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14_ Sexta-feira

Primeiro me senti constrangida por James ter me escutado falar no banheiro. Depois pensei no quanto ele ficaria se achando e fazendo piadas dizendo que eu estava brigando por ele. Depois pensei no quanto tinha sido atencioso o fato dele ter comprado café pra mim.

ㅡ Você comprou café pra mim? ㅡ Observei o copo em minhas mãos e olhei para ele novamente.

ㅡ Não, comprei café pra mim. ㅡ Ele corrigiu. ㅡ Mas, Maria disse que você estava parecendo um zumbi e eu não quero um zumbi atrás de mim na festa de mais tarde.

Okay, momento atencioso acabou.

ㅡ A Maria vai? ㅡ Bebi um pouco do café, me afastando do banheiro e seguindo pelo corredor.

ㅡ Vai. ㅡ Ele andou ao meu lado.

ㅡ Então eu posso pensar em ir. ㅡ Bebi mais do café. Talvez fosse o sono, ou a Starbucks dali era simplesmente fantástica, mas aquele café estava facilmente no meu top de três de melhores cafés que já bebi na vida. ㅡ Hoje não tem treino?

ㅡ Não treinamos as sextas, porque os jogos costumam ser nas sextas. E as festas também. Ensaiamos de segunda a quinta e as vezes nos sábados. ㅡ Ele continuou andando atrás de mim e eu fiz uma careta, o olhando dos pés a cabeça.

ㅡ Por que ta me seguindo?

ㅡ Pra qual aula você está indo agora mesmo? ㅡ Ele perguntou se fingindo de idiota e eu parei de andar quando me toquei.

ㅡ Não...

ㅡ Acho que você também é minha parceira de química, certo? ㅡ Ele mostrou o livro de química que estava segurando, o mesmo que eu deveria ir no armário buscar.

Por que eu preciso ter química duas vezes na semana? É realmente necessário?

ㅡ Não ouvi a professora dizer que temos parceiros fixos nas aulas dela. ㅡ Caminhei na direção do meu armário e dei um gole bem grande no café para acabar com eles antes da próxima aula.

ㅡ Guardo um lugar pra você do meu lado. ㅡ Ele acenou e saiu andando pelo corredor.

( Narrado por James )

ㅡ Alguém pode me dizer o nome da reação... ㅡ A professora falava na frente da turma, alguns alunos levantavam as mãos, outros respondiam, alguns não estavam prestando atenção e eu era um desses.

Química não era o meu forte. Na verdade, poucas matérias eram o meu forte. Se não fosse pelo basquete, certamente eu não conseguiria uma bolsa pra faculdade. Isso é meio frustrante as vezes, mas tento não pensar nisso.

ㅡ James? ㅡ O meu nome foi chamado pela professora e eu me peguei na saia justa.

ㅡ Presente? ㅡ Alguns alunos riram. Óbvio que não era a chamada.

ㅡ Pode me dizer qual tubo de ensaio contém a solução que acabei de descrever? ㅡ Tinham sete tubos de ensaios na nossa mesa. Cada um de uma cor e uma numeração. Eu não tinha ideia de qual ela estava falando.

ㅡ É... ㅡ Olhei para cada um deles sem saber o que responder. Até que senti Elena pisar no meu pé embaixo da mesa. Ela pisou exatas cinco vezes e eu apontei para o frasco azul, de número cinco. ㅡ Esse.

ㅡ Muito bem. ㅡ A professora disse aquilo no tom de quem achou que eu tinha chutado e acertado. E ela não estava totalmente errada, porque eu iria chutar mesmo.

ㅡ Eu sabia a resposta. ㅡ Sussurrei para Elena.

ㅡ Cala a boca. ㅡ Ela sussurrou de volta sem olhar pra mim e eu sorri.

Elena não fazia o meu tipo de amizade. Ne verdade, eu não costumava ter muitas amizades com mulheres para evitar rumores e fofocas. Mas, aconteceu. Somos vizinhos, do mesmo time, ela amiga da minha irmã e eu até já tinha beijado ela. Ignora-la não ia ser uma opção. Ainda mais que meu mais novo hobby favorito é irrita-la.

A aula terminou mais rápido do que eu queria. Quando vi já era hora da minha aula de informática.

Elena sumiu pelo corredor após a aula terminar e eu fui para a sala de informática. Nem todos os alunos estavam lá ainda, então me sentei na frente de um computador e comecei a jogar batalha naval.

ㅡ Até que enfim te encontrei. ㅡ Aila apareceu na sala. Ela não estava vestida com o uniforme das animadoras hoje. ㅡ Você vai na festa do primo do Jamal, né?

Ela se sentou de frente pra mim no computador ao lado. Abriu o seu sorriso e jogou os cabelos para trás. Cabelos muito parecidos com o de Elena e por isso confundi as duas na biblioteca. Era Aila que eu deveria encontrar naquele dia e ela não gostou muito de eu ter dado um bolo nela.

ㅡ Aham. ㅡ Voltei minha atenção para o jogo.

ㅡ Acha que podemos cumprir com o combinado lá? ㅡ Ela tocou os dedos no meu ombro. ㅡ Pelo que eu saiba, isso ainda está de pé.

ㅡ Está? ㅡ Respondi sem nem ao menos prestar atenção no que ela estava falando. ㅡ Espera... ㅡ Parei de jogar e olhei para ela quando entendi. ㅡ Eu sei que a gente combinou, mas eu não sei mais...

ㅡ Como assim? O que vou dizer pras minhas amigas? Sabe o que eu vou ter que fazer se não cumprir? Sair com o Bernard! ㅡ Cruzei os braços me lembrando de que tínhamos consequências.

ㅡ Olha, eu também não quero cumprir com a minha parte, mas eu não acho certo essa coisa de aposta. Mesmo que tenhamos combinado, você vai ser assunto de piada entre os caras. Sei que não quer isso. ㅡ Ela continuou com a mesma expressão.

ㅡ Eu não to nem aí pra isso. Ah, James, por favor... ㅡ Aila choramingou. ㅡ É só ficar comigo. Não é um namoro. A não ser que você queira. ㅡ Ela piscou.

ㅡ Eu acho que não. ㅡ Voltei a jogar.

Aila não insistiu mais e os alunos começaram a chegar. A aula foi se passando, assim com o intervalo e, quando percebi, já era noite e eu tinha uma festa pra ir.

Já fazia vinte minutos que eu estava esperando Maria terminar de se arrumar para irmos.

ㅡ Qualé, o que você ta fazendo? ㅡ Gritei da beira da escada.

ㅡ Não me estressa, não. ㅡ Ela apareceu na escada. ㅡ A beleza não se apressa.

ㅡ Que beleza? ㅡ Corri antes que ela me desse um tapa e saí de casa.

Tirei o carro da garagem, parei na rua e esperei Maria ir até a casa de Elena para busca-la. Depois de mais dez minutos esperando no carro, as duas finalmente apareceram.

ㅡ Você vai dizer que beleza não se apressa também? ㅡ Resmunguei de dentro do carro enquanto as duas se aproximavam.

ㅡ O motorista da sua família pode ficar opinando? ㅡ Elena perguntou para Maria, fazendo-a gargalhar.

As duas entraram no carro. Elena sentou na frente, porque Maria praticamente a empurrou no banco do passageiro, e eu comecei a dirigir, ficando quieto e não comentando  o fato do quanto ela estava linda.

ㅡ Por que demoraram tanto? ㅡ Quebrei o silêncio.

ㅡ O pai da Elena ficou me passando as regras. Você que devia estar lá pra ouvir. ㅡ Maria respondeu.

ㅡ Por que eu?

ㅡ Você quem me chamou. Você é o mais velho e o responsável por nos levar e trazer. ㅡ Elena respondeu.

ㅡ E quais são as regras?

ㅡ Voltar antes das duas da manhã, não beber, não usar droga, não fazer sexo e nem infringir a lei. ㅡ Maria explicou.

ㅡ Uma pena. Eu ia mesmo embebedar vocês e fazer vocês assaltarem um banco. ㅡ Acelerei o carro.

Depois de um tempo, chegamos a festa. Já estava cheia de gente e com música alta. Muitos carros estacionados na rua e luzes piscando lá dentro.

ㅡ De repente fiquei com medo. ㅡ Elena encarou a casa gigantesca pela janela. ㅡ Eles são adolescentes e eu tenho medo de adolescentes.

ㅡ Ah, não fica assim, Elena. ㅡ Maria tocou o ombro dela. ㅡ O responsável aí cuida de você. ㅡ E assim ela abriu a porta do carro e saiu.

Elena olhou pra mim com uma sobrancelha arqueada.

ㅡ Como devo me sentir com você como meu responsável?

ㅡ Completamente segura? ㅡ Falei como se fosse algo óbvio, o que a fez rir e abrir a porta do carro.

Eu não era do tipo engraçado. E ainda não me considerava engraçado. Mas, nesse pouco tempo percebi que gosto de duas coisas nela: ela irritada e ela rindo. E agora eu era o idiota que se esforçada pra irrita-la e fazê-la rir.

•••
Continua...

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