Escolha um nome
É incrível e, ao mesmo tempo, assustador a forma de como tudo pode mudar da água para o vinho num piscar de olhos. Em um momento estamos felizes, acreditando que temos a vida perfeita e que nada poderia acontecer para estragar. Mas, sabe quando você se sente azarado ao ponto de achar que tudo acontece contigo? Então... Estou chegando a este ponto. Tudo o que estava perfeito desmoronou na minha frente; desmanchou-se como um castelo de areia ao se chocar com as águas do mar.
Eu havia me pego acariciando sua barriga por alguns minutos, e sorri junto com Emma, que olhava para mim sorrindo. O momento não era ideal para se comemorar, mas há algumas semanas eu mal me imaginava me aproximar dessa gravidez, e naquele instante percebi que eu fazia parte dela.
Emma sorria, aliviando todos os soluços que teve a alguns minutos.
– Já pensou em algum nome, hm? – perguntei.
– Depois desses acontecimentos, se for menina... Hope ou Faith caíram muito bem, não acha?
Hope, a esperança. Esperança de que Emma e o bebê saíssem dessa. Faith, a fé. Fé que teríamos até o fim, ao lado do nosso pequenino.
– Melhor escolha impossível! – respondi, tendo a certeza de que Emma sabia que eu me culpava por tudo o que ocorrera.
Tornou-se notório o quanto eu temia o amor, principalmente após a morte de Robin Hood, confirmando que eu só poderia estar amaldiçoada a todos os que amo venham a falecer. E, pelo incrível que pareça, há alguns dias eu havia comentado com Zelena sobre meu temor para com a salvadora. Temia que a perdesse, assim como perdi todos os que me relacionei. Temia, pois sabia que se a perdesse não seria como as outras vezes. Seria impossível preencher o vazio e a dor que eu sentiria.
– Agora se for menino... Eu não sei. – permaneceu séria, mas segundos depois me surpreendeu com um aberto sorriso, dando-me a visão de seus dois dentinhos tortos que acho tão fofos. – Se for menino, você escolhe!
– Eu não sou boa com escolhas de nomes, Miss Swan.
– Como não? – ela segurou minha mão e a acariciou. – Escolheu o nome de Henry.
Eu sorri e acabei por esquecer de responde-la, mas ela nem se importou. Eu sentia seus olhos pousados em mim, e de vez em quando eu virava o olhar para confirmar. Emma estava adorando minha sinceridade e felicidade para o bebê, que biologicamente era de Killian, mas eu quem criaria. Eu que educaria e ensinaria a usar magia, caso tivesse.
– Em homenagem ao meu pai. – lhe respondi, deixando-a sem nenhuma palavra.
– Hm, então por que não faz homenagem a mais alguém? – propôs, agora tendo minha atenção. Salvou-me mais uma vez de meus conflitos internos, culpando-me por seu estado. – Não há mais ninguém em toda a sua vida que queira homenagear?
– Não, não há mais nenhum nome em mente... Ninguém que eu queria homenagear. – respondi sem pensar duas vezes, percebendo que aquela minha resposta não era adequada para o momento. A loira, por sua vez, olhou para porta observando a maçaneta girar.
– Não tem problema, Regina. – respondeu séria, deixando-me de coração partido. Por que eu não havia apenas dito que iria pensar no nome? – Eu mesma decido o nome do nosso filho. – terminou e largou minha mão.
O som da porta do quarto sendo aberta e a presença do doutor, impediu-me de ajeitar o erro que eu havia dito. Por pouco não me distanciei ao me sentir péssima por ter respondido daquela forma, aliás, Emma estava me dando uma oportunidade maravilhosa de poder escolher o nome de nosso bebê caso não seja menina. Mas, não me afastei; eu precisava estar ali, ao lado dela.
Foi então que a ouvi suspirar fundo e senti seus dedos acariciarem minha mão.
– Desculpe-me o atraso e o incômodo em atrapalhar esse belo momento entre mães, mas... Precisamos fazer a ultra o mais rápido possível, aliás, é a vida do bebê que está em risco. – Whale nos atrapalhou e deu um sorriso sem graça, para que soubéssemos que não chegara por mal.
Senti-me paralisar e Emma apertar minha mão com força, conforme suas emoções mexiam consigo. Aquela era a primeira ultra para ver bebê que presencio... Eu estava nervosa, ansiosa. Não apenas por ser a primeira, mas também pelo motivo de estarmos ali.
Quando observei Whale encostar na barriga pequena e redondinha da salvadora, arqueei minhas sobrancelhas e apertei minha própria mão, enquanto a outra segurava a mão de Emma. Logo, meu olhar fixos em suas mãos na barriga da loirinha mudou para um gel que ele começara a passar na área exposta.
Tudo aquilo era novo para mim, tanto que mal me importava com suas mãos em Emma. Eu olhava para a barriga melecada pelo gel, em seguida para as órbitas verdes dela, que brilhavam indescritivelmente.
– É gelado? – perguntei em tom baixo, ouvindo o riso pelo nariz de Whale, que sorria com a cena apaixonada de nós duas.
Emma Swan riu, roçando a cabeça na minha mão que segurava a dela.
– Sim, é gelado. – nos entreolhamos e sorrimos baixinho, até eu me calar por completo com o que veio em seguida.
Numa telinha ao lado da cama de Emma, surgiu uma imagem bastante ruim de algo que um dia seria uma criança correndo em nossa casa. Já não era um feto. Era um bebê formado, mas bem minúsculo. Em seguida, ouço o som fraco de seu coraçãozinho ecoar pelo quarto de hospital.
– Então... Já sabem o nome? – Whale perguntou, observando seriamente a tela.
– Ainda não sabemos o sexo. – Emma respondeu, enquanto eu não tirava meu olhar da telinha. Aquilo, sem dúvidas, era mais bonito que magia.
– Não seja por isso! – disse Whale sorrindo. – Nessa ultra, diferente das outras, está visível o sexo do bebê. Agora basta apenas saber se querem que eu diga, ou querem que seja segredo até o nascimento, assim como alguns pais.
Mordi meus lábios. Eu estava curiosa, mas queria saber a decisão de Emma. Olhei para ela, que assentiu olhando em meus olhos e respondendo:
– Nós queremos saber!
– Então... Quais nomes de menino vocês já decidiram?
– Os nomes de menino... Ainda não decidi. – Emma respondeu acariciando minha mão.
– É um menino? – perguntei desacreditada, com um sorriso no rosto.
Whale riu.
– Sim, é um menino! – respondeu, inclinando-se mais na cadeira e apontando para uma região da telinha. – Está vendo? Esta é a resposta: é um menino.
Whale demostrava felicidade por nós, mas excitava em dizer algo, ou, certamente, esperava alguns segundos para nos contar algo. Eu estava muito contente há alguns segundos, mas ao notar seu comportamento estranho, deixei de demonstrar minha alegria. Emma era a mais feliz de todos nós, e isso era de se esperar. Ela estava tão feliz que não notou o nervosismo do doutor.
– Então, Doutor Whale, estamos liberadas? – perguntei torcendo para que não fosse apenas uma impressão minha, pois agora que eu falei, Emma prestava atenção em nós. – Digo... O bebê está bem? Está saudável?
Whale olhou para a telinha e para nós duas.
– O bebê é forte... Pois era para ele estar morto dado o acidente que Emma sofreu, mas de alguma forma ele está vivo. Como se algo tivesse o protegendo. – Whale tentava explicar e dar uma resposta sobre como ele estava vivo, e tudo o que vinha em minha mente era a magia que usei para protegê-lo. – Mas infelizmente não há garantia de que ele consiga sobreviver... O coração dele está muito fraco.
– Ele vai viver, Whale, eu... Eu o protegi com minha magia.
– De magia eu não entendo, Senhora prefeita, mas essa criança está muito fraca... E se permanecer ali, ele irá morrer. – eu engoli em seco quando vi os olhos de Emma se encherem de lágrimas. – Desculpe-me, mas devo ser sincero. Vocês devem fazer a escolha definitiva... Se quiserem prosseguir com essa gravidez e acreditar que sua magia irá salva-lo, eu estarei honrado em continuar com todos os cuidados até o dia do nascimento. Mas, como eu disse, a porcentagem é enorme de ele morrer ainda na sua barriga, causando-lhe até problemas por conta de um bebê morto em seu ventre. Eu a encaminharia direto para um parto de emergência, mas já que Regina o protegeu com magia... Vocês podem opinar em acreditar que sua magia irá ajudá-lo, ou prosseguir com o parto prematuro.
Eu não tinha mais o que responder, pois minha escolha era acreditar na magia. Embora, o certo seria cura-lo, mas a magia, por algum motivo, não o fez. O bebê estava fraco, e só estava vivo pela minha magia... Realmente era algo a ser pensado.
– Se... – Emma respirou fundo. – Se eu optar pelo parto de emergência, ele vive?
– Serei sincero a todo instante... – disse ele com pesar em sua voz. – Não irei garantir isso, mas darei meu melhor. Vejamos... Você está grávida de quatro meses e meio, então nesse período o bebê está formado, mas precisa de ajuda para viver, pois são bem frágeis. Tentaríamos ajudá-lo com todos os aparelhos respiratórios, etc... Sei que é difícil, mas são as únicas opções.
Eu não tinha mais respostas, nem forças. Senti-me tonta com o choque de informações que acabara de receber, mas em momento algum larguei a mão de Emma, que estava mais destruída que eu.
– Vou deixa-las pensar sobre o assunto... – abaixou a cabeça e saiu.
Um silêncio pairou naquele lugar, assim como o tempo pareceu paralisar. Senti-me inútil; senti-me sem função alguma, nem de confortar a mulher que eu amo.
Tum tum – senti a adrenalina tomar conta de mim, fazendo com que meu coração batucasse até parecer que iria rasgar meu peito, por tamanha intensidade de suas batidas. Eu podia escuta-lo, e jurei que Emma talvez o escutara.
Arrepiei-me ao sentir seu toque gelado como um cadáver; gelado como se não tivesse resquício de sangue correndo por suas veias. Seus olhos não tinham mais a vida que tanto me alegrava em momentos difíceis... E nem seus dentes pouco tortinhos eu conseguia ver, pois seus lábios se mantinham fechados e seus olhos abertos sem piscar uma vez sequer.
Estávamos em choque. E, como eu disse, minha dor era menor que a dela. Eu sentia que perderia uma parte importante de nossa vida. Sentia-me culpada por não estar com Emma para protegê-la de Killian, tampouco tinha magia o suficiente para salva-lo da morte. Porém, eu mal havia começado a considera-lo um filho, e já sofria como se o amasse desde o início. Mal posso imaginar a dor que Emma, quem o carregou desde o início e o amou, sentia.
– Seja qual seja a nossa escolha, ele ficará bem. – quebrei nosso silêncio, sentindo sua mão apertar a minha com uma força que podia jurar que meus ossinhos da mão estavam se quebrando.
– Eu... Eu não sei o que fazer, Regina. – escondeu sua face em suas mãos, e, pela primeira vez, vi a salvadora fraca, sem barreira alguma ou tentativa de ser forte. – Sua magia não o matou, apenas está fazendo com que ele viva por mais um tempo, não é?
– Bom... Tudo o que sabemos é que nenhuma magia pode trazer alguém de volta, então ele não morreu. Mas o acidente causou complicações... – pensei muito antes falar. – Creio eu que ele estava morrendo, mas a magia o protegeu. – juntei-me ao seu lado, abraçando-a e chorando. Sentindo meu coração doer, assim como minha cabeça voltava a doer e uma tontura rápida passar por mim.
– Eu só queria ter uma família ao seu lado, Regina. – confessou chorando. – Queria poder aproveitar minha primeira gravidez ao lado da minha família, ao seu lado... Queria criar um filho contigo, mas... Sinto que todos os meus sonhos estão sendo tirados de mim.
– Oh, meu amor, por favor, não chore... – pedi, ironicamente chorando mais que ela, e secando algumas de suas lágrimas. – Ele está bem... Ele irá ficar bem.
– Como me pede para não chorar, se também o faz? – perguntou retoricamente, enxugando suas próprias lágrimas. – Eu... Vou fazer o parto de emergência. – disse convicta.
– Tem certeza?
– Absoluta. – disse firme, como se tivesse se recuperado de todas as fraquezas que momentos atrás a faziam chorar. – Eu preciso tentar. Você já ajudou, protegendo-o enquanto está em minha barriga. Por isso serei eternamente grata. – disse, acariciando meu rosto e me beijando em desprevenida. Por mais que ela parecesse estar forte, em seu beijo, senti seu tremor. Senti que ela temia e, obviamente, sofria. – Mas agora, preciso fazer isso antes que ele morra... – disse entrecortado. – Por... Favor... Diga à Whale que irei fazer a tal cirurgia.
Pressionei meus lábios um contra o outro, dando um beijo no alto de sua cabeça em sinal de que tudo ficaria bem, e que eu a estaria esperando quando todo aquele pesadelo terminasse. Sentindo-me frágil e, quase, desmoronando, retirei-me do quarto, parando apenas para lhe mandar um beijo no ar. Em seguida, eu deveria falar com Whale, que nessas alturas estaria dando a notícia para a família.
Andei vagarosamente pelos corredores do hospital, percebendo que minha dor de cabeça voltara a me atormentar e que, de certa forma, eu estava aérea ao ponto de não me sentir incomodada. Naquele momento, as únicas coisas que realmente me incomodava era os ecos dos aparelhos cardíacos e os passos apressados dos enfermeiros a fim de salvar a vida de alguém, sem falar que todos aqueles sons pareciam zumbidos produzidos em câmera lenta em minha cabeça. Até me dar conta de que estava na mesma sala que todos nossos amigos e família.
– Regina! – exclamou Mary, sem conseguir desmanchar sua feição aflita. – Cabeça oca, por que você saiu da observação sem ordens médicas? – embora soubesse a minha resposta, ela perguntou, abraçando-me ao perceber que eu não a responderia.
Para dizer a verdade, eu não responderia ninguém. Não porque eu não queria, mas eu me sentia congelada; meu cérebro parecia petrificado apenas com as palavras de Whale sucessivamente ecoando. E, embora eu visse todos os amigos e familiares me olhando preocupados, eu jamais conseguiria respondê-los. Eu diria apenas o que me foi pedido.
– Regina, você está bem? – o doutor que antes conversava com Rumple, que estava lá por nossa amizade, aproximou-se preocupado. Embora eu percebesse que ele estava me avaliando sem ao menos me examinar, eu acenei que sim com a cabeça, fazendo-o arquear a sobrancelha. – Você não está bem, Senhora Prefeita... – suspirou.
– Mas é claro que estou! – respondi com meu tom firme de sempre, embora tremesse e entregasse que eu não estava bem. – Hm, Emma quer... E-Emma quer prosseguir com o parto de emergência.
– Majestade, você pode continuar afirmando que está bem, mas eu sei que não está. – afirmou olhando em meus olhos, fazendo com que eu desse alguns passos para trás. – Embora eu tenha o dever de lhe deixar aqui, em observação, pois é o mais recomendado, não posso simplesmente amarra-la em um quarto de hospital. Veja bem... Emma está fazendo de tudo para que saia dessa bem e volte para seus braços, mas você não faz o mesmo. O que ela diria se ela voltasse para casa e você estivesse adoentada por não ter aceitado se cuidar? – ele acenou para alguns médicos, que rumaram para o corredor do quarto de Emma, e, em seguida, suspirou com um olhar decepcionado, como se esperasse que eu aceitasse ficar mais um pouco no hospital. – Enfim, fico feliz em ajudar todos os passos de Emma e do bebê. – finalizou, retirando-se.
Após sua retirada, eu já tinha consciência de que dessa vez eu deveria ficar ali, junto a todos os outros. Poucos minutos se passaram, e pareciam horas. É até engraçado que, quando ficamos esperando muito por aquela hora, ela parece brincar conosco e resolver andar mais lento que tartaruga. Até que, finalmente, percebo uma movimentação diferente, fazendo com que eu não suportasse e fosse até o corredor, deparando-me com Emma deitada em uma maca, sendo encaminhada para o centro cirúrgico.
Eu queria estar com ela e segurar em sua mão até aquilo tudo acabar; eu queria poder sorrir quando visse nosso bebê nascer com vida, embora ainda fosse minúsculo e precisasse ficar muito mais tempo numa incubadora. Eu queria estar lá... Mesmo que tivéssemos uma notícia ruim.
Aliviei-me ao poder fazer isso por um segundo, segurando sua mão enquanto os médicos não chegavam à sala em que seria realizado seu parto. E, pela primeira vez, segurei suas mãos com toda a minha força para que jamais soltasse, no entanto, quando fomos afastadas, entristeci-me ao ver seu olhar de até logo, que ela costumava fazer ao sair de minha casa.
– Bryan! – exclamei após pensar em um nome de menino para nosso bebê. Aliás, o significado de seu nome caia muito bem.
E, após muito estar entristecida, alegrei-me ao ver seu sorriso apenas pela minha escolha de nome, fazendo-me perceber que era aquilo que Swan precisava: esperança.
Sim, escolher o nome já era uma esperança.
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