Capítulo 12
Acordei em um susto, praticamente pulando sentada na cama.
Foi apenas um pesadelo, um pesadelo terrível.
Mas eu estava despida e a cama completamente bagunçada, um diferencial de quando durmo. Olhei para o lado e me senti aliviada ao não vê-lo ali; estava certa.
Levantei calmamente, apenas tentado controlar os meus impulsos de raiva, por ter sido enganada. Sou uma trouxa, como não imaginei que esse mundo haveria algum tipo de porção do amor? Se há animais em forma humana, claro que deve existir tipos de magia.
Joguei as cobertas para o lado, e a visão do tecido tingido pelo vermelho-escarlate não característico me fez querer chorar, arder em ódio e me sentir imunda.
Corri em direção ao banheiro, mesmo estando exausta. Abri o chuveiro na temperatura mais quente que possuía. Procurei por qualquer coisa que servisse para apagar os rastros da noite anterior de minha pele. Não encontrei uma esponja, mas sim uma escova.
Me esfreguei com força e velocidade, sentia a pele queimar e arder devido às cerdas, mas eu não me importava, precisava tirar as impressões digitais de minha pele, seu...
Chorei imaginando até onde ele deveria ter ido, se a esta altura, qual seria a situação em que me encontraria.
Isso não está acontecendo... O que eu vou fazer se...
Sequer conseguia completar meus pensamentos. Um fruto... Eu não poderia carregar e quem dirá sobreviver à presença do fruto dele.
Caí no chão, desolada, acabada, vulnerável e desacreditada.
Por que eu simplesmente não morri quando aquele caminhão me acertou? Deus, por que você me deu Destino tão cruel?
Um flash me voltou. Quando Bromo acabou, ele tentou falar comigo... Mas apenas adormeci, tendo a sensação dos seus olhos mudando rapidamente do tom azul gélido para a cor vermelho sangue, em poucos segundos. . Talvez tenha sido por isso, que ele não amanheceu ao meu lado.
Não, é impossível que ele sinta culpa pelo o que fez. Não há remorso.
Encostei a cabeça na parede, pouco ligando si meu cabelo estava ficando encharcado. Não me importando se estava sentada no chão.
Durante esse tempo repassei a cena ma minha mente, varias e varias vezes. Como se fossem flash contínuos durante uma tempestade.
Abri os olhos rapidamente, me assustando por ter uma memória tão compreensível de ontem à noite, quando na verdade, eu não queria me lembrar de coisa alguma depois que saí do banho.
Continuei me esfregando por um tempo. Depois da lembrança, o nojo e a raiva apenas crescendo, por fim, se tornaram maiores que o meu ser.
Ouvi batidas na porta que da para o quarto. No mesmo instante estremeci em medo. Me levantei rapidamente e fechei o chuveiro, saí e então tranquei a porta do banheiro.
— Rosa? – era a voz de Flora.
Por algum motivo meu peito se encheu de... alívio. Era ela, e não ele. Eu poderia chorar novamente nos braços de Flora.
Praticamente abri a porta com a mesma velocidade em que a tranquei. Corri completamente encharcada na sua direção, comapenas uma tolha cobrindo o meu corpo; a mulher com certeza notou o desespero em minha face.
— Rosalho...
Notei de canto de olho a bandeja com o café da manhã, não liguei. Continuei correndo em sua direção e me atirei em seus braços.
A mulher, sem reação, apenas retribuiu o abraço. Meu corpo molhando a frente de suas roupas, junto com as lágrimas que vertiam de meus olhos.
— Rosalho? O que aconteceu?
Nada. Apenas chorei.
Me permiti ser guiada em direção à cama. Logo senti o colchão abaixo de mim, juntamente com a mão de Flora acariciando meus cabelos.
— Ele... Flora! – berrei em prantos – Foi a minha primeira vez e ele... ele... Me sinto tão suja... Tão... trouxa, idiota, besta, burra.
— Calma, voce não é nada disso. Me explica o que aconteceu. – Tentou soar calmamente, mas nem ela conseguia manter essa fachada.
O choro não me permitiu continuar, senti minha garganta fechar e minha cabeça girar. Em meio ao choro, devo ter desmaiado.
§
Acordei novamente assustada, pensando que tudo o que tinha acontecido fora apenas um sonho. Esta esperança cresceu, quando notei estar com os cabelos secos e usando um vestido azul-claro.
Me sentei devagar, sentindo-me tonta.
Minha visão estava levemente embaçada, com alguns pontos pretos no ambiente.
— Rosa? – ouvi a voz de Flora. Olhei em sua direção – Rosa, como está?
— Me sinto... Meio dopada. – respondi por fim, depois de algum tempo – O que aconteceu?
— Você desmaiou por um bom tempo, é quase tarde.
Abaixo a cabeça em direção às pernas.
— Flora, me diga que aquilo não aconteceu...
— Dizer que aconteceu ou não, não mudará algo. – ela se aproximou de mim e tocou meu ombro. Estremeci, e com isso, ela se afastou – Desculpe, não deveria ter feito isso.
Neguei com a cabeça.
— É só que... Por que não me contou que existia esse tipo de porção aqui?
— Pensei que nada disso aconteceria, e me esqueci completamente que já começou o ciclo de união. Estou a tanto tempo com meu companheiro que para mim já se tornou normal. – Disse com o semblante evidenciando pesar.
— Sinceramente não posso acreditar nisso, tudo ainda parece surreal. Esse mundo tem elementos de um conto de fadas, entretanto, ao mesmo tempo, parece um pesadelo na minha vida. – Confessei sinceramente.
— Não se preocupe, tudo vai passar, prometo. – Deu um sorriso singelo.
— Tomara, preciso fugir o mais rápido possível. – Suspirei.
Ela sentou-se na minha frente e me esticou um pedaço de papel.
— É de Rafi. – disse – Depois que te vesti, eu decidi ler. Me desculpe. – neguei com a cabeça – Ela pediu que se encontrassem no meio da floresta, à tarde.
Neguei novamente, me sentindo incapaz de falar algo.
— Por que não?
— Eu... Como vou sair daqui? E também, tenho medo de colocar um pé para fora deste quarto, ou fazer algo que ele não goste... E acabar...
Senti raiva de mim mesma por ser tão fraca.
— Eu posso te ajudar, Rosalho. – ouvi, com a vista apenas embaçada – Há tuneis na casa, que servem para fuga no caso de rebeliões ou ataques. Posso te guiar para fora.
— Você iria comigo, Flora? Eu tenho tanto medo...
Ela assentiu com a cabeça, com uma expressão de compaixão.
— Rosalho... E se você estiver...
— Não complete essa maldita frase, Flora. – pedi, com a voz falha – Eu vou embora daqui, e vou acabar com essa maldita ligação. Bromo verá que não possui controle sobre mim.
Algo mim estava transformando todos os sentimentos e emoções que me faziam sentir pequena e incapaz, em raiva, coragem e até uma ponta de insanidade.
— Coma algo, e assim que se sentir melhor, podemos ir.
Acenei com a cabeça e me forcei a ficar de pé.
— Então vamos logo. – mandei – Estou mais do que pronta.
Ela concordou com a cabeça.
Saímos cuidadosamente pela porta, Flora na frente, cobrindo a visão do meu corpo. Andamos por algum tempo, virando e desce alguns degraus. Flora sinalizou para que parássemos na curva de um corredor.
Toquei seu ombro, a fazendo virar na minha direção. Seu indicador pousava sobre os lábios, indicando silêncio. Ela esticou a cabeça minimamente, para enxergar além. Se voltou para mim e colou os lábios ao meus ouvidos.
— Você e Bromo estão ligados, possuem os cheiros um do outro. – sussurra quase sua voz quase inaudível – Há dois homens à frente, acho que um deles é Bromo, estão farejando seu cheiro no ar. Não temos muito tempo, Rosa.
Com isso, enrijeci o corpo em pavor, temendo ser encontrada pelos homens, ser levada até Bromo e... Sacudi a cabeça de um lado ao outro.
— Agora isso a torna Luna de nosso povo. – finalizou.
— Então todos eles sabem o que aconteceu?
Ela me respondeu afirmativamente com a cabeça e uma expressão triste.
Era só o que me faltava, todos agora sabem das minha intimidades.
Os passos se tornaram altos, estavam se aproximando.
Os dois homens viraram em nosso corredor, sendo revelados: um senhor de idade e Bromo.
Aprumei minha postura, tentando esconder o medo de vê-lo.
Ao dirigir o olhar na minha direção, Bromo sorriu sarcasticamente. Caminhou até mim e depositou um beijo casto em meus lábios.
Me afastei instintivamente, com os olhos arregalados.
— Adoro o seu cheiro, querida. – disse – Sente-se melhor?
Incapaz de falar, meu corpo respondeu em primeiro lugar. Minha mão voou na direção da bochecha esquerda de Bromo. Surpreendido pela reação, ele cambaleou uma vez para trás. O homem voltou com tudo na minha direção, segurou meu rosto com força e apertou meu queixo.
— Estou de bom humor, Rosalho, não me faça perdê-lo.
— Eu não posso dizer o mesmo. – rebati.
Ele me soltou para o lado, me fazendo ser lançada. Olhei do senhor para Bromo, peguei na mão de Flora e ameacei sair dali, quando sua voz me parou:
— O que faz aqui fora? – sua voz estava dura e gélida.
— Preciso ficar trancada dentro do quarto agora?
Antes que pudesse responder, segurei com mais força a mão de Flora e praticamente corri na direção em que vieram.
— Eu sei o que tem para esse lado, Rosalho. – ouvi sua voz ao longe.
Depois de algum tempo correndo, parei, me recostando contra uma das paredes.
— Que droga! Que droga! – senti lágrimas nos olhos – Merda... Merdaaa!
Rosalho... Acalme-se... Ele está brincando com a sua mente, usando o que aconteceu ontem para me manipular através do medo...
Sacudi a cabeça, sendo assistida por Flora.
— Venha, estamos perto.
Foi sua vez de pegar minha mão.
Flora caminhou em silêncio por mais alguns corredores. Quando parou, levou à mão até a barra da blusa de uma estátua. Ela se moveu para o lado e uma passagem escura e tenebrosa foi revelada.
— Vamos lá. Confie em mim.
Assenti, mesmo sabendo que ela não viu.
A segui pelo túnel, descendo, subindo, virando de um lado ao outro, tudo em uma estranha escuridão, que me permitia enxergar alguns passos à frente.
Em um dado momento, uma leve e sutil corrente fria atravessou meu corpo.
— Estamos quase chegando. – comentou Flora. Via apenas o contorno superior de seu corpo.
— Tudo bem.
Aos poucos a claridade foi surgindo, até que saímos em alguma parte da cidade, com a tarde nos dando boas-vindas.
Ela era grande, bonita e cheia de vida, com pessoas andando por aqui e ali, nos ignorando.
Nem parecia que seu líder era um maldito obsessivo, possessivo, controlador, manipulador, dentre outros adjetivos terríveis.
— Nós precisamos correr mais do que nunca, Rosa.
— Por que?
— Bromo sabe exatamente para onde seguimos. A esta altura, já deve ter mandado guardas pelos tuneis e por outros lugares para nos encontrar. Vamos logo!
Corri logo atrás de Flora. Em alguns minutos saímos da cidade, pelo trajeto, vendo e nos escondendo de alguns guardas.
Logo estávamos na floresta, e Flora não parava de correr.
Minhas pernas doíam, meus pulmões queimavam à procura de ar, mas eu não pararia, não me permitiria ser pega e feita de prisioneira por Bromo. Ele pagaria pelo o que fez.
§
As horas se passavam, enquanto Rafi permanecia no mesmo lugar, aguardando por Rosalho.
De primeira ela suspeitou da jovem, mas logo deixou as suspeitas de lado, quando reconheceu as palavras de Rosa.
O quanto antes ela marcou o encontro, e agora, aguarda a jovem.
Foi bom que Rosalho tenha encontrado outra pessoa para ajudá-la, pensou Rafi. Só espero que Flora não a traia.
Pouco tempo depois, com a noite quase chegando, Rafi ouviu passos vindo de alguma direção atrás de si.
Se virou, pronta para correr e se esconder mais uma vez, quando viu Rosalho e a jovem de antes, Flora.
Espero que tenham gostado do capítulo, beijos até a próxima.
Com a indicação para revisão, DarTaLivros
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