Abaixo da macieira
Regina coçou os olhos ao se deparar com a maravilhosa visão em seu jardim. Abaixo da macieira, impecavelmente decorada por maçãs vermelhas em tom sangue, havia uma mesinha branca com apenas duas cadeiras. O cheiro de pães de queijo, assim como waffles pairava ao ar, fazendo-a inalar saboreando mentalmente aqueles alimentos. Seus olhos castanhos brilhavam, seu coração desenfreava e, de sua boca, mal conseguia pronunciar palavra alguma.
– Então... Não vai dizer o que achou? – perguntei olhando em seus olhos brilhantes como o sol naquela manhã. Em seguida, segurei suas mãos e a guiei até a mesinha de café. – Digamos que você acertou quando deduziu que eu estava aprontando algo.
– Consigo ler em seu olhar quando está planejando algo, Emma. – respondeu ainda com o olhar estupefato sobre a mesa e a decoração. – E respondendo a sua pergunta, eu adorei... Nunca imaginei que você tivesse boas mãos para decoração e cozinha. – brincou, sentando-se.
– Aceitarei elogios apenas quando provar os waffles. – sorri cerrando os olhos e procurando Henry por todo o verde do jardim.
– O que está procurando? – perguntou Regina, enchendo o copo com limonada.
Sem que eu percebesse, deixei que um sorriso de revelasse em meu rosto. Malditos sentimentos em minha mente! Henry pareceu me enganar e me deixar sozinha acompanhada apenas pela prefeita.
– Henry... – respondi terminando de avaliar o local para ver se ele realmente nos deixara sozinhas ou se estava observando de algum lugar. E, de fato, estávamos sozinhas naquele jardim. – Acredita que eu pensei que ele estava aqui nos esperando? No entanto, ao chegarmos aqui, veio crer que ele planejava nos deixar a sós... Com qual intuito? Digo, não seria agradável um café da manhã em família no jardim?
– Intuito que você prove do fruto proibido. – Regina falou, porém, sem pronunciar som algum. Foi mais para um sussurro, mas um sussurro para quem consegue ler seus lábios é quase como falar. – Ah! Acho que seria uma ótima provar das maçãs de meu jardim. Creio que Henry sabe que você nunca provou, já que quando eu lhe ofereci, eu ainda era a rainha má.
– Não acho que comer as maçãs de seu jardim seja o intuito dele. – a vejo se levantar e pegar uma maçã ao alto da macieira.
– Oh, Miss Swan, mas é claro que esse não é o objetivo de Henry, muito menos o de Zelena. – sorriu, estendendo-me a maçã avermelhada, num tom tão vivo quanto o sangue. – Não percebeu que os dois pestinhas querem nos deixar às sós? Entremos nos joguinhos deles, e aproveitemos juntas esse delicioso café da manhã.
Olhei para o fruto em suas mãos, e ameacei pega-lo de bom grado. No entanto, por fim, olhei para as órbitas escuras até eu ficar paralisada, mergulhando naquela imensidão penetrante que ela chamava de olhos. Intercalei o olhar para as maçãs vermelhas, e depois para seus lábios, que normalmente ficavam pintados numa coloração tão vermelha quanto àquelas frutas.
– Vamos, Miss Swan, dessa vez não está envenenada. Prometo. – pronunciou-se com o tom de voz grave, porém, sensual. Aproximou ainda mais a maçã, deixando-a quase perto de minha face, e sorriu ao percorrer o olhar por todo o meu corpo até chegar aos meus olhos outra vez. – Esta, com certeza, será a melhor maçã que irá provar em toda a sua vida.
Sorri e peguei a maçã de sua mão. Vi um belo sorriso em seu rosto, o que me fez sorrir de volta para ela, e, em seguida, morder a maçã ainda com nossos olhos fixos. De fato, Regina estava certa como sempre. Aquela, sem sombra de dúvidas, havia sido a melhor maçã que eu já havia provado em toda a minha vida. O sabor era tão doce, ao mesmo tempo, no tom certo. Era como se tudo o que pertencesse à Regina fosse ainda melhor, pois para mim maçãs eram quase todas iguais, até provar as da macieira de seu jardim.
– Então... – com a sobrancelha arqueada e um brilho em seu rosto, que ainda estava marcado pelo travesseiro, Regina perguntou. – O que achou?
– Eu não sei como dizer... – sorri. – Se eu soubesse, tinha provado dessa maçã quando me ofereceu assim que cheguei à Storybrooke. – brinquei, e, logo, gargalhamos. – Bom, para dizer a verdade, não acredito como tudo o que te pertence é tão... Diferente! Jamais provei uma maçã tão docinha como esta. Parece que a grama do vizinho realmente é mais verde.
– Sabia que gostaria, Miss Swan. – voltou a sentar-se na cadeirinha branca. – Uma coisa que eu sei, é que desde minha adolescência, essa macieira produz as melhores maçãs. Agora, sente-se. Quero ver se você realmente é uma boa cozinheira.
Sentei-me à cadeira a frente dela. Os pãezinhos de queijo ainda estavam quentinhos, numa temperatura em que não queimasse nossa língua, porém, ainda estivessem quentes. O aroma de café se misturava com o aroma das flores do jardim, tornando o clima ainda mais agradável entre nós.
– Está de parabéns, Emma. – disse ao colocar waffles na boca, e saboreá-los. – Está uma delícia.
– Nenhum pouco comparado a sua lasanha, ou a sua torta de maçã, ou as maçãs de sua macieira. – retruquei.
Ficamos alguns minutos a conversar e saborear o café da manhã que preparei com a ajuda de Henry, e o que me incomodava era o fato de nem ele e nem Zelena estarem ali presentes. Estar ao lado de Regina desabrochava dentro de mim sensações jamais sentidas antes, como se eu estivesse amando pela primeira vez. Isso jamais aconteceu antes, nem com Neal, tampouco com Killian. E, parecia que os Henry e Zelena já desconfiavam de tais sentimentos há tempo, fazendo-me, então, crer que poderiam estar ausentes propositalmente ou que estão planejando alguma coisa para que eu diga tudo o que sinto por Regina.
Olhei para trás para ver se os dois se escondiam por de trás dos arbustos de árvores, mas não tinha ninguém naquele jardim a não ser eu e a adorável companhia de Regina. Os pequenos raios solares que atravessavam os espaços entre as folhas da macieira tocavam o rosto da prefeita, deixando seus olhos ainda mais num tom âmbar. Eu apenas suspirei ao observa-la bebericar a xícara de café, e colocar seus negros cabelos para trás da orelha.
– Bom... Sou uma péssima madrinha, e acabei esquecendo-me de lhe perguntar... – sorriu e olhou para minha barriga, fazendo-me lembrar de que não havia lhe contado minha decisão. Eu não queria que ela fosse madrinha do bebê que eu carregava. –... Como está o projeto de salvadora?
Olhei para minha minúscula barriga e sorri junto com ela, percebendo que a prefeita se levantava da cadeira e se aproximava de mim.
– Posso? – perguntou antes de ter a autorização de que poderia acariciar minha barriga, e a respondi com o assentir de minha cabeça. – Sei que ele ou ela será assim como a mãe... – ajoelhada sobre a grama verde do jardim, Regina levantou o olhar para mim.
Eu não enxergava mais a tristeza em seus olhos ao se referir ao meu bebê; era como se ela estivesse começando a se conformar com meu casamento e família ao lado de Killian.
– Será como eu?
– Sim! Guerreira e teimosa. – sorriu ainda olhando em meus olhos, mudando o olhar para meus lábios, e, sem que percebesse, passando a língua nos próprios lábios, molhando-os. – Tomara que não goste de peixes e navios igual gancho. – rolou os olhos.
– Regina... – fechei meus olhos, preparando-me para lhe contar minha decisão. Apertei minhas próprias mãos, e, em seguida, abri meus olhos novamente percebendo seu olhar confuso. – Eu decidi a alguns dias que não a quero como madrinha do meu filho.
Observei seu sorriso se desfazer, e seus olhos me encararem como se não tivesse entendido o que eu disse.
– Como assim? – levantou-se rapidamente.
– Eu... – olhei para o chão sem saber o que responder. – Não acho que seria bom tê-la como madrinha do meu filho. Sinto que não é isso que você merece, ou que eu mereça. Regina, olhe para mim! – gritei, porém, ela continuava virada de costas. – Eu não aguentaria vê-la sendo madrinha de meu filho com Killian... Sei que você não gostou da ideia... Sei que ele jamais gostaria de sua aproximação com a criança, e...
– E o que eu mereço, Miss Swan? – esbravejou, interrompendo minha fala, finalmente se virando para mim, permitindo que eu visse seus olhos marejados e ouvisse sua voz embargada. – O que eu mereço? Ser afastada outra vez de sua vida para que você seja feliz com aquele pirata sem mão? Emma, eu aguentei por anos vê-los juntos e sei que mereço isso por nunca ter sido corajosa o suficiente para dizer o quanto meus sentimentos cresciam por você! Mas, você sabe o quanto temia ao amor... Mantivemo-nos afastadas por tanto tempo. Falávamo-nos apenas na presença de Henry, e agora reconstruímos toda a nossa aproximação novamente. EU NÃO QUERO ISSO OUTRA VEZ, EMMA SWAN!
Nada respondi, apenas senti como se aquelas palavras se repetissem sucessivamente em minha cabeça. Senti um nó se formar em minha garganta, e minhas lágrimas começarem a desmoronar em minha face. Eu havia tomado minhas decisões, e comecei a dizê-las de forma totalmente errada. Culpei-me por ter lhe causado tanto sofrimento por todos esses anos, e nunca ter percebido meu erro... E, agora, por me enrolar ao dizer minha decisão, acabei fazendo o que eu mais temia em fazer. Sou a culpada pelas lágrimas que desciam pelo seu rosto.
– Eu mereço observar de longe a sua felicidade, sem ao menos estarmos próximas? Quando aceitei que almoçasse conosco, eu lutei para deixa-la partir por aquela porta, Emma! Mas, eu a deixei entrar por aquela porta novamente... E agora iremos nos afastar outra vez, porque sei que uma hora ou outra Killian irá impedir nossa aproximação outra vez... Eu só... Não quero sofrer outra vez. – ela se virou, e deu passos para longe de mim se retirando do jardim.
– Regina! – exclamei, mas não consegui dizer nada, pois meu choro estava se intensificando, aumentando ainda mais o nó que se formava em minha garganta.
Quando ela ouviu minha voz gritando por seu nome, ela parou, mas continuou virada de costas. Eu me levantei titubeante. Não poderia deixa-la partir. Não poderia deixa-la sofrer outra vez. Eu tinha que terminar de dizer o que eu não terminei. Respirei profundamente, enchendo meus pulmões com o máximo de ar possível, e corri em sua direção, chocando-me às costas da prefeita, e segurando seu braço.
– Regina! – exclamei, e ela olhou de soslaio para mim.
– O que você quer agora, Swan? – se virou para mim e pôs suas mãos na cintura, olhando-me de cima a baixo.
Regina deu dois passos mais próximos a mim, e me olhou com tristeza e raiva. Eu entendia o motivo de tais sentimentos, mas ela havia entendido tudo errado. Olhei-a e apenas abri minha boca, sem encontrar as palavras certas a serem proferidas.
– Não tenho o dia todo, Miss Swan.
– Eu...
Olhei outra vez para seus olhos, que há anos não os via tão carregados de tristeza e de raiva. Olhei para seus lábios, e para a cicatriz que se moldava neles, deixando-a ainda mais sensual. Aproximei nossos rostos, pensando que ela se afastaria, mas ela continuava a me analisar.
– Você não me esperou terminar de falar, Miss Mills. – dei um sorriso amarelo, recebendo em troca toda a sua atenção. – Eu falei que não a quero como madrinha do meu filho porque você não merece sofrer outra vez... Eu li em seus olhos a tristeza no anuncio que Killian fez sobre eu estar grávida, e que queria você como madrinha... E eu não suportaria ter a pessoa que mais tem ocupado meus pensamentos ao meu lado como madrinha de meu filho. Sei que Killian não aprovaria a aproximação, e eu não suportaria isso. Ontem mesmo eu o deixei com meus pais para ficar ao seu lado, Regina. Depois de tudo o que passamos juntas, você acha mesmo que eu escolheria Killian ao invés de te escolher?
– Emma, essa é sua decisão? – pude ver seu choro cessar, e restar apenas as lágrimas que haviam molhado seu rosto.
– Sim, Regina... Eu escolho você. Sempre.
Finalmente me senti leve durante todo aquele tempo. Senti como se meu interior estivesse explodindo, ou soltando fogos, liberando energia para todo o meu corpo. Sendo assim, em seguida, numa velocidade impressionante juntei nossos corpos e aproximei nossos rostos, admirando a quão encantadora era a prefeita, que dava um sorriso radiante. Eu poderia passar o resto de meus dias olhando para seu rosto, e, sentindo aquele aroma de maçãs que emanavam de sua pele, deixando-me entorpecida.
A prefeita segurou firmemente em minha cintura, acabando com qualquer espaço entre nós. Ergui minha mão e acariciei seu rosto, conforme sentia suas mãos deslizando em minhas costas, por de baixo da blusa. Eu podia sentir que ela, assim como eu, ansiava por um beijo. E, como se lesse meus pensamentos, Regina me apertou ainda mais contra seu corpo, aproximando seus lábios macios aos meus. Eu conseguia sentir seu hálito quente contra minha pele, e finalmente senti seus lábios roçando contra os meus, como se pedisse permissão para aquele beijo.
Por fim, nossos lábios se encontraram repleto de paixão e ansiedade, e aquele pequeno ato fez com que todos os pelinhos de meus braços se arrepiassem. Quando sua língua invadiu minha boca, explorando-a e se encontrando com a minha, pude ouvir meu baixo gemido contra os lábios de Regina. Naquele momento, senti um sorriso moldar em seus lábios, e suas mãos subirem em minha nuca.
Aquela experiência ao lado da prefeita estava sendo como um primeiro beijo. O nervosismo, a sensação de um frio implacável na barriga e a ansiedade que eu mal poderia controlar. No entanto, estava me sentindo aliviada por tudo estar dando certo, por estar ali com a prefeita em meus braços. E, sentindo nossos lábios se separarem apenas quando já necessitava por ar.
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