• Vinte •
A Sweets & Books está repleta de pessoas, conforme o usual durante o entardecer de um sábado. Os aromas deliciosos de chocolate e caramelo dominam o ambiente, e sou tomada pelo desejo insano de consumir todos os produtos.
– Honestamente, eu jamais vislumbrei um cardápio tão criativo quanto este – Henrique vira o aveludado livro de capa dura entre os dedos, fascinado. – E o nome dos pratos? É como abrir uma porta para o mundo dos sonhos. É fantástico como o...
Sorrio um pouco alheia aos seus comentários. Okay, admito que sinto uma pontada de culpa por apenas acenar distraída diante da sua vívida euforia. No entanto, o dia de hoje parece um tanto surreal para mim. Não exatamente pela companhia, e sim por todo o contexto envolvido.
Eu, Catarina Benedetto, estou realmente em um encontro. Não me surpreende a minha irmã ter ficado tão chocada. Muito embora o seu excesso de admiração tenha quase beirado a ofensa, sinceramente, eu, que estou vivenciado a experiência, ainda não acredito. Estávamos no meu quarto, quando compartilhei a novidade.
– VOCÊ TEM UM ENCONTRO!
– Por favor, Mariana, fale baixo. Não é necessário que os astronautas, há milhares de quilômetros da Terra, sejam informados.
– Está bem, me desculpe – declara, na defensiva. – Estou tão feliz, irmãzinha – sua face brilha como a luz do sol na época do verão. – Finalmente, você deixou de ser rabugenta. Quer dizer, se abriu para o amor. – Reviro os olhos e ela completa, rapidamente, tentando desviar o foco da sua investida irônica. – Quando vai ser?
– Sábado, às 17:00h, na Sweets & Books.
– Mas hoje ainda é terça-feira – seu semblante triste me faz rir.
– Mari, eu acho que consigo conter os meus sentimentos arrebatadores por mais alguns dias – solto de modo sarcástico.
– Se você diz – ela dá de ombros. – Precisamos escolher uma roupa especial.
– Eu não acredito que isso seja de suma importância – sua expressão ultrajada é genuína. Com um manear de cabeça e os braços cruzados, ela revela toda a sua desaprovação pela minha frase "absurda". – Não exagere, Mari. Henry já me conhece. Escute, eu não irei colocar nenhum traje extraordinário, okay? Está decido.
Honestamente, admiro as pessoas que transformam as suas convicções em ações. Porque aqui estou eu, com um vestido evasê todo em renda, rose quartz, um pouco acima do joelho, mangas compridas justas, cinto de pérolas, saltos 10cm na cor bege, brincos e colar em tom rose e os cabelos soltos, com um broche de pérolas no lado direito. Para uma pessoa tão pequena e sorridente, a minha irmã é um terço persuasiva e dois terços assustadora.
– Fluffy, pode me ajudar? Não consigo escolher. Céus, por onde devo começar? – Seu semblante sofrido me provoca compaixão... com um toque de diversão e vingança, é claro.
– Calma, pequeno gafanhoto, eu tenho uma tática.
– E qual seria, Mestre Miyagi? – Ah, entendeu a minha referência de Karatê Kid. Um ponto.
– Simples. Me diga uma obra do qual você goste.
– Star Wars – declara, com um sorriso desafiador. Pobre rapaz. Se está tentando dificultar a situação propositadamente, perdeu o seu tempo, querido. Pego o cardápio.
– "Sobremesa Star Wars: leite de Bantha, bebida consumida por Luke Skywalker, acompanhado de cupcake R2-D2, de laranja e merengue" – devolvo uma expressão vitoriosa, diante do seu semblante completamente abismado. – E que a força esteja com você – finalizo e ele ri.
– Estou de fato impressionado. Sua vez, nobre jedi. Qual a sua favorita?
– "Sobremesa Branca de neve e os sete anões: torta de maça com calda de caramelo, servida com gelato de creme artesanal, entremeado por sete cubos de chocolate branco."
– Interessante. Não imaginava que fosse o tipo de garota apaixonada por contos de fadas. – O que? – Falando, francamente, você é um tanto ranzinza. – Oi? Ele sorri diante da minha expressão indignada. Que ofensa gratuita. – Além de possuir opiniões fortes, seus princípios são excessivamente resolutos – já estou pronta para o embate, quando ele completa –, admiro verdadeiramente isso em você.
– Bom, eu não tenho culpa que a simpatia ficou toda com a minha irmã. Ladrazinha – brinco, ainda um pouco envergonhada com o seu comentário anterior. Ele sorri. – Você tem irmãos?
– Não... sim... mais ou menos.
– Você tem a metade de um irmão? Eu me habituaria em ter somente metade da Mari. Irmãos mais novos: o maior exemplo da união entre amor e desejos homicidas – sua gargalhada é melodiosa. Gosto de ouvi-lo rir. Espera... eu realmente pensei isso? Não, não... foi só um ato falho momentâneo.
– Palavras muitas sábias. Na verdade, o meu primo cumpre a função de irmão. Após o falecimento da minha mãe, a minha tia se comprometeu prontamente em ajudar o meu pai. Basicamente, cresci junto ao seu filho, que é apenas um ano mais novo do que eu.
– Então, você é o mais velho. Uma triste vítima do caos, assim como eu – ele assente, com uma falsa expressão de dor, que me faz rir. – Qual o nome dele?
– Vinícius. Ele reside em Vale Negro, no entanto, já está considerando fazer uma visita a Águas Douradas dentro de alguns meses. Você irá gostar de conhecê-lo, Fluffy. Ele é uma pessoa incrível, de bom coração e muito íntegro – é visível o seu amor pelo primo. Fala dele com um orgulho digno de irmão. – Ele precisa apenas conseguir um tempo livre. É médico e... trabalha com o meu pai.
– Seu pai é médico? Incrível – conhecer a vida do Henrique, considerando a quantidade de informações que ele detém da minha, é como nivelar o jogo. Algo realmente animador. – Ele é proprietário de um consultório? – Ele sorri, mas não parece muito animado.
– Quase isso. De um hospital para ser mais preciso. – Claro, errei somente pela dimensão do prédio e alguns... milhões. – Esse é o motivo de o desagradar tão intensamente o caminho que optei por trilhar.
– Ah, porque você não cursou medicina.
– Na verdade, porque abandonei a medicina. – Okay, agora eu estou surpresa. Esse rapaz faz as tramas da minha vida parecerem filme preto e branco. Diante da minha face abismada, ele decide continuar. – Eu cursei apenas um ano na Universidade de Vale Negro, mas desisti logo que possível. Nunca foi o meu sonho, assim como acredito veementemente não integrar o plano de Deus para mim.
Então, provavelmente, essa foi a motivação em questionar acerca da razão que me levou a escolher arquitetura no lugar de ciências contábeis... Identificação. Finalmente, o seu comportamento sociopata, faz algum sentido. Obrigada, Deus.
– Bom, nesse caso, parabéns.
– Por quê?
– Por ser bem mais eficiente do que eu. Levei infinitos vinte e quatro meses para extrair a contabilidade da minha alma. Seria a glória ter sido mais... perceptiva, digamos assim – ele sorri, complacente. – Meu pai é contador e suponho que, a despeito do contexto geral, ele ficaria realizado se eu tivesse me apaixonado pela área. No fim, imagino que o seu pai deva ter ficado muito frustrado – me aventuro na tentativa de conduzir a conversa a um patamar mais profundo.
– Para dizer o mínimo – declara, um tanto amargurado. – No entanto, acredito que furioso, exasperado e decepcionado, se enquadrem melhor no caso. Ele jamais aceitou eu ter substituído, como costuma citar: "a segurança da medicina, pela incerteza da arte" – ele para e quando segue, sua voz tenta ocultar algo: tristeza, rancor, raiva, talvez? Não sei precisar. Ele é bom em manter-se enigmático. – A bem da verdade, depois da morte da minha mãe, a nossa relação não é uma das melhores.
– Sinto muito.
– Eu também. – Abro a boca para explorar seus sentimentos, mas um minuto é suficiente para que ele enterre o assunto e retorne a sua alegria habitual. – Entretanto, eu não posso me queixar. Deus, em sua infinita bondade, me presenteou com ótimos amigos, que também são membros indispensáveis da família. Aliás, pelo que já presenciei, você domina por inteiro esse conceito.
– Sim – solto alegre. – Amigos são como mimos do Pai. Nos fazem crescer, ainda que por meio de repreensões – penso no último discurso da Let.
– Foi o que aconteceu com o Arthur? – Ah, então era nesse ponto que você queria chegar desde o início, não é, Mr. Curioso? É incrível como ele sempre consegue prever os meus próximos movimentos. Infelizmente, o oposto não é verdade. Acho que preciso praticar mais.
– Quase isso. Discordamos em um ponto importante e o afastamento tornou-se inevitável.
– Ex-namorado?
– Apenas ex-amigo, se isso realmente existir. Aparentemente, trilhamos caminhos distintos até que em um certo momento foi impossível uni-los novamente.
Rememoro a nossa despedida e lágrimas brotam no meu coração. Grito em minha mente: "não ouse, Catarina". Nada mais perfeito do que chorar no primeiro encontro com um homem, por causa de outro. Performance digna de novela mexicana. Que vexame!
– Eu compreendo. Existem escolhas que nos fazem colidir e depois de feridos não encontramos uma forma de retornar ao ponto de partida.
– Qual o nome dela?
– Como? – Ele para e suspira. – É tão obvio assim?
– Não, exatamente. Na verdade, você estranhamente parece entender muito bem a minha situação desde que nos conhecemos e, sinceramente, a história do "notável desafio" não convenceu.
– Uma pena. Apliquei tempo e conhecimento na estruturação dessa desculpa, sabia? – solta, ironicamente, e não consigo deixar de rir.
Ele permanece em silêncio por alguns minutos, que parecem eternos e quando, por fim, estou disposta a mudar de assunto e seguir a minha vida sem essa informação, ele eleva o olhar e seu semblante carrega um pesar doloroso.
– Emma. O nome dela é Emma – sua voz transmite nostalgia e... arrependimento? – Somos amigos de infância. Crescemos frequentando a mesma escola, igreja e círculo de amizade. Quando a minha mãe faleceu, ela foi um grande apoio e o meu anjo da guarda particular. Nós nunca tivemos segredos, até... – ele para e o assisto deglutir o vazio do coração. Ele está sofrendo.
– Infelizmente, há alguns meses eu descobri que ela mantinha um relacionamento oculto. Depois que ela quebrou a minha confiança e traiu a nossa aliança, permanecer em Vale Negro se tornou um suplício. Todos os meus dias nasciam com o tom da cidade, e a minha alma, aos poucos, era envenenada com sentimentos malignos e desejos cruéis. Então, sem suportar mais, pedi ao Senhor que me revelasse um caminho de cura. Dentro de uma semana, recebi o convite para trabalhar em uma empresa de publicidade de Águas Douradas e aqui estou. Para ser franco, não poderia estar mais grato... ou feliz – ele sorri e o meu coração vibra com a força de um terremoto. Não estou sabendo lidar com um... sorriso? O que há com você, Catarina?
Repentinamente, recordo as palavras do meu pai. Deus realmente tinha um propósito ao enviá-lo à nossa amada cidade. E naquela noite chuvosa, ele não adentrou as portas da Fruto do Espírito por acaso. Na verdade, o Pai Eterno não trabalha com algo tão elementar quanto acasos. Tudo o que existe possui um tempo e uma razão. De modo imperceptível e natural, Henry e eu nos aproximamos, e estávamos curando um ao outro. Porque Deus não une, simplesmente, pessoas. Ele vai além disso. Ele une corações... une propósitos.
– Eu acredito que Deus está me ofertando a oportunidade de recomeçar, Cat. Eu só quero deixar todo rancor e dor no passado, e dar mais um passo em direção a uma vida nova – sua sentença acende uma luz em minha mente.
– Eu compreendo, Henry. E quer saber? Conheço o lugar perfeito para você fazer isso.
Alguém mais está curioso para saber que lugar é esse?!? Chega logo capítulo 21... Agradecida!
Se está gostando dessa estória, que tal deixar uma estrelinha tão brilhante quanto você?!
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