• Três •
– Gostaria apenas de lembrar aos senhores, que estão conversando, que a Etimologia é indispensável a qualquer área, e isso é um fato. Ela está presente em absolutamente tudo. Por exemplo, a palavra arquiteto advém do grego, arkhitektôn, que significa "o construtor principal", pois deriva dos termos: arqui e tectônica, que expressam principal e construção, respectivamente. É óbvio, no entanto, que a compreensão desta origem pode ser expandida a medida em que... – E esse é o slide 2 de 70.
Sim, é claro que essa divertida tortura não vai terminar hoje. Teremos mais de Etimologia das Edificações semana que vem, quando tentarei faltar novamente, sem sucesso. Não que os meus pais regulem a minha frequência nas aulas, mas depois de três semanas seguidas ausente na disciplina, eles optaram por interferir antes que o número de faltas originasse o termo reprovação. E honestamente, não posso reclamar disso. Especialmente, após eles me apoiaram tão prontamente na decisão da mudança de carreira.
Aos dezessete anos, quando prestei vestibular, me inscrevi para o curso de Ciências Contábeis. Suportei dois anos de sofrimento e frustação até criar coragem o suficiente para alterar a rota e começar a estudar Arquitetura e Urbanismo, que eu amo.
Desde o primeiro dia, quando o professor questionou qual a razão que nos impulsionou a escolher contabilidade, eu soube que ali não era o meu lugar. A minha motivação era fraca e sem graça: o meu pai é contador... fim. Não que ele nutrisse em mim qualquer senso de obrigação para seguir a sua profissão, mas eu sabia que ele orava por um sucessor apropriado para o escritório e eu tinha uma vontade sincera de deixá-lo orgulhoso. E embora fosse um sentimento nobre, me tornou deprimida durante um longo tempo.
Porém, em uma certa noite de sábado, a minha irmã parou na porta do meu quarto despretensiosamente, ou assim eu pensava, e questionou se eu estava mais interessada em cumprir o propósito de Deus ou em agradar continuamente as pessoas. Foi como um choque de realidade! Passei a refletir que de fato nunca tinha perguntado a Deus o que deveria fazer. Apenas informei o que desejava e forcei a minha decisão como uma criança mimada e imatura. Estava sofrendo à toa, entretanto, isso terminaria naquele momento!
Assim, levantei da cama, peguei papel e caneta, sentei no chão do meu quarto e orei sem qualquer barreira ou receio. E enquanto orava, escrevia o que escutava, não com os ouvidos, mas com o meu coração, acerca dos planos que Ele declarava sobre o meu futuro. Para a minha surpresa e realização, escrevi a palavra Arquitetura. Sim, foi o sono mais leve e restaurador que tive em vinte e quatro meses. No dia seguinte, lembro de reunir os meus pais e a minha irmã e conversar com eles a respeito do que aconteceu. Eles ouviram atentamente, e ao fim do meu pequeno discurso, bateram palmas ao meu novo sonho. Foi um momento único. Terminamos orando e tomando sorvete, para lembrar que não há nada mais doce do que cumprir o verdadeiro propósito de Deus.
O acender das luzes me arranca do meu devaneio. A aula tinha acabado, finalmente! O professor Duarte passa um trabalho para a próxima semana e se retira resmungando que a geração de hoje põe a perder a continuidade da civilização... Nada de novo sob o sol.
– Sinceramente Cat, eu não entendo por que somos obrigadas a iniciar o dia com esse tipo de aula. Quanto você acha que o professor Duarte pagou à Universidade para ter o livre direito de nos torturar por sessenta minutos? – Escuto a voz da Isabel antes de vislumbrar o seu semblante.
Não que eu precise vê-la para saber que exibe um olhar astuto e um sorriso irônico. Já a conheço há tempo o suficiente para formar uma imagem perfeita em minha mente. Me volto para a esquerda e me deparo com a expressão exata que imaginei em uma jovem de 1,55m, no máximo, com cabelos ruivos e desfiados, e muitas sardas, concentradas especialmente nas bochechas e nariz, vestindo uma saia azul cobalto e uma blusa amarelo neon, que evidenciam o seu gosto por combinar cores vibrantes.
– Honestamente, acredito que a permissão é gratuita. Aliás, pensando bem, acho que estou sendo um pouco injusta. Conhecendo o nosso coordenador, deve ser muito duro para ele nos assistir sofrer por mãos alheias. Aposto que desejava ardentemente estar à frente dessa tarefa – comento, devolvendo a expressão sarcástica. Isabel ri da forma que eu mais gosto, uma gargalhada cheia e contagiante, que mostra até as amigdalas. É assim desde que éramos crianças.
Não consigo recordar precisamente o dia em que nos tornamos amigas, porém, segundo o que me contam, foi há 19 anos no Parque Verdes Folhas, próximo à minha casa. Eu tinha quatro anos e montava um pequeno castelo de areia quando a Isabel tropeçou em uma pedra e caiu em uma poça de água ao meu lado. A minha mãe alega, bastante orgulhosa, diga-se de passagem, que enquanto todos os adultos corriam desesperados, eu estendi a mão para ela, a ajudei a erguer-se do chão, retirei o meu casaquinho e disse que combinava mais com o seu vestido do que com o meu. É claro que nossas mães ficaram encantadas, e durante todo o tempo que montamos o castelo, elas conversaram e marcaram encontros. Tempos depois, elas se tornaram amigas. E, nós? Irmãs.
– Uma perda do meu precioso tempo. Não foi para isso que eu abandonei a faculdade de Direito – afirma com a expressão resoluta, entre um cruzar de braços e um revirar de olhos.
Bel havia estudado dois anos de Direito em uma universidade cara e renomada, por insistência do pai, durante o período que morou com ele. Entretanto, após ele se casar com Camila, sua madrasta, todas as noites terminavam em discussões exaustivas entre as duas. Sem suportar mais, ela desistiu da profissão, deixou a casa do pai, voltou para Águas Douradas e decidiu cursar Arquitetura, o seu verdadeiro sonho. Retornou à cidade dez dias após eu sair da contabilidade. Estudamos juntas e passamos no vestibular, ela em quinto lugar e eu em sétimo.
– Tem razão Bel, todos sabem que foi para conseguir um namorado mais facilmente – ela ri alto e quando o professor Farias, de Urbanismo e Infraestrutura, entra na sala, já estou certa de que irei me atrasar mais uma vez. Sob livre e espontânea coerção, Bel me convenceu a almoçarmos juntas no restaurante Divino Sabor, antes de eu encontrar o Sr. Oliveira.
Na verdade, eu havia negado categoricamente o convite, alegando que o meu horário estava bastante complicado. Porém, quando ela olhou no fundo dos meus olhos e disse que tinha uma novidade surpreendente para compartilhar, eu reconsiderei e lembrei que não poderia demorar.
Santo Deus, ela precisa me dizer algo, e a menos que um furacão ou um terremoto devastem a cidade, ninguém irá demovê-la dessa ideia.
Aiai, babados... quem poderá resisti-los?!? Rsrsrs
Se está gostando dessa estória, que tal deixar uma estrelinha tão brilhante quanto você?
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