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Corações Tensos

Ela fez uma varredura em seu pobre guarda-roupa. Achou um vestidinho nunca usado antes, com cheiro de naftalina... Escondido no fundo do fundo.

Foi comprado num impulso, escondido da mãe; pois mesmo que ganhasse o seu próprio salário, Iara controlava todo o dinheiro na casa. Não para conter gastos e garantir boas soluções financeiras. Mas para garantir que o dinheiro fosse gasto apenas com as suas necessidades...

Se Tessa cometesse a heresia de gastar o salário consigo mesma, e a mãe descobrisse, não sossegaria enquanto a filha não gastasse com ela também.

Parecido com o evento de levar uma criança ao supermercado ou ao shopping, e ela querer tudo; ficar pulando, gritando e chantageando para ganhar as coisas. A mãe fazia quase a mesma coisa.

Os sapatos foram o problema. Como só tinha tênis – todos comprados em brechós ou ponta de estoque – acabou colocando o velho par de All Star, cano alto; meio que na esperança de parecer tão descolada quanto Duckie, no filme "A Garota de Rosa Shocking".

Por coincidência, aquele par de tênis lhe pertencia desde o Ensino Médio. Daria um toque nostálgico ao visual.

Sem dinheiro para maquiagem ou cabeleireiro, passou só um batom rosa com data de validade vencida e fez um rabo de cavalo com um elástico de pelúcia.

Despediu-se da mãe, de passagem, meio que correndo... Esta por sua vez (que nunca dava bola, só quando via algo que lhe interessava; e este era o caso agora) vendo a filha arrumada para sair, interrompeu a sua "fuga". – Aonde pensa que vai? E se eu precisar de você?

A ansiedade ameaçou dominar Tessa, mas ela respirou fundo e se controlou.

– Precisar para quê, exatamente?

– Para me servir um lanche... – disse Iara, estreitando os olhos.

–A senhora pode se servir sozinha. A geladeira está bem ali. Eu já fiz muito em comprar a comida.

– Olha lá, me trate com respeito! Eu sou sua mãe...

– Que eu saiba, não estou desrespeitando ninguém. –Tessa cruzou os braços, o coração acelerado por conta do esforço em confrontar a mãe; detestava isso e lhe custava muito. Mesmo assim, precisava ser feito, se quisesse obter algum respeito.
– Está sempre me agredindo e alegando que não cuido direito da senhora. No entanto, leva uma vida de rainha, gastando o meu dinheiro com tudo que interessa só à senhora. Bem, devo avisar, quanto ao meu dinheiro, isso acabou. A senhora me deixou falida. Não tenho nem para mim, quem dirá para sustentar os seus luxos. Se não está satisfeita com os sacrifícios que já fiz até agora, é muito simples, procure outro lugar para viver – disse Tessa, friamente, para espanto total da mãe. – A senhora tem um ótimo salário, poxa! Servidora pública aposentada! Enquanto eu me mato naquele escritório, com dois salários mínimos! Se a pessoa fica endividada, muitas vezes é porque gasta com coisas desnecessárias. Os badulaques que a senhora compra estão todas por aí, empilhados, sem ter sequer saído da caixa. A senhora precisa reconhecer que é uma compradora compulsiva.

– E daí, se eu for? O problema é meu!

– Mas não com o meu dinheiro. – Tessa cruzou os braços. – Não mais!

–Vou contar para a minha médica que você anda me maltratando e dizendo que vai me bater – disse a mãe, com um sorriso maldoso.

Ameaças de calúnia não era novidade... Mas não era por isso que machucavam menos.

– Ótimo! – Respondeu Tessa, com a voz embargada. – Quem sabe esteja na hora de eu parar de tentar resolver as coisas entre nós e também ter uma conversa com a sua médica preferida; talvez, eu deva revelar a ela como a senhora é de verdade.

– Ela não vai acreditar em você, está do meu lado – disse Iara, com satisfação.

– Vai acreditar, sim, quando eu mostrar a ela as gravações de voz que fiz das barbaridades que a senhora me diz todos os dias – observou sua mãe arregalar os olhos de espanto.

– Andou me gravando?

–Andei, sim. Se eu contasse, ninguém acreditaria que a senhora grita que quer me ver morta... Ou que gosta de espetar o garfo na minha mão, quando se sente contrariada. Que me dá chutes, quando quer alguma coisa que eu não possa lhe dar... Que me me xinga de todos os nomes mais baixos que já se ouviu... Que atira coisas em mim. Cospe na minha cara... E que tudo isso não é de hoje. Portanto, esconder–se por trás da idade, ou da maternidade, não convence mais... Imaginei que só gravando os seus ataques de fúria para que as pessoas vissem que não é a mulher meiga e fofa que de vez em quando, finge ser.

Ela fez uma pausa, sabendo que nada do que dissesse causaria remorso na pessoa fria com a qual convivia desde a infância.

– E finge muito mal! – acrescentou, com emoção. – Todo o bairro é testemunha dos seus escândalos. Fora as coisas que a senhora apronta contra os vizinhos.

– Não vem que não tem! Eles são uns vagabundos e ficam me provocando. Merecem que eu faça até pior! Só assim aprendem a me respeitar. – Ela se desfez dos comentou como se não fossem graves. – Sou sua mãe, eu posso tudo. Se não entendeu isso ainda, é porque você é uma retardada mental. Eu devia ter mandado fazer o teste do pezinho, quando você era pequena.

"Quer saber? Pode mostrar suas gravações, eu só preciso explicar à Dra. Renata que gritei com você para lhe educar. É o meu papel de mãe. Além disso, você faz tudo para me tirar do sério. O meu diabetes está alto por culpa sua. Quer me matar, mas não vai conseguir. Eu enterro você antes".

Tessa recuou um passo. Não é porque escutava isso desde pequena, que não doía toda vez.

– Claro-claro... A senhora sai do sério e se torna uma ameaça, por minha culpa. Agora, quanto ao diabetes, sabe muito bem que deve a doença ao seu próprio comportamento descompensado... Aos doces e a toda a comilança que nunca acaba!

–Eu tenho que comer todos dias – escarneceu Iara. – Quer que eu morra de fome? Claro que quer! Pois vai ficar querendo! Idiota!

– A senhora torrou o limite do seu cartão de crédito com badulaques e comidas importadas. Bolos recheados... Almoços em shoppings... Só faltava comprar caviar! Gasta e gasta e gasta como se dinheiro brotasse em árvores. Precisa de um pomar de dinheiro para atender o seu bem-estar.

"Chegou a tal ponto que depende de mim até para comer".

Tessa deixou as mãos caírem ao longo do corpo.

– Daí, não tem uma reserva para quando precisa de atendimento médico; quando estoura um cano; quando tem que ir a algum lugar com mais conforto, de táxi, não de ônibus... A senhora não pensa no amanhã, porque acredita que sempre vai ter a trouxa aqui para resolver os seus problemas. A senhora desceu ao fundo do poço e fez questão de me arrastar junto, querendo que eu me vire para pagar as suas dívidas. Por isso, eu nunca consegui construir uma vida para mim. Não tenho dinheiro nem para comer direito, por sua causa.

–Você paga as minhas dívidas por que quer – rebateu a mãe, num misto de zombaria e espanto.

Fez um esforço para controlar o temperamento, com receio de que a filha também estivesse gravando aquela conversa.

– Ninguém obrigou você a nada! Eu não pedi.

– Mentira! A senhora pede, implora, me cerca, depois grita, agride, e se eu não dou o que quer, invade o meu quarto, rouba e vende as minhas coisas... Comporta-se como se o meu dinheiro fosse seu. Como se eu não fosse um indivíduo que merece respeito; apenas um objeto, uma criada que botou no mundo para servi-la.

Tessa sentiu a boca seca. Puxou o ar com força. Não houve um dia em sua vida em que as duas tivessem uma conversa agradável, amorosa, como uma mãe e uma filha deveriam ter. A vida toda, tentando contentar a mulher que estava a sua frente, até que compreendeu que o seu objetivo de vida não deveria girar em torno da mãe.

– Você está diferente... Sendo estúpida com a própria mãe... – Iara disse, de repente. – Deve ser a influência daquela sua amiga sapatona. Como é o nome dela, mesmo? Lídia? O marido dela sabe de vocês duas? Aposto que ele vai adorar saber... Acho que vou ter uma palavrinha com ele.

Os ombros da filha caíram.

– Não adianta, né, mãe? A senhora não quer enxergar que tem problemas e precisa tratá-los. – Tessa sentiu as lágrimas subirem aos olhos.

– Ôôô, tadinha... Como sofre essa minha filha – debochou a mãe. – Não passou por um terço do que eu passei na vida e fica aí, reclamando. É até pecado o que você faz... Mas Deus está vendo o jeito que você trata a própria mãe. Você vai pagar. Ah, se vai...

Tessa ficou olhando para aquela mulher, que teve uma vida de princesa, fez do pai um criado até a morte dele e depois de enterrá-lo, substituiu pela filha.

– A senhora não existe.

Apelar à razão era inútil. A mãe descambava para as ofensas e daqui a pouco estaria gritando para a rua toda ouvir. Não querendo mais escândalos e muito menos ser agredida, Tessa pegou a bolsa e o casaco e saiu. Parou no alto das escadas, apoiando as costas na porta do apartamento. Quase não resistiu aos rituais de "toc" que costumavam tomar o seu tempo. Mas não queria que sua mãe soubesse, pois daí usaria isso contra ela, nas discussões.

Tessa queria tão desesperadamente sair dali que abriu mão dos rituais. Conformou–se com descer as escadas, flexionando o joelho esquerdo primeiro, para compensar.

A psicóloga iria dizer que conseguir abrir mão do ritual, foi um avanço. Ela lhe explicou sobre os pensamentos mágicos. Os rituais, no seu caso, eram maneiras de compensar a ansiedade diante dos problemas. Um canal de escape pelos quais tentava contê-los.

Enquanto descia as escadas, sentiu um alívio repentino por deixar aquele ambiente opressivo... O ritual ficou em segundo plano. Mas o alívio maior foi o fato de ter enfrentado a mãe da maneira certa, pela primeira vez na vida.

Iara sempre a intimidou, porque sabia que Tessa sentia vergonha dos seus escândalos. Foi assim que conseguiu afastar todos os amigos da filha, isolando-a sob o seu controle. Os únicos que ela não conseguiu afastar foram Lídia e Ernesto... Se bem que este último, a própria Tessa encarregou-se de afastar (por antecipação do fracasso, enfim...).

Iara sabia apertar os botões certos para manipular a filha. Sabia que ela não gostava de escândalos. Por isso, a garota acabava fazendo o que a mãe queria, a fim de impedir ou minimizar maiores estragos na reputação da família.

E de que adiantava...? Se a mãe jogava lixo no quintal dos vizinhos, gritava com as crianças da rua, xingando-as de futuras marginais; entre outros desmandos...? De que adiantava velar por uma reputação inexistente?

Tessa aprendeu a não se envergonhar pelo que sua mãe fazia, e a desenvolver a consciência de que não era culpa sua; que havia tantos outros filhos na mesma situação... Começou a adotar uma postura diferente, diante do que considerou (por tanto tempo) o seu fracasso pessoal.

Não adiantava mais a mãe culpá-la pelo seu descontrole. Uma culpa que lhe foi meticulosamente ensinada, desde a infância. Tessa cresceu ouvindo que não deveria ter nascido, que era burra, que não servia para nada, que atrapalhou a vida da mãe, que deveria fazer muito para compensar a porcaria de filha que ela era... Então, a garota se esforçou para ser a melhor filha do mundo, sem nunca conseguir agradar a mãe.

Agora sabia que não era uma porcaria de filha.

Mudar isso começou muito antes da terapia, quando outros fatores de estresse no trabalho foram se avolumando. Daí, Tessa entendeu o que tanto falavam sobre o lado positivo de uma crise. A crise obriga a pessoa a deixar a zona de conforto e a procurar a solução para as coisas que a machucam e ela não quer mexer.

A terapia não foi exatamente o fator desencadeante. Talvez a pandemia tenha sido... Mas, de qualquer maneira, a terapia estava tendo o efeito de iluminar pedaços escuros do seu cotidiano. Tessa começou a despertar do pesadelo – e acordar para a vida. Descobriu no seu coração, mais do que já reconhecia com a razão, que ninguém é obrigado a aturar os desmandos dos outros, a permanecer acorrentado, ou viver em sofrimento.

Mesmo porque, ela finalmente reconheceu que não merecia ser infeliz. Só Deus sabe o quanto se sacrificou pela mãe, que, do seu lado, não teve um pingo de consideração pelo seu bem-estar. O típico e clássico caso da jovem inconsequente que engravida e larga o bebê no colo de um pai idoso para que cuide, e quando este falece, se vê na obrigação de ficar com um pacote que nunca quis. Então, façamos com que essa filha se torne ao menos útil. Que sirva para alguma coisa... Vamos lucrar com essa filha não desejada. Vamos colocá-la para trabalhar desde cedo, pagar as contas, negociar com os credores. E vamos continuar aproveitando a vida que queremos. Se ela ficar doente, paciência, Deus e os vizinhos ajudam a curar... Por sorte! Se ela precisar de alguma coisa... Paciência, tanta gente precisa de alguma coisa. Vamos educar essa filha para agradecer a Deus pelo pouco que lhe damos. O básico. Que entenda: tem gente por aí vivendo com muito menos do que ela.

...Vivendo com muito menos do que ela, sim, mas, talvez, com muito mais amor.

Tessa cansou de ficar mendigando por um afeto que não existia.

Com esses pensamentos, ela desceu as escadas e passou pelo bar que ficava embaixo do apartamento. O lugar estava ainda vazio... Só bem tarde da noite, o movimento aumentava pra valer. Cumprimentou a Sra. Ávila; a proprietária já a postos e vigilante atrás do balcão. Acenou de volta, atiçada pela curiosidade, ao ver Tessa saindo numa sexta-feira à noite.

E mais arrumada do que o habitual.

Tessa gostava da Sra. Ávila, apesar de não serem próximas. Não era uma conexão de amizade que fazia com que gostasse da idosa. Ela admirava o seu exemplo de vida.

A Sra. Ávila tinha 68 anos. A mesma idade que sua mãe, mas era o extremo oposto: ativa, batalhadora e colaborava integralmente com os filhos (e vice-versa). Aquela era uma família bonita. Tessa os invejava. Não o tipo de inveja nociva... Mas um sentimento de melancolia por não ter experimentado um relacionamento familiar semelhante.

Tessa atravessou a rua e caminhou em direção à escola. Não estava longe, à pé. Além do mais, achou que o ar puro da noite ajudaria a acalmá-la e melhorar o seu ânimo.

Respirando fundo, seguiu para o encontro da turma de 2012.

Queria e iria enfrentar a situação. Faria do jeito certo, como acabou de fazer com a mãe. Desde a infância, evitou ou fugiu de tudo que lhe causasse horror, medo, vergonha, estresse ou dor. E todas essas coisas a perseguiram – implacáveis. Quanto mais ela fugia, mais se via cercada. Talvez parassem de persegui-la, se simplesmente parasse de fugir e olhasse para elas como realmente são. Partes de uma vida que não queria para si, mas era sua.

Respirou fundo algumas vezes, na tentativa de afastar o nervosismo insistente a depositar um bolo ácido em seu estômago. Ela mal conseguiu comer ao longo do dia, só de antecipar o encontro com os antigos colegas. Afetos e desafetos. Alguns, ela conheceu e conviveu. Afinal, moravam na mesma pequena-grande cidade. Outros, ela não viu mais, porque se mudaram para outros lugares.

Lembrou-se de que, para algumas daquelas pessoas, ela foi apenas a garota desengonçada. Para outras, a sem graça, insignificante. Para outras tantas, foi a garota útil, que escrevia bem, portanto, a fazedora oficial de trabalhos escolares (especialmente para quem não escreviam nada bem). Até mesmo Lídia, no início de sua amizade, a procurava apenas por necessidade... Foi o tempo que levou as duas a se conhecerem melhor e a apreciar a companhia uma da outra.

Em nenhuma das patotas, que Tessa estava prestes a reencontrar sob o clima "nostalgia adolescente", ela causou qualquer impressão do tipo: eis a garota notável, talentosa, inesquecível. Bem, ela foi tudo isso para uma única pessoa, e estragou o relacionamento por medo. Puro medo.

Pensar em Ernesto, nessa altura do campeonato, fez o seu nervosismo voltar com força total. Teve o pressentimento de que ele estaria lá. Independentemente do que todos achassem... Sentiu na boca do estômago que ele estaria lá.

Aprumando os ombros, rezou em silêncio para que não estivesse. Depois se recriminou por desejar algo que reforçava ou repetia o seu velho padrão de fuga dos problemas. O certo a pensar é: independente de Ernesto estar lá, ou não, vou aproveitar o encontro. E me divertir.

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