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Corações Partidos

Se a definição de "coração partido" fosse: ser dolorosamente surpreendida pelo comportamento de alguém que deixou de fazer parte da sua vida; então, sim, Tessa estava de coração partido.

Não era culpa de Ernesto. Não era culpa de ninguém.

Aliás, era sua culpa. Devia arcar com as consequências. Mesmo assim, não pode evitar que seu coração se partisse. A fissura foi aumentado a cada dolorosa batida; a cada passo na calçada, rumo ao seu insuportável "lar".

O seu inferno particular.

Ela chegou em casa tão rápido, que teve um sobressalto ao ver-se diante da porta. Tirou a chave, abriu e entrou, trancando-a a seguir. Fez tudo no automático, pois sabia que estava prestes a desmoronar. Só esperava conseguir alcançar o refúgio do seu quarto, antes.

Virou-se cegamente e acendeu a luz. Ali, da base das escadas, podia ouvir a televisão da mãe ligada no volume máximo. Deve ter adormecido, como sempre. Caso contrário, estaria gargalhando, ou xingando as personagens de alguma novela.

Por via das dúvidas, Tessa subiu pé-ante-pé. Sentia-se fragilizada demais para enfrentá-la. E se esta percebesse que havia algo de errado com ela, não a deixaria em paz até descobrir tudo. Provavelmente teria alguma de suas pérolas para lhe oferecer: "eu não avisei?"; ou "ninguém gosta de você, por que ainda insiste?"; e se estivesse contrariada, ou vingativa, poderia dizer algo do tipo: "foi castigo de Deus por não tratar bem a sua mãe"; "está pagando porque é uma filha ruim".

Revirando os olhos, Tessa alcançou o quarto da mãe e corajosamente entrou para desligar a televisão. Respirou de alívio diante do silêncio que se seguiu. Não um silêncio absoluto, já que a mãe roncava alto; já que, lá fora, os carros passavam; e já que a música do boteco flutuava até os seus doloridos ouvidos (mas nada era tão alto, a ponto de disputar o posto de "incomodação-mor" conquistado pelo aparelho de TV da mãe, com seus autofalantes berrando dia e noite).

Apenas um breve interlúdio de alívio.

Virou-se e foi para o próprio quarto; fechou a porta de correr com cuidado; aí, deu vazão as lágrimas.

Começou a se despir, chorando o tempo todo, sentindo–se miserável. Não por causa de Ernesto propriamente, mas por causa do que poderia ter sido, se ela tivesse dado uma chance aos dois... Se tivesse se arriscado. Se tivesse tido coragem de deixar o "ninho" quando a oportunidade surgiu.

Colocou o pijama e se preparou para deitar. Ligou a pequena televisão preta e branca que ganhou numa rifa da escola. Girou o botão a procura de algum programa para se distrair.

Uma hora depois, estava cabeceando quando escutou uma pedrinha acertar o vidro da janela. Seu coração deu um pulo. Outra pedrinha se chocou contra a madeira da moldura... Lembrou-se de quando ela e Ernesto eram crianças e ele vinha visita-la às escondidas. Geralmente para consolá-la, depois dos espancamentos e gritos da mãe.

Julgando tratar-se de um sonho, ela jogou as cobertas para o lado e foi até a janela. O coração fazia tum-tum-tum no peito. Puxou a cortina e espiou. Não era a sua imaginação. Lá estava ele. No meio da calçada, mas não o menino, nem o adolescente... E, sim, o homem olhando para cima com uma expressão solene.

Ela abriu a janela e o encarou.

–Podemos conversar? – Ele perguntou.

Tessa não encontrou a voz para responder.

–Se não quiser... – ele deu meia volta.

– Espere! Vou abrir a porta – disse Tessa, afastando-se da janela.

Ernesto esperou, mesmo que durante todo o tempo questionasse as próprias intenções ao ir procurá-la.

No final da festa, ele havia conduzido uma desejosa e disponível mulher para casa, sabendo muito bem o que ela desejava: que ele entrasse para concluírem seus assuntos de maneira satisfatória para ambos. Era o que ele pretendia mesmo fazer.

Dita realizara uma leitura acertada. Experiente nos jogos amorosos, havia imaginado como a noite acabaria. Os dois imaginaram... Contudo, ao invés de seguirem o roteiro traçado, Ernesto despediu-se de maneira quase impessoal. Deixou-a na porta e partiu apressado.

Chocada, furiosa com a mudança súbita... A determinação nasceu da rejeição e não do prazer negado.

Ernesto a esqueceu tão logo virou as costas. A verdade é que fora dominado por uma necessidade urgente de ficar sozinho. Ainda mais depois de ter se deparado com Tessa; a música dos dois tocando; algumas fotos deles espalhadas pelos murais... Inquieto, caminhou a esmo, sem saber a razão. Ou melhor, sem querer reconhecer a razão... Daí, quando deu por si, estava debaixo da janela dela.

A mesma janela, tantas vezes, num lapso temporal de dez anos. Foi como sair de uma máquina do tempo, de volta para o passado.

Não era homem de olhar para trás ou revisitar o passado. Era um homem de ação. De seguir sempre em frente. Não é a toa que viajava tanto por aí, conhecendo lugares e pessoas novas. Tinha por regra não se apegar.

Ficou com raiva de si mesmo. Achou que tivesse superado. Ao vê-la caminhando na rua, julgou não sentir nada. Mas na festa...

De repente, a luz de fora acendeu, iluminando a calçada. Ernesto escutou a chave girar. A porta foi destrancada por trás da proteção das grades galvanizadas. Ele reparou na qualidade do trabalho, por um instante, antes de a primeira lâmina abrir e Tessa espiar pela fresta. Estava com aquela expressão de que ele se lembrava tão bem, quando temia ou não queria enfrentar algo.

No caso, esse algo era ele.

Tessa não acendeu a luz das escadas atrás dela e ele sabia muito bem o motivo. A doidivanas da mãe. A jovem destrancou a grade também e lhe deu passagem. Ernesto entrou, passando por ela. A proximidade o fez sentir o perfume de rosas que Tessa costumava usar. Fechou os olhos, confuso por se lembrar tão bem do aroma.

Subiu as escadas sem parar para nada. Se parasse, mesmo que para conversar, os dois ficariam muito próximos naquele espaço tão apertado. E ele precisava de espaço para raciocinar e falar.

Ao chegar lá em cima, esperou por ela.

Tessa trancou a grade e fechou a porta. Então subiu as escadas e parou ao lado dele. Ernesto a examinou detidamente. O olhar de Tessa era tão vulnerável que ele sentiu aquele velho impulso de confortá-la. Mas não podia fazer isso agora. Não dessa vez. Ele é quem precisava ser confortado. Era uma via de mão dupla que ela nunca soube lhe oferecer.

Tessa indicou o quarto e ele olhou naquela direção. Ao redor, tudo estava igual as suas lembranças. Exceto por uma televisão último modelo. Atravessou a sala e entrou no quarto a passos largos. Viu a colcha florida a cobrir a velha cama; o carpete de sempre, gasto, mas limpo. O mesmo rack, a mesma televisão. Nada mudou. Nada.

Ela entrou logo atrás e puxou a porta de correr, isolando-os do resto do apartamento. Ele sabia muito bem que ela fazia isso não para ter privacidade, mas para que a mãe não escutasse e viesse a fazer um escândalo.

– Sente-se – indicou a poltrona, num fio de voz. A poltrona era a mesma de sempre. Só que mais rasgada e desfiada na moldura de base.

Ele fez que não, com a cabeça, e murmurou. – Não sei se consigo.

Ela não entendeu o comentário. Então, percebeu que estava falando consigo mesmo. Inclinou a cabeça e perguntou: – Por que está aqui?

–Por que precisamos conversar – ele respondeu de pronto.

Os últimos eventos vieram à tona, na mente de Tessa, e ela sacudiu a cabeça.

– Você não teve essa necessidade na festa. Por que agora?

Ele recebeu sua irritação com divertimento. Decidiu ignorar a cutucada.

– Penso que... – disse com voz arrastada – temos algumas arestas a serem aparadas... Talvez eu precise de uma conclusão – gesticulou de leve. – Quando deixei a cidade, algo entre nós ficou pendente.

Tessa meneou a cabeça. Ele estava certo. Ficou lhe devendo aquela conversa. Foi covarde na época, até para se despedir e explicar porque decidiu não ir mais com ele, assim, de última hora. Só Deus sabe que ela não se sente forte para um "aqui e agora"... Contudo, devia a ele. E devia há dez anos!

Se não estivesse tão mexida, estaria feliz por Ernesto ainda fazer questão...

Os dois continuaram se encarando.

– Então? – Ele a inquiriu.

Bem, se ele não queria se sentar, ela estava precisando... Deixou–se cair sobre a cama e cruzou as pernas à altura dos tornozelos. Olhando para as próprias mãos, e concluiu que era melhor despejar tudo de uma vez:

– Eu devia ter ido até a rodoviária. Ao menos para dizer que mudei de ideia. Fui covarde, eu sei. Peço que me desculpe.

Ele apenas balançou a cabeça. A resposta não foi suficiente. – E valeu a pena?

Tessa não fingiu que não entendeu, mesmo assim, não soube como responder.

– Quero dizer – ele insistiu, achando que ela não entendeu. – Você é feliz?

Ela não poderia mentir. Nunca pode. Ele saberia... Provavelmente, a cidade toda sabia que a vida dela era... como era.

– Não.

– Então, por quê? – Seu tom não denunciava a frustração que estava sentindo.

Encolhendo os ombros, ela fixou o olhar na estampa desbotada da colcha.

– Acho que eu vivi muito presa a uma crença de que a vida deve ser de um jeito e não de outro. Eu acreditava que devia lealdade absoluta e incondicional à família... minha mãe só podia contar comigo. Ela me deu à luz.

Ernesto não ficou surpreso. Conhecia as culpas infundadas que Tessa carregava desde pequena e quem as incutiu em sua mente. Sentou–se com cuidado no sofá rasgado e não muito firme...

– Bem, sua mãe a teve porque quis, ninguém a obrigou – ele esfregou as mãos, sentindo-se estranho diante daquela súbita familiaridade com os problemas de Tessa. Era como se o seu mundo adolescente colidisse com o seu mundo adulto. Mesmo assim, ele continuou: – Era dever dela lhe dar carinho, apoio e atenção... Segurança... Nunca lhe deu nada.

Se ele se sentia estranho em discutir os problemas de uma "familiar estranha", Tessa se sentia desconfortável por ouvir conselhos de um conhecido-agora-desconhecido. Os dois se avaliaram, por um momento.

– Eu sei disso – ela reconheceu. – Mas é difícil ver as coisas de um jeito tão cru, quando estamos dentro da situação.

– Entendo... – na real, ele nunca entendeu; só que não devia estar gastando energia remoendo coisas que lhe aborreceram, um dia. Passado era passado. No entanto, não conseguiu se conter: – Sabe, é verdade quando dizem que pimenta nos olhos dos outros é refresco, mas... Você sabe muito bem que eu acompanhei tudo o que sua mãe fez. Eu não estava "de fora" da situação, como você insinua. Eu sempre estive com você.

Não foi um tapa na cara, mas para Tessa soou como se fosse. Sentiu que mereceu.

– Sim, eu sei disso... – Desviou os olhos, sem coragem de encará–lo.

Inclinou–se e apoiou os cotovelos sobre os joelhos.

– Abri o meu coração para você, Tessa. Éramos namorados, mas antes disso, éramos melhores amigos! – Disse ele. – E de certa forma, eu me senti traído por não ter confiado a mim as suas incertezas. Deveria ter dito que não estava pronta. Eu teria entendido.

– Você tem razão – ela reconheceu, num sussurro.

–Eu sei que tenho – respondeu ele, levantando–se devagar. – E precisava lhe dizer isso, cara a cara, antes de seguir em frente.

Ernesto virou-se para a porta.

– E foi só por isso que você veio? –Ela perguntou, de maneira súbita.

– Era uma questão importante demais para não vir – respondeu ele, de um jeito enigmático e claro, a um só tempo. Virou–se para ela, cheio de pesar. – Precisava exorcizar o meu fantasma.

– Não fala assim! – Tessa quis se levantar, mas não sentiu força nas pernas. – Eu não sou o seu fantasma, eu sou...

– O quê? – Ele voltou e se ajoelhou diante dela, aproximando o rosto do seu de maneira inesperada para ambos. – Amiga? Amante do passado? A primeira...? – Ele quase disse " a única". Ao invés disso, concluiu: – Você é exatamente isso: o meu fantasma.

– Desculpa, Ernesto – ela quis tocar o rosto dele, mas não teve coragem.

– Não precisa se desculpar! O meu fantasma é problema meu. E o seu fantasma é problema seu... Não é assim que você tem vivido? Carregando o seu caminhão de um fantasma só, nas costas?

Ele se levantou, abriu a porta e o ronco vindo do quarto da mãe alcançou os dois. Ele sorriu, sem humor.

– O seu fantasma dorme placidamente como se o mundo não existisse. E se existe, é para a filha lidar e resolver...

Ele a observou por um instante. – Cada um escolhe a vida que quer, não concorda? Mas acho que você poderia ter muito mais... Olhe pra você. – Apontou para ela, então balançou a cabeça. – Cuide–se!

Ernesto não esperou resposta. Saiu, lançando-se em direção às escadas. Tessa ficou muito tempo onde estava perdida em pensamentos.

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