Era como se seu amor me machucasse. Me prendesse. Me fizesse mentir para mim mesma. Você não via em mim a mesma coisa que eu via em você. Afinal, nós não tínhamos olhos iguais e muito menos valores iguais. Nós éramos diferentes em tantas coisas. E, principalmente, na forma de amar, já que seu amor me machucava e, diversas vezes, me deixava em um beco sem saída.

Amar muitas vezes é não receber o mesmo de volta. Mas e quando recebemos pedras por tanto tempo? Ainda vale a pena insistir? Desisti de te fazer entender que palavras mais doces não machucam como as ásperas que você me dirigia. Você não conseguia me ver de verdade. Eram apenas oportunidades oportunas pra você. Então me enganei achando que não, que tudo era invenção da minha cabeça. Mas não era não.

Comecei a me ver com seus olhos e, por muito tempo, não me enxerguei mais. Me enganei. Me rebaixei. Me destruí aos pouquinhos. Mas quem me via com amor me alertava que eu estava mudando para pior, que as pessoas com quem eu andava não estavam me fazendo bem e que eu deveria fazer alguma coisa pra mudar isso. Mas aí meus ouvidos começaram a ouvir demais o que você dizia também. E, aos poucos, já não escutava a voz das pessoas que eu amava e que me amavam também.

Então brigas constantes aconteceram, pessoas se afastaram de mim, lágrimas e mais lágrimas escorreram. Eu te contava o que acontecia e você me ajudava. Me fazia acreditar que era melhor me afastar mesmo porque nada daquilo valia a pena. Eu, com seus olhos e seus ouvidos, passei a proferir as suas palavras. Ásperas como asfalto fiz pessoas se machucarem com meus comentários. Fiz pessoas caírem. Fiz pessoas sangrarem. Fiz pessoas chorarem. Machuquei sem bater em ninguém. Machuquei com palavras.

Então quando mais ninguém se preocupava comigo, minha autoestima não existia mais e tudo era motivo de briga, você puxou o meu tapete. Caí no mesmo asfalto que tantas pessoas haviam caído por minha causa. Meus joelhos ralaram mais do que durante a infância, minhas mãos sangraram e ninguém quis encostar no meu sangue para me levantar de lá. Muito menos você.

Na dor eu me vi sozinha com suas palavras, seus olhos e seus ouvidos. Nada daquilo fazia parte de quem eu era. De quem um dia eu fui. Então eu me levantei e te vi. Vi seu amor falso e suas palavras. Vi quem eu não gostaria de ser, mas que estava sendo há um tempo. Vi que meus olhos já não faziam parte daquela sua visão. Percebi que suas palavras me machucavam e que eu não deveria ter te ouvido. Então eu simplesmente fui embora.

Fui me construir de novo. Me fazer mais forte e pedir desculpas à quem eu havia machucado. Fui refazer a minha vida muito longe de ti. Fui pra nunca mais voltar. Mas, desta vez, fui com machucados profundos que demorariam muito tempo para cicatrizar. 'Coragem' foi a palavra que eu ouvi na hora em que decidi partir pra bem longe de ti.