• Quatro •
– Boa tarde, Lucas. Por favor, será um filé com queijo, acompanhado de molho extra e uma porção de batatas fritas. Dois sucos de abacaxi com hortelã e gengibre, sem gelo e açúcar e, para a sobremesa, uma fatia de cheesecake de chocolate belga com sorvete de creme, além de uma água, dois garfos e dois copos. Fim – Bel solta o ar, satisfeita.
– Ou seja, o mesmo de sempre. Algo mais, senhoritas? – Negamos, animadas. Lucas sorri enquanto anota em um pequeno tablet os nossos nomes com a expressão "o de sempre", logo abaixo. – Então, queijo, frango ou vegetariano hoje, meninas?
– QUEIJO! – Gritamos em uníssono.
Lucas ri e caminha apressadamente para a cozinha, a fim de pegar os nossos pãezinhos recheados com queijo, cortesia do Senhor Boaventura, proprietário do restaurante, desde que tínhamos doze anos. Pedimos o mesmo todas as vezes, mas Lucas jamais deixa de questionar com a intenção de presenciar a nossa entusiasmada resposta. Costumamos dizer que essa é a cola da nossa amizade: o amor por queijo.
– Então, senhorita Isabel, o que precisa me contar de tão devastador? – Resolvo perguntar de imediato, uma vez que a pobre alma sustenta uma expressão que se divide entre excitação e hesitação. Conhecendo a minha amiga, caso eu não inicie a conversa neste segundo, iremos permanecer no restaurante por horas, e eu preciso encontrar o Sr. Oliveira em cinquenta minutos. Jamais subestime a capacidade da Bel de falar por dias ininterruptos.
– Bom, não é nada incrível... Na verdade, é bastante chocante... Não é que seja super importante, mas pode até acabar sendo algo bom... A propósito, se você não pensar assim, não tem problema... Entretanto, eu achei que você gostaria de saber... Pensando bem, seria melhor almoçarmos primeiro, concorda? – Ela transpira aflição.
– Dessa vez não, Bel. Eu confio plenamente na sua capacidade de triar as informações que mereçam chegar ao meu conhecimento. Então vá em frente e me diga: o que houve?
Nessas situações é melhor ser direta. Loops eternos ao redor de um assunto inevitável é desgastante e inútil, concorda? Isabel permanece calada por aproximadamente um minuto. Ainda posso observar a sua mente separar e organizar os pensamentos, quando ela inicia o discurso.
– Ontem eu estava na biblioteca selecionando alguns livros, quando escutei uma conversa, acidentalmente, é claro, entre o Arthur e a Elise. Ambos estavam bem próximos a parede do fundo da sala, por trás da estante, e sussurravam. Pelo que eu pude traduzir, considerando o volume mínimo utilizado, ele alegou estar apaixonado. – Certo, eu admito que essa frase me surpreendeu. Art não é dado a inclinações românticas duradouras.
– Tcs, tsc, tsc, que feio, Isabel. Escutando a conversa íntima alheia – declaro em tom de reprovação fingida. – No entanto, considerando o contexto, não posso culpá-la. Duas pessoas resolvem compartilhar um segredo no lugar mais oculto, obscuro e silencioso da universidade, e não desejam ser incomodados? Não, um verdadeiro absurdo. Com certeza, estavam tentando chamar a sua atenção, não tenho a menor dúvida. – A expressão contrariada da minha amiga anuncia que eu atingi o efeito pretendido. Rio abertamente.
– Vai me deixar terminar, Miss prudência? – solta aborrecida.
– Claro, Bel – exibo a minha face mais inocente e um sorriso complacente. Ela revira os olhos, exasperada.
– Como eu dizia, antes de você indelicadamente me interromper, após a declaração do Arthur, a Lis passou a aconselhá-lo gentilmente. Infelizmente, pelo infinito desastre que me domina, eu derrubei um livro. O mais pesado do universo provavelmente, porque fez um barulho estrondoso ao tocar o chão, e ambos olharam em minha direção com semblantes alarmados. Não Cat, nem ouse dizer que eu mereci isso, caso contrário eu prometo que a deixo sozinha. Ah, obrigada pelos pãezinhos Lucas, são os melhores do mundo. Onde eu parei mesmo? Verdade, na humilhação pública – as palavras escapam da sua boca como disparos de uma arma potente e rápida. Não ouso interromper por medo de represarias.
– Pois bem, depois que eles me viram, passamos uns vinte segundos nos encarando, até que a Lis quebrou o embaraçoso silêncio e me chamou para compor o precioso grupo. Art a encarou em profundo desespero, mas ela não se intimidou. No momento que percebeu a minha resistência em obedecer a sua convocação desvairada, Lis me arrastou, com uma gentileza digna das melhores séries policiais, ao local no qual estivera conversando há pouco. Foi muto vergonhoso, Cat. Eu nunca mais, anote isso, nunca mais, escuto a conversa dos outros enquanto for viva! Ótimo, pode manter esse ar de descrença, você verá se não cumpro esse voto. – Abro a boca, mas fecho em seguida. Não consigo um espaço de fala nesse diálogo... ou seria melhor dizer, monólogo?
– Enfim, quando finalmente nos reunimos e o momento constrangedor experimentou um certo alívio, após os pedidos de desculpas e explicações, todos da minha parte, obviamente, o vexame cedeu lugar novamente às inclinações românticas do Arthur. Por fim, ele decidiu compartilhar as suas verdadeiras intenções. Declarou que estava realmente apaixonado e disposto a fazer o que fosse necessário para conquistá-la, mesmo sabendo que seria um trabalho árduo e desafiador. Bom, você conhece o Arthur, ele não é o tipo de homem que desiste fácil. – De fato, não posso discordar.
– Pai Eterno, essa garota deve ser completamente especial ou absolutamente exigente, para que seja necessário reunir um conselho de guerra a fim de agradá-la. Está bem Bel, diga ao Art que aceito integrar a távola redonda e me comprometo honrosamente com a missão de ajudá-lo. Agora, confesse, eu conheço essa dama incrível? – Ela não responde. Transparece apenas uma mescla de angústia e choque. – Certo, eu admito que você conseguiu me deixar curiosa, okay? – Sorrio, tentando incentivá-la a continuar, mas ela mantém uma expressão séria. Nervosa, contorce o guardanapo entre os dedos. Parece ponderar cada palavra. Finalmente, quando torna a falar, seu tom é vacilante.
— Cat, eu acho que você entendeu errado. Na verdade, eu tenho certeza. Ele não procura a sua ajuda, sequer desejava a minha. E sim, você conhece a garota, conhece muito bem, a propósito. Céus, não há uma forma fácil de dizer isso, então optarei pela mais simples e direta. Catarina, o Arthur está apaixonado por você! – Bel exprime a última frase com certa histeria e todos no restaurante viram-se para nós.
Ela distribui pedidos de desculpas em todas as direções, e ao retornar à posição inicial, ostenta um semblante compenetrado, como se o fato de observar cada centímetro do meu rosto fosse capaz de concedê-la o poder de desvendar o que se passa na minha mente.
Um silêncio inquietante se estabelece entre nós duas. Eu sei que ela não irá suportar muito mais tempo calada, especialmente depois que a privei da minha opinião, então oro por um livramento divino. Quando ela está prestes a iniciar o inquérito, Lucas se aproxima com o nosso pedido. Agradeço a Lucas, e a Deus, pela graça alcançada, faço uma oração rápida pelo almoço, e começo a comer desesperadamente como se o apocalipse estivesse a ponto de estourar.
Bel interpreta acertadamente a minha conduta como uma súplica de pausar a conversa e passa a desfrutar a refeição sem exprimir uma única palavra. E nesse momento, eu admito que descobri uma nova habilidade: comer sem mastigar. Assim que termino, levanto rapidamente, declaro que estou atrasada e saio do restaurante a passos largos. Antes de cruzar a porta, solto um obrigado ao Lucas por cima do ombro, e grito para Bel que pago na próxima.
Pai amado, preciso somente de um tempo sozinha para processar e digerir as novidades. Entretanto, dotada de pernas curtas, porém, velozes, antes que eu consiga sair do estacionamento, ouço passos me seguirem e uma voz gritar o meu nome repetidas vezes. Paro, meio relutante, olho para trás e vejo Bel arfando com as mãos sobre os joelhos. Ela ergue o corpo, recupera o fôlego, e ao falar, a sua voz expressa um misto de compreensão e preocupação.
– Cat, pode pelo menos me dizer se o Arthur tem alguma chance? – Seu semblante revela ansiedade enquanto aguarda a minha resposta. Entro no carro, reflito por menos de trinta segundos, e respondo com segurança.
– Não Bel, ele não tem. – E sobre o sinal de alerta... Acho que encontrei a razão.
Uiuiui, que rejeição rápida, não? Apenas observo...
Se está gostando dessa estória, que tal deixar uma estrelinha tão brilhante quanto você?
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