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• Trinta e sete: parte um •

– Você não pode estar falando sério, Vini – maneio a cabeça, horrorizada. – Em qual universo paralelo, bizarro e sombrio, barra de cereal ganha de chocolate? – Não esqueço de imprimir forte ceticismo a cada uma das minhas palavras.

– É muito mais saudável – alega com aquele ar de sabedoria médica, que todos admiramos... e ignoramos.

– Benéfico, crocante, recomendável, não discordo. Porém, em questão de sabor a comparação é tão cruel, que nenhum ser humano ousaria colocá-los no mesmo patamar por medo de magoar os sentimentos dos pobres cereais.

– Dramática a Catarina? Óbvio que não.

– Apenas me preocupo com o seu gosto deveras questionável.

– Você escolheu namorar o meu primo, eu não poderia facilmente dizer o mesmo?

– Próxima pergunta – decido ignorar o sarcasmo e ele se diverte... que novidade. Rir as minhas custas parece estar elencado como um dos passatempos favoritos dessa família. Você é um Prinz e não tem o que fazer? Não se preocupe, sempre pode zoar a Cat. Céus. – Chá ou café?

– Chá, com certeza – afirma, resoluto, sem qualquer necessidade de ponderação. Como assim, Pai? – O café produz inúmeros malefícios, como taquicardia e dependência. Sinceramente, as pessoas sequer deveriam considerar consumi-lo.

Levo as mãos ao peito de forma solene. O encaro, imersa em descrença, e mimetizo uma voz melancólica.

– Por meio desta nota oficial, é meu pesaroso dever adverti-lo que a nossa amizade acabou. Não há mais salvação para a sua alma solitária e caquética – viro o rosto, teatralmente.

– Não, não, não. Por favor, Catarina, não desista de mim – implora, exageradamente.

– Está certo. Pelo bem do meu relacionamento com o Henry, oferecerei a você uma última chance – ergo o dedo indicador e semicerro os olhos. A um observador distante pareceria que discutíamos acerca de assuntos cruciais à sobrevivência humana. O que não deixa de ser verdade. – Bala de morango ou de hortelã?

Ele morde o lábio inferior. Jesus Cristo.

– Se você considerar a refrescância...

Não, impossível!

– Pode parar – aponto para o acostamento e tiro o cinto. Okay, admito que a expressão de absoluto choque do motorista foi impagável. – Obrigada pela carona, mas não posso permanecer no mesmo ambiente que um simpatizante de pastilhas descoloridas com sabor de creme dental – cruzo os braços, decidida.

– A senhorita está ciente de que ainda faltam quarentena minutos para chegarmos ao destino, certo?

Pai, não se pode mais ser dramática sem a necessidade de caminhar 70km?

– Nesse caso, em nome da minha nobre missão, realizarei o enorme sacrifício de permanecer em sua companhia.

– Como você é corajosa.

Não consigo deixar de sorrir. Conversar com o Vinicius é tão simples. A ironia possui lugar cativo? Sem dúvidas. No entanto, a alegria também tem seu assento reservado. E embora a mera lembrança do motivo que me impeliu a passar três horas na estrada torne o meu sangue mais denso e frio, ele detém a capacidade notável de amenizar qualquer situação. Permaneço alguns minutos em silêncio e Vini me encara preocupado.

– Cat, está se sentindo bem?

– Apenas absorvendo a sua personalidade exótica – solto, tentando aliviar a tensão. Ele retribui um sorriso lateral, mas sei que não comprou a minha desculpa esfarrapada. Ainda assim, agradeço mentalmente por fingir. Resolvo devolver o questionamento. – Como você está?

– Admito que já experimentei dias mais agradáveis. Mas não se preocupe, vou sobreviver.

– Nesse caso, já posso respirar aliviada – brinco. No entanto, estranhamente, assisto os seus traços se tornarem duros e um tanto sombrios.

– Foi por isso que me convidou, certo? O Henry pediu que ficasse de olho em mim.

– Claro que não – disparo e ele arqueia uma sobrancelha, cético. De fato, ele não pediu, fui eu que me ofereci. O que faz disso uma meia verdade... ou uma mentira incompleta. A velha história do copo meio cheio ou meio vazio. – Para ser franca, possuo razões mais fortes e menos altruístas do que a preocupação com a sua sanidade mental.

– Estou ouvindo – sua voz transparece uma curiosidade nítida. Que grande fofoqueiro!

– Bem, a minha irmã está atarefada com o chá de panela, Tales está ocupado chefiando um projeto importante no estágio, e o Nobu... – Me interrompo, sem saber ao certo como prosseguir.

– Precisaria de um babador.

– Vinícius!

O empurro, mas de leve. A despeito da indignação, não pretendo morrer na estrada.

– Está certo, não seria suficiente. Teriam que ser vasilhas. Provavelmente, em maior quantidade do que a viúva que teve o azeite multiplicado. Será que os vizinhos do seu bairro disporiam do necessário? Ainda não estou confiante disso – dispara, em tom de provocação.

– Não seja ridículo – sinto o sangue fluir para o meu rosto em resposta. Se algum desavisado me encarasse no momento, diria que, sem dúvidas, queimei as bochechas. Senhor, dai-me forças.

– A culpa não é minha se você é repleta de pretendentes e a sua beleza singular atrai diferentes culturas. – Sabe aquele instante preciso em que o constrangimento intenso supera a capacidade de fala? Repentinamente, 70km não parece tão distante. A boa notícia é que não tem como descer mais. – Então, Catarina, você diria que três é o seu número da sorte?

– Três? Do que você está... – Ele me lança um olhar sugestivo e a minha mente mortificada precisa de dois minutos para desvendar a ironia. Meu Deus, eu estava enganada. Lembre-se disso: o fundo do poço sempre tem um subsolo reservado para a vergonha alheia. Reúno os pedaços da minha dignidade e respiro lentamente. – Não sei do que está falando.

– Claro que não. Afinal, está acometida pelo pior tipo de amnésia investigada pela medicina: a seletiva. Com o seu histórico, essa era a pitada que faltava para um perfeito drama coreano. A propósito, eu preciso saber: como teve início o seu dorama cristão com o Nobu?

– Não há nada para ser dito... ou descoberto – declaro, por fim, enigmática.

– Tudo bem – solta de modo despreocupado. – Se isso te incomoda tanto, podemos falar do tal Arthur Gardien...

– Como eu dizia, Nobu e eu somos amigos desde a infância – completo e ele sorri. Não vejo graça. Deus é testemunha que o meu k-drama com o Nobu é infinitamente mais tranquilo do que a novela mexicana vivenciada com o Art. – Os meus avós receberam os dele quando chegaram do Oriente e a partir de então os laços apenas se estreitaram. O Sr. Akira e meu pai cresceram juntos e sempre se apoiaram, portanto, a nossa amizade foi algo natural. Durante a nossa adolescência era consenso na Fruto do Espírito que íamos nos casar e ter filhos de cabelos rebeldes e olhos puxados. Entretanto...

– Você tinha planos diferentes? – Sugere.

– Melhor seria dizer que eu não tinha plano algum. O romance jamais integrou a minha lista de prioridades, sendo assim, deixei as pessoas falarem livremente tomando cada comentário como uma mera brincadeira despretensiosa – maneio a cabeça ao lembrar dos inúmeros apontamentos e elogios sempre que éramos vistos juntos. – Eu apenas esqueci de checar se o meu companheiro compartilhava da mesma visão – exalo um sorriso sem cor.

No entanto, isso é de fato engraçado. Nós, seres humanos, detemos o péssimo hábito de acreditar que as pessoas enxergam a vida pela nossa ótica. Criamos um ideal em nossa mente e desejamos que todos, sem exceção, pensem de igual modo. Há um célebre ditado que diz: "cada cabeça, uma sentença", em outras palavras, você é responsável pela sua própria interpretação do mundo, não espere ter o mesmo poder sobre o alheio. Bom, digamos somente que nessa lição, eu não fui a aluna mais aplicada.

– Ele se declarou para você – seu tom afirmativo não demonstrava qualquer indício de dúvida. Me limito a assentir. – Você o recusou? – Nego. Ele fica surpreso. – O aceitou, então? – Volto a negar e sua expressão se torna confusa. Sorrio.

– Não há um único dia que eu rememore esse momento sem que me arrependa – os olhos escuros do Vini observam a minha face com atenção. – Havia tanto para ser dito: somos apenas amigos, não compartilho dos mesmos sentimentos, ou não desejo ter qualquer relacionamento romântico agora. Mas, não – deixo a minha cabeça tombar levemente –, infelizmente, eu não trilhei esse caminho.

– No caso, você disse...

– Nada – assisto a sua reação mudar para um choque genuíno. – Após ele ter derramado o seu coração em palavras meticulosamente ensaiadas, acompanhadas de belas rosas e presentes, murmurei um inaudível entendo, virei e fugi – nostálgica, deixo a verdade assentar. Sim, evito contar essa história. Porque sim, depois de anos ainda me sinto constrangida e arrependida. Com certeza sim, tudo que é ruim sempre pode piorar. – E não – continuo com um suspiro pesaroso –, não foi isso que nos afastou.

– Era uma noite de sábado. O verão castigava Águas Douradas com ondas de calor difíceis de serem sentidas até mesmo no deserto. De frente para a janela do meu quarto, rememorava a declaração do Nobu, ouvida horas antes, quando avistei a Bel atravessar a rua em uma velocidade digna dos melhores maratonistas. Em um único fôlego, ela cruzou a porta da sala de estar, subiu as escadas e se jogou sobre a minha cama: "Cat, o Nobu e o Art foram levados às pressas para a emergência", disparou em um arfar entrecortado. Nos instantes seguintes à notícia, lembro apenas de encarar as paredes brancas e frias do hospital da cidade sem saber ao certo como cheguei até lá.

– O Art foi o primeiro que vi. Seu rosto ainda era uma mescla de sangue e suor. O supercílio estava ferido e um vermelho vivo e abundante corria sobre os seus olhos, face e pescoço. Levei a mão a boca, chorosa. Ele tentou me acalmar, porém apenas o médico teve esse poder. Disse que a região em questão realmente sangrava muito, embora não fosse nada grave. Exalei com alívio, mas infelizmente a tranquilidade não durou.

– Nobu?

– Precisamente. Diferente do Art, havia pouco sangue em seu rosto, entretanto, arranhaduras eram visíveis em seus braços e testa. Um hematoma enorme dominava sua bochecha esquerda e o seu nariz se apresentava em uma posição absolutamente anômala e torta. Estava quebrado, era óbvio. No entanto, a despeito dos ferimentos, o que realmente chamava atenção eram as faíscas dispersadas no ambiente. O olhar homicida mútuo foi a dica final para o meu cérebro lento. Eles tinham brigado e, sem dúvida, eu era uma das temáticas envolvidas.

– Decidi perguntar ao Art o que houve, mas uma negativa foi a minha única resposta. Encarei o Nobu inquisitória, entretanto, ele se limitou a desviar o olhar. Algo grave tinha ocorrido e, para a minha profunda tristeza, o único entendimento entre eles era a decisão de manter a verdade em absoluto sigilo – suspiro.

É estranho quando penso que após dez anos, a despeito das minha excessiva insistência e pressão sobre ambos os lados, o mistério se mantém intacto. E pode ter certeza, que se algo permanece oculto em Águas Douradas por tanto tempo, até Sherlock Holmes teria trabalho para desvendar o enigma.

– Cat – o tom serelepe do Vini rompe o transe dos meus pensamentos –, como foi deixar o hospital acompanhado desses dois adolescentes rebeldes?

Fecho os olhos. Meu coração palpita forte e sinto a respiração mais pesada e densa. Sim, foi exatamente no momento da saída que cometi o meu pior erro... e perdi o meu melhor amigo de infância.

– Dizem que certos momentos são marcados no tempo como uma fotografia constituída de sentimentos profundos e memórias eternas. A verdade é que jamais serei capaz de esquecer a expressão do Nobu naquela noite, como se parte do seu coração houvesse sido arrancado e ferido diante de mim.

Vinícius me escuta em um silêncio vigilante, ausente de qualquer interrupção. Os médicos realmente devem portar um dom, pois as palavras fluem estranhamente livres da minha alma e contê-las não é mais uma opção.

– Os dois receberam alta simultaneamente. Na saída, ambos me encararam esperançosos e aguardaram o meu parecer. Seria maravilhoso dizer que amenizei a discussão e estimulei uma reconciliação, no entanto... – paro, inspiro e degluto um mundo de palavras não ditas. Vini aguarda pacientemente, sem cobranças. – No entanto – retomo –, me limitei a desejar melhoras secas ao Nobu e abraçada ao Art, me afastei sem sequer encará-lo – finalizo com a voz baixa e pesarosa, sentindo uma vergonha dolorosa me inundar.

Não, o problema não é o Vini me julgar, essa posição já é ocupada pela minha própria consciência... e ela é muito boa nisso. A real questão é bem mais profunda. A verdade é que eu não apenas abandonei o meu melhor amigo, mas o troquei por outro como se fosse um objeto quebrado a ser substituído. Sem ter coragem suficiente para confrontar os sentimentos do Nobu, preferi magoá-lo e, não satisfeita, ainda usei outro ser humano como escudo no meu plano estratégico de fuga. Quando penso nesse momento não consigo deixar de questionar: que tipo de pessoa eu sou?

– Nos dias seguintes eu evitei o Nobu e fingi que ele não existia – será que pode piorar? Sempre. – Mas uma conversa com os meus pais, me fez perceber o quanto eu estava errada. Sendo assim, decidi culpar a imaturidade dos meus dezesseis anos e fui procurá-lo.

– E então vocês se acertaram? – Os olhos do Vini brilham de expectativa.

Deus, como eu queria que ele estivesse certo. Infelizmente, a realidade nem sempre é condizente com os sonhos, não é mesmo?

– Não – solto, amarga –, era tarde demais. O Nobu havia viajado para casa de parentes na Coreia do Sul, e de lá seguiria para o Japão. Dois anos mais velho do que eu, decidiu estudar a gastronomia oriental. Por motivos óbvios, ele não se despediu de mim – meu sorriso não possui cor ou brilho. – Enfim, eu não o vi mais até dois anos atrás, quando retornou à cidade para assumir a Fuji Sushi House. Fim da história – termino com o coração pesado.

É fato que se a minha vida fosse um livro, eu definitivamente arrancaria as páginas correspondentes a esse momento negro e deixaria um post-it: retirado por conter drama em excesso. Me volto para o motorista e ele está compenetrado. Seus olhos encaram a estrada, mas parecem ver algo além.

– Cat – seu tom é suave, porém firme – o que realmente a incomoda em relação ao Nobu? – Oi? Será que esse ser humano aparentemente desprovido de audição não escutou os meus últimos minutos de lamento e choramingo? Cruzo os braços, irritada. Ele se volta para mim com uma expressão terna. – O que a intriga... de verdade?

Meu coração espanca o peito, enquanto os meus neurônios surpresos absorvem a pergunta. Passo a mão sobre o rosto me questionando se o oxigênio se encontra escasso para mais alguém.

– Eu não... não compreendo – balbucio, após um minuto, sentindo a minha garganta fechar e sufocar. As palavras insistem em permanecer ocultas em meu íntimo. Expressá-las em alta voz significa tornar tangível, palpável, uma verdade que perturba a minha alma há meses. Rememoro a noite em que fomos à Alto do Girassol, enquanto me questiono pela milésima vez: como o Nobu ainda consegue permanecer ao meu lado depois de tudo o que fiz? – Eu não compreendo o fato de tê-lo magoado tão intensamente e mesmo assim...

– Ele continuar apaixonado por você – completa e meu coração dispara como um trem desgovernado sobre trilhos infinitos.

Confusa e atordoada, exalo profundamente e decido dar voz a única questão que ocupa a minha mente nesse instante.

– Como é possível? – Não faz o menor sentido, certo?

– Acredite – ele maneia a cabeça e suspira –, eu daria tudo para ter essa resposta – e fim.

Pela primeira vez durante as horas que passamos juntos, estou certa de que a conversa não é mais sobre mim. Repentinamente, sou tomada pela sensação de que essa viagem ainda guarda surpresas reveladoras. De todo modo, essa parece ser a minha nova vida: transformar uma mera situação corriqueira em mistério, romance ou drama. Cristo!

Parece que essa viagem guarda revelações preciosas... Eita, que amo um babado!!
Simbora para a parte dois?

Se está gostando dessa estória, que tal deixar uma estrelinha tão brilhante quanto você?!

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