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• Quarenta •

Encaro silenciosamente o cardápio da Sweets & Books há dez minutos, enquanto o meu cérebro parcialmente competente tenta obrigar a minha compreensão lentificada a ultrapassar a primeira meia frase. Honestamente, se continuar presa em "Doces de galáxias p..." terei que considerar entre duas opções: desistir de livros com palavras e optar por figuras, ou aceitar que o analfabetismo funcional passou de uma possibilidade distante para uma realidade certa. Por quê, Deus? Suspiro, frustrada. Três batidas na mesa atraem a minha atenção

– Com licença, senhorita. Permita-me ajudá-la. – Baixo o luxuoso cardápio de capa dura até a altura do nariz, e me deparo com um belo par de olhos verdes e astutos. – Nessa página há exatas quinze sobremesas que representam obras com o tema universos perdidos, e só para constar... você não gosta de nenhuma delas.

"De fato você deve ser um grande conhecedor de universos perdidos, esteve preso em um por meses, não é mesmo?" Não, Catarina, ácido demais.

"Obrigada pelo conselho que uma população total de zero pessoas solicitou. Garçom, é essa mesmo que eu quero." Perfeito... para uma criança de cinco anos.

Que tal se eu apenas...

– Não estou certa disso – bem melhor. Parabéns para mim.

– Por que não me deixa escolher? Já fiz isso inúmeras vezes e pelo que me consta, dez meses não podem ter sido o bastante para mudar o seu gosto.

"Foram o bastante para mudar o seu." Não, não, muito cedo para ironia pincelada de crueldade.

"Tem razão, você sempre acerta." Céus, um sorriso a mais e sou cadastrada no clube do My Little Pony. Não, açucarado demais.

Talvez seja preferível simplesmente...

– Eu só preciso de mais alguns minutos, está bem? – Eu não sei vocês, mas particularmente achei muito maduro da minha parte.

Satisfeita, retorno os meus olhos para o cardápio, quando um suspiro alto e exasperado atrai a minha atenção. 

– Pode, por favor, parar de agir assim? – Como? – É torturante assisti-la ponderar cada frase como se estivesse em uma reunião com o primeiro-ministro britânico. A propósito, caso não tenha ficado claro, não adianta se esconder por trás do cardápio. Quando cansar de bancar a Kate Middleton, ainda serei eu a estar aqui.

Ele passa a mão esquerda sobre os fios escuros, cruza os braços e se joga contra a cadeira, imerso em um silêncio sepulcral. É oficial: Arthur Gardien está furioso comigo. Algo raro, diga-se de passagem. Nos últimos dez anos, aconteceram apenas duas vezes. A primeira foi durante a viagem de despedida do ensino médio. Já a segunda, ocorreu em uma dolorosa quinta-feira chuvosa, na parte mais sombria do estacionamento da Fruto do Espírito, onde precisei escrever uma list... Bom, eu falava sobre uma viagem, certo?

Fomos visitar uma caverna com pinturas rupestres há cinco horas de Águas Douradas. Sim, eu fui voto vencido. Com certeza sim, eu tinha outros planos. Um belo shopping de quatro andares finalizava sua construção magnifica. Mas é como dizem: não se pode ganhar todas. Fomos separados em duplas para explorar a região, e é óbvio que o Arthur era a minha. De acordo com o seu argumento, nada lisonjeiro vale ressaltar, eu precisava de alguém com o dobro de atenção, já que a minha ausência patológica de localização espacial sempre foi um problema de fábrica.

Enfim, estava eu disposta a completar o passeio invicta e esfregar a minha vitória na face arrogante dele, quando, infelizmente, por um singelo descuido do destino, me perdi do Arthur. Claro que eu podia ter sentado e ligado para ele, no entanto, baseada no meu alto nível de tédio, além de uma racionalidade inexiste inerente a adolescência, terminei por investir toda a bateria do meu celular em fotos conceituais e músicas gratuitas do Spotify. Ao cair da tarde, acreditei ser mais seguro retornar ao hotel, sem considerar o ser humano que me procuraria desesperado até as 23:00h. Digamos apenas que a maior emoção que ele transpareceu ao me ver não pode ser definida exatamente como alegria.

Pois bem, duas consequências paradoxais resultaram desse dia turbulento. O lado negativo é que gastei semanas, neurônios e muita chantagem emocional para convencê-lo a falar comigo novamente. O lado positivo é que quando isso ocorreu, fui recompensada com um carregador portátil de última geração. É como diz a bíblia: Deus transforma maldição em benção.

– Não sei do que está falando. – Volto minha atenção ao cardápio pelo que deve ser a milésima vez. – Estou agindo tão naturalmente quanto o habitual. – Talvez não exatamente, mas para frente é que se anda, concorda?

Repentinamente, a expressão do Art assume traços completamente inesperados e ele solta uma gargalhada aberta. E finalmente aconteceu: eu enlouqueci o Arthur! Céus.

–  O que é tão engraçado?

– Ah, Cat, é reconfortante saber que você continua a mesma. Ou quase. – Como assim quase? – Estranho seria se decidisse compartilhar os seus verdadeiros sentimentos por vontade própria, sem a menor necessidade de convencimento e persuasão da minha parte. Afinal, quando isso ocorreu nos últimos vinte e quatro anos?

Ele ergue uma sobrancelha, irônico. Embora a resposta seja possivelmente nunca, achei de uma gratuidade sem tamanho. Decido retribuir... docemente, como é de meu costume, no entanto me interrompo ao notar que tão rápido como surgiu, a euforia se esvai do seu olhar. Será que é apenas eu, ou mais alguém considera transtorno bipolar um bom diagnóstico para esse rapaz? Ainda exploro a plausibilidade desse forte palpite, quando em um gesto gentil, e não sinalizado, ele toma a minha mão. Seu rosto é uma mescla de firmeza e suavidade.

–  Cat, o que está havendo? Não está feliz em me ver?

– É óbvio que estou.

– Não parece. Primeiro, me espanca no aeroporto. – E então, quem é o rei do drama agora? – O que, diga-se de passagem, é infinitamente melhor do que me tratar tão friamente quanto o iceberg que afundou o Titanic. Pelo menos no seu acesso de raiva existia alguma emoção, diferente da apatia que demonstra agora.

– Não é bem assim.

– Cat, por favor. Esqueceu-se de com quem está falando? A conheço como a palma da minha mão. Sou o mesmo Arthur de sempre, e...

– Será? – Sinto algo se agitar em meu interior. Pela primeira vez desde o momento em que o vi, ofereço o mínimo de atenção ao caos de sentimentos inquietantes que inunda o meu coração. – Você está tão...

– Diferente? – Assinto. – Então esse é o problema. Você está desconfortável, porque perdeu o meu padrão de referência. Não sabe mais como vou reagir às suas palavras e atitudes, portanto optou pelo caminho mais seguro: a neutralidade. – Abro a boca, chocada. Céus, eu não disse mais do que quatro palavras. – Tudo bem, não precisa confirmar. Não foi mesmo uma pergunta – ele dá de ombros, satisfeito.

Agora, como alguém tão arrogante pode caminhar sem topar no próprio ego é um mistério que nunca saberemos. Irritada, cruzo os braços e reviro os olhos.

– Clássico revirar de olhos. Já imaginava que faria isso. – Ele se aproxima de mim até ficar a centímetros do meu rosto. – Ainda consigo interpretar as suas emoções. Ainda antecipo o seu próximo pensamento. E definitivamente, ainda sei que a sua sobremesa favorita está na página dos contos de fadas, embora o romance não esteja elencado entre os seus gêneros literários prediletos. Ou pelo menos, não que você admita. Contém muito drama, especialmente sendo você um ser humano tão equilibrado e racional.

Ele me lança aquele olhar de superioridade carregado de sarcasmo, que me faz desejar quebrar todos os seus dentes.

– Arthur você é tão...

– Arrogante e exibido, com um toque de ironia, certo? Como pode ver, há fatos que nunca mudam. – Ele pressiona a minha mão e seus lábios se curvam em um sorriso afável. – E a nossa amizade é um deles. Porque eu estarei do seu lado, Cat, hoje e sempre.

Ele toca a ponta do meu nariz de modo delicado e uma chave gira no fundo da minha alma. Subitamente, retiro a minha mão de entre as suas, ergo o meu corpo mortificado da cadeira e contorno lentamente a mesa até parar diante dele. Art observa cada um dos meus movimentos com uma atenção fixa e decide por levantar-se também. Suspiro e antes que consiga efetuar qualquer movimento, ele me envolve em um abraço carinhoso. Céus, eu nunca vou conseguir surpreendê-lo?

– Obrigado por ter voltado, Art – sussurro, emotiva. – Senti sua falta.

Ele recosta o queixo no alto da minha cabeça e sei que nesse momento palavras são inúteis.

– Podem embalar um desses para viagem? – a voz da Sra. Monteiro ressoa emocionada. Com as mãos ocupadas, ela nos encara com fáceis de mãe orgulhosa. A abraçamos e ela pigarreia, tentando esconder lágrimas caprichosas. – Bem, o que acompanha melhor uma bela amizade do que uma deliciosa sobremesa? – ela deposita dois elegantes e apetitosos doces sobre a mesa.

– Não lembro de termos pedido...

– Ora, Catarina, francamente. Não seja tão dramática. – Oi? – A mocinha frequenta o meu restaurante desde os quatro anos, e não acredita que sou qualificada o bastante para selecionar uma opção plenamente satisfatória durante as suas intermináveis crises de indecisão? Quanto absurdo. Além disso, eu não tive escolha, querida, fechamos antes do anoitecer. 

– Mas ainda está de manhã.

– Como eu disse, restam apenas oito horas. Considerando o seu histórico, seria impossível – maneia a cabeça, zombeteira. 

Junto ao Art, a Sra. Monteiro se diverte abertamente... as minhas custas. Eu sei o que você deve estar pensando: "se até uma gentil senhora de sessenta anos não me respeita, o que se dirá do resto do planeta?" Bom, da minha parte, nada a declarar.

– Bem-vindo de volta, meu querido Arthur. Águas Douradas não era a mesma sem você. – Ah, então para ela é carinho, enquanto para mim só resta humilhação? O mundo é mesmo injusto com as mulheres. – Agora comam, hoje as sobremesas são por conta da casa.

Por trás dela, um garçom chega trazendo as bebidas. Agradecemos em coro e a doce senhora se retira para cumprimentar e alegrar os demais clientes. Ainda a acompanho com o olhar, quando ouço sons de puro deleite brotarem do rapaz a minha frente.

– Meu Deus, isso não pode ser real. Devo estar em Matrix porque é impossível existir algo tão delicioso que não seja apenas fruto da minha imaginação alucinada ou de um programa de computador excêntrico e ditador. 

As palavras escapam rápidas e sufocadas, como se aproveitassem qualquer migalha de intervalo entre as garfadas desesperadas. Dentro de segundos, Arthur devora uma torta de maçã, pera e cereja, recoberta por uma espessa calda de chocolate que faz referência a Obra Os Três Mosqueteiros, do francês Alexandre Dumas.

– É mesmo?

Empurro o meu prato em sua direção. Há algo de prazeroso em vê-lo comer tão loucamente. Ele assente, e embora eu não compreenda como este ser humano não notou a troca das sobremesas – como assim Deus? – a minha pobre Branca de Neve e os sete anões torna-se a vítima da vez.

– Tem gosto de que? – questiono, irônica.

Ele para, com fáceis de quem pensa seriamente na pergunta. Será que finalmente percebeu?

– De casa – solta, por fim. Meu coração dispara e aquece como se uma lareira flamejante fosse acesa em alguma parte do meu interior. Ele morde o garfo e sorri. – É bom estar em casa.

O momento não dura mais do que meio milésimo de segundo. Ele volta a comer desenfreadamente, como se a sua vida dependesse disso. Sinto um peso e um vazio dominarem a minha alma. Será que por todo esse tempo, o Art esteve... infeliz?

– Vale Negro é imponente, elegante e muito rica, de fato. Porém, é um tanto sombria – declara como se respondesse a um questionamento interno. – Tenho a ligeira sensação de que as pessoas, por mais altivez que transpareçam, na verdade escondem cicatrizes profundas por trás da aparente perfeição dos seus relacionamentos rasos e temporários. Mas, enfim... – ele dá de ombros, como se não houvesse realizado uma análise psicológica completa em uma única frase.

Respiro profundamente e decido dar voz aos sons que ecoam, simultaneamente altos e surdos, em meus ouvidos.

– Você não era... – feliz? Não consigo dizer a palavra, porque simplesmente não estou pronta para ouvir a resposta.

Encaro os seus olhos, esperando que ele leia a mensagem oculta nos meus. Como de costume, ele não desaponta.

– Admito que precisei de algum tempo para me adaptar a rotina local. E definitivamente não teria conseguido – pobre Art –, se a Igreja não fosse uma constante nos meus dias.

"Querida Terra, é a Catarina aqui. Se não for atrapalhar demais, gostaria de pedir humildemente que você estacionasse. Preciso de um tempinho para processar essa informação... talvez uma vida extra. Sabia que você compreenderia, agradecida."

Mais algum ser ouviu essa frase ou eu surtei de vez? Deus da glória, Arthur Gardien realmente se tornou cristão. Alguém pode me reensinar a respirar, porque acho que os meus pulmões ainda estão em fase de negação.

– Comecei a frequentar a igreja da minha mãe, um tanto deslocado de fato. Mas dentro de poucas semanas, passei de visitante constrangido a integrante ativo a membro indispensável. Iniciei no departamento de mídias como auxiliar e me tornei o fotógrafo oficial em apenas dois meses – seus olhos brilham de orgulho pelo cargo. Honestamente, me dá vontade de colocar em um vidrinho e... – A propósito Cat, eu conheço o líder de mídias da Fruto do Espírito? – Oh... Deus... Eterno.

Pois bem, como a verdadeira lady que sou, degluto seco o desejo de gritar e sair correndo, e prossigo como a brisa leve do mar que esconde um furacão logo ali na esquina.

– Conhece de vista – declaro despretensiosamente e desvio o olhar para o enorme bordo japonês no centro do restaurante. – Essa árvore é mesmo linda, não?

– Com certeza – concorda rapidamente. – E quem é?

– Quem é o que?

– O líder de mídias, Cat.

Cristo, que fixação a desse rapaz. 

– É o Noshdg... – pronuncio, bebericando um gole da minha limonada.

– Quem?

Norishml – repito de modo ininteligível, torcendo para que ele acredite que tive uma espécie de AVC e desista de mim.

– Cat, pode ser mais clara, por favor? Parece que está amassando uma batata na boca enquanto mastiga um chiclete. – Movimento a cabeça e encaro o nada. Ele atura o meu silêncio por um total de dois segundos. – E então, quem é?

– Céus, é o Nobu Akira, está bem? Satisfeito agora? – Questiono impaciente, sentindo que os meus momentos de paz já tão escassos, se tornarão possivelmente nulos. 

Bom, sua próxima atitude, embora a meu ver seja bastante desrespeitosa, em nada me surpreende. Com uma expressão prazerosa, ele solta uma gargalhada alta e bate palmas repetidas vezes.

– Ah, isso será extremamente interessante – declara, por fim, com um erguer de sobrancelha maquiavélico.

Me aproximo do seu rosto.

– O que acha de dividir comigo a razão da piada interna? Desse modo, podemos nos divertir juntos – experimento, como quem não quer nada.

– Não, obrigado. Estou bem assim – ele toma goles grandes do chá gelado para recuperar o fôlego, extremamente satisfeito consigo mesmo.

Mimetizo uma expressão contrariada.

"Não tem nenhuma compaixão pelos meus nervos?" – pergunto, amuada.

Ele sorri. A referência não lhe passa despercebida. 

"Está muito engada, minha querida. Tenho o maior respeito por seus nervos. São meus velhos amigos. É com consideração que a ouço mencioná-los há..." – ele exibe uma expressão irônica – dez anos, pelo menos.

O tempo exato da nossa amizade. O empurro e ele ameaça cair da cadeira. Nem a elegantíssima Jane Asten perdoaria tal afronta.

– Hilário, Arthur – desvio o rosto e reviro os olhos. Ele ri de prazer.

– Esqueça, Cat, não pode ficar chateada comigo. Lembre-se de que agora somos irmãos em Cristo, além de membros da mesma igreja.

Minha língua, por vezes incontrolavelmente ácida, prepara um comentário instantâneo, quando o meu cérebro aceita a ficha que está para cair há dez minutos: o Art irá integrar a Fruto do Espírito.

– Art, você vai...

– Eu não pensaria em um lugar melhor – ele aperta a minha mão, no entanto, aos poucos, assisto sua expressão tranquila assumir um tom preocupado. Ele morde o lábio inferior. – Acha que o seu pai irá aprovar a minha chegada?

Oi? E por que não aprovaria? 

– Sinceramente? Acho que a minha família vai ter um surto coletivo.

Assim como estou tendo agora. O Art na minha igreja. Há pouco mais de um ano, jamais ousaria supor que ele reconheceria a soberania de Cristo, quanto mais que vivenciaria isso tão de perto. Não, não consigo mensurar as repercussões desse fato. Em um instante, já crio todos os cenários novos e alegres em minha mente, e... Paro! Subitamente, um pensamento me prende como uma teia de aranha firme e perigosa.

– Cat? Está tudo bem? – Assinto, estarrecida. Catarina, mentalize que a curiosidade enterrou o gato e colocou a Alice dentro de um buraco para correr atrás de um coelho imaginário em um país que de maravilha só tinha o nome. Esqueça! Vamos, você consegue. Não é tão difícil. – Cat, por que não me diz no que está pensando? – Não mesmo. Eu preciso seguir adiante. Um passo de cada vez. – Você pode perguntar o que quiser. Sabe disso, certo?

Garoto, você que não sabe a bobagem que está dizendo. Decido arriscar, porque, enfim, não posso ir para o túmulo com essa dúvida e ninguém sabe o dia de amanhã, concorda?

– Art, você... bem, em Vale Negro, você... conheceu alguém?

Ele me encara em parte chocado e em parte desgostoso, portanto, estou certa de que não necessita de qualquer explicação adicional.

– Acha mesmo que sou assim tão volúvel?

– Bom...

Falando francamente, o histórico dele é deveras duvidoso. Não lembro de ter pronunciado, nos últimos dez anos, o mesmo nome feminino nas celebrações de Natal e de Ano Novo. Aliás, o mais próximo disso ocorreu no emblemático 2018, quando conhecemos as famosas: Marina e Mariana. Pobres almas, dariam uma excelente dupla sertaneja.

– Eu troquei de cidade para encontrar uma nova vida, não um novo drama – devolve de forma ríspida, com os braços cruzados.

– Então... a resposta é não?

Diante da minha serenidade, ele solta uma risada.

– Sim, miss curiosidade, conheci algumas moças.

– Não me diga. Conseguiu a enorme façanha de surpreender uma quantidade final de ninguém com o mínimo de noção. Parabéns, Arthur! – minha voz transborda ironia.

– Vejam quem voltou, doce como de costume. – Reviro os olhos só para confirmar a personalidade. – Como eu dizia, antes de ser brusca e desnecessariamente interrompido, não pensei em travar relacionamento com nenhuma delas. Procuro me inteirar quanto aos famosos princípios do namoro cristão, mas você há de convir que meu histórico romântico aconselha um intervalo maior para fixação do conteúdo – ele solta uma piscadela, sugestiva.

Que ridículo.

– Pai, vou me abster de comentários, porque de acordo com a bíblia, homicídio é pecado e não estou disposta a perder a minha salvação por tão pouco – Art solta uma gargalhada, divertido.

– Para ser franco, Cat – seu tom costumeiramente leve se torna sério e compenetrado – eu... bom, eu sinto que... ainda não estou pronto. Preciso de mais tempo. – Ele morde o lábio inferior, distraído, e seus olhos me transpassam como se encarassem cenas de uma época perdida. O momento dura apenas alguns segundos e seu sorriso habitual retorna como se só nesse instante houvesse se dado conta de onde está realmente. – Mas, qual a razão da pergunta?

– É bem provável que muitas jovens se interessem por você na Fruto do Espírito. Na verdade, tenho um forte pressentimento de que haverá um elevado número de conversões durante as próximas semanas.

Céus, sinto saudades de quando o vexame e a vergonha alheia faziam parte do velho homem. 

– E isso te incomoda porque... – ele franze o cenho, intrigado.

– Porque... – Inspire. Apenas seja honesta, Catarina. Expire. – Porque não suporto a ideia de vê-lo se machucar novamente.

– Cat...

– Eu só não quero perdê-lo de novo, está bem? – E aí está a verdade nua e crua, amigos.

Desde o fatídico dia em que travei uma amizade sincera com o Arthur, anotei mentalmente o traço mais marcante da sua personalidade para gerar um padrão. E durante os últimos dez anos, foi fácil observar que ele se manteve intacto. Pois bem, a todos os que não perceberam por desatenção ou cegueira seletiva: o meu melhor amigo tem uma predileção perigosa pelos extremos. Não importa se estamos falando de trabalho ou de sentimentos, ele se joga com tamanha intensidade que se ao final do precipício não houver uma rede, ele certamente quebrará alguns ossos e todos os dentes, já que corda de segurança é considerado dispensável em sua mentalidade insana. Ou pelo menos era.

Porque no exato instante que ele pisou em Águas Douradas, eu soube que algo estava diferente. O seu padrão havia mudado. Pela primeira vez em sua vida, o Art se prendeu a uma corda de segurança. Uma muita diferente da que jamais imaginei ser possível. Ele descobriu que pode nos deixar. Que pode ir embora. E que se for preciso... Não, o simples fato de tê-lo recusado foi o suficiente para plantar essa ideia em sua mente, mas e se outra moça fizer o mesmo? Qual a chance dele resolver deixar a cidade novamente? E se ele demorar a retornar? Pior, e se ele não...

– Cat – ele aperta a minha mão de modo amável e fixa os olhos aos meus, atraindo a minha atenção. Seu tom é baixo e suave. – Você não precisa de mim.

– Isso não é verdade – puxo a minha mão, amuada.

Então, quem é a rainha do transtorno bipolar agora?

– É claro que é. Agora você tem o Henrique.

– Mas é diferente – declaro, chorosa e um tanto histérica. Por que ele não entende? Está me contrariando de propósito, por acaso? – Você é meu melhor amigo, enquanto ele é o meu... – me interrompo.

– Tudo bem, você pode falar em voz alta. O silêncio não vai mudar quem ele é, vai? – Nego. Art suspira e passa a mão sobre os cabelos. – Para ser franco, não posso afirmar que não voltarei a deixar a cidade – céus, eu sabia –, mas posso garantir que jamais sumirei da sua vida novamente. Estarei aqui quando precisar de mim. Se... precisar de mim.

– Você promete? – É oficial: nenhuma criança poderia ser mais manhosa.

Como podem ver, mais um drama efetuado com sucesso. Acho melhor pedir uma sobremesa para viagem, afinal, uma hora ou outra a vergonha vai me abater e preciso ter açúcar o suficiente para entorpecer os sentidos e o desejo de me esconder em um buraco.

Art ergue o braço esquerdo.

– Juro solenemente jamais adentrar qualquer universo paralelo ou viajar para Nárnia sem portar um telefone. Satisfeita? – Assinto vitoriosa e ele sorri. – Gostaria de saber se o Henrique já conhece esse lado... um tanto teatral da sua personalidade. Aposto todas as minhas fichas que você vendeu a aparência de equilibrada. Pobre criatura iludida. – Como é?

– Pois fique ciente de que o Henry... Espera, o Henry! – Como pude esquecer do ponto mais importante do dia? – Arthur, você ainda não me contou como encontrou o Henry.

– É uma longa história – ele cruza os braços e recosta na cadeira.

– Garçom, pode me trazer outra limonada e uma Branca de Neve e os sete anões, por favor? – Volto a encarar o meu companheiro, tranquila. Em algum lugar do meu cérebro, as engrenagens certas se encaixaram e o episódio emotivo cedeu lugar a curiosidade habitual. – Tenho até as 18:00hrs, então pode começar. Do início, aliás. Estou sem a mínima pressa.

E particularmente, mal posso esperar!

É amigos, sei nem o que dizer aqui...
Vou só seguir adiante, porque como diz a Cat: pra frente é que se anda, né? Enfim...

Se está gostando dessa estória, que tal deixar uma estrelinha tão brilhante quanto você?!

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