Parte I
Todos os casais são felizes, com o seu feliz para sempre, passam por dificuldades mas mesmo assim continuam em pé... esse dilema parece funcionar perfeitamente para certos casais, não para todos, explico e digo isso por experiência própria. Sei que isso parece ser tão clichê, mas é a minha atual realidade que eu tenho enfrentado nos últimos meses.
Como vice-capitão da quinta divisão da Toman, eu tenho que me manter posturado em relação ao que acontece na minha vida pessoal, não posso levar nada dos meus problemas pessoais para a gangue, mas isso se torna uma tarefa difícil quando o meu "problema" é o meu capitão e noivo, Muto Yasuhiro.
Nos conhecemos quando ainda éramos jovens moleques de 12 anos. Na época eu lutava contra as minhas cicatrizes que eu tanto odiava, mas Muto me presenteou com uma máscara preta, que cobria elas, sendo assim eu não precisava me incomodar com elas, pois estavam cobertas totalmente. No início era apenas amizade, de cuidar um do outro, mas assim que entramos na Toman, e assumimos o papel da quinta divisão, tudo mudou e passamos a ficar mais próximos um do outro, trocar carinho e alguns selinhos as escondidas e até mesmo frequentar a casa um do outro.
Quando eu completei 16 anos, Muto me pediu em namoro, eu aceitei e assim ficamos até uns três anos. Aos meus 19 anos ele me pediu em casamento, e disse que eu era tudo o que ele mais queria na vida dele, que ele queria se casar comigo, ter uma vida, uma família e tudo o que um casal costuma planejar para o futuro e aqui estamos nós, completando quatro meses de noivado e faltando alguns dias para o nosso casamento, esse momento deveria ser o mais feliz das nossas vidas, mas não está sendo bem assim.
No primeiro mês de noivado, ele parecia estar bem animado e muito ansioso com a data do nosso casamento, porém, um mês depois ele começou a ficar estranho, distante e pouco se importa com o andamento do nosso casamento. Eu que estou organizando tudo sozinho, desde a decoração, salão de festas e tudo mais. Quando eu apresento algo para ele, Muto apenas olha sem muita vontade e só responde com um "uhum".
Passei a pensar que fosse estresse com a gangue junto com o casamento, mas descarto essa possibilidade, pois ultimamente a gangue anda tão quieta como o silêncio mortal entre nós dois. Não há motivos plausíveis para ele estar tão desanimado assim. Talvez ele não queira se casar comigo e apenas não está querendo dizer isso. Já questionei ele sobre isso e tudo que ele disse foi que não é isso, e que é para eu não me preocupar com ele.
Mas como eu não vou me preocupar? Vamos nos casar daqui a 3 dias. Como podemos nos casar com esse clima tenso e estranho que paira sobre nós dois? Sempre fomos unidos e nunca brigamos, mas agora nós mal nos falamos, brigamos, ele não mostra interesse em nada em relação a nós dois e nem estamos fazendo sexo mais... nem me lembro a última vez que fizemos isso.
Pela manhã, como todos os dias, eu levanto primeiro, Muto dorme no nosso quarto de casal e mal percebe que eu me levanto. Respiro fundo e vou até a cozinha preparar o café da manhã, desanimado e meio abatido com tudo que está acontecendo. Quando eu termino de colocar as coisas na mesa, ouço Muto se levantar da cama e alguns barulhos no quarto, como o chuveiro ligado por exemplo.
Passa 15 minutos e ele aparece, bem vestido e arrumado. Chego a abrir um sorriso com isso.
— Você está bonito, Yasu. — falo e olho para ele.
— Obrigado. — ele responde seco e pega a chave do seu carro.
— Não vai tomar café comigo? — respondo e coloco a xícara na mesa.
— Não estou com fome. — ele diz e abre a porta de entrada do apartamento e deixa o local sem me explicar nada.
Furioso e chateado ao mesmo tempo, me levanto da mesa e vou até o elevador, porém a porta se fecha assim que eu chego. Sem opções eu vou até as escadas. A minha fúria é muito maior do que descer 4 andares de escadas.
Assim que chego no térreo, vejo Muto desativando o alarme do carro, corro até ele e entro na frente da porta do carro, olho ele diretamente nos olhos e digo:
— O que está acontecendo? Por que está assim comigo?
— Já disse que não é nada. — ele responde e me empurra de leve e entra no carro.
Bato no vidro do carro e chamo por ele, que alguns minutos depois ele abre o vidro e mostra a sua expressão de tédio a mim, parece que ele não está nem aí para nada.
— Eu não estou com tempo para o seu drama, Haruchiyo. Eu tenho uma reunião.
— E desde quando reuniões passaram a ser mais importantes do que eu? Eu sou seu noivo!
— Me poupe. — ele responde e fecha o vidro do carro e manobra o veículo e deixa o prédio, me largando sozinho ali, sem entender nada.
Com lágrimas escorrendo em meus olhos, retorno para o hall de entrada, aciono o elevador e disparo a chorar. Todos os dias são assim, com as mesmas desculpas. Eu não aguento mais isso, sinto vontade de largar tudo, mas meus sentimentos por ele ainda prevalece, assim como a esperança de que isso vai mudar.
Quando entro no apartamento, uma ideia ofusca minha mente quieta. E como um flash, pego a chave da minha moto e saio em disparada de volta até o estacionamento. Nem me preocupo com o fato de eu estar vestindo uma calça larga e uma blusa preta de pijama que faz parte da minha calça, como um conjunto. Ligo a moto e deixo o local, procurando Muto com atenção.
Ele não pode ter ido tão longe.
Encontro o carro do Muto, parado no semáforo. Ótimo, deu tempo de alcançar ele e o meu coração bate descompassado. Um misto de ansiedade e nervosismo toma conta de mim, como se pressentisse algo errado prestes a acontecer. Sem pensar muito, decido confiar nos meus instintos e continuar seguindo o veículo e por momentos que pareceram uma eternidade, mantenho uma distância segura, evitando chamar atenção.
Finalmente, o carro do Muto para em frente a uma casa que eu não reconheço e ele desce do carro. Meu estômago se aperta em uma sensação angustiante, enquanto eu observo atentamente cada movimento. Então, como se meu mundo estivesse desmoronando diante dos meus olhos, uma garota loira sai da casa e se aproxima dele. Meu coração se parte ao ver ela se inclinar e beijá-lo. Aquela cena parece ser como uma faca cravada em meu peito, dilacerando cada pedaço do meu amor próprio.
Meu corpo treme, minhas mãos suam, mas eu me recuso a desviar o olhar. Quero saber a verdade, por mais dolorosa que seja.
Acompanho os dois entrarem novamente no carro e partir, seguindo um destino desconhecido. A sensação de traição é avassaladora, mas eu preciso saber mais.
Com determinação, dou partida na moto e os sigo, incapaz de deixar essa descoberta sem respostas. Lágrimas inundam meus olhos, mas eu preciso ser forte, preciso encarar a realidade de frente, mesmo que ela me rasgue por dentro.
O que quer que eu encontrasse no final dessa jornada, uma coisa era certa: as verdades mais cruéis são muitas vezes as mais libertadoras.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro