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Capítulo 32: Cidade do Medo

Ainda sem entender toda aquela história de irmão gêmeo da Vanessa, percebo uma onda de energia vibrando ao redor dele, como se fosse uma bomba nuclear prestes a explodir. Empurro Vanessa para o lado e crio uma barreira de plasma ao nosso redor, poucos segundos antes de sentir a pancada.

— Como o seu irmão morto está aqui?! — Pergunto perplexa, vendo como o garoto estava fortemente energizado.

— Eu não faço ideia! — Ela responde, e eu logo consigo ver um plasma rosa nas suas mãos.

Vanessa ataca Dante, que desvia do seu golpe e revida com uma bola de fogo negra e atinge Vanessa, que é arrastada para trás. Ele olha para mim e dá um sorriso sádico, e de repente, percebo que Vanessa estava me enganando esse tempo todo e que na verdade Dante veio para me salvar.

— ELE ESTÁ MEXENDO COM VOCÊ! — Ouço o grito de Vanessa atrás de mim, mesmo que estivesse difícil de ouvi-la devido à tempestade.

Percebo que não estava usando o colar que Clarissa havia me dado, o que me deixou vulnerável aos poderes mentais. Bufo com raiva e faço minhas energias se conectarem às da natureza ao nosso redor, e logo posso sentir o chão tremer embaixo de mim. Uma rachadura se forma, fazendo Dante cambalear, mas poucos segundos antes dele cair dentro da cratera, percebo seu corpo levitando.

— O que você quer de nós? — Pergunto firme para o homem, poucos metros distante de mim.

— De você? Ah, não quero nada de você, bruxinha. No momento, a única coisa que quero é meu poder de volta, o poder que minha adorável irmã tirou de mim. — Disse o passivo-agressivo, encarando Vanessa com um sorriso cínico. — Como eu sou uma pessoa de bom coração, vou te dar a chance de não se meter nessa briga e ir embora. Afinal, minha irmãzinha já te prejudicou antes, certo? Considere um acerto de contas por você também.

Eu o matei porque ele perdeu o controle dos poderes e estava fazendo um caos na vida de todo mundo ao redor dele.

Levanto uma das sobrancelhas e olho Vanessa. Ela estava em silêncio, mas eu jurei que ouvi sua voz bem dentro da minha cabeça. Aquilo é uma conexão telepática ou eu estou ficando louca?

Então ele não deveria estar morto?

Acho que ele atravessou o portal que abrimos. De volta à vida, com certeza ele irá ajudar o culto do medo a trazer de volta o Altharion. — Vanessa diz, ainda telepaticamente. — Não vamos conseguir lutar. O poder dele é muito forte.

Então vamos dar o pé daqui senão vamos levar uma surra! — Respondo mentalmente, e logo vejo Vanessa criar um portal à nossa frente e me puxar para dentro.

Segundos depois estávamos no meu quarto. A chuva ainda caía fortemente lá fora, mas estávamos seguras por enquanto. Vou até o armário e pego duas toalhas limpas, entregando uma para Vanessa e me secando com a outra. Enquanto Vanessa vai até o banheiro trocar de roupa, puxo o colchão ao lado do guarda-roupa e o jogo no chão, jogando um lençol por cima e um cobertor cheio de poeira.

— O que vamos fazer agora? — Pergunto.

— Assistir Barbie e fazer chocolate quente? — Ela pergunta e eu reviro os olhos.

— Eu quero saber o que vamos fazer em relação ao seu irmão psicopata e ao culto do medo. — Respondo tentando soar o mais objetiva possível.

— Ah, sim. Bom, eu não sei. — Vanessa dá de ombros. — Mas temos que pensar com calma. Podemos nos reunir amanhã com o rosto do grupo e ver o que fazer.

A garota deita no colchão e se cobre. Querendo ou não, Vanessa fazia parte do nosso grupo e era uma peça essencial para derrotarmos Altharion. Ela não costumava demonstrar os próprios sentimentos, mas deu para notar o quanto ela ficou abalada quando viu o irmão. Suspiro e apago a luz do quarto, indo até o banheiro e trocando a roupa molhada. Volto para o quarto e me deito na cama, logo pegando no sono.

• • •

No dia seguinte, acordo cedo com o despertador tocando. Levanto da cama e vou até o banheiro, faço minhas necessidades higiênicos e coloco o uniforme escolar. Vejo Vanessa se espreguiçar e resolvo não acordá-la, afinal, ela não estuda no Jesus Amado. Desço a escada já com a mochila nas costas e vejo minha mãe sentada na mesa tomando café.

— Bom dia, filha! — Me aproximo da mais velha e lhe dou um beijo na testa. — Meu amor, tome cuidado na rua, okay? Está previsto mais uma tempestade. A chuva que teve veio com força e alagou vários pontos da cidade! Uma árvore caiu em cima dos fios também e deixou tudo lá para o outro lado sem luz.

— Que horror! — Respondo assustada com tamanho desastre que ocorreu na noite em que Dante voltou dos mortos.

— Pois é, estão todos com muito medo. — Ela dá mais um gole do café e me encara. — Ricardo falou que talvez nem tenha aula hoje, então acho melhor você nem sair.

— Não, não. Vou ver como o Rodrigo e a Xaiane estão. — Respondo aflita e minha mãe me encara preocupada.

— Está tudo tão estranho. Vários desaparecimentos na cidade, essa tempestade de agora, a prefeita querendo demitir os funcionários da prefeitura, tão até falando que tem uns bandidos invadindo casa para roubar por aí. — Ela diz como se estivesse apavorada só de falar. — Estão falando que isso pode ser o fim dos tempos! A mesma vidente que previu a queda daquele meteoro em 2021 disse que em agosto vai ter uma chuva de sangue e que os mortos andarão sobre a Terra! Tá repreendido!

— Espera, que vidente? — Questiono interessada, ligando cada vez mais os pontos de que havia mais medo espalhado do que só quando as lendas urbanas estavam à solta. A história do medo em Três Luas está se repetindo.

— Sei lá, recebi no zap. — Ela responde e eu suspiro, mais uma vez voltando à estaca zero.

— Daqui a pouco eu volto. Ah, a Vanessa dormiu aqui porque... bom, porque ela estava sozinha em casa e a pobrezinha tem medo de trovão. — Aviso, inventando qualquer coisa e saindo de casa com pressa.

Lembro-me imediatamente que eu havia deixado minha bicicleta no instituto, mas não tinha tempo de voltar para buscar. Enquanto começo a caminhar pela rua na direção da escola, envio uma mensagem para Xaiane perguntando onde eles estavam. Ela responde que está na escola e que vai ter aula, mas que quase todo mundo faltou.

Observo o cenário desastroso ao meu redor. Apesar da água ter abaixado, pude perceber as marcas que ficaram nas casas. Passei por muitas pessoas, e a maioria possuía um olhar vazio e assustado, não como uma pessoa normal, mas parecia que o medo havia se intensificado em um nível extremamente alto.

— Se você falasse que estava sem bicicleta eu teria te buscado.

Vejo uma moto parar ao meu lado e logo Clarissa tira o capacete. Me aproximo dela e tento não fazer minha típica expressão de maluca como sempre.

— Ontem eu tive uma paralisia do sono depois da festa e aí a Pisadeira veio mas a Wandinha me salvou e eu sonhei com um orfanato e chegando lá a Vanessa estava lá e aí fizemos uma viagem astral mas um fantasma nos ajudou e derrotamos a Pisadeira só que então começou a chover MUITO forte e um cara encapuzado apareceu no quintal do orfanato e aí eu descobri que era O IRMÃO GÊMEO DA VANESSA e que ela tinha matado ele e aí tivemos que fugir porque ele é muito forte e agora a cidade toda está coberta por uma névoa de medo que vai se intensificar cada vez mais e eu não sei como resolver isso, eu só quero me matar! — Desabafo tudo de uma vez e Clarissa me encara perplexa, tentando associar tudo o que saiu da minha boca.

— Tudo bem, respira. — Clarissa diz, descendo da moto e caminha até mim. — Vamos resolver isso.

— Ei, meninas! — Ouço a voz do Rodrigo e o vejo se aproximar pela calçada, ao lado de Xaiane. — Não vai ter aula. Querem usar a escola para abrigar os desabrigados pelas enchentes.

— A gente precisa conversar! — Aviso, me aproximando deles e segurando firme os ombros da Xaiane. — O culto do medo... a cidade... o gêmeo da Vanessa...

— É, é. A gente já sabe. — Xaiane diz tirando minhas mãos dos ombros dela. — A Vanessa acabou de nos comunicar.

— Meu tio quer conversar conosco na loja, talvez seja do seu interesse. — Rodrigo me avisa. — Tem certeza que você está bem?

— Não, ela não está bem. — Clarissa responde antes de mim. — Então tentem não se envolver em problema hoje, tudo bem?

— Só Deus sabe, né minha filha. — Rodrigo responde para Clarissa. — De qualquer jeito, temos que ver logo o que fazer. Vamos marcar outra reunião hoje a noite na Geek Store, esteja lá.

— Tanto faz. Vou ajudar meu pai com o trabalho voluntário dessa enchente. — Clarissa diz e se aproxima de mim, me abraçando e logo voltando para sua moto. — Se precisarem, não me procurem.

E logo ela sai pilotando pela rua cheia de lama e lixo, e também notei alguns móveis molhados que as pessoas estavam jogando na rua. Olho para Xaiane e Rodrigo, que olhavam piedosos para aquela cena, e então começamos a caminhar no canto da calçada até a Geek Store. Expliquei com mais detalhes tudo o que aconteceu na noite anterior, e pelo visto nossos problemas estavam apenas começando.

Quando chegamos na loja, abro a porta e vejo a tia Roberta na recepção, pois era ela quem ficava lá pela parte da manhã e da tarde. Distraída com o celular, a mulher percebe nossa presença e sorri para nós.

— Olá, crianças. Como vocês estão?

— Perto de uma parada cardiorrespiratória, mas bem. — Respondo.

— Oi, tia Roberta! Onde está o tio Jonathan? — Rodrigo pergunta, largando a mochila em cima de uma das cadeiras.

— Está lá atrás. Ele pediu para irem até lá quando chegarem. — Ela diz, e então seguimos para os fundos da loja, passando por uma porta que nos levava até a dispensa.

Aquela era uma parte da loja que tínhamos muito pouco acesso. Havia apenas uma pilha de caixas e um armário velho, além de uma porta trancada que eu achava que não servia para nada, até ver Jonathan sair dela. Arregado os olhos ao vê-lo segurar uma carabina.

— Não tenham medo, é de coleção. Afinal, como caça lendas, vocês irão precisar aprender. — Tio Jonathan diz, parecendo se divertir com nosso medo. — Chamei vocês aqui porque acho que está na hora de aprenderem alguns truques.

Ele se vira e entra na sala ao outro lado da porta, e mesmo apreensivos, decidimos o seguir. Havia uma escada que levava para uma espécie de porão, e ao descer, dou de cara com uma sala pouco iluminada, cujas paredes eram repletas de prateleiras cheias de armas de diferentes tipos.

— Então é isso que você esconde! — Xaiane diz chocada e coloca a mão na boca. — Esse é o negócio por trás da faixada da Geek Store!

— Eu precisava dar um jeito de esconder isso aqui. — Ele respondeu orgulhoso. — Vão, escolham uma!

— Mas não é só queimar o emblema do temor? Para que precisamos de armas de fogo? — Rodrigo questiona ainda confuso e eu dou um leve tapa na sua cabeça.

— Nunca assistiu Supernatural, seu cabeçudo? Eles usavam armas com bala de sal para acabarem com a raça dos espíritos! — Respondo como se fosse óbvio.

— As lendas urbanas não são nada em comparação com o que existe por baixo dos panos de Três Luas. Demônios, principalmente. Estão por todo lado, influenciando tudo e todos e causando caos e destruição, e não digo isso apenas pela cidade, e sim ao redor do mundo inteiro. — Jonathan diz seriamente, enquanto eu e Xaiane passamos os olhos por algumas das armas penduradas na parede.

— O orgulho do Renato Garcia. — Sussurro como piada, mas ninguém ri.

Ouço um telefone tocar e percebi Jonathan atendendo. Aos poucos sua expressão muda, o que nos preocupa. Ele responde o telefonema apenas com palavras monótonas, "sim", "não", "tudo bem". Assim que ele desliga a ligação, pude notar seus olhar mudar totalmente.

— O que aconteceu? Quem era? — Rodrigo preocupa preocupado.

— Meu pai, o avô de vocês, faleceu essa madrugada. Precisamos ir para Miguel Pereira o mais rápido possível.

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