12. Elixir Rejuvenescedor
Harvey
Os calabouços de Aramonth estavam gélidos e escuros como sempre. Estava descendo as escadas que levavam direto para a sala do laboratório, onde teria aula de Poções Mágicas I com a professora Astride. Passou um bom tempo revirando seu quarto até achar o livro de preparo de poções e acabara perdendo um bom tempo.
Desceu um grande lance de escadas que deram direto ao labirinto que era o subterrâneo do castelo. Seguiu até chegar à porta escrita laboratório 1, abriu a maçaneta.
A sala se silenciou por um momento até resolver falar. Todos o olhavam.
— Desculpa pelo atraso, eu demorei para achar o livro — disse. Então esboçou um sorriso forçado.
A professora toca na sua testa e faz sinal para que entrasse. Se dirigiu para o lado da bancada onde estava Alex. Então, Astride volta a sua explicação:
— Como eu ia explicando antes de ser interrompida, para esse mês de julho teremos metodologias diferente para aula — Astride explicava.
A professora vestia um longo vestido roxo com algumas plumas e um longo chapéu pontudo, a fazendo parecer uma bruxa. Seus cabelos grisalhos também ajudavam para essa comparação. Estava em pé em frente aos alunos que ouviam de sobre suas bancadas as instruções das professora.
Poções mágicas era uma de suas disciplinas preferidas pois as aulas sempre eram divertidas e diferentes. Além disso, Astride era uma velhinha simpática, apesar de às vezes dizer algumas coisas estranhas e perturbadoras. Sempre sentia que avançava em algo, coisa que não sentira estudando as outras disciplinas.
— Hoje tentaremos preparar uma poção conhecida como "elixir rejuvenescedor" — disse. — As instruções para o preparo estarão no capítulo 13 do livro, listada em "elixires". Irei supervisionar tudo para garantir a segurança de vocês. Será uma competição amistosa, na qual os vencedores levarão uma poção já pronta para o uso que desejar.
A sala se agita e conversas rompem de toda a parte.
— Silêncio! — Ordena.
— Nós poderemos escolher com que par ficamos? — indagou uma voz.
— Já iria chegar nesse ponto. Para aumentar a dificuldade a atividade será feita em trio, no entanto, eu que vou escolher quais serão.
A professora então varreu a sala com seu olhar.
— Hum, vamos ver... Lica, Totnosuke e Alex, se juntem.
Os três alunos se agruparam na mesma bancada.
— Triz, Angélica... — Ia terminar quando é interrompida.
— É Angel — respondeu a garota loira.
A mulher a repreendeu com o olhar.
— Angélica e Candy.
— Era só o que faltava — protestava a loira irritante antes de se juntar as outras duas meninas que reviravam os olhos.
— Harvey, Felli...
Não acredito que vou ficar na mesma equipe que ela, então suspirou.
— E Ness.
Hum?
Os dois vieram se juntar a ele. Felli se posicionou a seu lado e o rápido contato de suas peles enviou um arrepio em sua espinha e fez borboletas se agitarem em seu estômago.
A professora continuou a montar os trios porém sua mente estava distraída com a presença da menina.
Felli era a garota mais bonita que vira em toda a sua vida. Possuía cabelos brancos e uma pele pálida, causada pelo seu albinismo. Seus olhos eram de um desbotado vermelho e seus lábios naturalmente vermelhos. A cada movimento que ela fazia não podia deixar de notar a elegância que passava, o que a deixava ainda mais linda. Porém, era muito areia para seu caminhãozinho.
Soube que ela recebera um grande número de cartas de dia dos namorados, de vários garotos mais bonitos e legais do que ele em Aramonth. Não tinha como competir então apenas deixou aqueles sentimentos de lado.
— Todos os trios já estão formados, então comecem a trabalhar! Não esqueçam de colocar os óculos de proteção e as luvas, segurança demais nunca é desnecessário — disse a professora. — A atividade terá uma duração de 4 horas, isso é tempo o suficiente para terminarem tudo.
Então todos abriram os livros e começaram a preparar seus materiais para o preparo da poção.
Triz
— Eu não vou tocar nessa coisa nem morta! — disse a loira olhando com nojo para o conteúdo dentro do recipiente de vidro.
Candy revirou os olhos.
— Cala a boca patricinha, se não quiser ajudar não atrapalha — respondeu Candy com desdém. — A porta é serventia da casa. — Então apontou para porta.
— Nem pensar! Eu PRECISO aprender a fazer um elixir rejuvenescedor. Toda garota sabe sobre suas propriedades e seus efeitos sobre a beleza e os poros — disse Angel enfatizando dramaticamente a palavra. — Não que você entenda sobre isso…
— Como é que é? — Candy havia se preparado para partir para cima dela.
Triz já havia ouvido o suficiente. Fechou o livro com força, o que fez todos na sala a olharem.
— Já chega!
Estava tentando ler as instruções escritas no livro porém era uma tarefa impossível com a ladainha daquelas duas. Se dependesse da ajuda delas, nunca terminaria aquela lição.
As duas se calam sem se olhar.
— Candy, pegue as unhas de gambá e misture junto com o líquido verde — ordenou para a garota.
— Espera ai, quem elegeu você como a líder do grupo? — protestou Candy.
Estava com as sobrancelhas arqueadas.
— Eu mesma, desde que parece que eu sou a única com bom senso nessa equipe — respondeu Triz. — Além disso sou a única que está movendo algum dedo para fazer tudo. Ao menos que pretendam arcar com as responsabilidades, eu estou no comando.
As duas ficaram em silêncio, não poderiam refutar seu argumento. Candy pegou o recipiente e começou a mexer as unhas de gambá no liquido verde como ordenado. O cheiro a fez tampar o nariz com uma das mãos. Angel a olhava com um sorriso irônico.
— E você esmaga essas nozes bruxulentas com o amassador — disse cortando o barato da garota mimada.
Seu sorriso se desfez.
— Tudo bem, apenas porque quero muito aprender a fazer essa poção, não pense que recebo ordens de alguém. Hum. — Então pegou as nozes de coloração roxas e começara a amassar com a ajuda do utensilio.
Agora tudo estava nos eixos. Preparou o leite de ratatango e colocou em pequenas capsulas no agitador magnético. Enquanto esperava a tarefa terminar olhou ao redor da sala. Todos pareciam ter dificuldades para preparar suas poções.
Isso já está no papo, comemorou. Com certeza ganhariam.
Lica
— Devo lembrar a vocês que já se passaram duas horas desde o início, vocês têm apenas duas restantes para preparar a poção. Quando eu anunciar todos devem parar a atividade imediatamente — disse a professora, enquanto ia de trio em trio verificar a situação da atividade.
Lica olhou para a bancada franzindo o cenho. Não saberia dizer qual momento tudo havia perdido as rédeas. Nesse exato momento, sua bancada estava uma bagunça. As nozes não estavam amassadas adequadamente e ainda estavam duras ao toque. O recipiente com o liquido de seiva de mandrágora, atualmente estava totalmente embolado e as unhas de gambás ainda nem foram cozinhadas. O leite estava agitado, apenas isso.
Isso é um desastre!
Em todos seus anos escolares essa seria a primeira vez que falharia ou apenas chegaria a um resultado medíocre no mínimo.
— Eu avisei que precisava deixar mais tempo no fogo — disse Totnosuke se defendendo.
Alex o fitava.
— Você não pode dizer nada já que as nozes amassadas estão mais duras do que pedras! — rebateu Alex.
— Não importa, vamos perder de qualquer jeito — pontuou Totnosuke. — Nem deveríamos nos dar o trabalho de terminar de fazer tudo.
Lica os olhava pensando em uma forma de consertar aquilo.
— Nem pensar, não sou conhecida por desistir facilmente — disse Lica em resposta a possibilidade levantada. — Podemos até não ganhar, no entanto terminaremos essa poção. Um mago nunca desiste, deveriam se sentir envergonhados.
Os dois olham para o nada.
— Ótimo, e como exatamente faremos isso? — indagou Totnosuke.
— Sigam tudo que eu disser — respondeu.
Então os orientou sobre o que poderiam fazer para terminar a poção a tempo.
Harvey
— Tem certeza que não precisa de ajuda, eu posso amassar as nozes. — Fez o movimento para alcançar o amassador porém recebeu um tapa na sua mão.
— Já disse que não preciso de ajuda, você só vai atrapalhar — respondeu Ness. — Eu consigo fazer tudo por conta própria, apenas não fiquem no caminho.
Já estava a ponto de explodir se recebesse mais uma ordem dele. Desde que começaram a atividade, Ness havia se mostrado ignorante e arrogante ao extremo. Apenas ordenou a ele e Felli a fazerem tarefas inúteis como checar os pontos das coisas e mudar a intensidade do fogo. E o pior de tudo é que não poderia protestar já que não entendia nada sobre a disciplina, teria que o aguentar por mais um tempo.
Ele e Felli apenas ficaram olhando ele fazer todo o trabalho.
As horas se passaram e faltavam apenas alguns minutos para o termino da tarefa.
Todos se apressavam para preparar suas poções e conversas calorosas rompiam por todo lado.
— Eu avisei para não deixar muito tempo no fogo.
— Essas nozes amassadas estão iguais a sua cara.
— Cadê a droga do amassador.
— Eu quero morrer!
O último minuto acabou e a professora anunciou o fim do limite.
— Parem todas as atividades, irei checar com cada trio os resultados. Fiquem onde estão. — Astride andou para o primeiro trio para verificar os resultados.
Parou em frente à bancada. Lica, Totnosuke e Alex olhavam apreensivos para a mulher.
Astride olhou para o recipiente. Sentiu o cheiro.
— O cheiro está bom.
Olhou para a cor do liquido.
— A cor não está turquesa o suficiente, provavelmente deixaram tempo demais no fogo.
Por fim provou. Todos nas sala tiveram um súbito enjôo ao ver a professora tomar o liquido.
— Não está bom o suficiente, nota 4.
Lica, Alex e Totnosuke olharam para baixo.
— Vamos ao próximo.
Astride continuou caminhando aos outros trios, sempre dando notas de 4 a 7. Nenhum 10 ainda. Se dirigiu em direção à bancada da próxima equipe. Triz, Angel e Candy olhavam nervosas para a professora. A mulher cheirou o recipiente.
— O cheiro está ótimo.
As três sorriram. Astride reparou a cor.
— A cor está boa… apenas um pouco clara demais, porém parece condizente com um elixir rejuvenescedor.
As três comemoraram. Astride então provou a poção.
— Vamos ver… Nada mal, nota 8.
— Isso! — Candy acabou gritando. Então se encolheu ao perceber todos a olhando com os olhos semicerrados.
Aquela era a maior nota de todas que foram avaliadas. Só faltava um trio, porém as três comemoravam antecipadas. Astride se dirigiu ao ultimo trio.
— Ora se não é meu aluno prodígio, o próprio Ness Stromberg, vamos ver o que temos aqui…
O menino sorriu convencido.
Sentiu o cheiro.
— O cheiro está excepcional.
Olhou para a cor.
— Uma turquesa lívida, muito bem, agora vamos ao principal.
A fala da professora havia desfeito o sorriso na cara das três meninas. Agora estavam ameaçadas. A professora pegou um bocado do liquido com sua concha. Passou uns bons segundos apreciando e fazendo caras e bocas. As expectativas de todos estavam altas. Por fim proferiu o resultado.
— Esse está perfeito, nota 10!
Os três comemoraram. Ness continuou inexpressivo, porém com um sorriso sem mostrar os dentes.
— Como prometido aqui está o prêmio de vocês. — Astride os deu o frasco de cor turquesa com a poção que havia prometido. — Façam bom proveito e dividam entre si. Aula terminada, arrumem suas bagunças e então poderão sair.
⏰⏰⏰
Harvey terminara de arrumar as coisas e pegou sua bolsa quando percebeu que Ness não se encontrava. Felli estava ao seu lado o ajudando a arrumar o resto.
— Espera ai, aonde aquele cara foi? — indagou.
— Não sei, ele saiu agora pouco, por quê? — respondeu Felli.
— Felli, ele não dividiu a poção com a gente, mesmo depois de ajudarmos…
— Eu não ligo para isso, além disso nós quase não fizemos nada.
— Mas isso não é justo! — protestou. — Ele que não deixou nós ajudarmos, mesmo assim ainda somos uma equipe. Ajudamos, mesmo que pouco, então merecemos o prêmio.
Ela apenas deu os ombros e voltou a arrumar suas coisas.
— Felli, já está pronta. — Um menino albino a esperava. Era seu irmão gêmeo, Alone.
Felli se despede e sai.
Ah, mas isso não vai ficar assim.
Pegou sua bolsa então partiu.
⏰⏰⏰
— PARADO, AI — gritou a alguma distância enquanto tentava alcançar as costas do garoto. Havia uma garota loira ao seu lado. Os dois olharam para trás ao notar a voz.
— Você, o que quer comigo? — Ness o olhava com desdém.
— Como assim, “o que quer comigo” — disse com um tom irônico. — Você saiu sem dar satisfação nem nada, esqueceu que o prêmio deve ser divido entre todos?
O menino admirava suas unhas.
— Ué, mas eu preparei a poção sozinho, nada mais justo do que eu ficar com ela toda para mim.
De repente imaginou como aquela cara mesquinha ficaria após o encontro de seus punhos.
— Nós ajudamos!
— Vocês foram meros serviçais, quem fez o trabalho todo foi eu. — Ainda não o fitava.
Angel digitava no celular sem olhar para os dois.
— Porque você não deixou nós ajudarmos. Além disso nós contribuímos sim, mesmo que pouco — justificou Harvey.
— Que seja, não vou lhe dar nada! — Dessa vez o fitava diretamente com seus olhos cinzentos.
— Como é que é?
— Deixa esse fracassado de lado, vamos logo. — Angel se intromete na conversa.
Todos os estudantes que caminhavam por ali pararam para notar a pequena confusão.
— Tenho uma idéia — disse Ness com um sorriso. Aquele mesmo sorriso irritante que o dava nos nervos, como se estivesse brincando com a sua cara. — Já que você quer tanto isso, eu o desafio para um duelo de magia.
Duelo de magia?
— Se vencer pode ficar com isso pra você. Amanhã, às 18 horas, perto dos rochedos. Está dentro ou não?
Seja lá o que fosse aquilo o derrotaria.
— Definitivamente sim.
Ness, então, esboça um sorriso. Como se estivesse alcançado algo que tanto esperava.
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