Fátima (Cidadã - Mãe da Clarisse)

Clarisse foi na nossa frente mostrando o caminho da floresta, enquanto ficamos atrás dela e notei a reação de tristeza dela.

- Filha, agora vai falar o que aconteceu ontem à noite. - perguntou Aparecido.

- Só conversamos. - respondeu Clarisse com voz meio fraca.

- Fale a verdade...

Eu bati forte no braço dele querendo que ele parasse de falar.

- Não esqueça que falamos ontem, entendeu? - perguntei sussurrando pra Clarisse não ouvir.

- Entendi. - suspirou.

- AÍ está o carro. - disse Clarisse meio rindo.

Chegamos numa estrada de terra e vimos que o carro é...

- Um carro de polícia?! - perguntou Aparecido bem chocado - Onde conseguiram?

- É uma loooonga história. - disse Clarisse. - Assim não chama muito atenção e nos terão muita gasolina para viagem.

- Perfeito, vamos. - disse Aparecido se aproximando do carro.

Clarisse entregou a chave para Aparecido e abriu o porta-malas. Colocamos nossas mochilas e Clarisse foi olhando para a floresta.

- Vamos, princesa. - Aparecido tocou no ombro dela - Finalmente voltaremos para casa e viver juntos.

Não aguento mais.

Fui na frente da Clarisse e perguntei bem séria:

- Clarisse... Você quer voltar para casa?

- Fátima. - resmungou Aparecido.

- Quer voltar para casa? - o ignorei e perguntei de novo.

- Sim, quero voltar para casa com vocês. - disse Clarisse.

- Qual é o nome da sua tigresa?

- Agatha.

- Agatha, vocês querem voltar para a cidade?

- N... - Clarisse foi tendo dificuldade pra falar até que falou com duas vozes femininas - Não.

- Tigresa. - disse Aparecido bem sério - Aceitamos que está dentro do corpo da nossa filha, mas não aceitamos que está fazendo ela não voltar conosco.

- É verdade. - gritou Clarisse e ajoelhou chorando - Eu realmente quero voltar pra casa com vocês, esperei tanto por isso. Mas não sei o que estou sentindo de verdade, como se meu coração estivesse...

- Dividido. - a interrompi e a abracei - Minha filha, parece que realmente gosta deles e agora está dividida.

- Mamãe. - Clarisse me abraçou e chorou ainda mais - Eu amo muito vocês e quero voltar pra casa, mas... Não aguento o peso do coração e não quero magoar vocês.

- Princesa. - Aparecido tocou na cabeça dela - Você gostou da floresta?

- Sim.

- Gostou das pessoas da aldeia?

- Sim.

- Fez grandes amizades?

- Melhores.

- Gostar de ser uma Humanimal Tigresa ou Cidadã?

- Agatha faz parte de mim e eu faço parte dela. - respondeu bem séria - Nunca serei uma Cidadã de novo, porque adoro ser Humanimal Tigresa.

Aparecido respirou fundo e perguntou mais uma vez:

- Você ama Raoni?

- Meu coração pertence a ele.

- Então nos resta um problema. - suspirou Aparecido.

- O que é? - perguntou Clarisse.

Aparecido tocou no rosto dela e disse com sorriso fraco.

- A grande saudade que sua mãe e eu vamos sentir.

- O quê? - perguntou não acreditando.

- Nós conversamos. - falei olhando pra ela - Decidimos que faríamos o que seus sentimentos desejar, até mesmo se seu desejo fosse ficar na floresta.

- Mas...

- Filha, não queremos que você escolha. - falei quase chorando - Ficarei muito aliviada vendo você feliz no lugar que gosta muito. Não vai nos magoar não voltando conosco, importante que você seja feliz.

- Vai ser muito duro pra nós, minha princesa. - disse Aparecido quase chorando - Mas sabendo que você está viva e cercada de pessoas que amar, ficamos muito tranquilos.

- Mamãe... Papai. - disse Clarisse tentando limpar as lágrimas - Tem certeza?!

- Claro, você sempre será nossa querida filha. - falei chorando muito.

- Agora está bem crescida e decide suas próprias escolhas. - disse Aparecido abraçando Clarisse - Prometo que nos veremos de novo.

Damos abraço de família e choramos muito. Aparecido afastou e entregou para Clarisse o seu celular que escondeu na calça.

- Ai se não atende, mocinha.

- Agatha. - a chamei - Cuide bem da Clarisse.

- Juro pela minha alma. - falou assumindo a forma tigresa humana - Eu amo vocês.

- Te amamos também, seja feliz. - beijei sua bochecha.

Aparecido deu abraço e escondeu seu rosto cheio de lágrimas.

- Vai logo antes de mudarmos de ideia.

Clarisse andou uns passos na frente e virou olhando pra nós.

- Até breve, mamãe e papai. - disse com duas vozes femininas e correu para dentro da floresta, de longe ouvimos um alto rugido.

- Nossa filha cresceu tanto. - disse Aparecido limpando as lágrimas.

- Sim, já é uma grande mulher. - segurei a mão dele - Vamos para a casa.

Raoni (Humanimal Rei Leão)

Faz meia hora depois que foram embora, com certeza já estão na estrada.

- Tem certeza que você ficará bem? - perguntou Ursão ao meu lado.

- Claro. - respondi respirando fundo.

Atrás de nós ainda está as crianças chorando e olhando para a floresta.

- Quanto tempo vocês vão ficar choramingando? - perguntou Ursão.

- Estamos morrendo de saudades dela. - disseram chorando.

- Ela saiu só meia hora. - disse Ursão - Se não queríamos que ela fosse, então por que não a amarraram numa árvore?

- Nós não somos selvagens. - disse Nicolas.

- E ela daria um grande rugido na gente. - suspirou João.

- Até dar para ouvir o rugido dela. - chorou Nani.

Ouvimos de longe um grande rugido na floresta.

- Como esse? - perguntei pra ver se não estou ouvindo coisas.

- Sim... Esse rugido. - disse Ursão olhando para a floresta.

De novo ouvimos o rugido, só que foi se aproximando cada vez mais. Na entrada vimos muitas onças-pintadas entrando na aldeia e estão seguindo a...

- Clarisse?! - gritei vendo ela na forma tigresa humana e pulou em cima de mim.

Caímos juntos no chão, falei meio rindo e não acreditando que ela voltou.

- Por que voltou, não deveria estar indo para casa?

Ao invés de responder, ela beijou meus lábios e disse sorrindo:

- Já estou em casa.

Clarisse (Humanimal Tigresa)

3 meses depois

- Não e não. - gritou Laila arrumando meu cabelo. - É flores brancas, não vermelhas.

- Que confusão é essa? - entregou Tara bem linda e arrumada.

- Pergunte pra Laila. - falei suspirando.

- Essa morcega que quer me enlouquece. - rosnou Laila.

- Flores são flores, ninguém vai ficar notando só nas flores. - disse Jasiri segurando muitas flores vermelhas.

- Mas sim quando olharem a noiva. - disse Laila - Essa linda tigresa tem que está perfeita por seu grande dia.

- Querem me animar ou me deixar ainda mais nervosa? - perguntei quase entrando em pânico.

- Desculpe, Clarisse. - desculpou Laila acariciando meus cabelos - Viu que você fez, Jasiri.

- Olhe como falar comigo, você está falando com uma das madrinhas de casamento da noiva. - disse Jasiri.

- Eu também sou madrinha de casamento. - gritou Laila.

- Silêncio. - gritou Tara deixando elas quietas.

- Laila, trouxe as flores brancas. - veio Indira usando vestido azul claro.

- Obrigada, finalmente alguém me entender. - disse Laila pegando as flores. - Tara, pode pegar uma dos laços de cabelos na gaveta?

- Claro. - disse indo na gaveta.

- Olá, gatinha de gente. - Luna entrou gritando, usando simples vestido preto - Pronta pra deixar vida linda de solteira e entrar na vida muito complicada.

- Complicada?! - Tara se aproximou rosnando.

- Não, meu amor e meu coração. - gaguejou Luna - Sou muito feliz com minha querida esposa.

- Que bom, se não quiser ganhar outra cicatriz pra combinar com seu olho.

- Não falei? - sussurrou Luna perto de mim.

- O que disse? - perguntou Tara mostrando os dentes.

- Nada, minha querida.

- Olhar lá, lobinha. - riu Jasiri.

- Não se intromete, morcega chata. - rosnou Luna.

- Clarisse, ela está zombando de mim. - disse Jasiri como se fosse bebê chorando.

Não aguentei e ri como louca. Jasiri está virando uma boa amiga, mesmo sempre nos irritando.

- Garotas. - grito da Dona Alice nos assustou - Não me diga que a noiva ainda não está pronta, falta pouco tempo pra cerimônia.

- Viram, vão embora. - gritou Laila empurrando Luna e Jasiri pra fora da cabana - Meus ancestrais, essas mulheres ainda vão me matar.

- Desculpe. - riu Tara e olhou pra mim - Olha, será a noiva mais linda da floresta, está muito bonita.

- Estou?

- Está duvidando dos meus dons de beleza? - rosnou Laila.

- Claro que não.

Na janela entrou uma águia marrom e posou ao lado da Laila.

- Mensagem do Léo. - disse Laila bem animada, pegou a mensagem no bico da águia e já foi lendo - Léo e o grupo estão na Argentina expulsando os Sombrios das cidades, ele pede desculpa por não ir no seu casamento e está te desejando felicidades.

Nesses últimos meses, Léo e o grupo estão fazendo sucesso expulsando Sombrios e salvando muitas regiões do Brasil e até fora do país. Mesmo sabendo que fiquei na floresta, continua mandando cartas para Laila.

- Eu que escrevo pra ele? - perguntou Laila pra eu escreve uma mensagem para ele.

- Escreve que ele vai ganhar muitas surras quando estiver na minha frente. - falei meio rindo.

- Predadores. - suspirou Laila escrevendo a carta e entregou pra águia - Vamos logo terminar esse lindo cabelo.

Laila foi colocando flores no meu cabelo, enquanto Tara estava pintando listras pretas no meu rosto e Indira pintando meus braços e pernas.

- Tem certeza que não quer cobrir essa cicatriz? - perguntou Tara falando da cicatriz no lado esquerdo do meu rosto.

- Não quero esconder nada.

- Pronto. - gritou Laila - Olha que noiva mais linda do mundo.

Laila pulou de medo vendo um jovem onça-pintada macho entrando na cabana.

- Clarisse. - suspirou Laila - Mande ele sair, por favor.

- Sábio - o chamei, cada dia ele crescer muito mais - O que foi?

"Seus pais chegaram."

- Meus...

- Cla... - minha mãe entrou e paralisou quando me viu - Minha filha, você está muito linda.

- Isso mesmo. - disse Laila bem orgulhosa dela mesma.

- Aparecido, venha ver. - mãe o chamou.

Meu pai entrou devagar, olhou pra mim é poucos minutos depois ele gritou chorando:

- Minha princesa.

- Calma querido. - mãe foi consolando ele - Calma.

Tara ergueu o espelho e mostrou meu reflexo. Mostrando que estou usando vestido branco (simples, mas muito bonito), meu rosto pintada de listras pretas combinando com os meus braços e pernas, e meu cabelo está solto, cacheado e cheio de flores brancas.

- Essa sou eu mesma? - perguntei não acreditando.

- Claro que é você. - sorriu Tara segurando meus ombros - Raoni vai ficar boquiaberto.

- Garotas, está na hora... - entrou Ursão e ficou parado me vendo.

Não demorou muito, ele gritou chorando acompanhando meu pai.

- Ela está muito linda. - gritou Ursão chorando - Parece que foi ontem que ela era minha grande aprendiz.

- Parece que foi ontem que ela deu seus primeiros passos. - gritou o pai limpando as lágrimas.

- É um casamento, não funeral. - suspirou Tara.

- Vire essa boca pra lá. - disseram pai e Ursão ao mesmo tempo.

- Cadê a noiva? - gritou Dona Alice - Está na hora.

- Eita, vamos. - disse Tara me empurrando leve - Está preparada?

Está preparada, Agatha?

"Com certeza."

***

Fiquei ao lado do pai esperando minha entrada.

A cerimônia começou com as crianças jogando flores no caminho, depois vieram as minhas madrinhas de casamento desfilando, que são Tara, Azula, Laila e Jasiri.

Depois os padrinhos do Raoni, Cacique e o filho mais velho dele, Ursão e a Luna para acompanhar a Tara.

Finalmente está chegando minha vez e estou muito nervosa. Meu pai tocou meu ombro e conseguiu me acalmar.

A música tocando, andamos lado a lado em direção ao centro da aldeia. Ao redor fui vendo muitas pessoas olhando pra mim e sorrindo. Mamãe chorando ao lado da Dona Alice, crianças gritando meu nome e mulheres sorrindo pra mim.

Continuamos até onde está Raoni, corpo todo pintado de tinta dourada com listras laranjas, e vestido terno preto com mangas curtas.

- Ainda tem tempo de mudar de ideia. - sussurrou pai no meu ouvido.

- Pai. - rosnei baixo.

- Brincadeira.

Raoni se aproximou de mim, é bem devagar, meu pai entregou minha mão na mão do Raoni. Nos olhamos um tempo até Raoni finalmente dizer alguma coisa:

- Você... Está muito linda.

- Vamos começar? - perguntou Zaki.

Raoni e eu rimos baixo e ficamos na frente do Zaki.

- Estamos aqui reunidos, para unir esse jovem casal. - gritou Zaki - Que prometeram em nome dos nossos ancestrais e mostrando o grande amor que compartilham um por outro e fortalecer o laço que os unirem.

- Raoni, Humanimal Rei Leão e líder da aldeia dos Humanimais na Amazônia. - Zaki perguntou por Raoni - Você aceita Clarisse como sua esposa, promete amá-la e respeitá-la, até que a morte os separe?

- Aceito, prometo amá-la e protegê-la com todas as minhas forças. - disse Raoni tocando meu rosto. - Aceito como minha esposa.

- Clarisse, Humanimal Tigresa. - Zaki perguntou pra mim - Você aceita Raoni como seu marido, promete amá-lo e respeitá-lo, até que a morte os separe?

- Aceito, prometo amá-lo e sempre está ao seu lado para toda nossa vida. - falei firme e tocando no rosto do Raoni - Aceito como meu marido.

- Então pelos poderes e bênção dos nossos ancestrais. - gritou Zaki - Eu os declaro, marido e mulher.

Raoni se aproximou e eu fechei os olhos enquanto ele beijou os meus lábios. Ao nosso redor, todas as pessoas bateram palmas e gritaram:

- Viva o líder leão e sua esposa tigresa.

Finalizamos o beijo e segurou minha mão.

- Eu te amo, minha tigresa.

- Eu te amo, meu leão.

Assumimos nossa forma animal humana e voltamos a nos beijar. Causando mais gritos de alegria para o povo.

***

A festa de casamento começou muito tarde da noite, Raoni e eu começamos dançando sozinhos perto ao grande da fogueira. Aos poucos foram chegando mais casais e dançando acompanhando a música que os indígenas foram tocando.

- Sabia que sou o leão mais feliz do mundo?! - sussurrou Raoni no meu ouvido.

- E por quê? - perguntei.

- Porque tenho a esposa mais linda do mundo.

- Eu que tenho o marido mais forte e lindo do mundo. - ri ele me erguendo e me abraçando forte - Muito obrigada, por ajudar na viagem dos meus pais.

- Faço qualquer coisa por você.

- Qualquer coisa, mesmo? - perguntei beijando seu pescoço.

- Querida, desse jeito nós temos que sair escondidos da festa.

- Será?! - falei dando uma longa lambida.

- Eu avisei.

Ele pegou minha mão e me puxando entrando na floresta. Corremos com na nossa forma animal humana, e corri na frente me afastando dele.

Parei achando que tinha ganhado, até que do nada ele pulou em cima de mim e foi me beijando. Olhei por céu estrelado e lembrando que hoje é a primeira noite de lua nova.

- Desde aquela noite da batalha, não voltou mais a minha forma cidadã completa. - comentei.

- Acho é porque você virou uma Humanimal Tigresa completa. - disse deitando ao meu lado. - Agora não precisa mais se preocupar, se os Sombrios voltarem, te protegerei para sempre. Você e eu, nós dois vivendo juntos lado a lado.

- Você quis dizer... Nós três.

- Três?! - perguntou Raoni confuso.

- Você, eu... - peguei a mão dele e o levei pra minha barriga.

- Espere... - gaguejou Raoni - Sério?!

- Suspeitei nas últimas semanas, e ontem provei que tinha razão. - falei sorrindo - Estou grávida.

- Meus... Ancestrais. - Raoni sorriu e me deu ataques de beijos, e não tirou a mão na minha barriga - Clarisse, essa é a maior surpresa da minha vida.

- Mesmo já sendo pai? - perguntei acariciando seus cabelos.

- Sim, e muito melhor você sendo a mãe dos meus filhos.

- Saber que pode ser só um bebê dentro de mim.

- Mas esperar passar os últimos anos esperando os nossos filhos.

- Quantos filhos está planejando ter? - perguntei rindo.

- Quantos você quiser. - disse beijando meus lábios.

Nos beijamos e ficamos abraçados juntos. Olhei para o céu e fiquei muito feliz imaginando nosso futuro juntos com essa criança.