22. Mensagens - Theo
As emergências médicas me mantiveram ocupado por todo o dia e parte da madrugada de segunda. Isso era bem-vindo para me ajudar a não raciocinar sobre os acontecimentos de domingo à noite.
Era tão mais fácil pensar em procedimentos médicos, ossos quebrados e tendões rompidos do que desvendar os sentimentos borbulhando em mim.
Ao deitar a cabeça no travesseiro em uma das camas genéricas da sala dos médicos, não havia mais nada para camuflar as perguntas feitas à minha mente por meu coração.
Racionalmente eu percebia como era errado ter me deixado sentir algo por Laís. Apesar de não conseguir decifrar qual era exatamente esse sentimento, eu sabia que este não devia estar lá alfinetando meu coração.
Não podia ser amor, afinal meu coração era de Clara. Não seria adequado entregar-me ao tesão, ela tinha namorado. Além de que esse tipo de relação física destruiria nossa jovem bela amizade. E depois, como eu permitiria que ela me tocasse? Que visse como não sou nada belo por baixo da camisa elegante?
Eu precisava resolver essa confusão dentro de mim e apagar essa vontade de tê-la entre meus braços. Precisava alcançar o controle adquirido por anos tendo contato direto com corpos nus. Devia pensar em Laís como se ela fosse uma paciente, uma mulher inatingível e com quem não se devia fantasiar de modo algum.
Fechei os olhos, tentava me forçar a dormir. Mas as imagens de Laís soltando o cabelo, suspirando por um beijo em um filme, assoprando a torta e sorrindo não se apagavam. Ao contrário eram vívidas, quase palpáveis como se ao esticar as mãos eu pudesse tocá-la.
Lembrei-me de quando conheci Clara, como meu olhar sempre a encontrava mesmo quando estávamos entre uma multidão. Não importava o quanto eu tentava me concentrar em outra coisa, não dava. Era como se holofotes brilhassem sobre ela, uma luz impossível de não seguir.
Era óbvio que houve outras mulheres a convocarem meu olhar. O engraçado era que agora eu não recordava, na maioria dos casos, quem eram ou por que me interessaram. Coisas desse tipo acontecem o tempo todo. São reações químicas, coisas ligadas a feromônio. Tenho certeza de que estudei algo sobre isso na faculdade.
Talvez fosse o que acontecia comigo agora. Talvez esse desejo por Laís passasse mais rápido do que surgiu. Talvez em alguns dias eu apenas riria disso e poderia voltar a ser seu amigo sem mais contratempos.
Provavelmente eu só estivesse carente, por estar sozinho há tanto tempo. Não tinha nada a ver com sentimentos legítimos. Eu devia abandonar a preocupação e esperar que essas sensações tumultuadas em meu coração simplesmente adormecessem. O que eu precisava era manter uma distância de Laís por enquanto até meus sentimentos voltaram para seus devidos lugares.
Inclinei-me para o chão e puxei minha mochila, no bolsinho lateral estava o celular com uma mensagem de Laís ainda não respondida.
Reli a mensagem. Igualmente como na primeira vez, me senti um idiota por ter saído sem conseguir lhe dar alguma explicação. Mas o que eu diria?
Ela pedia desculpa por ter estragado minha camisa sem importância, quando na verdade eu que devia pedir perdão por tentar beijá-la, por sair daquele jeito, e, provavelmente, por toda a vez em que fui grosseiro com ela no começo de nosso relacionamento.
Laís não fizera nada errado, não merecia meu silêncio. Eu estava confuso sobre tantas coisas, mas precisava dar-lhe alguma resposta. Mostrar que valorizava sua amizade.
Após um tempo olhando para a tela iluminada do celular mergulhado na escuridão do quarto. Escolhi uma resposta para aquela mensagem de Laís.
Não se preocupe com a camisa.
Agi exageradamente, você sabe como sou.
Seu amigo, Theo.
Reli e pensei quantas coisas poderia escrever a mais e como essa mensagem simples não explicava nada, mesmo assim a enviei. No momento, era o máximo que eu conseguia escrever sem correr o risco rachar nossa amizade.
Uma mensagem veio em resposta poucos minutos depois.
Não está mesmo chateado?
Olhei o relógio do celular e me surpreendi por Laís estar acordada até as três da madrugada. Mandei a mensagem pensando que só haveria resposta no outro dia, que eu teria mais tempo para por em ordem meus sentimentos.
Tentei desligar o celular e fingir que só vi a resposta alguns dias depois, contudo aquela pergunta piscava para mim, e meu coração começou a acelerar incomodado com a demora de reação de meus dedos. Suspirei e deixei que este gerenciasse minhas ações, mas me mantive alerta para não deixá-lo cometer nenhuma gafe.
Não mesmo.
Enviei ligeiro.
Achei que dormisse cedo.
Completei em seguida ao desejar espichar aquela troca de mensagens. Sei que não devia, que o certo era me afastar até que todas as sensações confusas se resolvessem. Eu manteria uma distância física, me defendi. Isso seria o suficiente.
O dia foi bem agitado, preparativos para esperar Cauã.
Tá difícil encontrar o sono.
Aquela mensagem me atingiu de modo desagradável. Imaginá-la preocupada em arrumar tudo para esperar seu namorado e como, em breve, ele estaria todo o tempo com ela, me fez querer desligar o celular.
Outra mensagem dela povoou a tela.
Você esqueceu o DVD aqui em casa.
Revê-la no momento não era uma melhor opção. Eu precisava encontrar meu equilíbrio primeiro para voltar a vê-la apenas como a amiga de antes. Mas o que escrever? Se não responder vai parecer grosseria.
Estarei em plantões essa semana,
vai ser difícil encontrar horário para passar aí.
Não era totalmente mentira, então me senti um pouco menos cretino.
Eu devolvo o DVD, sem problema.
Acabamos nem vendo o final, pena.
Espichei a troca de mensagens por mais um pouco, nesse momento desejei poder ouvir a voz dela.
Podemos alugar outro dia de novo.
Não queria ver o final sem você.
Ela ansiava por minha presença como eu ansiava a dela? Ou estava sendo educada? Reli a mensagem angustiado por não ter as expressões em seu rosto ou o tom de sua voz para me ajudar a compreender sua intenção.
Claro, se você quiser.
Filmes românticos não são muito de seu gosto.
Seria legal marcarmos novas sessões de filmes.
Enviei antes que eu me descontrolasse e completasse com: apenas nós dois. Suspirei ao reiniciar o movimento de meus dedos sobre a tela do celular.
Você escolhe o filme.
Vou assistir qualquer um que escolher.
Uma mensagem veio rapidamente em resposta. Sorri.
Vai correr esse risco?
Era sempre agradável como ela conseguia, mesmo com mensagens, tornar as conversas mais leves, permitindo-me ser levado por esse ritmo. Rindo mandei a mensagem e acrescentei outra antes que ela pudesse enviar sua resposta.
Vou.
Confio em seu gosto.
E depois o que vale é a companhia
e não a qualidade do filme.
Depois de enviar senti arrependimento. Eu praticamente flertava com Laís, e isso ia de encontro com minhas resoluções anteriores. Onde estava a racionalidade para me manter sobre controle? Onde havia ficado a história de sermos apenas amigos?
Me avisa quando estiver livre
para marcarmos nossa sessão de filmes.
Sua mensagem era simples, mas como responderia a isso. Quando eu estaria livre de meus sentimentos conflituosos? Essa troca de mensagens não ajudara em nada, apenas aumentou minha vontade em estar com ela.
Boa noite, Theo!
Essa era a deixa dela para finalizar nossas mensagens por hoje. Se por um lado me senti aliviado por assim poder tentar parar de pensar nela, por outro quis encontrar muitos outros assuntos para ter sua companhia até o amanhecer.
Tenha bons sonhos, Laís.
Desliguei o celular ao enviar a última mensagem e guardei-o na mochila. Eu precisava começar a por em prática minha decisão de não me deixar levar por esse desejo passageiro.
Daria um espaço ao meu coração para ele voltar ao seu estado anterior. Um tempo sem mensagens, sem telefonemas e, muito menos, sem encontrar Laís. Esperava que isso fosse o suficiente.
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