➳❥ O2
Ele retornou no dia seguinte, muito diferente do que havia dito a diretora da escola e ao seu advogado. Bem diferente do que disse a si mesmo na frente do espelho, pois só de pensar em ter que encarar Megan e seu nariz em pé outra vez sentiu o sangue ferver em suas veias. Afinal de contas, quem ela pensava que era para trata-lo daquela forma? Como um qualquer? Rosnou com a sua audácia, a grosseira. E mesmo assim retornou.
Não só no dia seguinte, mas na semana seguinte. E no mês subsequente. Seo Joon lhe assegurou que as coisas iriam melhorar entre ele e a diretora, que eles logo passariam a ter uma convivência minimamente tranquila, até porque ele tinha dezoito meses de serviço comunitário para completar ainda.
Dois meses a dentro e ele alcançou o que disse ser o seu limite enquanto lava um dos banheiros da ala das borboletas — onde as crianças de até dez anos ficavam — e Megan entrou para inspecionar seu trabalho. O homem poderia jurar com todas as suas forças que ela fazia aquilo por puro prazer de vê-lo de joelhos esfregando o chão. E talvez fosse. Megan se irritava fácil com sua língua afiada, e bem, tirar a paciência da mulher insinuando que ela precisava ir estudar mais para administrar adequadamente o local, não foi a melhor melhor atividade executada.
E aquele dia poderia não piorar se Megan não tivesse derrubado latas de lixo podre no banheiro quase limpo por pura pirraça, e Minhyuk não responde-se a sua provocação dando um banho de água suja na mulher.
Park Seo Joon teve que interferir, com a iminência de ser expulso sem nem mesmo cumprir metade do serviço. Foram preciso muitos telefones, um pedido de desculpas muito mal dado e o sorriso convencido de Megan que fez o rapaz literalmente arrancar os cabelos.
Por volta do quinto mês notou algo, os internos do Centro de Detenção arco-íris-sem-cor simplesmente não lhe respeitavam. Algo sobre ter os meninos fazendo piadas sobre o cabelo ainda pintado de laranja amarelado e o chamando de playboy o incomodava. E os internos respeitavam a todos, do pessoal da limpeza á Megan. Menos ele. E a diretora, mesmo após ouvir suas reclamações não parecia estar disposta a modificar aquela situação. Começou a achar que ela realmente o detestava.
— O que estamos fazendo aqui, mesmo? — a voz cansada do advogado e amigo soou quando o esportivo de luxo estacionou na frente de uma salão de beleza no meio da cidade. Seo Joon não se lembrava de ter marcado qualquer compromisso nas redondezas.
Fitou o amigo de canto de olho, Minhyuk estava vestido de preto dos pés a cabeça, incluindo óculos e touca.
— Preciso consertar algo. — murmurou pressionando os lábios finos e rosados.
— Se for sua cara a clínica para cirurgia fica do outro lado da cidade. — brincou tirando as mãos do volante. — É sério, o que viemos fazer aqui? Tenho uma reunião importante em breve.
— Não vai demorar muito, só preciso que me dê um pouco de apoio emocional.
— Eu sou seu advogado, não seu terapeuta.
— Nem advogado, nem terapeuta, você é meu amigo. O único amigo que me restou. — choramingou com o mais dramático possível, Seo Joon tinha o coração mole com o amigo.
— Tá, o que tem que consertar ? — bufou torcendo para não ter que retornar a delegacia com ele. Minhyuk respirou fundo, pronto para perder o último sinal de dignidade que ainda lhe pertencia. Segurou a barra da touca e a tirou da cabeça.
Seo Joon se manteve em silêncio, digerindo a imagem do amigo, que no auge do seu último aniversário na casa dos vinte tinha o cabelo na mesma coloração de um gambá. E não era algo cheio de estilo e personalidade que as celebridades costumavam apostar. Estava mais para uma aposta feita com uma criança de três anos que pintou a mão seu cabelo. Todo o corpo do advogado e retraiu no instante em que o amigo tirou os óculos revelando as sobrancelhas tão brancas que pareciam transparentes.
— Não vai ter jeito, vou ter que te sacrificar. — murmurou levando a mão a boca em puro horror.
— Você é meu amigo ou inimigo, cara? — brandou colocando a touca e os óculos de volta o mais rápido que pode.
— Com a merda que você fez nem sei se a gente se conhece. — Minhyuk teve vontade de jogar pela porta do carro em movimento, mesmo o carro não estando mais em movimento, o motivo era muito mais vergonhoso para si do que o visual fracasso.
— Como isso aconteceu? Ta medito com os caras do jogo do bicho de novo? — ele negou.
— Já te disse que parei com isso.
— Então o que...quer saber, eu não preciso dos detalhes. Quanto menos tempo eu te ver parecendo um animal atropelado na rodovia, melhor. Vamos acabar com isso.
Minhyuk agradeceu mentalmente por não ter que dar satisfações, não que precisasse ou fosse da, no momento não tinha criatividade o suficiente pare aquilo.
Consertar o que havia feito com as sobrancelhas e o cabelo em um momento que ele considerava se tratar de um surto foi muito mais rápido e menos doloroso do que imaginada. Se olhou no espelho e agradeceu por não parecer tão ridículo, pagou e finalmente saiu com o resto da sua dignidade.
XXX
Adentrou o centro com passos tão calmos que já não parecia o mesmo surtado de dias atrás. Sua figura estava consideravelmente diferente, todos notaram isso, dos internos a Kim que recebeu com um sorriso largo e elogios. Apesar de não ser o seu look preferido, tinha em mente que ficaria bem com qualquer coisa.
— Ela já esta chegando, pode esperar na sala. — avisou gentilmente apontando para a sala.
A sala da diretora, ou melhor, a caverna da bruxa, como havia nada carinhosamente apelidado, estava de fato vazia. Não que duvidasse de Kim, mas sabia bem que toda oportunidade que a mulher tinha para lhe atazanar era usada. Talvez o estivesse esperando ali com uma foice e um saco preto.
A decoração parecia meio sem graça sem a peça mais importante sentada a mesa, ele olhou e olhou, mas não se interessou em vasculhar as gavetas ou xeretar seu computador. O que de fato lhe chamou atenção foi a caixa de chocolates Godiva, seus favoritos. Olhou para os lados concluindo que ninguém o vigiava - mesmo sozinho - e arremessou uma trufa para dentro da boca. Um sorriso instantâneo se formou em sua face. Quando se inclinou para pegar outra notou uma buque de petúnias meio dentro e meio fora da lata de lixo. No mesmo instante Kim entrou correndo na sala e levou a lixeira com as flores, logo atrás vinha Megan.
Com cara de poucos amigos para variar. Mas ninguém poderia culpa-la. Seu dia estava sendo exaustivo e não era nem três da tarde ainda. Deu a volta na mesa e sentou abrindo uma das gavetas e arrancando uma pasta com papelada. A nova grade de horários de MinHyuk.
— Por que esta comendo meu chocolate? — perguntou assinando a primeira página.
— Você nunca come os chocolates que chegam aqui. — explicou levando a terceira trufa a boca. — Sempre vão para o lixo ou Kim os leva, resolvi ser mais rápido dessa vez.
— Poderiam estar envenenados, você é muito corajoso ou muito estúpido. — entregou-lhe as duas folhas quais deveria assinar.
— A única pessoa capaz de colocar veneno em alguma coisa aqui é você, estavam lacrados. — aponta para o lacre que ele mesmo tinha aberto.
— Ou pareciam que estavam lacrados. — levantou-se dando a volta na mesa parando ao lado dele enquanto assinava.
Os olhos grandes e delineados encararam a figura do voluntário, suas roupas eram as mesmas de sempre, ao menos desde que ela avisou que não fosse vestido como o LMFAO em 2012, mas havia mais. Os fios estavam mais curtos, sua testa muito mais a mostra que antes e a coloração definitivamente já não lhe agredia os olhos. Se não fosse sua personalidade insuportável poderia até considera-lo um ser humano aceitável.
Assim que terminou de assinar a papelada encarou a trufa pela metade em sua mão, considerando as palavras que ouvira antes. Ela não seria mesmo capaz de envenenar os doces esperando que ele os enfiasse goela abaixo. Ou seria?
— Você não consegue me ver contente por um minuto mesmo, né?
— Como se eu me importasse o suficiente para isso. — jogo os cabelos longos por cima do ombro e se virou caminhando em suas botas marrom de salto para fora da sala. — Pegue a caixa e venha comigo Senhor Minhyuk.
Detestava ser chamado assim, pois, sempre que o chamava de senhor estava disposta a joga-lo nos trilhos de um trem bala. Mas sendo uma terça-feira comum, não havia muito o que fazer. Agarrou a caixa de chocolates e virou-se a seguindo.
Era dia de revista no pavilhão roxo, passou pelo refeitório e pegou o corredor contrário ao dos banheiros que o voluntário havia se acostumado a lavar. Guardou a caixa no bolso interno da jaqueta ao atravessar a porta do pavilhão, onde era o dormitório dos mais velhos. Garotos entre quinze e dezessete anos viviam ali. Eles eram os mais hostis e retraídos. Pedro acabara de ser transferido para aquela ala, mas já não causava problemas por ser o mais novo.
— Não acredito que estão todos deitados. — disse parando a frente de um dos quartos. — Esta chovendo lá fora, mas vocês tem muito espaço para se exercitar, estudar ou sei lá o que. — um dos garotos levantou da cama indo em direção a mulher.
— Que tal deixar a gente jogar bola na chuva?
— De jeito nenhum, depois do tanto de remédio que eu tive que comprar semana passada quando deixaram vocês jogando de madrugada.
— Foi divertido coronel. — um garoto de cabelo platinado e raspado disse.
— Da próxima vez vou colocar vocês para limparem o nariz um do outro, vamos ver o quão divertido vai ser. — eles reclamam em uníssono fazendo a mulher esticar os lábios no que poderia ser identificado em um quase sorriso.
— Que isso coronel, libera a gente ai, não vai ter aula mais tarde. — estava prestes a sair do quarto, mas colocou a cabeça para dentro outra vez.
— Como assim? Vocês tem reforço para o vestibular.
— O velhote do Seu Joaquim não vem hoje, a filha dele ta' casando.
— Oh, é verdade. — murmurou para si mesma. Minhyuk assistia tudo de longe, se os mais novos já faziam bullying com ele, os mais velhos poderiam facialmente acabar com o pouco de dignidade que ainda lhe restava.
— A senhora esqueceu né? — um deles apontou dando risada.
— Claro que não, estive ocupada. — gesticulou rapidamente mantendo a pose de sempre. Não era mentira, afinal de contas as coisas no abrigo estavam mais complicadas do que ela um dia permitiria transparecer. — Voltem a fazer nada, vou encontrar uma atividade para ocupar a tarde de vocês.
Avisou e logo passou para o próximo quarto sendo recebida com burburinho. O voluntário por outro lado foi surpreendido pelo grupo do quarto anterior.
— Olha só o cara do banheiro, cabelo legal, parece um adulto agora. — brincou um deles. — Qual o seu nome mesmo?
— Minhyuk. — respondeu desconfiado.
— Ficou legal Minhyuk. — um deles levantou o polegar dando um joia o fazendo esticar as sobrancelhas, tanto surpreso quanto cheio de si.
— Obrigada garoto, pelo menos alguém por aqui tem uma boa percepção. — ditou convencido, o tom um pouco mais alto que o normal, não que quisesse chamar a atenção de alguém, mas que mal faria um elogio.
Megan olhou por cima do ombro, ele ainda estava com a metade do corpo para dentro do dormitório falando com os garotos e oferecendo chocolates depois de receber mais elogios. Foi impossível não revirar as orbes em descrença, seu ego era do tamanho do Monte Everest ou tão sensível quanto o floco de neve.
Passou pelos quartos respondendo perguntas e avisando a todos que encontraria uma forma de preencher a tarde, não era dia de descanso, mesmo com a chuva torrencial corroendo os muros. Detestava modificar a rotina deles sem prévio aviso, mesmo que dessa vez soubesse bem o motivo e tivesse sido descuido seu. Só precisava consertar isso.
A ronda na companhia do voluntário era diferente, normalmente fazia aquilo sozinha ou na companhia de Kim, mas a secretária já tinha muito o que resolver na parte administrativa. Ele, por outro lado parecia se dar bem rapidamente com os internos mais velhos, talvez pela proximidade em idade - mental - logo pensou Megan mordendo a língua pela primeira vez em meses.
— Onde esta Tae? — indagou a mulher da porta de outro dormitório, não costumava entrar no quarto dos meninos mais velhos sem que fosse convidada, afinal não era uma revista, apesar dos pesares queria que sentissem como se estivessem em um lugar seguro.
— Jogando. — Romie apontou para o fundo do dormitório, em uma espaço pequeno entre o beliche e a parede. Megan acenou como quem pedia licença e entrou no espaço, deu a volta em uma das quatro beliches e encontrou o adolescente espremido no espaço pequeno jogando no mini videogame portátil, que ganhou em seu primeiro natal ali, cinco anos atrás.
— Não saiu para almoçar, o que houve? — perguntou calmamente, sem mudar o tom imponente encrustado em sua voz. Ele não respondeu. — Tem até a hora do jantar para se alimentar, não me faça vir aqui te buscar. — o garoto tirou os olhos do game e encarou a mulher brevemente. — Você sabe que eu vou. — soltou o ar pelas narinas e voltou sua atenção ao jogo ignorando a presença dela, mas a mulher sabia que o veria no jantar de um jeito ou de outro. Depois de anos, ela conhecia suas crianças como a palma da sua mão.
— É só a caixa galera, seus colegas comeram todos os meus chocolates. — ouviu a voz do voluntario e virou-se o vendo na porta balançando a caixa vazia. — Mas na próxima vou trazer umas coisas legais para vocês.
— Pare de fazer promessas, nem sabemos se vai estar aqui na próxima ronda. — disse caminhando para a saída. — Que cheiro é esse? — escaneou o quarto a procura do odor de suor azedo.
—É claro que vou, não vai se livrar de mim tão cedo Coronel Megan.
— Já que insiste, que tal continuar seu trabalho e se livrar daquela pilha de meias sujas? — apontou para a fonte do odor atrás da porta. — Você comanda a lavanderia amanhã. Que nojeira, tem um cesto de roupa gigante no fim do corredor, porque diabos estão vivendo nesse fedor? — brigou apressando os passos para sair dali seguida das gargalhadas dos meninos e os resmungos do voluntário.
— Fala sério, eu já não tenho trabalho suficiente neste buraco? — reclamou arremessando a caixa vazia em uma lixeira. — Sou o cara dos banheiros, a sombra da Coronel, a escolta do ala amarela, sem contar que aquelas pestes fazem chacota de mim e agora eu vou lavar roupa? O que falta, me colocar na cozinha?
Retornavam para seu escritório quando notou a presença de uma mulher na entrada. Era mais velha, deveria estar no ápice dos seus cinquenta anos, esbanjava perolas no pescoço, orelhas e pulso, suas roupas de grife entregavam que quem quer que ela fosse tinha bastante dinheiro. Só os sapatos pagariam o apartamento de Megan.
A mulher de dentes brancos falava animada com Kim, apontava para os lados e dava risadas ao vento, mas a bolsa não desgrudava de seu corpo.
— Você a conhece? — parou de caminhar automaticamente impedindo que o rapaz e seu monólogo continuassem.
— Por que eu a conheceria? Por acaso toda ricaça espalhafatosa tem alguma ligação comigo? — grunhiu irritado por ter toda a sua reclamação ignorada, como sempre. Nem sequer havia prestado atenção na mulher de saltos caros parada a frente da mesa de Kim, mas quando lhe deu atenção sentiu todo o sangue sumir da face. — Caralho...talvez eu conheça essa ricassa.
— Oh, meu menino esta aqui. — cantarolou a mulher virando todo o corpo, os dando a visão dos cabelos palpavelmente cheios de spray. Apoiou a mão no peito e abriu os braços andando na direção dos dois.
— Talvez MinHyuk? Talvez...? — Megan grunhiu tentando manter sua face o mais neutra possível.
— Oi eomma. — disse com um sorriso forçado.
— O nome da sua mãe é Eomma? — questionou sussurrando dessa vez.
— Eomma é mãe em coreano. — sibilou de volta.
— Você é coreano? — o rapaz torceu o pescoço para encarar e mulher que segurava um sorriso provocativo. Ela bem sabia que ele era coreano, apesar de o ter declarado chinês uma ou duas vezes sabendo que isso o irritava.
— Eu te ode... - não pode terminar a frase sendo esmagado pelo abraço caloroso de sua mãe.
— Que saudades meu filho, não atende minhas ligações, não me visita. Parece até que nasceu de uma chocadeira. — apesar do tom bravo em sua voz ela parece demasiadamente contente. — Você deve ser a Megan. — diz afastando-se do abraço. Encara a diretora dos pés a cabeça com um sorriso satisfeito no rosto. — Você é muito mais bonita do que eu imaginava, estou impressionada.
— O que? — seu olhar passou de mãe para filho buscando uma explicação.
— Eu sinceramente não esperava uma mulher tão bela, o meu filho é meio
— Eomma! — a interrompeu passando os braços envolta dos seus ombros. — O que veio fazer aqui?
— Te visitar e acertar umas coisas sobre os próximos eventos da família bobinho. — agarrou seu queixo chacoalhando o rosto do homem tal como faria com uma criança. — Aliás, eu sou Minjoo. — esticou a mão para Megan que agarrou por educação. — É um prazer finalmente conhece-la.
— Hm? eu também senhora Lee Minjoo. — o rapaz encarava a cena se perguntando onde Megan guardava tanta educação assim, certamente não usava com ele.
— Vamos, podemos conversar em particular em outro lugar. Megan tem muito trabalho a fazer, jogar umas crianças na solitária, varrer o pátio, a paz mundial, sabe como é. — virou-se arrastando a mulher para longe, mas não suficiente para Megan deixar se ouvir suas últimas palavras.
— Te vejo no fim de semana querida, vamos colocar o papo em dia.
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