𝐂𝐎𝐍𝐓𝐎 𝐓𝐑𝐄𝐙𝐄 - 𝐎 𝐑𝐄𝐋𝐎́𝐆𝐈𝐎 𝐃𝐎 𝐀𝐆𝐎𝐑𝐀
Há muito tempo, em uma vila escondida entre montanhas, existia um relógio peculiar no centro da praça principal. Esse relógio não era comum; diziam que ele não marcava apenas as horas, mas também os sentimentos mais profundos de quem o observava. Seu ponteiro maior representava o tempo, e o menor, o amor. Quando os dois se alinhavam, algo extraordinário acontecia.
Na vila vivia uma jovem chamada Carmen. Ela era uma artesã que criava belíssimos vitrais para as casas e igrejas. Apesar de sua arte refletir cores vibrantes e desenhos delicados, Carmen carregava no peito uma melancolia silenciosa. Ela acreditava que o tempo havia roubado algo dela: o amor verdadeiro. Perdera os pais muito jovem e, com eles, a esperança de encontrar alguém que a compreendesse por completo.
Certa tarde, enquanto ajustava um vitral na janela de uma antiga capela, Carmen avistou um forasteiro na praça. Ele estava parado diante do relógio, observando-o com uma intensidade incomum. Era um homem alto, com cabelos desgrenhados e olhos profundos que pareciam conter o peso de muitas épocas. Seu nome era Ethan, um relojoeiro que viajava pelo mundo em busca de engrenagens raras e relógios que contassem histórias.
Intrigada pela forma como Ethan olhava para o relógio, Carmen se aproximou. Ele lhe contou que havia lido sobre aquele artefato em antigos manuscritos: dizia-se que quem compreendesse o funcionamento do relógio poderia desvendar os mistérios do amor e do tempo. Contudo, Ethan acreditava que o segredo não estava em sua mecânica, mas em algo mais profundo, algo que as palavras não podiam explicar.
Os dois passaram semanas juntos, estudando o relógio. Ethan desmontava e remontava suas partes, enquanto Carmen observava e criava esboços de suas engrenagens. Durante esses momentos, descobriam um ao outro. Ethan tinha um riso discreto e uma paixão por pequenas coisas, como o som de uma engrenagem encaixando perfeitamente. Carmen, por sua vez, ensinou a ele a ver o mundo através das cores, mostrando como um simples raio de luz poderia transformar vidro em arte.
Com o passar do tempo, algo curioso aconteceu. Os ponteiros do relógio começaram a se mover de maneira estranha quando os dois estavam juntos. O menor, que simbolizava o amor, se aproximava lentamente do maior. Era como se o relógio respondesse à conexão entre Carmen e Ethan.
Uma noite, enquanto trabalhavam sob a luz de velas, Ethan confidenciou a Carmen que temia o efeito do tempo. Ele acreditava que, como tudo na vida, o sentimento que compartilhavam poderia desvanecer. Carmen, por sua vez, revelou que temia não ser suficiente para que o ponteiro menor completasse sua jornada. Foi então que decidiram fazer um pacto: não tentariam controlar os ponteiros, mas viveriam o presente com todo o coração.
Na manhã seguinte, algo inacreditável aconteceu. Os ponteiros se alinharam exatamente ao meio-dia. Um brilho intenso emanou do relógio, envolvendo Carmen e Ethan em uma luz dourada. Quando a luz desapareceu, eles se encontraram de mãos dadas, mas algo dentro deles havia mudado. Era como se tivessem vivido juntos todas as suas vidas passadas e futuras, compreendendo que o amor não era uma prévia nem uma promessa, mas uma experiência eterna dentro do presente.
A partir daquele dia, Carmen e Ethan não tentaram mais desvendar os segredos do relógio. Em vez disso, decidiram criar um novo, juntos. Um relógio que não marcasse horas ou sentimentos, mas memórias. Cada engrenagem contava uma história, cada ponteiro representava uma jornada compartilhada. Eles o chamaram de Relógio do Agora.
Quando Carmen e Ethan finalmente partiram desta vida, a vila encontrou o Relógio do Agora no centro da praça, ao lado do original. E, assim, o tempo e o amor continuaram sua dança infinita, inspirando gerações a viverem intensamente cada momento e a acreditarem que o presente é o maior presente que podem compartilhar.
Fim.
Escrito pela Autora Júlia (AutoraLorenzin)
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