Os dias ao lado de Heeseung estavam se tornando uma mistura confusa de ansiedade e conforto para Jake. Ele nunca se sentiu tão conectado a alguém antes, mas, ao mesmo tempo, aquilo o assustava mais do que qualquer outra coisa.

Estavam sentados no gramado atrás da escola, finalizando os últimos detalhes do projeto. O sol de fim de tarde aquecia suavemente, e Heeseung, como de costume, parecia à vontade, deitado com as mãos atrás da cabeça.

— Você acha que o professor vai gostar? — perguntou Jake, olhando para os papéis organizados em sua mochila.

— Claro que sim. Você praticamente fez tudo sozinho — Heeseung respondeu, rindo. — Mas sério, está ótimo.

Jake soltou um sorriso discreto. Heeseung sempre tinha esse efeito nele, uma maneira de deixá-lo mais tranquilo, mesmo quando a ansiedade parecia estar no controle.

— E você? Está gostando daqui? — Jake perguntou, tentando disfarçar o nervosismo que sempre sentia ao puxar assunto.

Heeseung abriu os olhos e virou a cabeça para olhá-lo. O vento bagunçou seus cabelos, e Jake desviou o olhar, sentindo o rosto esquentar.

— Sim, até que estou. É diferente, sabe? Mais calmo do que onde eu morava. Às vezes sinto falta da agitação, mas acho que precisava de um lugar assim agora.

Jake assentiu, fingindo entender completamente, mas as palavras ficaram ecoando em sua mente. Ele queria perguntar mais, descobrir por que Heeseung sentia que precisava de um lugar como aquele, mas não teve coragem.

Quando Heeseung se levantou e estendeu a mão para ajudá-lo a fazer o mesmo, Jake hesitou antes de aceitar. O toque foi breve, mas deixou um rastro que parecia queimar em sua pele.

Naquela noite, sozinho em seu quarto, Jake tentou processar o que estava sentindo. Não era só a amizade, ele sabia disso. Era algo mais profundo, algo que ele não conseguia nomear, mas que o fazia sentir como se estivesse traindo a si mesmo.

Ele sabia o que acontecia com pessoas como ele em uma cidade pequena. Ouviu os comentários maldosos nos corredores da escola, as piadas que seus próprios amigos faziam sobre garotos que “agiam de forma diferente”. A homofobia era como o ar naquele lugar: invisível, mas presente em todos os cantos.

"Isso não pode estar acontecendo," ele pensou, tentando afastar os pensamentos que insistiam em voltar.

Nos dias que seguiram, Jake começou a evitar Heeseung. Ele inventava desculpas para sair antes do horário combinado ou dizia estar ocupado com outras coisas. Mesmo assim, Heeseung parecia não se importar, sempre respondendo com um sorriso.

— Está tudo bem? — Heeseung perguntou em uma tarde, quando Jake mais uma vez tentou encerrar o encontro cedo.

Jake engoliu em seco, sentindo o peso da preocupação no olhar de Heeseung.

— Claro. Só... muita coisa na cabeça.

Heeseung não parecia convencido, mas não pressionou. Ele apenas deu um sorriso compreensivo e voltou a arrumar suas coisas.

O que Jake não sabia era que Heeseung também tinha seus próprios segredos. Embora parecesse confiante e seguro, havia algo que ele não compartilhava com ninguém. Jake, porém, estava tão preso em seu próprio conflito interno que não percebeu os sinais.

Quando chegou em casa naquela noite, Jake se olhou no espelho por um longo tempo. Ele odiava o que via. Não apenas sua aparência, mas o que sentia por dentro. O desejo, a confusão, a culpa. Ele queria ser normal, queria se encaixar, mas tudo nele parecia errado.

E, no fundo, ele sabia: fugir de Heeseung não faria esses sentimentos desaparecerem. Só os tornaria ainda mais intensos.