Abrace-me
P.O.V Regina
Eu não estava me reconhecendo nos últimos dias. Eu estava mais... Corajosa? Um pouco ousada, talvez. Mas, não me arrependo dos meus atos, pois sempre parei no momento certo. Algumas provocações foram necessárias para saber se a salvadora realmente sentia algo por mim, e, dado aos resultados, passo a ter esperanças outra vez. Sinto como se tivesse dado um passo para meu final feliz, e, mesmo que receba um não estarei satisfeita por ao menos tentar.
Saímos do bar, e eu pude sentir um momento de paz jamais alcançada antes. Senti-me como se estivesse num sonho ou como uma pessoa que em breve poderia cruzar com a felicidade, o que é ótimo, enquanto caminhávamos pelas ruas iluminadas e desertas de Storybrooke. Ambas com as mãos dentro dos bolsos dos casacos na tentativa falha de se aquecer do frio. Era evidente a troca de olhares e sorrisos durante todo nosso percurso até o fusca amarelo de Emma.
– Gostou de jogar sinuca hoje? – quebrou o silêncio, sorrindo e olhando de soslaio para mim.
– Primeiramente, gostaria de saber se você é acostumada a jogar um jogo tão injusto!
– Sua derrota não foi injusta, pois eu havia lhe dito todas as regras. – retrucou.
– Deveria saber que são muitas regras para se aprender em uma noite apenas.
– É um convite para uma futura jogada, Mills? – perguntou-me com seu sorriso espontâneo, o mesmo que a deixava ainda mais bela.
– Tire esse sorrisinho de seu rosto, Miss Swan, eu lhe disse que não retornarei a jogar aquilo! – fingi-me de brava, alterando meu tom de voz ao pronunciar a última palavra.
Era fatídico que nunca aceitei perder. Qualquer derrota que se obtivesse contra mim, era certeiro de que eu voltaria! Porém, aquele jogo foi diferente. Pouco me importei em mostrar como aprendo rápido ou como sou determinada em concluir quaisquer jogos e desafios que propunham. Tudo o que me importava era Emma Swan, as memórias daquela noite que passavam em minha cabeça e a felicidade que aquecia meu interior.
– Está com medo de perder novamente? – perguntou com seu olhar vitorioso. Ainda com seus olhos fixos aos meus, colocou a mecha de seu cabelo que ameaçava cair sobre seu rosto – por conta do vento frígido que fazia naquela noite de outono –, atrás de sua orelha.
Abriu a porta do carro para que eu sentasse no banco do carona e, em seguida, deu a volta, abrindo a outra porta.
– Como eu disse, eu dirijo! – exclamou ligando o carro. – Nunca imaginei ver a prefeita bêbada...
– Eu não estou bêbada! – protestei, tentando mostrar-lhe que estava inteiramente sóbria. Porém, ela me encarou com o seu olhar que dizia que eu não a enganava. Eis o lado ruim de conseguirmos conversar apenas com uma troca de olhares! – Okay, Miss Swan, talvez esteja vendo um pouco dobrado por conta do sono. Apenas isso, okay?
– Oh! Claro que não está! – exclamou entre risos enquanto tentava me imitar. – Por que você não mencionou que tem problemas de vista? Demorou séculos para mirar e atirar na bola, porém, errando miseravelmente... Tipo, não tinha como você acertar o taco tão longe daquela bola!
– Eu não faço essa voz irritante, Swan! Bom... Talvez você esteja um pouco certa. – rendi-me, me calando a fim de deixa-la se concentrar no asfalto molhado por conta dos chuviscos que caíam do céu.
Repousei minha cabeça sobre o vidro do carro e observei as árvores que enfeitavam o lado de fora. As gotas de chuva que ficavam no vidro, insistiam em permanecer ali, porém, logo derrapavam criando seu caminho até embaixo, manchando a vidraça.
Descansei meus olhos, fechando as pálpebras umas contra as outras, mantendo minha respiração leve. Toda a vez que eu fechava meus olhos, nem que fosse apenas para relaxar ou apenas para um piscar, vinha em minha mente a tristeza sentida por todos meus sentimentos acumulados. Porém, agora eu sentia uma fusão de alegria por ter dito tão naturalmente o quanto a amava, e de tristeza por não saber qual decisão seria tomada por parte de Emma.
Tudo seria tão mais fácil se eu simplesmente esquecesse a salvadora. Se apenas acordasse decidida em seguir em frente, tornando tudo mais descomplicado.
– Gina... – abro meus olhos ao escutar o sussurro melodioso de sua voz ao mesmo tempo em que suas mãos tentavam, calmamente, despertar-me. – Vejo que a bela adormecida acordou. – ela deu um sorriso curto, que saiu pelo nariz.
– Estou mais para a bruxa do setenta e um. – comentei com a voz pouco sonolenta, soltando uma risada.
– Okay! Pensando bem, você chega a assemelhar-se com a bruxa do setenta e um. – ergueu a mão para me ajudar a levantar do assento. – Agora, vamos antes que fiquemos resfriadas.
O frio da rua adentrava ao carro, fazendo meu corpo reclamar internamente por isso. As finas gotas de chuva tocavam à pele como agulhas, causando-me certo arrepio aconchegante ao senti-las. Em minha frente, o braço erguido para me ajudar a levantar. Aceitei sua ajuda para sair do veículo, trancando-o e caminhando para minha casa em seguida.
Caminhamos pela passagem trilhada a pedra que havia no jardim em frente à minha casa. Emma andejava atenciosamente enquanto encostava a mão direita em meu ombro, e a esquerda segurava uma de minhas mãos.
– Miss Swan, eu já disse que não estou bêbada. – lembrei-a rolando os olhos. Emma, desde que chegou à Storybrooke, sempre foi teimosa, e isso jamais mudou.
– Sim, eu sei. – respondeu-me, girando a maçaneta da porta da frente, "ajudando-me" a entrar. – Mas, lembro-me muito bem que me disse que está vendo um pouco dobrado. – disse com seu tom vitorioso, o qual eu adorava escutar. – Só quero garantir que não vá tropeçar nos pequenos degraus. – riu, sentando-me no sofá, tirando seus saltos em seguida, jogando-os no canto da parede.
Minha cabeça estava repousada na almofada do sofá, aconchegando-me ali. Meus olhos pousados ao teto, como se eu estivesse sozinha, pensando nos últimos acontecimentos de minha vida: Há tão pouco tempo, eu estava completamente acabada, permitindo-me chorar às escondidas por Emma Swan, enquanto a mesma celebrava seu casamento e a chegada de um bebê; O dia em que a provoquei para ter certeza de que Swan sentia o mesmo por mim, ou que tudo não passava de minha imaginação, me fez perceber que no fundo ela podia ter algum tipo de sentimento forte por mim.
Foi a partir desse dia que tudo mudou... Mudou num piscar de olhos.
O convite para jogarmos sinuca me surpreendeu, aliás, eu não esperava por um encontro com Emma Swan. Isso foi motivo para aumentar ainda mais minhas esperanças, principalmente com os episódios posteriores. No entanto, a dúvida que ainda se abate em seu coração ainda me causa certo receio. Imagino que, quando me aproximar de Emma, acabarei não sendo sua escolha; imagino que, assim como todos os que amei, eu possa perde-la.
– Está pensativa... – Swan quebrou todos meus pensamentos duvidosos, porém, ainda não havia conseguido tirar meu olhar do teto.
Senti seu olhar sobre mim, assim me virei para sua direção, permitindo-me observar seu olhar e seu sorriso. Lá estava ela, deitada no chão ao lado do sofá cuidando de mim como se eu estivesse doente.
– Eu estava pensando... – pensei um pouco em minhas palavras. – Por que eu demorei a dizer meus sentimentos por você? Quer dizer... – enrolei-me um pouco em pronunciar o que eu queria, fazendo-a soltar um riso baixo. – Eu ainda não disse quais são meus sentimentos por você, mas eu já disse que tenho sentimentos por você olhando firmemente em seus olhos... Pergunto-me por que demorei tanto para isso! E é tão bom poder pronunciar isso em voz alta. – sorri. Dizer aquelas palavras libertou-me; tirou de dentro de meu peito o sentimento de que eu estava afogando sem parar. – Eu sempre amei você, Swan. Desde as coisas mais simples, mesmo sabendo que você era a salvadora... Mas, seu jeito e sua coragem chamou minha atenção. Não importava qualquer ameaça que eu lhe fizesse, ou qualquer implicância, você sempre revidava da forma certa, sem se rebaixar à Rainha má.
– Gina, – arrastei meu corpo mais para a beirada do sofá, numa distância em que conseguia guiar meu braço em direção de seu rosto e acaricia-lo. – Eu confesso que não me apaixonei a primeira vista. – rimos. – Mas, confesso que desde que surgi com Henry, trazendo-o de volta para sua casa, não pude deixar de perceber sua beleza e, principalmente, a mulher independente que você sempre foi. – Swan segurou minha mão, que ainda acariciava seu rosto, e beijou a palma. – Claro que você foi me conquistando com o passar do tempo.
– Pensei que ainda não estava pronta para declarações, Swan. – sabe aquelas palavras ditas de brincadeira, porém, não passam de verdades? Então... Eu havia dito aquilo de brincadeira, porém, torcendo por uma decisão ter sido tomada.
– Não é uma declaração. Não ainda. – esticou seu braço para acompanhar-me nas carícias. – Gina, desculpe-me por estar te dando esperanças incertas. Sinto-me horrível por estar fazendo isso justamente com você.
– Uma coisa que aprendi com Snow, sua mãe, é que sempre devemos ter esperanças mesmo que pareça impossível.
– Sabe... Estou fazendo de tudo para ter minha decisão o quanto antes, e creio que no fundo já posso ter decidido. – esse comentário, mesmo que sem dizer que me escolhera, aliviou-me. – Por enquanto, peço apenas que seja um pouquinho mais paciente. Iremos aproveitar até eu tiver minha resposta, você será a primeira a saber. – disse com certo sorriso calmo, respirando profundamente como se realmente estivesse tomando sua decisão naquele momento.
– Eu esperarei o tempo que for necessário, Emma.
Um momento em silêncio nos foi dado, e o aceitamos de braços abertos. Era uma das melhores horas do meu dia observa-la minuciosamente, principalmente enquanto a mesma fazia o mesmo. Swan sentou-se e encostou sua cabeça ao lado da minha ao mesmo tempo em que fitava meus olhos, fazendo-me sentir sua respiração quente sobre meu rosto. Enrolou seus dedos em meus cabelos, falhando em tentar fazer pequenos cachinhos nele.
A salvadora afagou meus cabelos, voltando a encarar-me de perto. Fiz o mesmo que ela, sentindo o gostoso cheiro de canela que emanava de sua pele. Aquele aroma era como sua marca, que eu podia senti-lo de longe e distinguiria que era ela. Num impulso, sentei-me, fazendo-a se levantar e sentar ao meu lado no sofá, abraçando-a fortemente em seguida. Emma, então, estava próxima demais de meus lábios, deixando-me nervosa. Jamais fiquei nervosa ao lado de alguém, mas com ela era totalmente diferente. Era como se tudo fosse novo para mim; como se tudo fosse uma primeira vez.
Um sorriso me foi dado, sendo retribuído em seguida.
Em gestos, pedi permissão para entrelaçarmos nossos dedos. Emma aceitou, entrelaçando-os aos meus e encostando sua cabeça em meu ombro.
– Admiro a forma em como construímos nossa relação, Gina. – sussurrou, fazendo-me virar meu rosto em direção ao seu, resultando ao quase encontro de nossos lábios. – E, hoje, definitivamente, nossos laços estão ainda mais fortes... – disse, deslizando sua cabeça até caí-la em meu peito.
Meu coração estava tão acelerado, que certamente ela pode senti-lo bater. Acariciei seus cabelos perfeitamente ondulados, ao mesmo tempo em que sentia seu corpo se apertando contra o meu, aconchegando-se cada vez mais em meus braços.
Um som baixo, porém audível vindo da escada atrás de nós alertou-nos. Desvencilhamo-nos e viramos nosso olhar em direção à escada, deparando-nos com Zelena tentando subir para o segundo andar de pontinha do pé. Entreolhamo-nos e rimos de sua inútil tentativa de não fazer barulho.
– Não foi minha intenção atrapalhar o casalzinho. – respondeu-nos, dando de ombros e voltando a subir ainda de pontinha de pé. – Finjam que não me viram e voltem à noite de amor de vocês.
– Zelena! – a repreendi, tentando não demonstrar o como estava sem graça.
– Zel, nós só estávamos pedindo pizza... – Emma respondeu com um sorriso sem graça, completamente envergonhada pela situação. – Decidimos voltar da sinuca e encomendar uma pizza, mas ainda não escolhemos os sabores.
– Eu sei qual sabor você adoraria escolher. – Zel afirmou em tom malicioso.
Emma paralisou, deixando sua boca entreaberta a fim de tentar encontrar uma resposta para aquela afirmação de minha irmã.
– Maçãs... – olhamos para a ruiva, ainda em cima da escada, sem ao menos entender o que maçãs tinham haver. – Pizza de maçã! – explicou, rolando os olhos. – Nunca vi uma pizza desse sabor, mas aposto que Emma adoraria.
Levantei-me e me dirigi até o telefone para ligar para a pizzaria, mas não deixei de escutar a conversa de ambas:
– Onde está Henry? – Emma mudou de assunto. Ela era ótima em desviar conversas.
– Está lá em cima. – Zel respondeu, sentando-se na poltrona à frente do sofá. Certamente sabia que eu iria querer ficar ao lado da salvadora. – Ele é como um irmão para Robin...
O assunto cessou, e o atendente atendeu ao telefone. Pedi uma pizza de calabresa gigante, aliás, Henry estaria dormindo em minha casa então não poderia deixa-lo sem uma janta. Desliguei o telefone, e voltei a sentar ao sofá.
– Henry já deve estar descendo... – Zel estava um tanto sem jeito, pois a mesma sabia que havia atrapalhado algo entre nós a partir do momento que fez barulho sem querer, e sabia que se saísse naquele momento poderia deixar Emma ainda mais sem graça. – Iremos jantar e subir para dormir.
– Zelena, não precisa se apressar...
– Claro que preciso. – respondeu rapidamente. – Henry tem escola amanhã cedo, e eu tenho Robin que me acorda todos os dias às cinco da manhã.
– Lembro-me que Henry não parava de chorar nos primeiros dias... – emocionei-me relembrando de quando o peguei na adoção, e como o amei logo de cara. – Cheguei a pensar que ele tinha algum tipo de problema, mas descobri que ele precisava de amor maternal. – rimos. – Pois é... De início eu não sabia como demonstrar meu amor por ele, mas fui aprendendo com o tempo!
– Você foi uma ótima mãe, Regina. – Emma afirmou, e Zelena concordou.
– E você será.
Não demorou muito, e ouvimos a buzina indicando que a pizza havia chegado. Ameacei me levantar, mas Zelena foi mais rápida, levantando-se a fim de nos deixar a sós nem que por um minuto.
– Vi uma pizza sendo entregue neste endereço? – Henry disse em alto tom, descendo as escadas até parar ao lado de Zelena para ajuda-la a entrar com a pizza e refrigerante. Após ajuda-la, percebeu nossa presença. – Mães! – correu, colocando-se em nosso meio para nos abraçar.
– Henry! – Emma disse entre risos, abraçando-o sem quebrar nosso olhar. – Pensei que não o encontraria acordado.
– Vocês estão diferentes. – olhou para Emma tentando decifrar seu interior, e repetiu o mesmo comigo.
– Diferentes como, querido? – perguntei.
– Estão... – parou para pensar um pouco, enquanto ainda nos analisava com seu olhar. – Estão mais felizes!
– Concordo contigo, Henry! – Zel pronunciou-se logo após partir a pizza. – Observe como os olhos delas estão brilhando... Estão mais vivos.
– O que aconteceu para estarem tão felizes assim?
– Nada! – exclamamos juntas, entreolhamo-nos por um período de tempo perceptível. – Nada, ainda. – completou Emma.
– Quando estiverem prontas, saibam que estou aqui para conversar, mães. – Henry se levantou sorridente e cochichou no ouvido de Zelena, que distribuía os pedaços de pizza.
– Quem quer pedaço extra? – Zel perguntou animada.
– Eu! – Emma levantou a mão. – Aliás, estou comendo por dois agora... – acariciou sua barriga.
Todas nós comemos a pizza, como uma daquelas noites contentes em família de filmes. Emma ao meu lado sorridente, pausando sua concentração na pizza apenas para interagir à conversa; Henry e Zelena se entreolhando e dando sorrisos que, particularmente, me assustava... Imagine se Henry sabe sobre meus sentimentos por sua outra mãe; e eu prestando atenção em todos eles.
– Como Regina se saiu na sinuca? – Zelena perguntou.
– Ela é ótima!
– Está sendo irônica, Miss Swan? – perguntei, porém, pronunciando seu nome devagar.
– Não. Você realmente se saiu muito bem. – pausou sua fala para dar mais uma mordida em seu pedaço de pizza. – Embora não aceita perder e tenha agido feito uma criança de início... – gargalhamos. – Você aprendeu rápido! Saiu-se muito melhor que eu quando joguei minha primeira vez.
– Que legal! – Henry exclamou. – Vocês duas jogaram sinuca juntas! Se quiserem uma dica, indico que joguem boliche na próxima.
– Boa ideia, Henry. – comemorei. Como eu pude esquecer-me de propor uma jogada de boliche? Embora eu não saiba jogar, não me parece um jogo difícil.
– Oi? – Swan largou a pizza tentando processar o que eu provavelmente lhe pediria. Com certeza ela não sabia jogar boliche, o que para mim seria divertido dar o troco.
– O que foi, Swan? – perguntei com certo sorriso no qual ela já sabia que o convite havia sido feito apenas com nossa troca de olhares. – Não sabe jogar boliche?
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