Capítulo 09
Esclarecendo as coisas
Acordei com minha mãe batendo na porta do meu quarto, tirei os fones de ouvidos e esperei ela entrar.
— Bom dia querida, venha tomar café – minha mãe fala e eu levanto da cama, prendo meu cabelo, antes de ir até a cozinha, peguei um casaco e coloquei por cima do pijama pois o dia amanheceu frio.
Quando cheguei na cozinha dei de cara com Ivi sorrindo enquanto cortava um pedaço de bolo de chocolate.
— Bom dia Samy – Ivi fala e vem me abraçar
— Bom dia, vai me contar o que você está aprontando? – Pergunto e Ivi começa a rir
—meus pais viajaram então, depois do treino vai todo mundo lá para casa, vamos fazer uma festa do pijama e eu não aceito não como resposta! Esqueci de falar sobre isso outro dia! – Ivi fala e eu sorrio de canto
—Tenho que ver com a minha mãe – Falo
— Eu já falei com ela, ela disse que acha uma ótima ideia – Ivi fala e eu lanço meu melhor olhar para ela
—Tudo bem Ivi Rosewood você venceu – Falo e ela começa a rir
Minha mãe se juntou a nós para o café da manhã mas logo teve que ir para o hospital, Ivi esperou enquanto eu me arrumava, e fomos pra faculdade juntas, os meninos por sua vez estavam em uma conversa animada que preferimos não interromper, as aulas passaram lentamente, talvez por que eu tivesse pensando em algo que eu não deveria ou por que Nico Santini não saia da minha cabeça, não comentei nada com Ivi, ela surtaria e faria um de seus discursos dizendo como eu deveria deixar o passado no passado e provavelmente estaria planejando nosso casamento, em vez disso, Ivi ficou o recreio planejando sua festa.
Quando as aulas terminaram Josh nos convenceu de que precisávamos almoçar fora, então andamos até um restaurante italiano que fica no final da rua da faculdade. — Preparada para encarar os jurados senhorita Salt Berg? – Ethan pergunta enquanto se prepara para morder mais um pedaço de pizza
—Te respondo isso quando estiver no pódio – Falo e Ethan começa a rir
— Essa menina está cada vez mais metida – Ivi fala e me joga um bolinho de arroz
— Bem feito – Josh fala gargalhando
—Seu trairá – Falo e jogo um bolinho em Josh também
Passamos a tarde sentados em uma praça conversando e rindo sobre todos os assuntos possíveis, Josh comentou que Nico estava meio triste desde que se falaram pela manhã, quando Ethan questionou o motivo Josh disse que Nico preferiu não contar o porquê de estar triste, Ivi me fitou durante alguns segundos antes de mudar de assunto.
Cheguei em casa e arrumei minha mochila para ir para o treino e mandei mensagem pra Ivi avisando que teríamos que passar na minha casa antes de ir para casa dela, tomei um banho rápido e comi um pouco da salada de frutas que minha mãe tinha deixado na geladeira, deixei um bilhete para a mesma dizendo que estaria na Ivi e que só voltaria depois do campeonato, por precaução anotei o número de Ivi no final do papel pois sei que ela ligaria assim que eu não atendesse o telefone.
Sai de casa e comecei a caminhar até o dojô, vi a moto de Nico passar do meu lado, entretanto, ele me ignorou e apenas acelerou mais, Nico estava magoado, e de certa forma eu entendia sua magoa, porem eu estava certa, era melhor mantê-lo longe de tudo que me dizia respeito, seriamos bons colegas de equipe e nada mais, para o seu próprio bem, e para o meu também.
Quando cheguei no Dojô, Ivi lançou seu mais belo sorriso enquanto se juntava a conversa entre Ryan e Ethan, apenas acenei, e fui até o vestiário, assim que entrei Mary desviou o olhar e saiu batendo a porta, revirei os olhos e falei pra eu mesma mentalmente que não me estressaria com a Mary no treino de hoje, afinal, querendo ela ou não, estaríamos na mesma equipe e provavelmente subiríamos no pódio juntas, claro que se não conseguíssemos nos dar bem, mesmo que fosse contra a decisão do Sensei, Ryana iria me substituir, e Mary faria de tudo para isso acontecer.
Depois de sair do vestiário, subi no tatame e cumprimentei a todos, incluindo Ryana e Mary, me juntei a Ivi que estava falando animadamente com Nico e Josh, quando me aproximei Nico desviou o olhar e parou de sorrir.
— Vou ir tomar agua – Nico falou e saiu de perto
Ivi estranhou a atitude, mas não comentou nada, eu sabia que ela iria perguntar, porém, não agora. Ivi evitava assuntos pessoais, desde que nos conhecemos, quando temos que falar algo, ela sabe a hora de perguntar e quase sempre a hora de opinar, conhecendo Ivi como conheço, ela iria tentar falar com Nico primeiro, e depois escutaria a minha versão.
Josh apenas lançou seu olhar de quem estava sem entender nada, logo o Sensei subiu no tatame, e formamos a fila para começarmos o treino, Sensei Klaus falou mais algumas coisas sobre o campeonato, e em seguida nos dividiu entre a equipe masculina que se constituía com, Nico, Josh e Ryan e a feminina que se constituía com, eu, Ivi e Mary, e nos mandou treinar os kata's em equipe enquanto Ryana e os outros que não tinham equipe treinavam luta e seus kata's individuais, começamos a treinar, nossa meta era treinar pelo menos cinco vezes cada sequência, para ficarmos em sincronia, no último golpe, senti algo na frente do meu pé e cai no chão em cima do meu braço, uma dor insuportável tomou conta do meu corpo, algumas lagrimas escorreram pelo meu rosto, Ivi gritava freneticamente com alguém, enquanto Sensei Klaus se aproximava e tentava me acalmar, respirei fundo algumas vezes pra tentar amenizar a dor, mas falhei na missão gravemente.
Sensei Klaus tentou usar sua voz mais calma comigo, que me debati no chão e não prestei atenção nas suas palavras, fechei os olhos por alguns segundos, tentando controlar a dor que dominava minha mente, mais lagrimas escorreram pelo meu rosto, fiz uma carreta e respirei fundo, me debati no tatame.
—Samy, é o Nico, você vai ficar bem, consegue me falar onde está doendo? – Nico perguntou e eu respirei fundo, sua voz me trouxe segurança, segurança essa que me causava medo, sabia que não poderia deixar meus sentimentos atrapalharem as coisas, mas estava ficando inevitável, me debati mais um pouco.
—Meu ombro! – Falei e Nico segurou a minha mão enquanto Ivi puxou meu quimono para baixo para ver meu ombro, seu olhar de preocupação encontraram os olhos aliviados do Sensei, o olhar do Sensei já dizia que não tinha sido nada de mais, senti uma mão tocando a minha e entrelaçando nossos dedos, olhei para o lado e encontrei os olhos de Nico, que ainda lembravam a magoa que ele sentia, mas mesmo assim me traziam paz.
—Samy, você consegue sentar? – Sensei Klaus perguntou e eu concordei com a cabeça —Josh e Nico ajudem ela a sentar, Ryan ligue para a ambulância para leva-la para o hospital, precisamos de um raio – x por precaução, e quanto a você Mary, espere no meu escritório – Sensei Klaus falou e Mary apenas abaixou a cabeça e foi para o escritório
Assim que o Sensei saiu do tatame, Josh se aproximou junto com Nico, lentamente consegui me sentar e ficar encostada na parede, meu ombro ainda latejava, mas não parecia ter sido algo grave, Ivi correu até o meu lado e se sentou.
— Você está bem, não está? – Ivi pergunta e eu sorrio
— Eu sempre estou – Falo e ela sorri
Ivi ficou comigo até a ambulância chegar, e depois fez um escanda-lo quando o Sensei Klaus não deixou que ela fosse comigo para o hospital, sorri para ela de dentro da ambulância e garanti eu iria direto para a casa dela depois de fazer o raio – x, minha mãe era a plantonista do hospital, então, implorei para que o médico da ambulância pedisse para outro médico me atender, mas assim que cheguei ao hospital, percebi que falhei miseravelmente na missão de não ver minha mãe surtando. —Samy Salt Berg, como você se machuca e não me liga? – Minha mãe pergunta enquanto me examina
— Eu estou bem mãe, cai em cima do meu ombro mas tenho certeza que ele não está fora do lugar, o Sensei Klaus só me mandou por precaução, e além do mais, você não pode me atender – Falo e ela me encara com seu olhar de mãe protetora e furiosa
— Chame o Doutor Hall, fale que minha filha precisa de um raio x! – Minha mãe fala e a enfermeira vai chamar o médico
Depois de ser examinada, com mais cuidado do que o comum, e de fazer o raio x, o médico me deu um relaxante muscular e um analgésico caso a dor no ombro voltasse, o que segundo ele, não aconteceria, obviamente, minha mãe perguntou umas trinta vezes se o Doutor Hall tinha certeza de que eu poderia ir para o campeonato sem correr nenhum risco, e mesmo sabendo que ela tinha certeza que eu não corria risco, o Doutor Hall respondeu atentamente as trinta perguntas, quando recebi alta, mandei mensagem para Ivi falando que pediria um taxi para ir até sua casa, ela garantiu que se eu não esperasse ela vir me buscar ela ligaria para a minha mãe falando que eu estava com dor e que era para ela não me deixar sair do hospital, então, optei pela opção mais racional, esperar a Ivi sentada na sala da recepção.
— Você quase me matou de susto garota – Ivi fala e me abraça
— Quando você fala assim até parece que eu caí de um prédio – Falo e ela sorri — Aí vamos precisar de dois médicos, por que meu coração não vai aguentar – Ivi fala e eu gargalho
—Dramática – Falo e ela destrava o carro e entramos
Ivi ligou o som assim que entramos e fomos ouvindo a sua playlist que segundo ela, muda a cada três meses, cantamos algumas músicas e eu pude ver um sorriso se abrir novamente no rosto de Ivi, ela passou anos sentindo a minha falta, assim como eu senti a dela, mas como uma boa amiga, ela entendeu que eu voltaria quando estivesse bem o suficiente para isso.
Desde que me isolei de todos a três anos, comecei a ver momentos como esse de outra forma, eu os guardava na memória, e quando nada mais estivesse da mesma forma, me lembraria deles, lembraria de Ivi cantando desafinada, lembraria do seu jeito de jogar o cabelo de um lado para o outro, lembraria da minha melhor amiga em seus melhores momentos e isso me faria ter força para resistir aos meus piores momentos.
Quando chegamos na casa de Ivi, as luzes da sala já estavam acesas, Ivi me olhou como se achasse que eu iria ficar brava com ela, quando Mary abriu a porta, encarei Ivi, mas não confirmei suas suspeitas de que eu estava brava, talvez ela tivesse obrigado Mary e vir para a sua casa e me implorar desculpas, ou talvez o Sensei Klaus tenha obrigado Mary a vir e me pedir desculpas.
Depois de entrarmos, Ivi foi buscar uma roupa para eu colocar, já que eu não havia ido para casa pegar roupas e Mary foi até a cozinha buscar o brigadeiro para comermos assistindo filme.
—Samy, pode vir me ajudar aqui? – Mary pergunta da cozinha
— Claro – Falo e vou até a cozinha e a encontro tirando o prato de brigadeiro da geladeira
— Você pega o refrigerante? – Ela pergunta e eu pego o refrigerante da geladeira e levo para a sala
Mary e eu temos muitas diferenças, e eu não entendo seus motivos para me odiar tanto, porém, se Ivi era o elo entre nós duas, era melhor que pelo menos conseguíssemos conviver em paz, sentei no sofá e junto com Mary, que me fitou durante alguns instantes e enquanto abria e fechava a boca, ela queria falar alguma coisa, só não tinha coragem ainda, e mesmo não conhecendo Mary a tanto tempo, eu sabia que se ela não estava tendo coragem para falar alguma coisa, essa coisa era séria.
—Samy, eu quero pedir desculpas okay, eu quero que me desculpe por ser uma idiota sem noção que fez de tudo pra te prejudicar desde que você chegou, essa não sou eu, quer dizer, eu não sou assim o tempo todo, sei ser legal quando quero, mas eu senti inveja, inveja de você e dos seus amigos, inveja da sua amizade com a Ivi e da força que ela tem, eu vi você como a garota que passou três anos fora e que mesmo assim foi bem recebida por todos, por que eles sentiam a sua falta, e as vezes eu acho que eu seria facilmente substituída caso resolvesse sumir, então me desculpa por bancar a louca hoje á noite e quase te machucar de verdade – Mary fala e eu a abraço
— Você não precisa sentir inveja de ninguém Mary, você é incrível, esteve com a Ivi esse tempo todo, sou grata por você ter cuidado dela enquanto eu estive ausente, sei que é difícil ver alguém voltando a ser o que era antes, mas podemos deixar o passado pra trás e tentarmos ser amigas – Falo e ela me abraça novamente
— Quem são vocês e o que fizeram com as meninas que eu deixei aqui em baixo? – Ivi fala e começamos a rir
—Joguei ela para fora – Mary fala e Ivi joga dois pijamas em minha direção
— Escolha um e vista, você já conhece o caminho – Ivi fala e pula no sofá
—É assim que você trata suas visitas? A tia Jane vai ficar decepcionada com a falta de etiqueta da filha – Falo e Ivi revira os olhos
— Vai se trocar logo ou eu vou atacar o brigadeiro sozinha – Ivi fala e eu saio correndo para o banheiro
Troquei de roupa, e assim que voltei para a casa vi Ivi com meu celular na mão enquanto cochichava alguma coisa com Mary e as duas começaram a rir e assim que me notaram parada na porta Ivi jogou o celular longe em cima do sofá.
—Ivi, posso saber por que meu celular saiu voando da sua mão? – Pergunto e ela me encara
— Por que ele veio voando para minha mão – Ivi fala e eu começo a rir
— E eu sou o coelhinho da páscoa né – Falo revirando os olhos
—Se você é o coelhinho eu não sei, mas juro que seu celular tem asas – Ivi fala e eu encaro as duas
— Ou talvez ela tenha pego ele para responder o Nico – Mary fala e Ivi bate na sua cabeça
—DEDO DURO! – Ivi grita e eu corro até o sofá
— Eu vou te matar Ivi – Falo e ela começa a rir
Pego meu celular de cima do sofá, abro o chat do Nico e vejo a mensagem que ele havia enviado.
"Você está bem? Eu teria ido para o hospital mas acho que você não quer me ver" e em seguida a resposta de Ivi
"Estou bem, Ivi está me cuidando na casa dela, porque não vem para cá? " Revirei os olhos e encarei Ivi com meu olhar mais severo, e então respondi novamente a mensagem dele
"Ivi roubou meu celular, não venha! "
Nico não se deu ao trabalho de me responder, então, larguei o celular e dei uma bronca em Ivi por mexer no mesmo, e depois de desviar o assunto "Nico" de sua cabeça, colocamos um filme para ver e atacamos o brigadeiro.
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