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Corações Falidos

31 de outubro, Halloween...

Tessa bufou diante dos criativos cenários esboçados nas vitrinas do comércio. Vale tudo para vender mais durante o dia das bruxas - tão tradicional nos EUA, mas ainda com tênues raízes no Brasil. Virou moda para fazer Black-Friday a torto e a direito. Aquela sexta-feira em que aumentam os preços para depois cortá-los pela metade e oferecer como pechincha... Aquela sexta que durava a semana toda, aliás.

O Halloween combinado com a "semana" Black Friday ganhou algumas camadas extras de atrações... Por exemplo, como a pizza, que recebeu tantos sabores e acréscimos que até os italianos - quando provavam a pizza brasileira - não reconheciam mais a sua invenção. Contudo, diante das decorações das lojas para o Halloween, Tessa teve que reconhecer que brasileiro era um povo muito criativo!

Afinal, o dia das bruxas contava com cachorrinhos fofos e fantasiados em lençóis de fantasmas personalizados; gatinhos com chapéus de bruxa; abóboras sorridentes, falantes e iluminadas; doces de todos os tipos... Os elementos "fofos" e "estilosos" se misturavam aos "assustadores" e "monstruosos". As chamadas variavam entre "aos adeptos do terror" aos "viciados em sustos". Abóboras recortadas e máscaras de monstros deram um jeito de se tornarem apetitosas. Tudo muito lindo, delicioso e engraçado. Terror cor-de-rosa...

- Querem terror verdadeiro? - Tessa resmungou consigo mesma, tremendo de frio dentro do seu casaco.

A pergunta flutuou ao sabor do vento gelado, de um inverno que relutava em partir. Era isso, ou Tessa tremia por ser tão magra, tão magra, que sentia frio até durante o verão.

Andando com cuidado pela calçada úmida e escura, ela respondeu à própria pergunta:

- Terror é ter que administrar as contas da casa, tendo uma mãe que se comporta como uma adolescente gastadeira, e me deixa na quase miséria. Sem dinheiro nem para consertar a resistência do chuveiro, muito menos para comprar uma torta de abóbora no dia das bruxas.

Tessa enxugou uma lágrima e continuou andando em direção ao apartamento alugado em que ambas viviam, sobre um bar de esquina. Mal percebeu quando passou pela oficina do Seu Roberto.

Lá dentro, Ernesto a viu passar... Os dois foram amigos de infância e colegas de escola até o ensino médio. Perderam contato quando ele partiu para conhecer o mundo. E agora que estava de volta para ajudar o tio com a oficina, por algum tempo, aquela era a primeira vez em que avistava a garota que foi a sua melhor amiga (e que ele daria tudo para não voltar a ver, nunca mais).

Roberto flagrou o olhar intenso do sobrinho e se aproximou.

- Ela continua morando no mesmo lugar.

Ernesto inclinou a cabeça, mas continuou em silêncio.

- Por que não a chamou? - insistiu Roberto.

O rapaz deu um meio sorriso. Ah, claro, podia ter dito: "Ei, sou eu"! Mas preferiu que Tessa não soubesse que ele estava de volta. Não se separaram em bons termos. Quer dizer, não houve termos, já que ela o deixou plantado na rodoviária. Não lhe concedeu nem mesmo a cortesia de uma despedida.

A experiência lhe mostrou que amizade e paixão não devem se misturar. Era fato que quando a chama se extinguia, a amizade acabava se perdendo para sempre... Ou quando o coração era traído.

- Deixemos as coisas como estão, tio - disse Ernesto, ao perceber que ele não sossegaria enquanto não dissesse alguma coisa.

Roberto não insistiu. O sobrinho era uma mula teimosa. Quando empacava, era impossível fazê-lo se mexer. Deu-lhe uns tapas barulhentos nas costas e voltou ao serviço.

Enquanto ajustava as engrenagens sob o carro do cliente, refletiu a respeito e em como seu sobrinho - um garoto de ouro - veio a se transformar nesse homem responsável, brilhante e temperamental! Há menos de três dias, voltou de sua longa viagem pelo mundo, sem mandar um aviso sequer. "Tio, estou de volta". E foi tudo.

Quase o matou do coração.

Roberto criou-o desde pequeno. Os pais morreram num acidente de carro. Foi tudo muito traumático. Entretanto, o tio logo percebeu no garoto aquela coceira de conhecer o mundo. O sangue nômade corria-lhe pelas veias, como o de seu falecido pai.

Tessa era o extremo oposto. Estava na cara que os dois nunca dariam certo. A menina foi tolhida pela mãe, torturada até, para se tornar uma pessoa medrosa e indecisa. Roberto diria que Tessa foi manipulada para se transformar numa espécie de empregada pessoal.

Iara, a mãe, não cansava de dizer que atendê-la era o mínimo que podia fazer, pela honra de ter lhe dado à luz. Tessa veio ao mundo sem amor, sem carinho, sem segurança, e sem interesse por parte de uma mãe que só pensava em si mesma, e um pai insensível que partiu para nunca mais voltar.

Certa vez, Roberto escutou um trecho das famosas discussões bradadas entre mãe e filha, em que Iara lhe disse: "Antes você, do que eu". Isso, depois de deixar a filha quase doente para lidar com as obrigações da casa e das exigências e queixas da própria Iara. Em que medida seu histórico influenciou no fracasso do relacionamento com Ernesto? Bem, Tessa era insegura... E sentia culpa em relação à mãe. Uma culpa ardilosamente arquitetada para mantê-la servil.

O que Roberto sabia a respeito do fim do relacionamento, é que os dois jovens fizeram planos, mas Tessa deu para trás e deixou o rapaz esperando na rodoviária. Ele partiu só. Entrou para o exército, depois ganhou o mundo. De lá para cá, passaram-se dez anos.

Talvez o sobrinho tivesse razão. Para que reviver o passado, se logo ele iria partir outra vez?

Ernesto tinha as próprias feridas para curar - físicas e emocionais. Desassossegado, ele viajou pelo Brasil e pelo mundo. Só parou na oficina do tio a fim de oferecer seus préstimos, como mecânico, para que pudesse dar início a um antigo sonho de infância. Criar o seu motorhome.

Mais uma prova de que não havia interesse da parte dele, em se fixar num só lugar.

Em um silêncio amistoso, tio e sobrinho continuaram trabalhando nos carros, e deixaram a velha e boa canção pop, preencher o ambiente.

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Tessa subiu as escadas. O coração aos pulos. Hoje é o dia de pagamento - dia em que o Halloween da sua vida se torna pior, porque tem que espremer cada gota do salário para pagar as contas da casa e as dívidas da mãe.

Para não perder tempo em filas de banco, Tessa costumava administrar as duas contas de banco via app - a sua e a da mãe. Isso porque a mãe se recusava a lidar com qualquer coisa, quem dirá os próprios assuntos financeiros... Na verdade, ela se recusava a aprender. Para Iara, o cartão de crédito era uma grande árvore a dar dinheiro em seus galhos, todos os meses. Ela não está interessada em saber de onde vem o dinheiro; que sacrifícios a filha tenha que fazer para lhe arrumar mais; se deixa de realizar os próprios sonhos, para cobrir os rombos da mãe.

Todo final de mês, Tessa tremia de corpo inteiro, suava frio e seu coração quase pulava pela boca, porque não sabia de onde viria a paulada. Quando ela cobria um lado, sua mãe dava um jeito de arranjar um buraco, do outro lado.

Assim, Tessa costumava fazer uma oração antes de se sentar diante do celular, pegar as faturas organizadas por datas, e começa a conferir os saldos para pagá-las. Normalmente, quando conseguia quitar as dívidas mais importantes e rolar as que não tinham solução imediata, ela fazia uma oração final, agradecendo por ter conseguido passar mais aquele mês.

Tirando o trabalho, não lhe sobrava tempo para lazer ou aperfeiçoamento... Seu tempo de sobra era todo dedicado a correr para renegociar as dívidas constantes da mãe, e tentar resolver as decisões ruins dela, em relação ao dinheiro. Iara era capaz de enterrar as duas em empréstimos de anos, apenas para juntar uma mísera quantia, que não dura o mês. E tudo para gastar com luxos como passeios e compras no shopping. Coisas supérfluas que ela não precisava, mas também não abria mão, pois não conseguia conviver com a realidade. E assim, ia acumulando coisas em casa.

Iara queria viver como rainha. Não importava se fosse à custa da felicidade da filha.

Tessa não aguentava mais passar todo o seu tempo disponível lutando para tentar vencer o cheque especial e o cartão de crédito que, em sua opinião, a mãe nem deveria ter, pois eram como armas carregadas nas mãos de uma pessoa irracional. Tessa não aguentava mais ser o seu saco de pancada, aturando as frustrações de Iara, correndo para cima e para baixo... Deixando a própria vida de lado.

Era como conviver com um parasita humano. Primeiro, Iara viveu nas costas do pai, o avô de Tessa... (E tamanho estresse talvez o tenha matado do coração). Depois, nas costas de um amante desconhecido, que supostamente foi o pai de Tessa. E quando ficou sozinha, Iara passou a viver nas costas da filha também.

Desde a infância, a menina foi treinada para suportar tudo, fazer tudo e cuidar de tudo. Sem receber um gesto de carinho materno. Vivia com a sensação de que nada do que fizesse era suficiente.

Agora que estava envelhecendo, Iara ardilosamente jogava o peso da responsabilidade sobre Tessa, sufocando a filha com ameaças de denúncias, de reclamações entre outras coisas. Mas Tessa não aguentava mais. Não tinha que aceitar viver acorrentada, como uma escrava. Não podia passar sua vida resolvendo os problemas que a mãe arranjava o tempo todo. A terapeuta Marta lhe dizia que aquilo não era vida. E que se ela não aprendesse a se preservar, acabaria morrendo antes da mãe.

"Uma mulher que te manipulou a vida toda pra você fazer as coisas para ela. Que te afastou dos amigos e dos namorados... Isso não é vida, Tessa. Não é! Mas você é a única que pode assumir as rédeas da situação".

Marta estava certa. Levou algum tempo, mas Tessa criou coragem para enfrentar a mãe. Não era justo ficar naquele estresse cada vez que as contas chegavam. Ela anotou todos os débitos com letra legível, juntou as faturas, enumerou as possíveis soluções e entregou tudo a Iara.

- O que é isso? - indagou a mãe sentada, com uma bandeja cheia de comida, diante da televisão. - Agora não, sua idiota! Não está vendo que estou assistindo a minha novela?

- Se não for a novela, é outra coisa. Agora é um bom momento como qualquer outro - replicou Tessa num tom tão frio, que atraiu a atenção da mãe.

- O que está aconteceu aqui? - quis saber Iara.

- Não tenho mais condições de te ajudar. Na verdade, eu me endividei, tentando cobrir as suas dívidas. Agora, preciso lutar para sobreviver com o que me restou do salário. Essas - ela apontou para os papeis - são as suas dívidas. Não minhas. E se não negociar com o banco, ou pedir ajuda no PROCON, em breve, a senhora não vai ter dinheiro para comer.

"Só nesse mês, paguei com o meu dinheiro, a comida que você costuma comprar. No mês que vem, esse dinheiro me fará falta. Até para andar de ônibus".

Tessa colocou o cartão de débito/crédito da mãe sobre os papeis. - Esse é o seu cartão do banco. Não quero mais ter nada a ver com isso. Não sou sua secretária, assessora, muito menos escrava.

- Que filha ingrata, hein? - A mãe fez uma careta de nojo. - Vai me deixar na mão é?

Eis a resposta padrão, para a qual, a filha estava preparada. Em silêncio, Tessa virou-lhe as costas; sentiu um profundo alívio pela primeira vez na vida. Então, tratou de se trancar no quarto. Ligou para a operadora de TV a cabo, decidida a negociar o pacote que pagava para a mãe assistir TV o dia inteiro. Conseguiu um preço bom com a redução de canais. Depois saiu para avisar a mãe.

- Amanhã o técnico vem mudar o aparelho da televisão.

- Não no horário das minhas novelas! - Rugiu, com expressão ameaçadora.

Tessa respirou fundo.

- O técnico vem no horário em que está disponível para vir. Não controlo os horários da operadora.

Iara bufou.

Sem aguentar aquele clima sempre pesado, Tessa pegou o casaco e saiu para dar uma volta. Como sempre, não reparou que ainda não tinha comido.

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