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• Trinta •

– Está perfeito! – Declaro pela milésima vez, tentando a todo custo preservar a mesma entonação eufórica inicial. A fome e o cansaço ameaçam me consumir, mas afasto os dois e sorrio. Ela merece, mentalizo determinada, ela merece.

– Cat, eu achei que o anterior ficou mais bonito.

– Deseja experimentá-lo novamente? – Uma bela jovem, esguia e alta, questiona com a voz limpa e serena.

Mari me encara aguardando o meu parecer, e a moça mimetiza a ação. Excelente, agora são dois seres humanos a me cobrarem uma resposta da qual não faço a menor ideia. Olho para a minha mãe em franco desespero, esperando que ela perceba o meu silencioso grito de socorro.

– Querida, se ele não a impressionou da primeira vez, da segunda não será diferente. Vamos para o próximo, sim?

Assinto com a minha expressão mais sábia, embora possa ouvir ressoar um cri-cri-cri "grilesco" em minha mente. Mari acompanha a elegante vendedora e afundo no sofá. Não é que eu esteja desinteressada ou aborrecida, no entanto, após três horas inteiras, o meu cérebro se converteu em um líquido imprestável. E em minha defesa, a minúscula diferença consistia no tipo da renda. A primeira, chantilly, a segunda, francesa. Imersa em meus caóticos pensamentos, desejei apenas comer a primeira e fugir para a segunda. Pelos céus, elas são idênticas.

– Já está exausta, querida? – A minha mãe ostenta um sorriso sarcástico. Um prelúdio de problemas. – Em breve será você – reviro os olhos e ela se diverte.

Cruzo os braços enquanto admiro a loja monocromática. Se não fosse a beleza e os festejos, seria o hospital ideal. O predomínio do branco ofuscante causa uma certa cegueira temporária.

Há exatos cinco meses, a Senhorita Mariana Benedetto foi pedida em casamento pelo Senhor Matias Nomura. Ainda estávamos em meio ao intenso verão de janeiro, quando a Mari adentrou as portas da nossa casa em puro êxtase, exibindo um lindo e delicado anel de brilhantes. Meus pais celebraram enquanto fingiam surpresa. Obviamente, o Matias já havia conversando com ambos e solicitado a mão da sua amada em casamento ao cupido da Fruto do Espírito, mais conhecido como o meu pai-pastor.

O jantar de noivado ocorreu três meses depois em uma estrelada noite da "primaveresca" abril. E no dia seguinte, mais uma tradição da família Benedetto foi cumprida com sucesso. Outra? Com certeza.

Na Inglaterra Vitoriana, uma frase se popularizou entre as jovens que sonhavam com a sorte no casamento: "something old, something blue, something borrowed, something new", que na tradução da língua inglesa significa, "algo velho, algo azul, algo emprestado e algo novo".

Na data marcada para as bodas da minha bisavó, a sua mãe uniu essas quatro características em um único objeto e declarou para a sua filha: "Esse presente é um lembrete de que o casamento não é fundamentado sobre a sorte, mas sobre o amor, a esperança e a fé. Jamais se esqueça de que um cordão de três dobras é mais difícil de romper". Os meus bisavós foram separados apenas por um fato irremediável que acomete todos os seres vivos: a morte.

E com ela nasceu a tradição. No dia que se segue a celebração do noivado, as mulheres da família Benedetto se reúnem para entregar à noiva um objeto que é, simultaneamente, velho, emprestado, novo e azul. À matriarca, compete a honrada tarefa de rememorar a frase de minha sábia tataravó. Quanto a Mari, a presenteamos com um lindo colar. A corrente nova, em tom rose, evidencia o antigo pingente em formato de borboleta, cravejado de vistosos cristais azuis, emprestado por mamãe. E para o meu completo desalento, a minha doce irmã estava resoluta em obter um vestido que ornasse perfeitamente com a joia.

Acompanhada de perto pela vendedora, Mari deixa o provador flutuando e se posiciona em um pequeno palanque à nossa frente. A minha respiração falha e o meu coração palpita descompassado. Levo as mãos a boca emocionada e noto lágrimas brotarem do calmo azul de seus olhos. Minha mãe chora livremente. E sem precisar que ela emita um único som, eu posso afirmar com convicção que após horas despendidas em uma incessante busca, ela finalmente encontrara o seu vestido ideal... E estava absolutamente deslumbrante. Junto a minha mãe, me apresso a abraçar a nossa linda princesa.

Enxugo o seu rosto com carinho e contemplo a sua felicidade. Pai Eterno, como sentirei saudades. "Ela vai se casar, Catarina, não morrer", foi o que a minha amável progenitora declarou entre risos abafados, quando me encontrou aos prantos no chão frio da cozinha, durante a madrugada, após o pedido do Matias. Rainha do drama, eu sei. No entanto, eu não consigo evitar o pensamento de que tudo irá mudar. E isso não é ruim, mas o fato de ser diferente... Enfim, exalo pesarosamente.

No ano anterior, por incontáveis vezes, os seus sábios conselhos foram o único obstáculo entre a manutenção da minha sanidade mental e a loucura completa. E embora o meu peito aperte doloroso, eu sorrio. Somente o amor verdadeiro é capaz de se alegrar com a conquista do outro como se fosse própria. E Deus sabe o quanto amo a minha irmãzinha. Eu a abraço mais apertado e, por um segundo, desejo não precisar soltá-la jamais.

Enquanto investimos um órgão vital no vestido da Mari, assisto a minha mãe apertar os lábios e exibir uma olhar sorrateiro pincelado de diversão. Minha irmã vislumbra por cima do meu ombro e mimetiza a expressão. Seis meses já se passaram desde a fatídica noite de dezembro e, no entanto, elas ainda se divertem as minhas custas. De costas para as portas de vidro, prevejo facilmente o que irei encontrar.

Nervosa, penteio os meu fios eternamente rebeldes com os dedos, enquanto oro para que eles desistam de tentar alçar voos mais altos, checo a minha roupa e ajusto a postura. Viro o meu corpo e o meu coração inicia o trajeto até a minha boca.

E lá está ele... a razão do meu súbito desejo de vomitar as borboletas que agora residem permanentemente no meu estômago. O seu meio sorriso é doce e os seus olhos dourados parecem brilhar com maior intensidade sob o sol. Ele passa a mão sobre os cabelos claros e ondulados, que, estranhamente, estão sempre dispersos em uma confusão ordenada, e caminha suavemente em minha direção.

– Boa tarde, namorada. – Diante da sua voz macia, sinto o chão se tornar mais fluído. Céus, quando esse homem deixará de ter tamanha influência sobre mim? – Encontraram o vestido dessa vez? – Assinto. – Não creio. E foram necessários apenas cinco meses?

Sarcasmo, Henrique? Que novidade. Ergo uma sobrancelha e cruzo os braços.

– Ah, então você acha que faria melhor?

E no segundo em que as palavras deixam a minha boca, eu me arrependo amargamente. Como posso ter facilitado tanto para ele? Me preparo para a colisão.

– Isso é um desafio ou uma proposta, minha pérola?

Claro, o comentário irônico veio de primeira classe. Reviro os olhos e ele se diverte. Os risinhos animados da "plateia" ecoam nas paredes da loja e o Henry resolve dedicar alguma atenção às suas fãs.

– Sra. Benedetto, é sempre uma alegria imensurável encontrá-la. Parabéns pela conquista, Mari, tenho certeza de que será a noiva mais bela que Águas Douradas já teve o prazer de contemplar. – Frente ao elogio, a minha irmã se desfaz em sorrisos e o abraça carinhosamente. Minha mãe segue o exemplo satisfeita. E na disputa de popularidade, eu perdi fácil para o meu namorado de 100x0. – Vocês se importariam se eu roubasse a Cat por alguns minutos?

– De forma alguma – Mari me encara com uma expressão travessa –, e não se preocupe em devolvê-la.

Lanço um olhar homicida em sua direção, mas sou ignorada. Acompanhada por sua cumplice, partem da loja sussurrando comentários sobre o meu relacionamento. E é isso. Se a vida em questão não fosse a minha, estaria facilmente alimentando uma vergonha alheia nesse momento. Me volto para o Henry e ele ostenta um largo sorriso.

– Vejam só... – Um pouco de ironia, por que não? – Sua alteza está particularmente animada esta tarde – constato diante da sua postura inquieta.

Ele parece pronto a correr uma maratona no meio do deserto do Atacama dado o seu nível de agitação. Com um olhar astuto, ele me encara fixamente. Dois passos seus são o suficiente para reduzir o espaço entre nós a centímetros.

– Entenda, Katzen, quando você está comigo, não há um único instante em que a perfeita felicidade me abandone.

Com um toque suave, os seus dedos acariciam a linha do maxilar que vai da minha orelha esquerda ao meu queixo, e de modo delicado ele pressiona os lábios contra a minha testa. Deus, como se respira mesmo? Encaro o chão na tentativa de oxigenar o meu cérebro.

– Boa explicação – ótima na verdade. Pode repetir? – Mas eu não acredito em você – ergo uma sobrancelha em sinal de desafio. Seu semblante revela um surpresa genuína. Excelente, sarcasmo merecido retribuído com sucesso. – Eu sei que você possui uma razão superior para tamanho contentamento.

Ele cruza os braços, curioso.

– E qual seria?

– O seu amado primo.

A mera lembrança da chegada de Vinícius Prinz é o suficiente para iluminar a sua face por completo.

– Eu ainda não consigo acreditar que o Vini realmente virá à Águas Douradas. Parece que estou preso em um sonho. Nesse caso, um mundo paralelo todo constituído de sorvete de caramelo. – Não consigo conter as risadas. Sua euforia é, no mínimo, contagiante. – Inclusive, preciso buscá-lo no aeroporto. Seu voo deve estar próximo – declara, animado.

– Está bem, encontro vocês mais tarde. Estou ansiosa para conhecer um membro da sua família. – Henry passa a mão na nuca, desconfortável. – Quem sabe o próximo não é o seu... pai?

Ele permanece em silêncio, e vislumbro a linha de produção de desculpas ativa em sua mente.

– Família é como boleto bancário, Katzen, é mais fácil "digerir" um por vez.

Diante do comentário, o presenteio com um tapa leve em seu braço direito. Sim, é uma piada... eu sei disso. No entanto, se há algo que aprendi nos últimos meses sobre o Henry é que a ironia é o seu mecanismo de defesa primário. Pela centésima vez, ele busca fugir do assunto.

– Eu sei que o relacionamento com o seu pai não é o mais simples, porém...

– Não se preocupe, minha pérola – ele me interrompe. – Um dia você irá conhecê-lo. – Henry beija a minha mão e sorri, mas não me convence.

Honestamente, eu nunca vesti o estilo "garota idealista". Embora eu deva declarar que namoro um príncipe, literalmente, jamais esperei uma utopia. Afinal, estamos todos em uma caminhada contínua para revelar verdadeiramente a Cristo. Portanto, assim como creio não existirem relacionamentos perfeitos, o meu particularmente possui duas arestas a serem ajustadas.

A primeira possui nome e sobrenome: Vitório Prinz. O pai do Henry é tão lendário para mim quanto o diamante Pink Star. Até acredito em sua existência, porém quase não ouço sobre ele, tampouco os meus olhos tiveram o prazer de contemplá-lo. Durante o último Natal, um pensamento curioso se instalou em minha mente, no entanto com palavras evasivas e comportamento furtivo, Henry o promoveu facilmente a teoria conspiratória.

Desde que chegou à Águas Douradas, Henrique recebeu incontáveis ligações, mensagens, presentes e até cartas de amigos e familiares.... exceto, do seu pai. Aliás, a mera menção do seu nome o deixa desconfortável. Não consigo evitar a suposição de que o meu namorado está me escondendo algo. Céus, qual é o meu problema com homens misteriosos? Primeiro o Art, agora o Henry. É oficial: acho que preciso de terapia.

– Se você diz – dou de ombros, desgostosa.

Embora o suspense me cerque por todos os lados, eu possuo inúmeras ressalvas quanto ao termo "segredo". Em minha concepção, eles são potenciais agentes destruidores de qualquer relacionamento. Mimetizo uma expressão amuada e Henry me abraça com carinho.

– Está tudo bem, Katzen – ele afaga os meus cabelos com suavidade. – Nada irá nos separar, eu prometo – desvenda os meus pensamentos com perfeição.

Fecho os olhos, enquanto sinto o seu peito subir e descer em um respiração ritmada. Com delicadeza, ele coloca as mãos sobre as maçãs do meu rosto e alinha os meus olhos aos seus.

– Minha pérola – sua voz é terna e serena, como a brisa leve de um dia de verão –, eu amo você.

Sorrio, radiante. Eu possuo uma clara convicção desse fato, no entanto, não me canso de ouvir.

– Você precisa ir – declaro pesarosa, mas entrelaço os meus dedos aos seus.

Existem momentos que poderiam facilmente ser eternos. Infelizmente, não há nada terreno com esse potencial.

– Eu sei – sua expressão fica pensativa. – Acha que o Vinicius se importaria de pegar um taxi? – Rio e reviro os olhos. A contragosto, ele desenlaça a mão da minha. – Nos vemos a noite, okay? – Com uma piscadela, o vejo se afastar e desaparecer.

Em uma velocidade que deixaria o Flash com inveja, entro no carro imersa em um desejo crescente de chorar. Qual o meu problema? Por que eu sou assim? Será que realmente serei eu a arruinar cada sonho lapidado? Sinto as lágrimas se acumularem nos meus olhos e pesarem no meu coração. Sim, aqui está a segunda maldita aresta: eu simplesmente não consigo dizer: "eu te amo".

Qual relacionamento sobrevive a isso?

Olá, minhas estrelinhas... Volteiiiii!! Muito feliz de estar com vocês em mais um volume dessa Obra!! Estão prontas para mais mistérios, babados e romances? Simboraaa!

Se está gostando dessa estória, que tal deixar uma estrelinha tão brilhante quanto você?!

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