforto. Era como se o toque físico fosse capaz de quebrar alguma barreira dentro de si e consumi-lo com as chamas de seu próprio poder, levando-o à morte. Era algo que queria evitar a todo custo.
Cliven, tentando aliviar o clima, limpou a garganta.
— Bom, parece que o príncipe realmente precisa de algum estímulo. — Ele disse, ajeitando seu monóculo uma última vez. — Eu o autorizo a fazer caminhadas matinais pelo pátio. Isso deve ajudar a aliviar o tédio.
— Caminhadas matinais? Tipo, caminhar por aquele pátio minúsculo e olhar para as plantas e o céu, como se eu não tivesse nada melhor para fazer? — Aaron perguntou, sentindo uma pontada de irritação e estranhamento.
Cliven ergueu suas sobrancelhas pálidas, surpreso com a resposta deselegante do príncipe. Estava mais do que estampado em sua face que ele questionava seus modos.
— Bom, chame como quiser — o médico disse, desistindo de argumentar com o príncipe. — Altezas, eu me despeço por aqui. Estarei retornando ao Palácio Hibisco, irei comunicar a imperatriz sobre a situação atual e aguardarei suas instruções. Se acontecer alguma coisa, por favor, não hesitem em me contatar, virei o mais rápido possível.
Os garotos observavam atentamente enquanto o médico se dirigia para a porta do quarto. Seu uniforme azul escuro contrastava com a armadura azul polida da dama de companhia. A mulher de pele amarelada, marcada pelo sol, seguia atrás dele com passos firmes e elegantes, sua postura era impecável, digna de alguém que serviu à imperatriz por anos. Presa à sua cintura, uma rapieira reluzia sob a luz suave do ambiente, um símbolo peculiar de sua devoção e habilidade. Ela lançou um último olhar enigmático sobre o ombro antes de fechar a porta e desaparecer no corredor.
— Desde quando se interessa por espadas? — Ethan perguntou repentinamente, quebrando seu silêncio.
— Desde que alguém tentou me matar. Por qual motivo eu não me prepararia? — Aaron rebateu, com ironia. — Esses infelizes sabem que representamos perigo, por isso se infiltraram em nosso palácio. Não podemos deixar isso passar.
Para ele, não fazia o menor sentido ficar sentado, esperando que o protegessem. Precisava lutar pela própria vida, não podia depender de ninguém.
— Vivemos em um palácio no meio da floresta, longe de qualquer civilização. Qual perigo poderíamos oferecer? — A pergunta de Ethan foi feita em um tom baixo, quase como se estivesse tentando convencer a si mesmo.
— Somos filhos legítimos dos imperadores, e caso não tenha percebido, eles são os cultivadores mais poderosos do Império do Sol. Nossa mera existência é um perigo para os inimigos. Eles temem que tenhamos herdado os poderes dos nossos pais e continuemos sua linhagem. Agora me responde, Ethan, você quer morrer por causa dessa gente desprezível que não se importa em machucar crianças? — A voz de Aaron traiu um leve traço de ferocidade. Havia uma revolta silenciosa que ele preferia não expor, mas que, com Ethan, talvez por considerá-lo ingênuo, ele se permitia deixar transparecer.
Ethan desviou o olhar por um momento, seus dedos inquietos se movendo nervosamente.
— Claro que não! — respondeu, mas sua voz carregava um misto de incerteza e medo. — Sei que não herdei o poder do sol, mas isso não dá a ninguém o direito de decidir o meu destino. Não entendo por que estão fazendo isso. Não temos culpa dos erros dos outros. Nunca fizemos mal a ninguém.
Aaron respirou fundo, sentindo a exaustão tomar conta de seu corpo. A inocência de Ethan era frustrante, mas, de certo modo, compreensível.
— Infelizmente, o mundo é assim. As pessoas temem o que não compreendem e são cegas demais para enxergar além de seus próprios medos. A ignorância é uma mancha que não se pode limpar. O mundo nunca foi justo, Ethan. É cruel. Apenas os fortes sobrevivem. — Aaron encarou o irmão, os olhos fixos nos dele. — Não vou deixar que a estupidez deles defina meu destino. Vou aprender a me defender. E vou ser o primeiro a atacar antes que tenham a chance de me destruir. Se você tiver um mínimo de inteligência, vai fazer o mesmo.
Ethan, com o olhar perdido e os lábios trêmulos, finalmente encontrou coragem para falar:
— Aaron, somos apenas crianças. Temos dez anos e nunca saímos desta floresta. Não conhecemos o mundo além dela. Mal sabemos empunhar uma espada. — Ele deu um passo mais perto de Aaron, a determinação crescendo em sua voz. — A culpa não é de mais ninguém além de nós mesmos. Tivemos a chance de aprender, mas estávamos tão focados em aproveitar a infância que deixamos os deveres para os outros príncipes.
Ele estendeu a mão, agarrando os braços de Aaron. O toque fez o príncipe se encolher com um gemido de dor, sentindo a ardência percorrer sua pele. Aaron tentou se afastar, mas Ethan segurou firme, seus olhos firmes e intensos.
— E o que conseguimos com isso? Liberdade. É isso que você está questionando agora. — A voz de Ethan soou calma, mas havia uma força inesperada ali. — Se quer prosseguir com isso, lembre-se de quem somos. Somos príncipes, Aaron. Temos o poder de mudar o sistema.
Aaron parou de tentar se soltar. As palavras de Ethan ecoavam em sua mente, desafiando suas crenças. O garoto não era tão tolo quanto ele imaginava. Ele era medroso, chorão, emocional, mas… era observador e inteligente, Ethan tinha pensamento próprio.
— E se não for possível mudar o sistema? — Aaron murmurou, as memórias de seu fracasso retornando, queimando como feridas mal cicatrizadas. — E se tivermos que conviver para sempre com as tentativas dos rebeldes?
— Ninguém consegue nada sozinho — Ethan respondeu com firmeza. — Quem quer mudar o mundo, faz acontecer.
Aaron, que um dia foi chamado de Imperador da Luz e depois de Tirano Sanguinário, teria feito algo significativo para o Império do Sol? Ele olhou para o irmão gêmeo, pensando nas suas palavras. Quando caiu no Penhasco do Arrependimento, o império estava tão arruinado quanto quando ele subiu ao trono.
O peso de tudo que havia feito, e tudo que ainda faria, parecia esmagá-lo naquele momento.
***
— Este palácio é tão pequeno. Mal dei dez passos e já estou entediado! — Aaron reclamou, enquanto seus pés esmagavam as folhas secas sob suas botas. O som suave das folhas quebrando era a única distração que o mantinha andando, mas até aquilo parecia pouco interessante.
— Quer voltar para a cama? Deve ser mais confortável que esse pátio desolado e depressivo — Ethan sugeriu, caminhando ao seu lado. Sua voz carregava a nota de um sorriso enquanto imitava o jeito de reclamar do irmão. Ele sabia bem que Aaron não aceitaria. Atrás deles, uma criada seguia silenciosa, erguendo uma sombrinha para protegê-los da luz tênue que filtrava através das nuvens cinzentas.
— Claro que não! — Aaron exclamou, impaciente. Ele estreitou os olhos enquanto observava a copa espessa dos pessegueiros que se erguiam acima do muro que separava o Palácio Gardênia do Palácio Lótus. — Eu odeio esse lugar, parece uma prisão! De quem foi a ideia de nos jogar aqui?
Os dois caminharam em silêncio por algum tempo, presos em seus próprios pensamentos. O céu nublado, repleto de nuvens cinzentas, dava ao lugar uma aparência mórbida, acentuada pela brisa fria da manhã. A paisagem de plantas murchas e grama seca contrastava com a floresta verde que cercava o pequeno palácio, isolando-os do restante da Família Imperial.
— Será que podemos ir até os pessegueiros? Eu queria colher alguns frutos — Aaron perguntou, sua voz era quase apática enquanto diminuía o passo, olhando para o muro que separava os dois palácios.
— Daqui até o portão de entrada do Palácio Lótus são mais ou menos dez minutos de caminhada. Não quero que se esforce tanto, — Ethan respondeu. Ele fez uma pausa, como se ponderasse se deveria revelar mais. — Além do mais, talvez você ainda não saiba, mas Kaylus suspeita de nós. Fomos os últimos a entrar no ninho dos dragões.
Ninho de dragões? Um calafrio percorreu a espinha de Aaron. Dragões de verdade, daqueles que voavam e cuspiam fogo? Não podia ser! Ele não se lembrava de ser tão destemido assim durante a infância. Ou será que havia sido? Como ainda estavam vivos?
Ethan sorriu, como se apreciasse o choque estampado no rosto do irmão.
— Tivemos sorte de sair ilesos! O bom é que conseguimos pegar os ovos antes da fera mágica do Kaylus retornar. — Ele continuou, orgulhoso, como quem compartilha um segredo valioso.
— E onde eles estão? — Aaron perguntou, sentindo uma onda de excitação tomar conta de seu corpo, suas mãos involuntariamente se fechando em punhos de expectativa.
— Eles quem? — Ethan rebateu a pergunta, encarando-o com estranhamento.
— Os ovos, não estávamos falando sobre eles? Onde estão? — Aaron franziu o cenho, irritado pela pergunta boba, seu tom mais ríspido do que pretendia.
Ethan lançou um olhar breve à criada antes de pedir:
— Deixe-nos a sós. — Ele pegou a sombrinha da mão dela, e, sem dizer uma palavra, a criada se afastou, fazendo uma reverência silenciosa. Ethan conduziu Aaron até a sombra de uma árvore frondosa. — Como assim "onde estão"? Foi você quem escondeu os ovos. Nós os pegamos dois dias antes de sermos envenenados. Não vai me dizer que esqueceu do esconderijo?
— Eu escondi? Mas Ethan, eu não me lembro de nada disso — Aaron respondeu, encabulado.
Aaron esperava que o irmão relacionasse a perda de memória a sua recuperação. Ele não tinha relação alguma com as aventuras que o garoto se envolveu com sua pequena versão nesse estranho universo, portanto, não poderia ajudar.
Ethan estreitou os olhos, visivelmente frustrado, mas se conteve.
— Pois faça um esforço para lembrar onde os colocou. Eu não suportei o castigo de Kaylus para no fim você tê-los perdido. Caso não saiba, foram duas horas de joelhos no pátio do Palácio Lótus. Eu nem mesmo pude devolvê-los porque não sabia onde estavam! — Ethan elevou o tom de voz, claramente irritado.
Aaron sentiu seu estômago revirar de leve enquanto olhava para o irmão. Tentar lembrar de sua vida passada parecia piorar sua dor de cabeça, e nada do que Ethan dizia fazia sentido para ele.
Após mais de meia hora procurando os ovos dentro e fora do Palácio Gardênia, os garotos ainda não os haviam encontrado, e Aaron também não conseguia se lembrar de seu paradeiro.
— Kaylus voltará para tirar satisfações sobre esses ovos. Ele só está esperando você ficar melhor para vir nos ver. Tenho quase certeza que também trará sua fera mágica para nos obrigar a falar! — Ethan lamentou, sentado no chão do quarto, rodeado dos brinquedos que retirou do baú próximo à imensa cama de seu quarto. — Aaron, faz um esforço. Será que você os escondeu em algum dos outros palácios? Você sempre preferiu passear pelos arredores do Palácio Lantana. E se estiverem escondidos por lá?
Aaron, agora de pé, observava o irmão. O imponente e luxuoso Palácio Lantana, residência do príncipe herdeiro, ficava a quase uma hora de caminhada do Palácio Gardênia. Como sua versão infantil havia conseguido percorrer todo esse caminho apenas para esconder alguns ovos? O risco simplesmente não valia a pena.
Era verdade que, durante a infância, ele sempre se sentiu um tanto deslumbrado pela força de Darius. Afinal, seu irmão mais velho não era apenas um poderoso cultivador, mas também o Comandante do Exército do Sol, o que, por si só, já era impressionante.
— Pode ser que eles estejam lá. — Aaron disse, por fim.
— Certeza? — Ethan perguntou esperançoso, levantando-se e deixando os poucos brinquedos que estavam sobre seu colo caírem no chão.
— Acho que sim, mas por que esses ovos são tão especiais? Há vários no bosque e na floresta. Assim que Kaylus chegar, a gente explica a situação e vai ficar tudo bem. — Aaron disse, dando de ombros.
Ethan o encarou como se ele tivesse acabado de dizer a coisa mais absurda do mundo.
— Que baboseira é essa que você está falando? Você ainda não entendeu que a fera mágica do Kaylus é o dragão do ninho? Ela põe ovos uma vez a cada cem anos, Aaron! Aqueles ovos são mais preciosos que o Palácio Lantana e o Palácio Lótus juntos! Kaylus não vai nos perdoar se tivermos perdido eles!
Então era isso, eles haviam roubado os ovos da fera mágica de Kaylus!
Aaron fez uma careta, sentindo uma leve pontada na cabeça. Ele, que uma vez foi um grande imperador, já devia ter visto a fera mágica de Kaylus em ação, certo? Seria estranho se não tivesse…
De repente, Aaron arregalou os olhos, como se uma luz tivesse se acendido em sua mente. Havia se esquecido completamente de sua própria fera mágica, o pequeno dragão-serpente que vivia lhe ignorando. Não era à toa que não se lembrava dele; ao ser ignorado, ele devolveu na mesma moeda! Uma atitude bem infantil, admitia.
Em sua vida passada, não havia tantos detalhes como agora. Aaron apenas estava passeando pelos limites do bosque e comendo alguns frutos, quando, de alguma maneira, terminou se perdendo e caminhando por horas até encontrar um ovo com a superfície de escamas peroladas. Ele, obviamente, o levou consigo, tratando-o como se fosse a coisa mais preciosa que já tivera na vida. Dois dias após pegá-lo, foi envenenado.
Curiosamente, aquele estranho ovo ainda estava nos domínios do Palácio Lantana quando ele o procurou, após sua milagrosa recuperação. Ele o havia deixado lá depois de se aventurar pelo rio que cortava o caminho. Lembrava-se de ter subido em algumas macieiras e brincado com algumas pedras que, na época, lhe pareciam estranhas, sem saber que se tratavam de artefatos com proteções mágicas.
— Tenho certeza que os ovos estão no Palácio Lantana, vamos lá procurar! — Aaron disse, decidido, um brilho de animação renovada em seus olhos.
— Eu vou sozinho, você já se esforçou demais por hoje. — Ethan decretou, apagando a empolgação do irmão.
— É melhor eu te acompanhar, pode ser que você não encontre os ovos. E se você se perder? Teremos dois problemas! — Aaron exclamou, tentando encontrar uma desculpa para ir junto.
— Eu conheço a floresta tão bem quanto você, então isso não vai acontecer. E você esqueceu que está sob observação médica? Preciso ir antes que escureça! — Ethan disse e correu para fora do quarto.
— SEU PIRRALHO! QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA MANDAR EM MIM? — Aaron gritou, com o rosto vermelho de frustração. Ele encarou a porta aberta, certo de que o garoto não retornaria. A raiva borbulhava em seu peito, e as palavras escaparam antes que pudesse contê-las. — ACHA QUE ME CONHECE? EU NEM DISSE ONDE ELES ESTAVAM, SEU OTÁRIO!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro