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Capítulo 42: O Opala Preto

— Hoje faz duas semanas que você veio para cá, e foram os dias mais difíceis da minha vida. A boa notícia é que o Felipe e a Roberta estão investigando os caçadores e descobriram que os Castellani vão fazer um ritual para fechar o portal do paranormal. Gustavo conseguiu se transformar mais vezes, ele parece um filhotinho quando se transforma, mas é tão corajoso quanto você. É realmente diferente que ele tenha concluído o ciclo antes dos dezesseis, sua mãe disse que era raro, mas imagino que ele tenha um propósito. — Começo a falar, usando um tom calmo e leve, pois queria transmitir apenas energias boas para Clarissa. — Amanhã vou voltar para a escola. Depois que quebramos a maldição, a cidade demorou um pouco para voltar ao normal. Vanessa e eu até pensamos em fazer um tipo de hipnose coletiva, mas vamos tentar outra abordagem. Vamos incentivar a população de Três Luas a lutar contra o medo.

— Continue falando, ela está te ouvindo. — Ouço a voz serena de Hécate ao meu lado, e seguro a mão de Clarissa.

— Os médicos disseram que você está reagindo bem e que logo você vai para outro quarto. Estamos todos torcendo por você, Clarissa, e eu estou dando meu melhor para quando você acordar, ver que tudo valeu à pena. Vou lutar pela cidade, mas principalmente, vou lutar por você. — Termino de falar, fazendo um leve carinho na sua mão.

— Foi ótimo. Isso irá ajudá-la espiritualmente. — Hécate diz, se aproximando da cama e tocando a testa de Clarissa. — É importante que ela se sinta segura para quando retornar.

— Obrigada por ter me acompanhado. — Agradeço, me levantando da cadeira.

— Se eu pudesse, eu a traria de volta. Mas infelizmente, certas coisas não estão ao meu alcance. — Ela diz, me olhando nos olhos. — Fique bem você também, e saiba que nunca estará sozinha.

Em um piscar de olhos, a deusa desaparece como fumaça, deixando apenas Clarissa e eu. Suspiro pensativa, ficando mais um pouco com a garota e saindo do quarto assim que meu tempo de visita termina. Antes de voltar para casa, passo na casa da família da Clarissa para ver como os irmãos estavam.

Após a longa caminhada, chego ao topo da colina e vejo Felipe e uma figura em forma de lobo no quintal. Me aproximo, vendo que era o terceiro dia que Gustavo estava transformado e não conseguia voltar a ser um garoto.

— Ele ainda não conseguiu voltar? — Pergunto segurando o riso, pois era uma situação engraçada.

— Que nada! Acho que ele gostou da transformação. — Felipe responde com uma risada e Gustavo emite um som de choro. — Calma, maninho. É assim mesmo, os primeiros dias são complicados.

— Não tem nada que possa fazer para ajudar? — Questiono com um pouco de pena, e me aproximo de Gustavo e faço carinho na sua pelagem como se ele fosse um cachorro.

— Não. Isso é por causa da lua cheia, quando nossa transformação assume o ápice. E por ele ser novo e ter tido uma transformação precoce, vai ser um pouco difícil nas primeiras semanas, então não sabemos exatamente quando ele vai conseguir voltar a ser humano. — Felipe explica, colocando as mãos na cintura. — Como a Clarissa está?

— Ela vai ficar bem. — Respondo confiante, pois o alívio foi saber que agora Clarissa estava fora de perigo, mas não sabíamos ainda quanto tempo levaria sua recuperação ou quando ela iria acordar do coma. — E quanto aos caçadores? Tem alguma novidade?

— Roberta está tentando recuperar os arquivos do notebook. — Felipe responde. — Achamos que todas as informações vinculadas aos Castellani estão lá. Talvez o ritual que eles querem fazer para fechar o portal também, além de uma lista de seres sobrenaturais que eles caçaram.

— E qual é o plano? — Pergunto interessada, vendo Gustavo brincar com um pedaço de galho.

— Entregar tudo para a Polícia Federal. — Arregalo os olhos com sua afirmativa. — Vamos omitir todo o paranormal que conseguirmos, e vincular à eles a morte de dezenas de pessoas envolvidas com o sobrenatural. Bruxas, elementais, guardiões da natureza, feiticeiros, vampiros, metamorfos.

— Será como se eles tivessem matado apenas pessoas, não seres sobrenaturais. — Concluo pensativa, achando a ideia genial. — Eu ainda sou a favor de jogar uma bomba em todo mundo.

— Eu também, mas não podemos nos igualar ao mesmo mal que eles. Além disso, ainda são a família da Roberta, mesmo sendo totalmente diferentes. — Ele diz, e eu dou de ombros. Pouco me importava.

Depois de mais um tempo conversando, me despedi e fui para casa. Desde que quebramos a maldição dos demônios, minha mãe, Lucas e Cecília voltaram para nossa casa. Conversamos sobre tudo o que aconteceu, e concluímos que no momento, o melhor que podemos fazer é ficarmos juntos. Assim que cheguei em casa, fui direto tomar banho e trocar de roupa, pois ainda estava cedo. Hoje é o primeiro dia de aula depois do acontecido, apenas alguns dias antes das férias de julho. Coloco o uniforme e caminho pela rua, seguindo o caminho o qual eu confesso que senti falta de fazer.

Ao meu lado, vejo um carro parar. Era Vanessa, que abaixou o vidro da janela e me olhou alegremente.

— Entra aí, agora estudamos juntas. — Ela diz, e eu não me surpreendo nem um pouco.

Aceito a carona e entro no carro, pois, no dia que fui até o Instituto enfrentar a lenda da Pisadeira, acabei deixando minha bicicleta lá e alguém roubou. Vanessa usava um uniforme como o meu, e logo começa a dirigir em direção à escola, chegando em menos de dez minutos. Desço do carro e caminho pelos corredores, percebendo como os alunos estavam assustados e conversando sobre os últimos acontecimentos entre si.

— Como podemos convencer eles de não ficarem com medo? — Sussurrei para Vanessa, e ela deu de ombros.

— Eu pensei em usar as redes sociais para isso. Eu vi seu TikTok antigo, suas dancinhas eram muito engraçadas e viralizavam. — Ela diz rindo e eu dou um leve empurrão nela, me sentindo constrangida só de lembrar. — Mas é sério, podemos promover movimento de incentivo, e você é a pessoa ideal para isso. Eles te conhecem por ser uma Caça Lenda, apesar do Rodrigo e da Xaiane.

Assim que Vanessa cita os dois, coincidentemente os vejo virar o corredor e levarem um leve susto quando veem Vanessa e eu. Rodrigo cochicha algo para Xaiane, e logo os dois começam a andar na nossa direção. Vanessa se afasta sutilmente, e em um instante a perco de vista. Era melhor assim, pois não doeu tanto nela quanto doeu em mim, ver a traição dos meus melhores amigos.

— Oi, Stefany. — Xaiane diz um pouco sem jeito. — Como você está? Nós ficamos preocupados.

— É sério que vocês ainda perguntam? — Questiono afrontosa. — Sua família tentou me matar, vão tentar me matar também?

— A gente nunca faria isso. — Rodrigo responde, mas eu finjo que não escutei. — Podemos conversar?

— Tentamos mandar mensagem para você e para a Clarissa, mas ninguém respondeu. — Xaiane insiste, e eu dou as costas para ir para a sala de aula. — Não estamos do lado dos caçadores, Stefany. Estamos do seu lado. Sempre estivemos.

— Sempre? — Pergunto explodindo e olho os dois, segurando o choro de raiva. — Por que quando os Castellani me atacaram no celeiro vocês não fizeram nada? Sua avó, seus pais, seu tio, a vadia desgraçada da Hanna!

— Porque foi um choque saber como a minha mãe morreu! E você queria que fizéssemos o que? Não temos poderes como você, muito menos sabemos usar armas. Você viu o que aconteceu com a Roberta, eles não iriam poupá-la! — Rodrigo tenta explicar, mas seu tom de voz sai alto e as pessoas começam a olhar na nossa direção.

— Fingir que ficamos do lado deles foi a melhor opção, para nós e para você. — Xaiane diz tranquilamente, tentando se aproximar de mim. — Sabemos os planos deles e sabemos como isso irá afetar você, a Clarissa e a Vanessa.

— A Clarissa está em coma, e tudo o que eu mais quero é matar a família de vocês. Não é melhor momento para terem piedade de mim. — Digo firme, e ambos pareceram chocados quando citei o estado de Clarissa.

Dou as costas e saio de perto antes que eles digam mais alguma coisa, e eu estava prestes a explodir. Era um misto de raiva, tristeza e vingança, e a emoção estava me dominando mais uma vez. Rodrigo e Xaiane podiam falar o que fosse, mas eu não ia voltar atrás e nada me faria mudar de ideia. Vou para sala e encontro Vanessa lá, e nós duas nos sentamos nas cadeiras lá do fundo.

— Você não faz nenhuma atividade. — Ela comenta, fuxicando meu caderno e encontra uma prova de química a qual eu tirei um e meio. — Você precisa de ajuda? Continuando assim você vai repetir.

— Eu não tenho conseguido estudar. — Afirmo preocupada, mesmo sabendo que havia problemas maiores. — É tudo tão difícil entender. Ainda mais matemática, física e química!

— Tudo bem, eu vou te ajudar. — Vanessa diz, e logo começa a me explicar o conteúdo para os testes da semana que vem.

• • •

Mais tarde, quando a noite caiu, Vanessa e eu marcamos de nos encontrar para treinar. Como orientado por Hécate, a prática aos nossos poderes nos levaria à dominância da luta. Decidimos que nosso treino seria em um terreno abandonado, perto da mansão onde investiguei o caso da Maria Sangrenta.

Entro no carro e Vanessa logo começa a dirigir. As ruas estavam vazias e desertas, pois as pessoas ultimamente se recusavam a sair durante a noite. O carro era um Renault Sandero prata, e o rádio tocava uma música baixa do Vitão.

— O Rodrigo e a Xaiane falaram que estavam do meu lado, mas que precisavam fazer a família deles acreditarem que estavam do lado deles. — Começo a falar, na esperança de Vanessa dar uma opinião válida sobre isso, considerando que eu pensei na nossa discussão praticamente o dia todo.

— Eu sei, eu estava ouvindo escondido. — Ela responde e eu a encaro irritada.

— Sua fofoqueira! Mas o que você acha disso?

— Eu não sei, Stefany. Eles sempre pareceram gostar muito de você, mas eu não estava no celeiro naquele dia, então não sei o que você passou. — Ela afirma com sinceridade, e eu percebo que a garota olhava pelo retrovisor várias vezes. — Tem um opala preto nos seguindo a quatro quarteirões.

— Deve ser coincidência. Para o carro e deixa ele passar na nossa frente. — Sugiro, olhando pelo espelho o carro a uns metros atrás de nós.

Assim como indicado, Vanessa começa a desacelerar, mas o Opala acelera mais ainda. Vanessa pisa no acelerador e começa a pilotar, e por via das dúvidas, coloco meu cinto de segurança.

— Será que é a Hanna ou algum caçador? — Ela pergunta assustada, praticamente em uma fuga pelas ruas.

— Vanessa. — Chamo a atenção da garota, tentando enxergar quem era o motorista do Opala. — Acho que não tem ninguém dirigindo o carro.

— Como é que é?! — Ela questiona confusa e perplexa. — Vai me dizer que é o espírito do Paul Walker?

— E se for uma lenda urbana? Eu acho que me lembro de ter visto um vídeo disso no TikTok uma vez, mas não prestei atenção. — Falo pensativa, batendo a cabeça no vidro da janela quando o Opala bate com força no nosso carro.

— Se realmente for uma lenda, onde deve estar o emblema? — Vanessa questiona em meio ao desespero e à adrenalina, mas pensar não era muito comigo.

— Minha sugestão é que esteja no próprio Opala. Mas isso é o que vamos descobrir. — Respondo, e antes de Vanessa falar mais alguma coisa, me teletransporto para cima do Opala.

Sinto o vento balançar meu cabelo e me seguro, deixando o meu corpo acelerar na mesma velocidade que o carro. Crio uma bola de fogo e jogo no vidro da frente, quebrando-o e entrando no carro, sem me importar se os cacos tivessem perfurando minha pele. Havia um homem e uma mulher no banco de trás, ambos com as mãos e as pernas amarradas e com as bocas amordaçadas. Procuro pelos bancos e porta luvas o emblema, e não foi muito difícil achá-lo debaixo do tapete na parte do passageiro. Incendeio o emblema com uma conjuração rápida de fogo, e pouco antes do Opala desaparecer no ar, levo o casal através do teletransporte para a calçada.

Suspiro aliviada, ainda com a adrenalina passando pelo meu corpo. Vanessa para o carro ao nosso lado e me ajuda a soltar o casal. Olho ao redor, ainda confusa com o que havia acontecido.

— Precisamos pôr o plano em prática o mais rápido possível! — Vanessa afirma ofegante e eu concordo.

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