Era um verão escaldante quando Marina e Miguel se conheceram em uma viagem pela costa nordestina. Marina, uma professora de literatura de São Paulo, havia decidido passar um tempo sozinha para se desconectar e, quem sabe, encontrar inspiração para escrever o livro que sempre sonhara. Miguel era fotógrafo, nascido e criado em uma pequena cidade no sul de Portugal, e estava viajando pelo Brasil para compor uma série fotográfica sobre as belezas naturais do país. O encontro deles foi inesperado, porém instantaneamente marcante.

Em uma tarde de julho, Marina estava sentada em uma cafeteria rústica à beira-mar, perdida em um livro de poesias, quando Miguel entrou e se sentou na mesa ao lado. Ele estava folheando um caderno de anotações e, curioso, lançou um olhar discreto ao livro que ela lia. Observadora, Marina logo percebeu o interesse dele e, sem hesitar, estendeu o livro para que ele pudesse ver.

— Rilke? — ele perguntou, um leve sotaque português escapando de sua fala.

— Sim, você gosta? — ela respondeu, um sorriso tímido surgindo em seu rosto.

A conversa que começou por acaso se estendeu por horas. Eles falaram de literatura, de viagens, de sonhos e das ironias da vida. Ao final do dia, o sol já se punha, e ambos sabiam que algo havia mudado. Aquela conexão não era comum, e o silêncio que pairava entre eles, enquanto observavam o pôr do sol, parecia prenunciar uma história.

Durante as semanas que se seguiram, Marina e Miguel tornaram-se inseparáveis. Viajaram juntos, descobriram praias escondidas, dividiram confidências e se apaixonaram perdidamente. O amor parecia fácil sob o céu aberto do nordeste brasileiro, onde o tempo parecia suspenso e os problemas do mundo pareciam distantes.

No entanto, ao fim do mês, a realidade chegou com a força de uma maré cheia. Miguel precisava voltar para Portugal. Marina tinha compromissos em São Paulo. O mundo real, com suas responsabilidades e suas fronteiras, se impunha cruelmente. Com um abraço longo e muitas promessas, se despediram no aeroporto de Salvador, sem saber quando se veriam novamente. Prometeram manter contato, escrever cartas, e quem sabe, um dia, se reencontrar.

A distância se mostrou um desafio maior do que ambos imaginavam. Eles trocavam cartas, mensagens, e longas ligações de vídeo, mas com o passar dos meses, o fuso horário e a rotina de cada um tornavam esses momentos cada vez mais raros. Marina sentia a ausência de Miguel com uma intensidade que não sabia que existia. Para ela, não se tratava apenas de saudade, mas de uma espécie de dor surda, como se algo vital lhe tivesse sido tirado.

Miguel, por sua vez, se sentia dividido. Ele amava Marina e ansiava pelo reencontro, mas estava construindo uma carreira promissora na fotografia em Portugal. Havia começado a expor seus trabalhos e era constantemente convidado para viajar. Marina, por outro lado, mergulhava cada vez mais na literatura, tentando transformar a dor da distância em palavras e versos, mas sempre com o pensamento voltado para ele.

Um ano se passou, e o contato entre eles foi rareando. As mensagens de "bom dia" foram ficando espaçadas, as ligações, antes semanais, tornaram-se mensais. As cartas, que antes eram recebidas com entusiasmo, agora permaneciam sem resposta. Ambos pareciam presos em uma espécie de limbo, onde o amor existia, mas era constantemente ameaçado pela realidade de suas vidas separadas.

Até que, um dia, uma carta de Miguel chegou inesperadamente. Era curta, mas carregada de significado.

“Marina, preciso te ver. Não posso continuar sem ter você por perto. Vamos nos encontrar em Lisboa no próximo mês? Vou te esperar na estação de trem de Santa Apolônia. Dia 10 de junho, às 15h.”

Marina leu e releu a carta inúmeras vezes. Seu coração disparava com a possibilidade do reencontro. Será que seria como antes? Ou tudo já teria mudado? Ela hesitou, mas no fundo, sabia que precisava ver Miguel uma última vez, independentemente do desfecho.

No dia marcado, Marina desembarcou em Lisboa. O nervosismo a consumia enquanto se dirigia à estação de trem. A cidade, que ela só conhecia pelos relatos dele, parecia envolta em uma aura mágica, quase como se fosse o cenário perfeito para uma história de amor.

Ao chegar à plataforma, viu Miguel. Ele estava com a mesma câmera pendurada no pescoço, e o sorriso que ele esboçou ao vê-la foi o mesmo de um ano antes. Por um momento, o tempo pareceu parar. Sem dizer uma palavra, eles se aproximaram e se abraçaram, um abraço que parecia carregar toda a saudade, todas as incertezas e todas as promessas não ditas.

— Você está aqui — ele sussurrou, segurando o rosto dela entre as mãos.

— Eu estou — ela respondeu, sentindo o calor das lágrimas brotando nos olhos.

Durante aqueles dias em Lisboa, eles redescobriram a sintonia que sempre tiveram. Visitaram cafés, museus, passearam por becos estreitos, tiraram fotos juntos e, pela primeira vez, falaram sobre o futuro. Marina sabia que retornar para São Paulo ainda era necessário, mas eles decidiram que a distância não seria mais um empecilho.

— Um de nós terá que ceder — Miguel disse, em uma das últimas noites, enquanto caminhavam pela Praça do Comércio. — Mas, por agora, o importante é que sabemos o que queremos.

O reencontro trouxe a certeza de que o amor deles era mais forte do que as dificuldades e os quilômetros que os separavam. Eles decidiram revezar viagens e, eventualmente, planejar uma vida juntos, onde quer que fosse.

Marina voltou ao Brasil com a alma renovada e, agora, com a convicção de que aquela história de amor valia a pena ser vivida – e também contada. Inspirada, finalmente encontrou as palavras para o livro que tanto ansiava escrever. E, nas páginas finais, registrou a frase que Miguel havia lhe dito na despedida, certa de que, um dia, eles jamais teriam que se separar outra vez:

“Alguns amores atravessam oceanos, Marina. O nosso é um deles.”

Fim.

Escrito pela Autora Júlia (AutoraLorenzin)