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Cap. III - O Corvo e a Tempestade


Um vulto passou rápido e rasante sobre a relva baixa, embrenhando-se em meio ao jângal que circulava aquela clareira. A sombra turva atravessou por entre os galhos, subindo e ficando pouco acima das árvores do Bosque de Peaktt.

Era uma espécie de monstro espectral humanoide de pele cinzenta e olhos pálidos, com uma circunferência preta no meio onde deveria estar a íris do olho. Tinha uma enorme boca cheia de dentes finos e pontiagudos, e seus ossos marcavam a pele dos braços e do rosto esquelético. Longas e afiadas garras saiam de seus dedos cadavéricos; e seus longos e finos cabelos brancos esvoaçavam ao vento, junto a um vestido preto sujo e esfarrapado. Uma incarnada. O grito estridente do monstro se espalhou ao longo da floresta. Era possível ver as ondas sonoras saírem de sua boca numa cor azulada, antes de sumirem no ar logo em seguida. Um efeito atordoante típico de tais criaturas, e uma de suas habilidades mais perigosas.

A incarnada mostrava, arisca, suas garras e presas, desafiando seu inimigo. Um jovem cavaleiro de vinte e nove anos, de pele parda e cabelos negros e lisos, que combinavam perfeitamente com a barba modesta que cobria seu rosto. Ele trajava uma armadura simplória de aço estelar, que com certeza já havia tido dias melhores, mas ainda ostentava lustrosos detalhes em prata escovada. Em suas costas, uma longa capa de plumas negras tremulava ao vento enquanto o cavaleiro firmava os pés contra o solo para permanecer de pé. Aquele era o Segundo Tenente Ravian Blackfeather.

— Você é mesmo uma desgraçada escorregadia, não é? — disse o jovem tenente, já cansado pela longa hora que a luta se arrastara.

Ravian encarou o monstro acima dele, ainda tentando converter sua exaustão em coragem. Ele empunhava uma espada de cor púrpura com a forma de uma enorme pena afiada. Um discreto corte em sua testa fazia um fio de sangue escorrer pela lateral de seu rosto. O cavaleiro sabia que aquela coisa ainda não estava nem perto de se render, já ele, por outro lado, sentia o cansaço tomar o seu corpo.

Com um forte grito, a incarnada mergulhou rapidamente, indo em direção a Ravian, pronta para atacá-lo. Mas quando a criatura estava a poucos metros do jovem desafiante, ela foi surpreendida pelo surgir de um flash roxo logo atrás do cavaleiro. Ravian saiu do caminho e a imagem de um grande corvo de olhos vermelhos envolto em uma aura roxa escura surgiu. Veloz, ele atingiu a incarnada e a arrastou para longe, até jogá-la contra as árvores. A ave subiu acima das copas e voou na direção do Tenente Blackfeather.

— Obrigado, Muninn! Timing perfeito, como sempre. — Agradeceu Ravian ao corvo que pousara em seu antebraço estendido.

No entanto, o golpe aparentemente não causou danos significantes à criatura, pois logo a incarnada já estava de volta ao ar, com um grito poderoso que sacudiu tudo ao seu redor. Os olhos do corvo empoleirado no braço de Ravian cintilaram em vermelho, e uma barreira se formou ao redor dos dois, detendo o ataque sonoro.

"Essa coisa é mais resistente do que eu pensei. Não é de se estranhar que ela tenha derrotado todos os esquadrões que foram enviados para Peakttown até hoje. Um elo muito forte criou essa incarnada para que ela seja assim tão persistente... Mas não posso desistir agora. Essas pessoas já foram aterrorizadas por tempo demais! Isso termina hoje!" Pensou Ravian, segurando com firmeza sua espada em forma de pluma.

— Vamos, Muninn!

Abrindo suas asas, e com um forte crocito como resposta, Ravian e Muninn avançaram contra a criatura, que cessou seu grito, rasgou o ar com suas garras, e lançou uma forte rajada de vento contra eles, carregando folhas que pareciam ter se tornado tão afiadas quanto espadas. O corvo voou em espiral pelo vento, defletindo todas as folhas e passando bem próximo ao monstro, deixando-o atordoado. Ravian veio logo atrás e tentou golpear a incarnada com sua espada emplumada, mas a criatura a aparou facilmente com suas longas garras.

Tirando a lâmina dentre as unhas do monstro, o tenente e a criatura começaram uma sequência de golpes e bloqueios consecutivos, com o tinido das garras no fio da lâmina ressoando ao redor da batalha, fazendo faíscas colorir o ar a cada ataque. Com o impacto da última investida carregada de poder, ambos foram jogados para trás.

Enquanto retomava sua postura, ainda atordoada, os olhos da incarnada se acenderam em verde, com runas jord em suas pupilas inexistentes. Ela cravou suas garras no solo, e longas vinhas cobertas de espinhos emergiram aos pés de Ravian, o cercando e o envolvendo. O tenente viu os últimos raios de luz sumirem por entre as frestas do vinhal que se entrelaçava a sua volta, formando um denso casulo cravejado espinhos.

Quando tudo parecia terminado, de repente, o emaranhado de espinhos pareceu estufar de dentro para fora até se desfazer em mil pedaços. Ravian, então, surgiu estendendo um enorme par de asas negras, formada da capa em suas costas, e ascendeu rapidamente aos céus, ficando acima das árvores e da criatura. Agora era o cavaleiro que encarava seu oponente de cima.

— Esse é o melhor que pode fazer? — perguntou o tenente, desafiando o monstro, e tirando os restos das vinhas que se agarraram em seus ombros. — Acho que já brincamos por tempo demais, não acha? É hora de acabar com isso! — Ravian estendeu o braço para o lado e uma nova espada emplumada surgiu em sua mão. Ele iniciou uma rápida descida em direção à criatura, que rugiu e avançou de encontro ao seu oponente.

Lâmina Noctis! — Um brilho roxo correu rapidamente sobre a espada de Ravian.

Quando eles finalmente se chocaram, Ravian desferiu um golpe certeiro que transpassou o corpo do monstro, deixando um rastro de luz roxa no caminho que traçou. Mas para a surpresa do cavaleiro, a criatura se desfez em um emaranhado de folhas secas e pequenos morcegos. Antes que Ravian pudesse entender o que havia acontecido, tão rápido quanto surgiram, as folhas e os morcegos voaram para as costas do cavaleiro e retomaram a forma da incarnada, com suas garras postas para um novo ataque.

Pelo canto de seu olho, Ravian pôde fitar o monstro erguendo-se sobre ele, já sabendo que não haveria tempo para um bloqueio ou um contra-ataque. As garras do monstro foram certeiras em direção às costas de Ravian.

Era o fim da batalha.

Porém, antes que o cavaleiro fosse atingido, as cinco unhas longas e afiadas se despedaçaram ao se chocarem contra uma parede de vento sólida. O monstro urrou enfurecido com a dor.

Vento Impacto! — recitou alguém antes uma forte rajada de vento, espiralada e descendente, abalar Ravian e acertar a criatura.

O tenente foi atirado para longe pelo impacto, recuperou o equilíbrio e pairou a poucos metros do solo, voltando sua atenção para entender o que havia acontecido. A incarnada, capturada pelo redemoinho, foi jogada contra o solo e arrastada até as árvores, que desabaram sobre ela. A poeira ainda encobria os troncos quebrados quando Ravian viu a criatura se erguer novamente.

Vind Solem: Prisão Cúbica! — O monstro tentou avançar, mas se chocou contra paredes translúcidas que a fechavam em um pequeno cubículo invisível. — Eu disse para você me esperar, não foi? Mas você adora bancar o herói e fazer tudo sozinho! — disse uma figura surgindo ao lado de Ravian, projetando uma runa vind na palma de sua mão estendida na direção do monstro aprisionado.

Ao ouvir aquela voz, o cavaleiro girou a cabeça sobre o ombro, e pôde ver uma lustrosa e familiar armadura prateada com linhas azuis, usada por um homem forte com longos cabelos negros. Ravian imediatamente abriu um largo sorriso.

— Haha! Vamos fingir que você odeia fazer entradas triunfais, não é, Dom? — O tenente ergueu o punho fechado para saudar o amigo: o recém promovido Tenente Coronel Dominic Ford.

— Fazer o quê? Faz parte do meu estilo. — Ford falava com deboche e confiança. — Estava mesmo pensando em deixar que você cuidasse dessa coisa sozinho, mas fiquei com pena de vê-lo apanhar tanto, e mudei de ideia a tempo

— Ha! Pra falar a verdade, eu não imaginei que uma incarnada pudesse ser tão resistente assim. Algo muito forte deve ter criado o elo que a trouxe de volta. Ela pode controlar fluxos vind, jord e vitie.

— O quê?! Nunca ouvi falar de incarnados que tivessem mais de um atributo! — Dominic nem terminou de falar e as paredes de vento que prendiam o monstro começaram a rachar. Ele tentou aumentar a força de sua magia, mas a redoma logo se despedaçou. Os olhos da criatura, agora liberta, encandeceram em um verde esmeralda, urrando furiosa. Uma forte ventania sacodiu as árvores e farfalhou as folhas ao seu redor.

Com os braços, Ford e Ravian protegiam os rostos dos gravetos e pedras que voavam contra eles. Foi então que o corpo da incarnada começou a exalar uma fumaça esbranquiçada, e como se raízes crescessem por sobre os ossos abaixo da pele morta, o monstro começou a mudar sua forma. Longos chifres, ramificados como galhos secos, saíram de sua cabeça; um segundo par de braços cresceu abaixo do primeiro; o vestido pálido se tornava ainda mais esfarrapado com o aumentar do corpo da criatura, que agora nesta forma aterradora, estava com o triplo de seu tamanho original.

— Ela está mais atiçada que antes. Acho que ela gostou de você e está tentando te impressionar! — disse Ravian sorrindo e cutucando Ford com o cotovelo.

— Você acha? Ora, eu não tenho culpa de ter sido abençoado pelo Único com tanta beleza que até os monstros me desejam... — O tenente coronel passou a mão nos cabelos para arrumá-los. — Desculpe, bonitinha, mas este coração aqui já está muito bem preenchido! Ah, já ia esquecendo. Toma! — Ford jogou para Ravian um pequeno crucifixo dourado.

— Um saint?! Onde conseguiu isso?! — questionou o jovem tenente incrédulo com o objeto em sua mão.

— Um presentinho da sala do General Armstrong. Agora, vamos garantir uma certa recompensa! — Ford estralava os dedos, se preparando para o combate.

— Recompensa? Achei que tinha vindo para me ajudar!

— Mas é claro que sim! Meu melhor amigo vem antes de qualquer quantia de ouro! — Com as sobrancelhas erguidas e um olhar sarcástico, Ravian encarava Ford, que falava com a mão sobre o peito. — De verdade, não sei se fico feliz ou ofendido por você me conhecer tão bem...

Com um poderoso impulso, a incarnada avançou velozmente em direção aos dois cavaleiros, levantando as folhas caídas por onde passava.

— Olha que mal educada! — continuou Ford, fingindo surpresa.

— Acho que ela cansou de esperar! — Apertando o crucifico dourado em sua mão, sentindo uma nova carga de mana tomar seu corpo e restaurar suas forças, Ravian abriu suas asas e voou rasante, sendo seguido por Ford, que corria logo atrás.

Indo de encontro aos cavaleiros, as quatro mãos da criatura incharam até explodir, dando lugar a membros mais fortes, com garras ainda maiores e mais grossas em cada dedo.

— Vamos ver o que você acha do seu próprio veneno! — Uma fraca aura roxa encobriu Ravian e ele acelerou em direção à criatura. — Miragem das Sombras!

No momento do choque, o monstro transpassou a imagem intangível do tenente Blackfeather, ficando com uma série de pontos brilhantes espalhados pelo seu corpo. Cada um desses pontos se tornou um longo espinho negro que empalou a incarnada. Ford, que se aproximava da criatura, foi surpreendido por seu ataque sônico. No entanto, quando as ondas sonoras o atingiram, a imagem de Ford sumiu, como uma ilusão no vento.

— Procurando alguém? — O tenente coronel surgiu bem ao lado do monstro, sorrindo, e com uma corrente de ar espiralando ao redor de seu punho.

Um soco acertou em cheio o rosto da incarnada e a jogou para longe. Ela ainda voava com o golpe quando Ravian apareceu no caminho e a acertou, arremessando-a para outra direção. Um ataque após o outro, os cavaleiros encadearam uma série de ofensivas rápidas, jogando a criatura de um lado para outro. Tão rápido eram os golpes que não mais se sabia quem estava atacando.

Com o último golpe, a besta foi jogada para o alto, acima das árvores. Os cavaleiros surgiram pairando ainda mais alto, e com um chute duplo, atiraram o monstro a toda velocidade de volta ao solo, abrindo uma grande cratera no local do impacto. No entanto,, o inimigo ainda não havia se entregado à derrota.

— Pronto? — perguntou Ford, com runas vind brilhando intensas em seus olhos.

— Sim! — Runas tenebra faiscaram nas pupilas de Ravian.

Um grande círculo mágico verde surgiu abaixo da incarnada e foi envolvido por um segundo círculo violeta ainda maior.

Vendaval Destruidor!

Revoada Sombria!

Nuvens escuras surgiram e tomaram o céu sobre a floresta, e trovões furiosos estremeciam a terra. Um enorme tornado rodeou a criatura, arrancando árvores e pedras do solo, e engolindo as nuvens tempestuosas em seu vórtice de vento. Do solo, emergiu um bando de corvos feitos de energia tenebra que rodeou o redemoinho. As aves adentravam as paredes de vento até o centro, e como incontáveis flechas negras, atacavam a incarnada. O monstro urrava ao ser transpassado pelos incessantes ataques enquanto era levado cada vez mais alto na tormenta.

Técnica Dupla – Pesadelo da Tempestade! recitaram em coro os dois cavaleiros, enquanto raios e trovões rodeavam o tornado de nuvens cinza e púrpuras, com os corvos espiralando a sua volta.

A criatura ainda era assolada pelos ataques quando uma sombra surgiu veloz, subindo pelas bordas do vórtice, até ficar frente a frente com ela. Os olhos da figura sombreada encandeavam em um leve tom avermelhado, com a fraca luz do sol refletido pelo fio do que parecia ser uma espada pronta para golpear. Com um rápido movimento, uma onda de corte transpassou os ventos e o pescoço da criatura.

O ataque dissipou o forte tornado e a revoada de corvos cintilantes, rasgou o denso véu de nuvens acima das árvores, e fez o sol a pino voltar a brilhar no céu azul. A criatura despencou seguida por sua cabeça rodopiante. Ford, flutuando a dezenas de metros do chão, com o braço estendido para o lado como uma lâmina afiada, observou a queda do monstro.

— Isso é o que eu chamo de missão concluída com sucesso — comemorou Ford, aterrissando próximo a Ravian. — Achei que ela fosse dar mais trabalho quando se transmutou, mas nem consegui suar.

— Fale por você, eu estou um caco — disse Ravian com uma pequena risada. — Aliás, esse último ataque foi incrível, Dom! Como conseguiu fazer isso?

— Não é demais? Estou aprimorando meu controle do crimson drive! — Ford deslizava a mão pelo antebraço direito enquanto falava. — Agora consigo combinar vind e stal numa única técnica.

— Impressionante... Não sabia que tinha evoluído tanto no controle do seu mana crimson.

— É. — O cavaleiro riu cheio de si. — Acho que os treinos com o Coronel Valentine me ajudaram um pouco...

— Um pouco? — questionou Ravian com ironia. — Está dizendo que treinar com o próprio Imperador Carmesim ajudou apenas um pouco?

— Haha! Só estou brincando com você, seu velho ranzinza! — O tenente coronel espremia o rosto para simular rugas, inexistente no amigo mais jovem. — Mas, esta ainda é uma técnica incompleta. Há muito para aperfeiçoar na execução, e é claro, ainda falta escolher um nome épico para ela.

Ravian gargalhou em bom tom enquanto agachava para apanhar a cabeça decapitada da criatura.

— Esta é a sua maior preocupação? O nome dela? — O tenente franzia os olhos e mantinha o sorriso no rosto.

— Mas é claro! A parte mais importante de fazer uma habilidade forte é dar um nome memorável a ela.

— Ainda não acredito que eles promoveram você... — Ravian jogou a cabeça da incarnada nos braços de Dominic, sujando de sangue o peitoral de sua lustrosa armadura. — Mas tenho certeza que isso não será problema! Afinal, com sua promoção, você agora tem bastante tempo sobrando para se dedicar aos treinos, não é?

— Ah, não me venha com essa história de novo! — Ford cruzou os braços com uma falsa indignação. — Eu consegui organizar tudo para que você participasse daqueles duelos de graduação em Midgard. Poderíamos estar nós dois rumando para nossas promoções como coronéis, mas você preferiu ajudar Alberick e Arkadia a conseguirem suas patentes nos duelos daqui de Vingolfheim. Então não me venha com suas reclamações e desculpas. Lembre-se de que agora sou seu superior!

— Hahaha! Estou só brincando, "senhor". Minha promoção vai chegar mais cedo ou mais tarde. Até lá, estou mais interessado em aprimorar minha conexão com Muninn. — As asas retraídas nas costas do tenente voltaram a ser uma longa capa emplumada enquanto o enorme corvo pousou no antebraço de Ravian estendido no ar. — Ter uma Varelsegear é bem mais complexo do que imaginei.

— Ora, pare de choramingar! Você tem uma arma feita pelo próprio Odin e só sabe reclamar! — A falsa bronca do amigo não tirou o sorriso do rosto do jovem Tenente Blackfeather. — Nossa, nem parece que já se passaram três anos desde que ele o escolheu... — Ford admirava a enorme ave empoleirada. — Muninn e Huginn: Varelsegears gêmeas forjadas pelo Pai de Todos sob a forma de corvos com um poder incrível, mas ao mesmo tempo, selvagens. Se não me engano, Huginn, sua contra parte, está com a Srta. Harpgold há pelo menos vinte anos, não é? Ela o domina com uma maestria que poucas vezes vi alguém possuir com uma arma. Sem ofensa...

— Agradeço pelo apoio... — O tenente atiçou o braço para que a ave levantasse voo. — Mas tenho certeza de que ser uma feiticeira imortal ajuda bastante. Agora, que tal irmos receber um certo pagamento? — disse Ravian apontando para a cabeça da incarnada.

— Já que você insiste... — O sarcasmo de Ford dando de ombros enquanto pegava a sacola de pano amarrada em seu cinto fez o Tenente Blackfeather gargalhar novamente.

Poucos minutos depois os dois cavaleiros já estavam passando pela rua principal do centro de Peakttown, uma pequena cidade da província de Vingolfheim, conhecida por ser o lar de inúmeros artesãos e pequenos produtores de peles. O saco de pano nas mãos de Ravian, ensanguentado pela cabeça da criatura, ainda gotejava pelo caminho até o escritório do mestre da cidade — um morador eleito através do voto popular para supervisionar o andamento da comunidade. — O escritório estava a apenas duas ruas adiante.

— Estou falando, é a oportunidade perfeita! — disse Ford fechando os punhos em empolgação.

— Se você diz... — respondeu o cavaleiro com a capa emplumada nas costas.

— Pense só nisso! — Dominic se colocou à frente de Ravian, andando de costas enquanto falava. — O velho Sigmund logo se aposentará e Hognar será marechal. Se não perdermos nenhum dos duelos, e com um pouco de sorte, daqui sete anos poderemos ser os coronéis de maior ranking em toda Asgard! Estou dizendo, é um caminho de tijolos amarelos até nossos cargos como generais!

— Quer se tornar general em apenas sete anos? O ataque supersônico daquela coisa deve ter mexido com sua cabeça. Haha!

— Por que não? É tudo uma questão de perseverança, meu caro Rav! — Ford voltou a andar ao lado de Ravian, apoiando-se em seu ombro. —Escreva o que estou dizendo. Quando Hognar deixar o cargo, eu serei o primeiro na fila do rei para substitui-lo.

— O quê? — questionou o tenente entre risos. — Você? Marechal Dominic Ford... Que o Único tenha piedade de nós!

— Nossa... Como é bom ter o apoio do seu melhor amigo! Mas vou ignorar isso vindo de alguém que não tem coragem nem mesmo de chamar alguém para sair...

— Sério, Dom? Vai apelar para isso?

— Eu só estou dizendo que você devia parar de perder tempo e agir de uma vez! — concluiu Ford.

— Para você é fácil falar... Se não fosse Allana que tomasse uma iniciativa, sua vergonha jamais o deixaria falar com ela — retrucou Ravian.

— O quê?! I-Isso é ridículo! — O rosto de Ford se avermelhou e o cavaleiro ficou alguns passou para trás, petrificado com a resposta. — E o assunto aqui é você, e não eu! — Ele acelerou o passo para voltar a caminhar ao lado do amigo. — Além do mais, é obvio para qualquer um que Alberick também sente alguma coisa por você, não tem porque ter medo da resposta dele. — Dominic segurou o cavaleiro pelos ombros e fez parar em seu caminho. — Você tem que ser direto, Rav, sem rodeios! Tem que receber de braços abertos a oportunidade que o destino está colocando na sua frente!

Ford abriu os braços, encenando suas palavras. Nessa hora, passos rápidos de saltos metálicos batendo contra os paralelepípedos da rua se aproximaram do cavaleiro, e ele foi surpreendido por uma figura risonha saltando em seus braços e o derrubando.

— Ehe! Desculpe, querido, mas vi você pronto para um abraço e não resisti! — disse uma bela mulher de olhos amendoados sobre ele.

— Mas o que... — No chão, o tenente coronel abriu os olhos e sacodiu a cabeça para tirar o emaranhado de longos cabelos castanhos que caiam sobre seu rosto. — Allana?! Meu amor! — Ao ver o rosto sorridente de sua amada, os olhos de Ford brilharam e ele a abraçou forte, deslizando seu rosto contra o dela.

— Hahaha! Para, faz cócegas!

Aquela era a Segunda Tenente Allana Ford, a jovem esposa do Tenente Coronel Dominic Ford. Dita por muitos como a cavaleira mais bela de todo o regimento de Asgárdia, seu carisma e benevolência eram conhecidos por todos da capital. Não à toa ela recebia o nome de "Princesa Allana" de seus colegas de esquadrão.

— Lana? Que surpresa! — disse Ravian. — O que faz aqui? Não me diga que veio atrás do Dom.

— Não seja bobo, Rav — Allana e Ford ficavam de pé. — Amo meu marido, mas não atravessaria uma província inteira só para espioná-lo.

— E nem precisa! Minha rainha sabe que meus olhos são apenas para ela... — Ford fazia sua expressão mais apaixonada olhando para a esposa.

— Idiota... — Ela ria agarrando-se ao braço do marido. — Na verdade eu estou indo com o grupo do Capitão Ludwig para uma missão de caça a lycans em Vanaheim. Parece que alguns vilarejos estão sofrendo ataques constantes nas últimas semanas.

— Lycans? — indagou Ford. — Pff... E eu achando que era uma missão de verdade.

— Querido... — Allana olhou para o marido e franziu o cenho, o repreendendo com o olhar.

— Sabe que só estou brincando... — O cavaleiro parecia apiedar-se em seu tom. — É que já participei de tantas missões de caça nos últimos anos que essas coisas já se tornaram brincadeira. Além do mais, pelo quê eu saiba, ainda é meu o recorde de lycans resgatados, não é?

— Se o Marechal Sigmund souber disso, vai pensar duas vezes em ter um ativista da causa lycans como possível candidato da sua linha de sucessão. — disse Ravian em meio a um sorriso sarcástico.

— Ford não é um ativista, Rav... — disse Allana, puxando e abraçando o braço de seu marido. — Ele só tem um ego heroico grande demais. — Piscando um dos olhos amendoados, a cavaleira fitava Ford com afeto e sarcasmo, o fazendo corar.

— Ora... E-Eu só não gosto de ver injustiças sendo feitas... Além do mais, nem todo lycan é o monstro que as histórias contam. Eles são tão comuns quanto qualquer um de nós. — Os olhos de Allana brilhavam enquanto Ford falava. — No entanto, alguns deles fazem a valer a fama monstruosa que têm, e podem ser adversários extremamente perigosos... Tantos cavaleiros mortos em caçadas nos últimos anos prova isto... Mas... — O olhar distante de Ford se foi e o sorriso voltou ao seu rosto — Tenho certeza que você e sua equipe se sairão muito bem nesta missão, meu amor, afinal, a Princesa da Knight Heart está na missão!

— Por que eu tinha que ter um marido tão exagerado?... — Allana suspirou fundo

— Então, esta é só uma parada rápida em Peakttown antes de prosseguirem para Vanaheim, não é? — Perguntou Dom, segurando as mãos da esposa.

— É sim — respondeu a Senhora Ford com uma risada agradável. — Como esta é a última cidade antes da divisa e logo irá anoitecer, vamos passar a noite aqui, reabastecer, e seguir viagem logo que o sol nascer.

— Isso é ótimo! — Bradou Ford, com Allana olhando confusa para o marido. — Quer dizer, já que estamos aqui, por que não aproveitar um pouco? Eu e o Rav só precisamos ir até o escritório do mestre para deixar a cabeça de uma certa incarnada.

— Espera, é sério?! Então vocês conseguiram derrotar a incarnada do Bosque Peaktt? Amor, isso é maravilhoso!

— Não foi nada demais, não é Rav? — Ford o cutucou com o cotovelo. O olhar fuzilante mostrava que a vontade de Ravian era acertar o cavaleiro ao seu lado com força usando aquela cabeça ensacada em suas mãos. — Agora só temos que...

— Podem ir... — disse Ravian ao casal. Ele respirou fundo, e pôs a mão sobre o ombro de seu amigo. — Eu vou até o mestre e pego o pagamento. E sim, Dom, eu guardo sua parte.

Ford olhou cativado para o melhor amigo, fingindo um olhar emocionado.

— Você sabe que é um irmão para mim, não é? — O tenente coronel enxugou uma lágrima inexistente em seu olho. — Vamos comemorar esta noite! É tudo por minha conta!

— Pode ter certeza que sim! Agora vão e divirtam-se. Vejo vocês mais tarde.

— Mal posso esperar! Até mais, Rav! — disse Allana acenando enquanto se afastava. — Ah, já ia me esquecendo! — Ela correu de volta a Ravian e o abraçou com força.

— L-Lana?! O que... — O jovem tenente foi pego de surpresa.

— Hehe! Alberick me pediu para te dar isso... — Allana piscou para o amigo e correu de volta para Ford, deixando o envergonhado Tenente Blackfeather para trás.

O casal se despediu, e, ainda sem reação, Ravian ficou por um momento observando os dois seguirem pela rua, sorridentes, com Allana agarrada ao braço do marido. Ela gargalhava com os trejeitos de Ford ao encenar como havia sido a batalha contra a incarnada mais cedo. O cavaleiro sorria em ver a felicidade do jovem casal.

Aos poucos, a imagem daquele sorridente cavaleiro descendo pela rua com sua esposa em completa alegria, deu lugar ao olhar frio e ao semblante amargurado, do marechal que seguia solitário pela passarela do Castelo de Gladsheim em direção à saída.

Ainda apoiado sobre o guarda corpo, o General Blackfeather olhou para o céu. Uma leve e reconfortante brisa soprou sobre seu rosto, trazendo consigo algumas pétalas que ainda flutuavam no ar. Fechando brevemente os olhos, Ravian suspirou, e olhou para o céu de nuvens brancas acima da cobertura da passarela.

— Você não sabe a falta que faz...

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