Raoni (Humanimal Rei Leão)

Ursão contou tudo que aconteceu nesses dias que desapareci, ainda não acredito que foram sete dias. A morte do Curandeiro, Zaki é sucessor dele, é bem raro os espíritos dos curandeiros escolherem alguém fora da aldeia, e confio muito na escolha dele.

Soube que Clarisse lutou contra a Ellen, que na verdade era a Samara disfarçada, bem que sempre desconfiei da mudança da personalidade da Ellen desde que chegou há dois anos. Desde da infância, Ellen era muito gentil, se importava mais com as pessoas do que ela mesma, por isso que meu pai achou que ela seria uma boa esposa pra mim.

Segurei pelo colar com uma pedra dourada quebrada, onde estava a alma da Ellen, Clarisse me deu depois que contou sobre a Ellen. Olhei pelo desenho de leoa no braço esquerdo dela, mostrar que a alma leoa da Ellen virou a alma familiar da Clarisse.

Essa Ellen, mesmo morta, sempre faz de tudo pra ajudar alguém.

Fiquei bravo comigo mesmo por nunca notar que era uma Sombria disfarçada, sempre achei que Ellen estava estressada por causa das batalhas e nunca ficar muito tempo com ela.

Mas estou aliviado que a alma da Ellen está livre e ajudou a Clarisse.

***

Depois de um tempo descansando, na hora que está quase anoitecendo, todas as pessoas da aldeia, clã dos lobos e povo indígena foram até a Árvore dos Guerreiros. Essa árvore nós marcamos os nomes dos nossos guerreiros e guerreiras que morreram no campo de batalha, pra eles sempre serem lembrados pela força e sacrifício que fizeram pelo lar deles.

Aproximei da árvore e toquei onde está o nome do meu pai, morreu anos atrás quando os Sombrios tentaram atacar os povos da floresta. Respirei fundo, olhei pra cada pessoa olhando pra mim, olhei pra Clarisse ao lado dos pais dela, falei firme e alto:

- Estamos aqui pra marcar os nomes dos nossos bravos guerreiros e guerreiras que morreram defendendo o nosso lar, sacrificaram pela floresta, nossos povos, e suas famílias. - toquei na árvore - Marcamos os nomes deles para honrá-los, e que os espíritos dos nossos ancestrais guiem as almas deles.

As pessoas próximas dos falecidos fizeram uma única fila e cada um foi marcando os nomes. Luna pediu pra marcar o nome do pai e deixei por ele ter sido um grande aliado e salvou a vida da Clarisse e Luna.

Pela minha surpresa, Clarisse se aproximou da árvore e usou as próximas garras escrevendo um nome, aproximei e me surpreendi vendo que ela marcou o nome da Ellen. Ela tocou no nome e disse olhando pra mim:

- Que os ancestrais guiem a alma dela.

Ela se afastou e a chamei:

- Clarisse, está esquecendo uma pessoa.

- Quem? - perguntou confusa.

- Ele morreu há muito tempo. - falei entregando minha adaga - Mas ele merece por te salvar.

Clarisse olhou e sorriu entendendo quem estou falando.

- Pai. - ela chamou o Aparecido e colocou a adaga na sua mão - Você é teve escrever o nome dele, afinal... Tio Manuel me salvou no incêndio e eu não estaria aqui se não fosse ele.

- Tudo bem mesmo? - perguntou Aparecido pra mim.

- Claro, ele merece. - assenti.

Aparecido se aproximou da árvore e escreveu o nome do tio da Clarisse. Depois ele chorou tocando no nome e Clarisse chorou junto, olhou pra mim e agradeceu.

Afastei pouco olhando mais uma vez para a árvore e agradeci mentalmente para as almas dos guerreiros, agradecendo os ancestrais que nos ajudaram na batalha, principalmente o Tupã, que confiou a mim pra herdar um dos poderes dele.

Agora sei a minha verdadeira linhagem de líderes e vou honrar muito isso.

Clarisse (Humanimal Tigresa)

Depois que encerramos a cerimônia em volta da Árvore dos Guerreiros, andamos voltando para a aldeia. Fiquei andando ao lado dos meus pais, meu pai ainda está chorando pelo Tio Manuel e minha mão dando as mãos nele.

Atrás de nós vi a Luna e Tara andando ao lado a lado, ainda tenho dificuldade olhando pelo rosto da Luna, principalmente pela cicatriz que fiz no rosto dela, mesmo que foi a Tigresa Negra, sinto uma culpa.

- Gatinha de gente. - Luna me chamou e segurou meu rosto pra olhá-la - Não achar que não notei que está evitando de me olhar, ainda nos deve uma grande explicação pra nós.

Esforcei pra não olhar pra cicatriz.

- Por que está evitando de me olhar? - perguntou Luna impaciente.

- Por que... - falei começando a chorar - A maldição pode está quebrada, mas... Essa cicatriz no seu rosto...

Do nada Luna me deu um tapa bem forte no meu rosto.

- Não acredito que ainda se culpe por algo que não quis, e daí que tenho essa cicatriz? - gritou forte - Você ganhou essa cicatriz grande no seu lado esquerdo, estamos quites, então pare de ficar se culpando, entende logo de uma vez.

Ajoelhei e perguntei chorando ainda mais:

- Como ainda consegue não ficar com medo de mim?

- Por que eu teria medo da minha melhor amiga?

Aquelas palavras foram como tiro no meu peito, levantei limpando minhas lágrimas e falei meio sorrindo:

- Que bom saber que tenho essa loba fedida como melhor amiga.

- Ora, gatinha de gente. - disse fingindo que está ficando brava - Olhar como falar com a nova alfa do Clã dos Lobos.

- Alfa?! - falei meio rindo - Mesmo sendo uma loba fraca que nunca consegue vencer.

- Ah é?! - rosnou e pulou em cima de mim.

Caímos juntos no chão e ficamos sujas de terra tentando nos empurrar uma à outra.

- Clarisse. - disse minha mãe preocupada.

- Não se preocupe, elas são assim mesmo. - riu Tara e se aproximou de nós - Já chega.

Tara deu socos nas nossas cabeças e nos afastamos com uma fraca dor nas nossas cabeças.

- Nossa amor. - choramingou Luna - É assim que tratar sua futura esposa?

- Então tem que se acostumar com isso. - disse Tara escondeu seu rosto.

Meus ancestrais, o que foi que fiz pra ter grandes amigas como elas?

- Vamos, gatinha de gente. - disse Luna me ajudando a se levantar - Vencemos a batalha e expulsamos os Sombrios da floresta, temos que comemorar.

Levantei meio rindo, fui indo até que senti um cheiro familiar e não acreditei quem está perto.

- Vão na frente. - falei para as garotas e meus pais - Eu quero caminhar um pouco mais.

- Filha... - minha mãe ia dizer algo até que o pai olhou pra ela e sorriu, entendendo o sinal, ela suspirou - Está bem.

- Não vai muito longe, e qualquer coisa nos chame. - disse Tara.

- Ok. - falei e andei meio correndo.

Rapidamente segui a trilha do cheiro e me levou até o Lago dos Espíritos, no começo olhei em volta o procurando, o encontrei na margem e olhando para o lago.

- Sabia que você verei. - disse rindo.

- Claro, Shiva.

Aproximei vendo que o corpo direito dele todo queimado e derretido até no osso.

- Que bom que veio. - disse Shiva - O tempo desse corpo está chegando no fim, está na hora de eu voltar para o mundo espiritual.

A missão dele foi cumprida, finalmente a alma dele pode descansar e ser livre.

- Shiva, muito obrigada por tudo. - agradeci.

- Clarisse. - disse segurando meu ombro - Eu que tenho que agradecer, quebrou a maldição que minha amada se esforçou tanto pra quebrar. Agora a futura linhagem dos Humanimais Tigres está salvo, graças a você.

Na nossa frente o lago de repente brilhou e a água foi ficando laranja, no meio do lago surgiu algo se aproximando de nós. Vimos muitos espíritos tigres saindo do lago, nos cercando e nos encarando.

Um tigre bem maior que os outros se aproximou de mim e o corpo dele foi mudando, se formando num corpo humano e fiquei boquiaberta o reconhecendo.

- Ricardo.

"Sim, minha descendente do meu querido filho.", disse Ricardo falando mentalmente.

"Parece que deu muito certo, como dizia a profecia dos tigres."

- Aquele profecia que os Humanimais...

"Não aquela profecia, tem uma profecia que só Humanimais Tigres sabiam."

Deusa Tigresa criada pela Tigresa Branca, terá uma previsão da extinção dos tigres

Batalhas contras sombras e uma terrível maldição

O filho do último tigre sobreviverá

E nascerá uma descendente com a tigresa da deusa

Que salvará a nova geração da linhagem dos tigres.

- Espere... Por isso que selou a manifestação da alma tigre.

"Isso, por isso que mandei meu filho pelo mundo dos cidadãos para ficar seguro longe da floresta e longe no mundo dos Humanimais."

"Para que chegue algum descendente que será a salvação como diz a profecia."

Ficou bem perto de mim e me abraçou, senti sua energia pura e suave. Ficamos parados até que ele se afastou pouco e disse sorrindo:

"Fico muito feliz pelo meu filho e os descendentes dele sobreviverem, e mais ainda que salvou as almas tigres que foram corrompidas pela maldição."

Olhei para os tigres e todos se curvaram pra mim.

"Agora podemos ficar tranquilos para nossa futura geração dos Humanimais Tigres, somos eternamente gratos à você."

- De nada, fico muito feliz em tê-los ajuda-los. - falei sorrindo.

"Não só nós que estamos agradecidos."

Atrás dele apareceu um espírito humano de um homem, e não acreditei vendo que ele é...

- Tio Manuel. - corri até ficar bem perto dele.

"Minha sobrinha favorita.", disse sorrindo.

"Fico feliz que está bem."

- Tio Manuel... - falei limpando minhas lágrimas - Me desculpa por...

Ele tocou no meu rosto pra eu não falar mais nada.

"Não se desculpe, mais importante que você está viva."

Chorei mais ainda e ele me abraçou.

O brilho do lago chamou nossa atenção e alguns tigres foram voltando para dentro do lago.

"Está na hora de voltarmos para o mundo espiritual.", disse Ricardo.

"Clarisse, minha querida sobrinha, tenha uma longa vida cheia de felicidades.", disse Tio Manuel sorrindo pra mim e indo em direção ao lago.

"Você e seus descendentes terão a proteção dos ancestrais Humanimais Tigres, sejam sempre fortes e corajosos.", disse Ricardo seguindo o Tio Manuel.

- Clarisse... - Shiva se aproximou e beijou minha testa - Agatha e você, se cuidem muito bem. Assim como Agatha cuidou da minha amada, Parvati.

"Com certeza, senhor.", disse Agatha mentalmente.

Shiva seguiu os espíritos e foi andando até no centro do lago, assim que todos entraram a água do lago se formou em muitos tigres pulando e no final veio um grande espírito boi branco pulando para dentro do lago.