O Reflexo no Espelho
A manhã começou como qualquer outra. Jake acordou ao som do despertador, mas demorou mais tempo do que o normal para sair da cama. Algo dentro dele parecia pesado, como se o simples ato de se levantar fosse uma batalha. Ele finalmente foi ao banheiro, onde encarou seu reflexo no espelho.
Os olhos cansados, a pele pálida e os ombros curvados o incomodaram. Ele puxou a camiseta para cima, observando seu abdômen. Não havia nada de anormal ali, mas, para Jake, parecia insuficiente. Ele já havia ouvido comentários na escola sobre sua aparência – pequenos comentários, mas que ficaram gravados em sua mente como tatuagens invisíveis.
"Você está muito magro, Jake."
"Coma alguma coisa, vai parecer mais saudável."
"Ou talvez não coma tanto... Já viu sua barriga?"
As vozes ecoavam em sua cabeça enquanto ele passava os dedos pela pele. Jake nunca deu muita atenção à sua aparência antes, mas agora, toda vez que se olhava no espelho, ele via imperfeições. Ele sentia que precisava ser melhor, mais forte, mais masculino. Algo que ele não sabia como alcançar.
Naquele dia, durante o almoço, Jake sentou-se com Heeseung e outros colegas de classe. Heeseung parecia estar de bom humor, contando uma história engraçada sobre algo que acontecera em sua antiga escola. Todos riam, inclusive Jake, mas ele mal tocou na comida.
— Você não vai comer? — perguntou Heeseung, empurrando levemente a bandeja de Jake com o dedo.
Jake deu de ombros.
— Não estou com tanta fome.
Heeseung franziu a testa, mas não disse nada. Ele continuou com a conversa, mas Jake percebeu o olhar de preocupação que ele lançou em sua direção.
Ao longo das semanas seguintes, Jake começou a evitar refeições completas, substituindo-as por lanches rápidos ou simplesmente pulando-as. Ele se convenceu de que estava apenas ocupado, mas sabia que havia algo mais profundo por trás disso. Cada vez que olhava no espelho, ele via algo que precisava mudar.
Certa noite, depois de um longo banho, Jake se encarou novamente no espelho. Desta vez, a expressão em seu rosto era diferente. Não havia mais frustração; havia desprezo.
"Por que você não consegue ser como os outros?"
Ele passou as mãos pelo rosto, tentando afastar os pensamentos, mas eles insistiam em voltar. Ele pensava em Heeseung, em como ele parecia tão confortável consigo mesmo, tão confiante, tão... perfeito. E ele, Jake, era o oposto.
A pressão que sentia – das expectativas da família, da escola, da sociedade – parecia sufocá-lo. Ele se lembrou das vezes em que sua mãe comentava sobre como ele precisava se esforçar mais para ser um exemplo, como seu pai sempre dizia que ele deveria "se comportar como um homem".
No entanto, o que mais doía era saber que nem mesmo em sua mente ele era livre. Seus sentimentos por Heeseung, sua aparência, seus desejos... tudo parecia estar errado.
Jake deslizou até o chão do banheiro, abraçando os joelhos. Ele sentiu as lágrimas quentes escorrerem por seu rosto, mas não tentou contê-las. Era como se todo o peso que carregava estivesse finalmente transbordando.
Ele sabia que precisava mudar algo, mas não sabia por onde começar.
No dia seguinte, Heeseung o encontrou na biblioteca.
— Ei, Jake, está tudo bem? Você parece meio... apagado ultimamente.
Jake hesitou. Parte dele queria se abrir, contar sobre o que estava passando, mas a outra parte, a mais forte, dizia para ele se calar.
— Estou bem. Só... cansado com o projeto, acho. — Ele tentou sorrir, mas o sorriso não alcançou os olhos.
Heeseung observou-o por um momento antes de assentir lentamente.
— Bom, se precisar de algo, sabe onde me encontrar.
Jake apenas balançou a cabeça, mas não disse nada. Enquanto via Heeseung sair, ele sentiu um nó na garganta. Ele queria acreditar que tudo ficaria bem, mas, ao mesmo tempo, sentia que estava se perdendo cada vez mais.
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