Capítulo 18 - Surpresa
SURPRESA
[ AVISO IMPORTANTE ]
[ Caso encontrem algum erro, peço desculpas desde já. ]
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GARETH puxou uma cadeira e sentou de frente para Alice e Maya que o olhavam sem falar nada.
— Então? — Disse ele cruzando novamente os braços.
— Esquece o Derio por enquanto, Gareth. — Maya se prontificou a falar e Gareth olhou para ela, mas antes que ele falasse alguma coisa prosseguiu. — Não tem muito tempo que Alice chegou escoltada por um soldado do reino porque foi atacada por algum criminoso... — Maya inspirou profundamente e soltou o ar. Seu semblante era triste.
Alice observou a reação de Gareth, que de sério como tinha chegado, ficou preocupado, mesmo que a máscara ocultasse qualquer expressão facial dele, ela conhecia ele o suficiente para saber o que seus olhos diziam.
— Eu estou bem, Gare, foi só um susto. — Ela tentou tranquiliza-lo.
— E te fizeram algo? — Ela sabia o que ele queria dizer, mas felizmente foi salva, ainda que a cena do ataque se repetia em sua cabeça, ela queria apenas deixá-lo calmo.
— Não. — Ela respondeu firme e mantinha uma postura quieta. — Apenas mordi a língua, mas já parou de sangrar.
— E como você está?
— Bem... — Ela lembrou do momento que ouviu os gritos do homem ser espancado e quando percebeu que estava sendo salva, o alívio percorrer seu corpo. — Graças aos soldados não aconteceu nada demais.
As respostas de Alice eram frias, sem sentimento de medo ou raiva. Gareth permanecia olhando para ela, queria perguntar algo e ela sabia disso, mas com certeza tinha medo de fazer ela se lembrar dos detalhes do que tinha acontecido. Ele a olhava como se ela fosse indefesa, e era, mas não queria ser assim, nem tentar reagir direito ao ataque ela tinha conseguido.
— Eu não fiz nada... não consegui fazer nada...
Maya olhou para ela estranhando aquela confissão.
— Não se culpe, Alice. — Pediu Maya e a abraçou novamente. — Você não tem culpa de nada.
— Você estava assustada. — Disse Gareth pegando nas mãos dela.
— Eu sei. — Continuou Alice e uma lágrima teimosa escorreu pelo seu rosto. — Mas não devia ser assim, eu tinha que saber me defender, sei lá, saber fazer algo... E se acontecer de novo?
— Não vai acontecer de novo, eu não vou deixar. — Gareth acariciava as mãos da jovem para confortá-la, mas suas palavras saíam nervosas. — Vou ficar aqui mais tempo com você e não vou deixar ninguém fazer mal a minha menina. Não mesmo!
Alice percebeu que pela forma como Gareth falava, estava transtornado, mostrava o tanto que ele se preocupava com ela. E se ele tivesse salvo ela, o que teria feito com aquele cara? Pela forma agressiva que ele usava as palavras, tinha certeza que aquele homem não teria saído com vida dali. Era um lado diferente e obscuro de Gareth que ela não conhecia, mais agressivo e protetor do que nunca.
— Vem, Gareth. — Maya se levantou puxando Gareth pelas mãos enquanto ele olhava para Alice. — Deixa ela descansar um pouco.
Gareth hesitou por um momento, mas permitiu ser arrastado de dentro do quarto. Alice sabia que Maya apenas quis tirar Gareth de perto dela, estava perdendo a cabeça.
— Descansa, Alice. — Maya insistiu antes de sumir pela porta do quarto. O fato de saírem dali também era uma forma de forçar ela descansar e tentar tirar aquele dia da cabeça.
Alice deitou tentando tirar da cabeça os acontecimentos do dia, mas quanto mais tentava, mais as cenas se repetiam em sua cabeça, lembrar das partes de seu corpo que o homem a tocou enquanto a segurava pareciam doer, ela sentia o sangue ferver pouco a pouco ao lembrar do sorriso debochado do seu malfeitor e nunca havia desejado mal para alguém até aquele momento.
A noite passou arrastada para Alice, e apesar de ter conseguido dormir um pouco, diversas vezes acordou durante a noite, suada e assustada tendo pesadelos com o mesmo homem que havia a atacado, mas para sua alegria estava sozinha em seu quarto. Quando os primeiros raios de sol iluminaram a janela do quarto, ela levantou como se esperasse aquilo por um longo tempo.
Quando chegou no salão, Gareth já estava acordado e usando uma das mesas do salão para limpar suas adagas. Eram duas armas idênticas e o brilho delas chamaram a atenção de Alice que se apressou em se juntar a Gare na mesa.
Quando ela começou a descer as escadas, Gareth guardou uma das adagas e já estava para guardar a outra. Ela sabia que era por causa dela, como se ele não quisesse que ela visse tais objetos.
— Deixa. — Alice pediu ainda descendo as escadas. — Não precisa esconder de mim, Gare.
Alice não estava de bom humor, não era a mesma garota que acordava feliz todos os dias. Estava séria e mal-humorada e nem ela sabia exatamente o porquê.
— São só adagas.
— São bonitas. — Disse ela e se sentou ajeitando a camisola de dormir azul que ainda usava. — Gare, acho que está na hora de você me falar mais coisas.
— Maya e eu conversamos ontem. — Gare guardou as adagas e cruzou os braços sobre a mesa. — Não acho que preciso falar nada com você sobre o assunto. Quanto menos você pensar nisso melhor. — O tom de voz de Gareth era amoroso e passava conforto.
— Não sobre isso.
— Sobre Derio? Bem... Claro que tenho ciúmes de você, mas já é adulta e não posso ficar tomando as decisões de sua vida o tempo todo. — Alice o olhou estranha. Ele ainda não tinha entendido que não era do ataque ou sobre Derio.
— Não é sobre ele também. — Alice riu, mas rapidamente seu rosto mudou para mal humor. — É sobre você.
Gareth endireitou o corpo, seus olhos perdidos mostravam a ela que ficou surpreso com a direta e como ele não disse nada, Alice voltou a falar.
— Sobre o que você faz, me fala mais de você porque guarda tantos segredos.
— Não tenho nada a falar de mim. Somente que sou um monstro.
— Você sai todas as noites e nunca nos disse nada, fez um ritual em mim para me salvar, sabe da existência de criaturas que eu nunca vi na vida e toda vez que a noite vem eu fico assustada sem saber o porquê.
Gareth não disse nada e ficou um ar de silêncio. Alice esperava que ele falasse alguma coisa, mas nada.
— Deixa eu vê-las. — Alice apontou para o casaco de Gareth insinuando as adagas.
— Por que? — Gareth hesitou. — São coisas que não cabe a você Alice.
— Por que são para matar?
— Não... São para me defender.
— Defender de quê? — Alice perguntou ríspida. — Desculpa, Gare, mas desde meu aniversário que eu recebi como presente aquele monte de informação de outro mundo tudo é confuso. Eu realmente não sei quem você é. — As palavras de Alice eram pesadas, estavam guardadas há tempos e um pouco de mal humor as colocou para fora de forma dura. — Por que se esconde? Ou o que você faz por aí que nunca nos falou?
— Conta para ela, Gareth. — Maya surgiu no topo da escada e ambos olharam para ela.
Então Maya sabia de algo e também escondia dela. O mal humor de Alice só aumentou e ela olhou para Gareth emburrada esperando ele falar algo para ela.
— Tudo bem. — Ele aceitou e um sorriso de felicidade por descobrir mais dele surgiu no rosto de Alice. Maya se juntou a mesa antes que Gareth começasse a falar. — O motivo de sair todas as noites é para caçar.
Gareth retirou as adagas do casaco e colocou-as sobre a mesa novamente. Alice ficou ainda mais impressionada com a beleza das armas. O metal era brilhante e reluzente, nunca tinha visto nada parecido com aquilo. Tinham um bom tamanho e pareciam pesadas, a parte debaixo da lâmina era curvada para a ponta e afiada enquanto na parte de cima cinco cortes na lâmina próximos ao cabo davam uma aparência bela e assustadora ao par de armas. No corpo da lâmina havia as letras C, A, N, V, G e P. A única diferença entre as duas era que uma delas tinha o brilho do metal levemente avermelhado.
— Com a ajuda desta adaga — Gareth apontou para a lâmina levemente avermelhada. — eu consigo localizar as criaturas que eu falei, o qual eu chamo de lacaios. Quando o brilho da lâmina fica mais forte eu sei que tem um deles por perto.
— Tem algum por aqui? — Um calafrio percorreu o corpo de Alice. A lâmina estava levemente avermelhada.
— Não. É que ela foi forjada com magia e usado o sangue de um lacaio junto ao metal, por isso essa aparência avermelhada.
— Essas letras significam algo?
— São as iniciais dos criadores do grimório. Cerbes, Agnis, Nallus, Varen, Gallatus e Perfuron. Também são palavras para invocar magias que se encontram no grimório que está com Salazar.
— E a outra? — Por algum motivo tudo que Gareth dizia parecia interessante para ela.
— A outra não faz nada. É apenas uma réplica idêntica que mandei fazerem. — Gareth deu uma risada baixinho. — Eu fico rodando para cima e para baixo com elas na mão esperando que brilhem para que eu possa fazer algo. Lacaios matam pessoas por aí o tempo todo e eu apenas tento proteger, desde que eu chegue a tempo.
— Culpa de Salazar? — Alice esticou a mão e pegou uma das lâminas e a examinou cuidadosamente. Não era tão pesado quanto ela pensava.
— Sim.
— Elas não localizam ele?
— Infelizmente não. Ele é esperto e sabe que eu estou procurando por ele. Para conseguir localizá-lo eu precisaria de pelo menos um pouco do sangue dele. — Gareth passou a mão direita na nuca. — A única vez que estivesse tão perto dele e até consegui feri-lo eu não sabia que podia localizá-lo pelo sangue.
— Se você ajuda as pessoas, por que se esconde?
— Porque de alguma forma os soldados do reino me tratam como inimigo. Assimilaram as mortes de Salazar e dos lacaios a mim como se eu fizesse elas. Por isso eu me escondo, para não saberem que tenho ligação com vocês e manter vocês protegidas. Não quero que usem vocês contra mim, não quero nenhum mal acontecendo a vocês.
Maya sorriu envergonhada com aquelas palavras. Alice olhou para ela e notou, mas não disse nada.
— Mortes causadas por Salazar?
— Ele também faz suas vítimas por aí, mas com menos frequência. Lembra que ele precisa roubar a alma de alguém para se manter vivo?
Então Gareth enfrentava três inimigos diferentes em segredo o tempo todo. Salazar, os tais lacaios e o próprio reino que o caçava como culpado. Isso ainda tendo que proteger pessoas que ele não conhecia e se manter escondido o tempo todo. Era muita coisa para uma simples pessoa, Alice se sentiu mal por ter o pressionado daquela forma.
— Desculpa, Gare, eu não sabia. Nunca imaginei que sua vida fosse tão... movimentada.
— Não se preocupe, Alice. Eu que deveria ter falado mais de mim mesmo antes, mas queria evitar que vocês soubessem demais sobre mim, como disse, não quero que por algum motivo usem vocês contra mim.
— Não tem nem ideia de onde ele está? O tal Salazar...
— Mais ou menos. Ele segue um padrão de ataque. A cada três semanas exatas uma nova vítima e usando um mapa com elas eu consigo ter uma ideia de onde ele está, mas como a cidade é grande, fica praticamente impossível descobrir.
— Que cidade?
— A capital Dracoria. Todos os últimos ataques que eram roubo de alma são de lá, não importa se são os nobres ou nominados. Ele não escolhe, simplesmente ataca. O problema é que os lacaios dele andam me ocupando tempo demais e isso atrapalha eu tentar encontrá-lo. É como se ele soubesse que onde estou.
— Então ele usa esses lacaios para te atrasar?
— Também, mas a existência deles acho que vai bem mais além do que isso. Não sei exatamente o porquê, mas uma das coisas é para acabar comigo já que ele não pode fazer isso.
— Por que não?
— Por que criatura não pode matar criador. — Gareth riu sozinho. — Depois do ritual que eu fiz nele, é como se o corpo dele reconhecesse que só existe devido a mim e qualquer tentativa de me fazer algum mal diretamente é negado.
— Ainda não entendo, Gare...
Gareth pegou uma das adagas e colocou na mão de Alice. Ela estranhou e olhou para ele confusa, mas aceitou. Gareth deitou o braço sobre a mesa e virando a palma da mão aberta para cima disse:
— Tente me ferir.
— Nem pensar. — Alice falou imediatamente e Gareth começou a rir amigavelmente. Maya apenas assistia aquela cena quieta.
— Vamos, não vai acontecer nada.
— Não, Gare, pare com besteiras.
— Confia em mim.
Depois de hesitar por um momento, Alice levantou a adaga e observou o corpo da lâmina. Um breve momento lembrou quando ela pediu a Marlos para que matasse o homem que a atacou, um pensamento nunca passado pela cabeça dela antes e seu sangue parecia correr com mais intensidade pelo corpo. E se ela soubesse se defender, será que teria usada tal arma contra aquele homem?
— Alice? — Maya chamou tirando ela dos pensamentos. Estava tão curiosa quanto ela sobre o que ia acontecer.
— Está bem... — Respondeu Alice e lentamente parou a lâmina de cabeça para baixo sobre a mão aberta de Gareth sobre a mesa.
Alice fechou os olhos e devagar foi descendo a lâmina na direção da mão dele, mas por um breve instante sentiu uma sensação ruim passar pelo seu corpo e sua mão desviou centímetros fazendo com que a ponta da adaga perfurasse a mesa ao lado da mão de Gareth.
— Viu? — Gareth perguntou e Alice abriu os olhos para olhar.
Realmente não havia sido ela que fez intencionalmente. Seu corpo simplesmente negou a fazer algo contra ele e desviou o suficiente para ela errar.
— Incrível. — Alice comentou surpresa na mesma hora que batidas soaram na porta da frente do salão.
Todos olharam surpresos para a porta e novamente as batidas ecoaram no salão. Gareth acenou com a cabeça para Maya enquanto se levantava.
— Tem alguém aí? — Era a voz de Mackenzie.
Alice ficou observando a porta enquanto Maya ia na direção dela avisando que já iria abrir. Quando ela olhou para trás para Gareth, não o viu no salão, ele já tinha se escondido. Ao abrir a porta viu Mackenzie e atrás dela, Derio.
— Mackenzie. Derio. — Alice disse surpresa com a presença dele ali. Maya analisou o rapaz e olhou sorridente para Alice.
— Alice! — Derio atravessou a porta e voou para abraça-la que arregalou os olhos surpresa enquanto ele a apertava. — Você está bem?
Tanto Maya quanto Alice não entenderam a reação dele, mas algo dizia para Alice que era sobre o ataque a ela. Como ele sabia? Maya, no entanto, sabia da verdade e ficou calada não querendo apenas piorar tudo.
— Eu estou bem. — Ela respondeu séria, mas feliz. — O que faz aqui?
— Eu fiquei sabendo... não consegui dormir direito e assim que amanheceu eu quis vir saber como você estava. Ela quem me ajudou a saber onde você morava. — Derio apontou para Mackenzie na porta.
— Oi, Alice. — Respondeu a soldada.
— Como soube? — Maya perguntou e olhou para Mackenzie, mas ela ficou em silêncio e deu de ombros esperando que Derio respondesse.
— Eu... eu... meus pais conhecem os soldados que te ajudaram e eles foram lá em casa após o incidente contar para gente. Acho que sabiam que você trabalhava para nós. — Derio deu um sorriso meio torto para Alice.
Maya sabia que era mentira, ele também não falou a verdade para ela. Quando ele olhou para ela, apenas sorriu como se ele entendesse da cumplicidade. Saber que Anne era a culpada poderia não ser a melhor opção por agora.
— Então você que é o Derio? — Maya sorriu simpaticamente.
— Sim. — Respondeu o rapaz. — Você deve ser a Maya, não é?
— Eu mesma. — Ela estendeu a mão para cumprimentar o rapaz.
— Obrigada pela preocupação, Derio. — Alice agradeceu.
— Estávamos todos preocupados depois da notícia. — Derio respirou fundo e sorriu. — Ainda bem que não aconteceu nada demais.
— Ainda bem que não. — Maya concordou.
— Será que você ainda vai poder ir comigo na festa? — Derio perguntou para Alice.
Alice olhou para Maya sem saber o que fazer com a pergunta. No fundo ela queria ir, mas depois do que tinha acontecido a ela, duvidava muito que Gareth fosse permitir. Maya sorriu sem graça, deixando obvio a resposta dela para aquilo.
— Vou buscar algo. Já volto. — Disse Maya e saiu indo em direção aos quartos onde estava Gareth.
Alice agradeceu mentalmente Maya por aquilo, ela iria conversar com Gareth para ela poder dar uma resposta.
— Eu quero, Derio, mas... — Alice olhou para trás na direção das escadas procurando por Maya. — ... não sei se vou poder.
— Entendo... — Ele respondeu com um semblante triste.
— Alice. — Maya chamou por ela enquanto descia novamente a escada. Lá vem o nem pensar de Gareth pensou Alice já desanimada. Depois de tudo aquilo, nem um pouco de descontração e diversão ela teria? Maya caminhou na direção dela, estava séria o que só deixava a reposta mais óbvia. Não.
— Promete cuidar da minha menina, rapaz? — Maya perguntou tão firme que Derio se assustou.
— S-Sim!
— Espero que se divirta. — Respondeu Maya olhando para Alice para seu alívio. Até sentiu o corpo mais leve.
Depois de tantos acontecimentos estranhos e confusos, ela sentia a necessidade algo novo e melhor para ela. A ansiedade para frequentar tal ambiente festivo cresceu dentro dela enquanto Derio sorria feito bobo na porta. Todos ali estavam felizes, até Mackenzie, mas Alice sabia que no quarto alguém estava ou muito triste, ou muito zangado.
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